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Projeto Rio em Forma Olímpico: impacto de atuação
da equipe multidisciplinar

Proyecto Río en Forma Olímpico: impacto de la intervención del equipo multidisciplinario

Project Rio em Forma Olímpico: impact of multidisciplinary team intervention

 

*Graduando em Educação Física

**Bacharel em Educação Física UCB-RJ

***Licenciando em Educação física UCB-RJ

****Pós Graduado em Gestão e elaboração de projetos socioesportivos UCB-RJ

*****Ms. em Trabalho Social e Intervenção socioeducativa

pela ISCET Porto, Portugal

******Ms. em Ciências da Atividade Física UNIVERSO-RJ

(Brasil)

Bruno Claudio*

Guilherme Souza**

Mauricio Fidelis*** ****

Ramdel Caldas***

Marcello Barbosa*****

Marcelo Leite******

parede@msn.com

 

 

 

 

Resumo

          O exercício físico na sociedade moderna tem se demonstrado como estratégia eficaz para a melhora da qualidade de vida e promoção da saúde. Dentro dessa perspectiva, a prática esportiva foi incorporada aos Projetos Sociais no intuito de atender essas questões e corroborar no processo educacional de crianças e adolescentes. Contudo, alguns casos demonstram necessidades mais específicas abrindo espaço para o acompanhamento psicossocial. Nesse sentido, o escopo desse estudo foi investigar as implicações desse processo no Projeto Rio em Forma Olímpico, onde a Equipe Multidisciplinar realiza esse tipo de intervenção. Foi utilizado como base de informação os dados referentes ao número de atendimentos e os efeitos dos mesmos. Os resultados demonstraram que os serviços mais demandados foram de acompanhamento psicológico e que a maior parte obteve resultados positivos. Com isso, pode-se concluir que o modelo de atendimento mostrou-se eficaz, inclusive pela sua linearidade com o fenômeno denominado como reforma psiquiátrica, apresentando dinâmica compatível com a realidade social dos tempos atuais.

          Unitermos: Projeto social. Suporte Psicossocial. Esporte. Qualidade de vida.

 

Abstract

          The physical exercise in modern society has been shown as an effective strategy for improving the quality of life and promoting health. Within this perspective, sports practice was incorporated by social projects in order to address these issues and contribute in the educational process of children and adolescents. However, some cases demonstrate specific needs making room for the psychosocial support. Accordingly, the scope of this study was to investigate the implications of this process on the Project Rio em Forma Olimpico, where the Multidisciplinary Team performs this type of intervention. Data regarding the number of treatment and their effects was used as a base of information. The results showed that psychological support services were the most needed and the results were positive. Thus, we can conclude that the model of care proved effective, including for linearity with the phenomenon termed as psychiatric reform, presenting dynamic compatible with the social reality of the present times.

          Keywords: Social project. Psychosocial support. Sport. Quality of life.

 

Recepção: 10/06/2014 – Aceitação: 21/09/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Na evidência em que se encontra o exercício físico na sociedade moderna, como prática indispensável para a promoção da saúde, do bem estar e da qualidade de vida, o processo educativo e formativo do cidadão moderno tem no esporte um elemento precursor desse embrião social. Não obstante a essa realidade, os projetos sociais surgem como uma proposta oportuna para a otimização e disseminação desse conceito, onde a criança pode se sentir acolhida dentro de uma atividade¹. Promove-se ainda a inclusão social e a garantia de pelo menos um dos direitos fundamentais previstos no artigo 6º da constituição brasileira²: o lazer.

    Em consonância com os pressupostos constitucionais, a lei de diretrizes e bases da educação determina que a educação básica é um direito da criança e do adolescente e um dever de todos; pais, responsáveis e Estado³. Uma vez coadunados esses princípios, o contexto que se apresenta quando se pensa em estratégias de democratização e cidadania perpassa essa tríade formada por educação, esporte e lazer, sendo que o primeiro destes elementos constitui o fim e os demais os meios. Nesse caso, não é o fim que justifica os meios, mas principalmente são os meios que nos garantem a perspectiva do fim.

    No que concerne aos projetos sociais, o processo como um todo requer uma estruturação profissional ampla que abranja não só professores, mas também uma equipe apta a intervir em situações específicas, como no caso de crianças ou adolescentes com problemas de cunho comportamental, social e psicológico. Segundo Conceição4, grande parte dos transtornos mentais tem origem na infância e na adolescência, podendo se estender para a fase adulta. Isso demonstra o imediatismo requerido no tratamento para que os efeitos desses transtornos não comprometam a qualidade de vida da pessoa a qualquer tempo.

    No projeto “Rio em Forma Olímpico” esse suporte é mediado pela ação de uma Equipe Multidisciplinar, que comporta profissionais das áreas de pedagogia, psicologia e assistência social. O objetivo é desenvolver nos alunos do projeto noção de cooperação, disciplina, compromisso, trabalho em equipe, a forma de lidar com sensações de vitória e derrota, o desenvolvimento psicomotor, além de orientação às famílias. A Equipe Multidisciplinar trabalha de forma interdisciplinar com foco na transformação da realidade de sujeitos em situação de risco e vulnerabilidade social, desigualdades e violência, visando o enfrentamento e superação das vulnerabilidades, assim como promover, a inclusão social.

    O processo de acompanhamento psicossocial se inicia quando o professor identifica uma criança com necessidade de atendimento e encaminha para a assistente social que verifica se a demanda realmente se justifica. Nos casos em que se comprova a necessidade é realizada a visita domiciliar além da adoção outras medidas como o encaminhamento para o Centro de Referência de Assistência Social (CRASS), onde o aluno é indicado para recebimento de benefícios sociais como o bolsa família, por exemplo. Outra possibilidade é o direcionamento do aluno para a pedagoga que irá promover a inserção ou reinserção da criança na escola, além de encaminhar o caso para o Conselho Regional de Educação.

    Situações mais graves como negligência familiar, abandono de incapaz e violência doméstica resultam no encaminhamento da criança para o conselho tutelar. Fechando o quadro de atribuições da equipe multidisciplinar, destaca-se o atendimento psicológico para as crianças, enquanto que os familiares e adultos são direcionados para o acompanhamento psicossocial. Nesses casos, existe uma avaliação para identificar se a queixa inicial foi solucionada ou não. Em caso positivo o processo é encerrado e nos casos em que não houve a melhora o tratamento continua sendo realizado.

    Esse estudo teve como objetivo identificar os efeitos do trabalho que foi desenvolvido pela equipe multidisciplinar junto aos beneficiários do Projeto Rio em Forma Olímpico. Com isso, pode-se levantar características importantes sobre o projeto, com base nos possíveis benefícios que o mesmo possa ter propiciado para as crianças atendidas e pela extensão dessas medidas para a mudança da realidade social inclusive de suas famílias.

Metodologia

    A pesquisa desenvolvida e relatada através desse artigo possui caráter descritivo e foi elaborada com base nos resultados prognósticos apresentados pela equipe multidisciplinar, que atua junto ao projeto Rio em Forma Olímpico, vinculado à Secretaria Municipal do Rio de Janeiro (SMEL). O objetivo dos profissionais do grupo consiste em prestar acompanhamento psicossocial aos beneficiários do programa, complementando e viabilizando a consolidação dos objetivos pré-estabelecidos.

    O artigo utilizou-se dos relatórios e protocolos aplicados pela equipe multidisciplinar, e diversas referências literárias que embasam e ratificam sua eficiência, possibilitando assim uma discussão sobre os resultados obtidos no desenvolvimento deste. Em última instância coube também uma reflexão sobre a necessidade de revisar a prática multidisciplinar.

    O presente estudo concentrou suas análises em função do trabalho desenvolvido em dois polos esportivos que estão instalados na Rocinha e no Vidigal devido ao comprometimento da qualidade de vida desse público que pode ser evidenciado pelos números do IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de 2000, onde os bairros obtiveram os índices 0,73 e 0,87 respectivamente, ocupando as posições de número 120 (Rocinha) e 38 (Vidigal/São Conrado), na classificação dos bairros cariocas5.

    A pesquisa foi elaborada com base na intervenção realizada pela equipe multidisciplinar, junto ao projeto Rio em Forma Olímpico, entre os meses de março de 2012 e fevereiro de 2013, nos polos esportivos já mencionados. Nesse período, foram armazenados os dados quantitativos referentes ao número de crianças e adolescentes atendidos pelo programa e gerado os relatórios de avaliação provenientes desse atendimento, através do qual foi possível identificar a evolução dos quadros apresentados por alguns dos beneficiários.

    No decorrer das intervenções foram encaminhadas para avaliação junto ao psicólogo, 21 crianças, das quais 17 receberam recomendação para realizar acompanhamento, caracterizado por uma consulta semanal, com duração de 50 minutos cada sessão. A amostra da pesquisa foi determinada pelo número de beneficiários conduzidos para atendimento regular. Além dessas ações, também foram desempenhadas pela equipe as seguintes tarefas: reuniões / eventos / capacitações; acompanhamento social; visita domiciliar; Demandas nas unidades.

    Os prognósticos apresentados pela equipe multidisciplinar receberam duas classificações: resultados positivos e resultados negativos. O critério levou em consideração a mudança comportamental e a dedicação no cumprimento de deveres próprios da faixa etária, como o desempenho escolar. Com base nessas categorizações, a amostra foi subdividida em dois grupos que permitiram avaliar os efeitos do acompanhamento psicossocial mediado pela equipe multidisciplinar.

    Atendendo as recomendações do CONEP, do Ministério da Saúde, instituídas pelo texto da resolução 196/96, que regulariza a elaboração de pesquisas com seres humanos, a utilização dos dados obtidos pela Equipe Multidisciplinar, foi acordada pela assinatura do termo de Consentimento e Participação Livre e Esclarecido. Todos os beneficiários do projeto que foram envolvidos nesse estudo atenderam o cumprimento dessa etapa, através da qual também lhes foi assegurado o direito ao sigilo de identidade.

Resultados

    Durante o período compreendido entre os meses de março de 2012 e fevereiro de 2013, constatou-se que dentre os serviços prestados pela equipe multidisciplinar, o acompanhamento psicológico foi responsável pela maior parcela dos atendimentos. Das 511 ações desempenhadas pelos profissionais desse grupo, 261 foram relacionadas a trabalhos de assistência orientados pelo psicólogo, o que, estatisticamente, representa 51,08% do total de ocupação do grupo de trabalho. A tabela 1 organiza a distribuição quantitativa da freqüência de ocorrências.

Tabela 1. Estatística Descritiva de Quantificação de Atendimentos

    As principais dificuldades encontradas na área de intervenção estavam relacionadas a aspectos familiares, afetivos, patológicos, de estrutura social e casos de violência. A distribuição de competências na equipe multidisciplinar levou em consideração a gravidade dos casos e a especialização de cada um dos componentes do grupo de apoio, sendo necessário, em alguns episódios, o desdobramento tanto da assistência social quanto do psicólogo. A tabela 2 permite a visualização dessas ocorrências, além de demonstrar como ocorreu a divisão das atribuições, em função da competência dos profissionais que estão envolvidos no programa.

Tabela 2. Principais Causas de Atendimento Distribuição de Competência

    Os resultados obtidos pela equipe multidisciplinar foram organizados em duas faixas de classificação, em conformidade com os efeitos produzidos pelo acompanhamento psicossocial, durante o período de intervenção realizado em parceria ao projeto Rio em Forma Olímpico. Esses status foram propostos com base na análise dos elementos intervenientes do processo e, por isso, foram considerados não só os beneficiários do projeto como também seus familiares. A característica de cada um dos prognósticos observou a situação escolar, o comprometimento do aluno e da família, as relações afetivas e a permanência ou evasão do programa. Na tabela 3 consta o detalhamento das atribuições.

Tabela 3. Caracterização dos Prognósticos

    Com base na quantificação dos resultados prognósticos, constatou-se que mais da metade da amostra obteve melhora dos quadros apresentados antes e depois da intervenção da equipe multidisciplinar. A razão da avaliação positiva em função da negativa foi de aproximadamente, seis e meio para dez, o que pressupõe a expectativa de eficiência do programa de atendimento. Além do que, cabe ressaltar, conforme detalhado na tabela 3, alguns dos fatos relacionados à negatividade do processo estavam atrelados a aspectos que transcendem a capacidade profissional. Na tabela 4, observa-se os valores absolutos e relativos apurados.

Tabela 4. Análise Quantitativa dos Prognósticos

Discussão

    Entender a realidade de uma criança que participa de um projeto sócio esportivo requer a observação das suas possibilidades de evolução em diferentes áreas. A descentralização do tratamento psíquico evidencia as correlações dos campos de desenvolvimento humano, que segundo Ferraz e Belhot7 foram elaborados por Bloom, em três níveis: Psicomotor, sócio afetivo e cognitivo. Para Camatta et al.8, a substituição do Modo Asilar pelo Modo Psicossocial promoveu a criação de novos dispositivos e formas de intervenção, como reflexos de um movimento brasileiro de reforma psiquiátrica.

    O feitio de atendimento desempenhado pela a Equipe Multidisciplinar é um bom exemplo desse movimento, uma vez que desconstrói o classicismo do ambiente hospitalar no tratamento dessas questões, aliado a um projeto sócio esportivo e educacional. Trata-se de uma alternativa interessante tanto para o Estado quanto para a família, uma vez que sua dinâmica pressupõe uma forma de desafogar os contingentes hospitalares. Em nível de comprometimento com os dispositivos legais, temos a partir desse mecanismo uma forma de tentar garantir ao cidadão mais um de seus direitos fundamentais2; a saúde.

    Na contemporaneidade, essa interação de profissionais especialistas em análise psicossocial com ambientes extra hospitalares parece não despertar qualquer tipo de conflito. Contudo, esse dualismo entre as modalidades de atendimento e suas implicações arrastou-se desde as origens da psiquiatria até os dias de hoje e trouxe consigo a eminência de uma discussão médica. A ocorrência de uma lesão da fibra nervosa e situações de comprometimento moral foram, respectivamente, objetos das correntes somaticista e psicologista e configuram-se, como uma questão cotidiana9, inclusive pela aplicabilidade de um ou outro conceito em projetos sociais.

    As características do tempo moderno, de alguma maneira, parecem ter contribuído para que o trabalho de reestruturação psicológica fosse ao encontro dos preceitos da corrente psicologista e de outra forma não poderia ser, dadas as circunstâncias de conturbação urbana, que perfilam tão bem a sociedade atual. Compreender a criança e o adolescente e seus padrões de comportamento, sobretudo num cenário onde a moralidade e a dignidade estão comprometidas, passa não só por interpretações de valência cognitiva, mas também pela compreensão dos efeitos recíprocos entre o cognitivo e o motor, onde um constrói e modifica os parâmetros do outro concomitantemente.

    Na prática, essa dinâmica pode ser observada em diferentes situações do cotidiano como na vivência escolar, no relacionamento familiar ou mesmo durante o brincar. Obviamente, a percepção desses aspectos tende a ser mais aguçada em alguns ambientes e a escola assume um papel importante nesse sentido, em função de concentrar essa responsabilidade na figura de um profissional que talvez seja o mais preparado para essa missão: o professor10. É por esse motivo que também dentro de um projeto social ele ganha destaque por mediar, através do esporte, a observação de uma situação problema e o seu direcionamento para uma solução.

    A capacidade de entender e se colocar na posição do outro é o principal aliado dentro dessa estrutura de avaliação psicossocial e está estreitamente ligada a ideologia da reforma psiquiátrica11. Logo, o processo de incorporação dialética agrega aspectos intrínsecos e extrínsecos, apropriando-se de características inatas aos elementos objetos. Necessita-se concentrar as atenções nas vivências desses sujeitos e de suas relações com o mundo ao seu redor, devido ao caráter intersubjetivo das mesmas, cujas redes de interação compreendem o vínculo com os seus semelhantes12.

    O projeto “Rio em Forma Olímpico” atende a elementos que possuem um perfil social específico, exigindo-se, portanto, uma interpretação linear compatível às suas particularidades. Partindo desse princípio, cabe dizer que a compreensão da situação problema envolve toda a dimensão que esta pode concentrar, ainda que seus efeitos tenham se manifestado de forma pontual e personificada. Para Nasi e Schneider12, a reabilitação psicossocial é uma estratégia que implica na mudança da estrutura política de atendimento de saúde mental e envolve os profissionais, os beneficiários, suas famílias e a comunidade como um todo.

    A simetria da relação do todo com as partes redimensiona a posição do sujeito no processo de acompanhamento psicossocial, em função do enfoque concentrado na sua figura. Sobre ele incidem as atenções e os mecanismos de construção reabilitativa que irão nortear todos os passos seguintes respeitando sua condição. Conceitualmente, trata-se de uma oposição ao modelo que tem como essência o binômio doença-cura, sendo este readaptado pela construção de um novo olhar sobre o indivíduo e o objeto. Nessa nova perspectiva, a dicotomia envolve o princípio de existência-sofrimento13.

    Para Camatta et al.8 cada uma das modalidades de interpretação de distúrbio psíquico possui suas próprias aspirações. A primeira, oriunda da corrente somaticista descrita por Menezes e Yasui9, tem como objeto a doença mental, como meio o hospital psiquiátrico e como finalidade a cura. A segunda concentra seu ponto de partida na relação existência-sofrimento. Além disso, tem capacidade de utilizar diversos dispositivos sociais como formas de acompanhamento e visa à reabilitação psicossocial e reinserção social do sujeito em sofrimento psíquico.

    Os espaços de aplicação dessas estratégias também merecem atenção, sobretudo por atenderem a um público que tradicionalmente já se habituou a residir em ambientes pouco organizados e onde a violência é fato cotidiano. Aliás, essa realidade pode comprometer não só a viabilidade de instalação de um projeto como o “Rio em Forma Olímpico” como também decretar o seu insucesso, mesmo depois de estabelecidos os processos de intervenção do programa. Essa característica corrobora tanto com as afirmações de Camatta et al.8, quanto com as definições de Nasi e Schneider12, acerca dos dispositivos sociais envolvidos e do papel da comunidade, respectivamente.

    A compreensão em torno desse ambiente sugere mais do que a leitura do seu layout arquitetônico, mas principalmente a interpretação deste como um território e que como tal, se sujeita a ação do homem. Enquanto local a serviço da saúde, ele transcende a composição técnica e estrutural, abrangendo também as situações que foram construídas em função de suas intervenções. A ambiência adéqua atenção acolhedora, resolutiva e humana e caracteriza-se pela forma como o espaço físico é tratado, sendo este objeto profissional, social e de relações interpessoais14.

    Obviamente que a complexidade referida acima, pressupõe a formação de um grupo de atendimento multifacetado que viabilize a estruturação do processo nas mais variadas dimensões que o mesmo possa requerer. É o que defende Borba et al.13, ao afirmar que estes serviços necessitam do suporte de uma equipe multiprofissional capaz de desenvolver o conceito de integralidade, trabalhando com a noção de rede, intersetorialidade, participação social, democratização e territorialização. Essa idéia coaduna-se a defesa de Kantorski et al.14 no que diz respeito à ambiência dos polos de atenção psicossocial, como o estabelecido no projeto “Rio em Forma Olímpico”.

    A utilização de um aparato técnico com esse perfil viabiliza a extensão dos serviços de apoio à comunidade e potencializa a inserção de um número mais significativo de beneficiários, o que contribui para dar mais eficiência ao programa e para o atingimento de suas metas. É nesse sentido que o esporte se apresenta como agente facilitador, devido a sua capacidade de integração e inclusão estabelecendo um elo entre os participantes do projeto, a consciência de suas indigências e o plano de ação para as mesmas. Em tese, trata-se de uma estratégia de aproximação, cujos objetivos perpassam a observação e a mudança de comportamento.

    Contudo, cabe salientar que a posição em que o jovem foi classificado no cenário de desigualdade da sociedade moderna, muitas vezes acaba por estigmatizar sua realidade. Segundo Nogueira15, essa perspectiva trouxe consigo o estereótipo de um elemento, que por essência representa um perigo para a ordem social, devido a sua propensão a delinqüência e ao consumo de drogas, devendo, portanto, ser incorporado por projetos que promovam sua correta socialização. Entender esse contexto também possui sua relevância, inclusive para que a nossa prática não se deixe tomar por este erro.

    O imo do conceito multidisciplinar, por sua vez, vai de encontro a essa perspectiva, em função da compreensão desse ser em sua totalidade, aliando a sua identidade fatores variados e que podem compreender a interpretação de diferentes pontos de vista. Não se trata de considerar apenas os mecanismos de avaliação que culturalmente foram repassados e readaptados pelo censo comum, mas também de entender como e porque eles perduram no nosso tempo. Acautelando-se desses pormenores, a proposta do projeto social tende a estar mais fidedigna e possivelmente menos míope as mensagens traduzidas nos signos corporais.

    Como fora desenvolvido ao longo desse estudo, a situação problema é um fator importante dento da estrutura de um projeto como o “Rio em Forma Olímpico”, o que não significa dizer que tal ocorrência corresponda ao padrão predominante, pelo contrário. Esses casos podem ser classificados como exceções que se contrapõem aos objetivos do programa e que, portanto, fazem jus a necessidade de acompanhamento. Aliás, de outra forma não poderia ser, sobretudo por que, ainda que em caráter de exceção, a observação dessas dificuldades integra a realidade social e por isso requer atenção.

    Alcançar a visão que o jovem ou a criança desenvolve no presente e projeta pro seu futuro é fundamental para o entendimento da sua condição enquanto cidadão, principalmente num ambiente onde as perspectivas de vida podem ser comprometidas pelas mazelas de sua realidade social. Com isso, a família mais uma vez apresenta-se como instituição básica para alicerçar as diretrizes desse processo. Para Gonçalves et al.16, os jovens enxergam no âmbito familiar um suporte imediato para sua construção de vida e idealizam seu próprio modelo doméstico para o tempos que hão de vir.

Conclusão

    Com base no estudo desenvolvido, a percepção que se constitui envolve a perspectiva de que o modelo de atendimento psicossocial em substituição ao modelo asilar, representa uma ferramenta contemporizada e necessária dada a sua linearidade com o perfil social dos tempos modernos. Essa efetividade pode ser observada em função dos resultados obtidos através dessa pesquisa, onde os prognósticos de positividade demonstraram uma notória superioridade em relação aos resultados negativos. Contudo, a interpretação dos resultados negativos pode melhor investigada em estudos posteriores, redimensionando o tempo de acompanhamento psicossocial.

    No que tange a disponibilidade dessas aplicações dentro de um projeto social, a freqüência observada nessa pesquisa demonstrou valores absolutos satisfatórios e com distribuição disforme, concentrando a maior parcela de seus eventos, na prestação de acompanhamentos psicológicos. Essa característica permite considerar que a prática psicossocial dentro de um Projeto Social, como o Rio em Forma Olímpico ocupa um papel fundamental na estrutura do programa, complementando o teor educacional da prática esportiva e o papel formativo de crianças em cidadãos.

    Considerando os problemas mais freqüentemente apresentados pelas crianças atendidas pelo projeto, o modelo de atendimento também pode ser considerado uma ferramenta adequada, sobretudo por sobressaírem questões de cunho comportamental e social. A desestruturação familiar imposta pela sociedade moderna capitalista configura um empecilho ao propósito de ação idealizado pelo programa. Contudo, essa realidade também representa uma oportunidade para o resgate dessa instituição que ocupou um papel central na construção das civilizações que surgiram na história moderna.

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