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O atletismo na formação dos professores de 

Educação Física e suas implicações na escola

El atletismo en la formación de profesores de Educación Física y sus implicancias en la escuela

 

*Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade

do Estado da Bahia, UNEB, Campus IV. É membro do Grupo de Estudo, Pesquisa

e Extensão em Educação Física, Esporte e Lazer (GEFEL)

**Mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor

do Departamento de Ciências Humanas - Campus IV da Universidade do Estado

da Bahia. Líder do Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Educação Especial

e Educação Física Adaptada (GEPEFA) e membro do Grupo de Estudo, Pesquisa

e Extensão em Educação Física, Esporte e Lazer (GEFEL)

Allanthêvson de Sá Sampaio*

allanthevson@hotmail.com

Osni Oliveira Noberto da Silva**

osni_edfisica@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste artigo foi discutir a importância do conteúdo Atletismo na formação dos professores de Educação Física e suas implicações na prática pedagógica destes na escola. É perceptível que uma formação inadequada do componente Atletismo, durante a graduação pode ocasionar dificuldades em utilizar este conteúdo como elemento educativo na escola.

          Unitermos: Educação Física, Atletismo, Escola

Recepção: 03/09/2014 – Aceitação: 27/09/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Este artigo é parte de uma pesquisa realizada no curso de Licenciatura em Educação Física do Departamento de Ciências Humanas – Campus IV da Universidade do Estado da Bahia e tem como objetivo discutir a importância do conteúdo Atletismo na formação dos professores de Educação Física e suas implicações na prática pedagógica destes na escola.

    De acordo com Matthiesen et al. (2005) a realidade da escola é de descuido do ensino do atletismo, levando o aluno a praticamente desconhecer esta modalidade esportiva.

    O atletismo, para as famílias brasileiras de baixa renda, por vezes está ligado à oportunidade de ascensão social, para muitas das crianças e adolescentes que tem uma prática esportiva regular, e que são pertencentes a famílias de baixa renda há o “sonho” de uma mudança de sua realidade social, na busca por “melhoria de vida”. Desta forma o esporte se estabelece como uma solução para as questões sociais do país.

    Este fator é perceptível sob a ótica da desigualdade econômica vigente na sociedade, onde a busca do atleta pelo esporte acontece como uma forma de arrecadação de renda, sobrevivência. Mas que só é alcançada pelos que se destacam, e obtém bons resultados e prêmios. No entanto, as modalidades esportivas inerentes ao atletismo possuem grande potencial inexplorado nas áreas da educação, do lazer e da saúde preventiva.

2.     O atletismo enquanto elemento cultural

    A busca por entender os processos e relações sociais é vasto e, talvez infinito, pois ao se estabelecer uma “verdade” novas relações podem surgir e esta que era entediada como verdade passa a sofrer ampliações dentro de novas discussões, talvez por estas migrações das relações, é que ainda não foi possível estabelecer um conceito aceito plenamente sobre o que é cultura, entretanto, “em sentido mais amplo, o estudo dos fenômenos culturais pode ser pensado como o estudo do mundo sócio-histórico constituído como um campo de significados” (THOMPSON, 2011, p. 165). É neste sentido, de um mundo construído de maneira sócio-histórica, que é levantada a uma ligação entre o atletismo e os fenômenos culturais.

    Deixando claro o entendimento das fragilidades da concepção simbólica, pois como evidencia Thompson (2011, p. 177) em sua visão, a obra de Geertz, foi a mais importante na formulação do conceito simbólico de cultura, pois direcionou os estudos da cultura para os significados e símbolos, sendo assim o mesmo dedicou tempo em entender e examinar o que poderia ser fraquezas e dificuldades desta concepção, mesmo havendo o entendimento das fraquezas de tal concepção, ainda assim, esta é a concepção que acredito ter chegado mais próximo do entendimento da cultura dentro dos estudos da antropologia, onde pode ser caracterizada de maneira mais ampla da seguinte forma:

    cultura é o padrão de significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências, concepções e crenças (THOMPSON, 2011, p. 165).

    Estabelecendo, então o conceito de cultura, dentro dos estudos antropológicos, é necessário delinear então dentro dos estudos da Educação Física, um norte a seguir onde,

    pensar a educação física a partir de referenciais das ciências humanas traz necessariamente a discussão do conceito de "cultura" para uma área em que isso era até há pouco tempo inexistente. Evidentemente ainda se vê muita confusão no uso da expressão "cultura" na educação física. O termo ainda é confundido com conhecimento formal, ou utilizado de forma preconceituosa quantificando-se o grau de cultura, ou como sinônimo de classe social mais elevada, ou ainda como indicador de bom gosto. Ouve-se ainda com freqüência afirmações de "mais ou menos cultura", "ter ou não ter cultura", "cultura refinada ou desqualificada" e assim por diante (DAOLIO, 2004 p. 09).

    A referência de cultura que se pretende discutir, expor e entender, advém do pensamento da simbologia, que nada tem haver com a caracterização de grau de cultura, a discussão gira sobre dois pontos onde,

    imaginar que a cultura é uma realidade “superorgânica” autocontida, com força e propósitos em si mesma, isto é, refiná-la. Outra é alegar que ela consiste no padrão bruto de acontecimentos comportamentais que de fato observamos ocorrer em uma ou outra comunidade identificável – isso significa reduzi-la. (GEERTZ, 2008, p. 08).

    A partir destes pontos onde a tentativa não será de “refinar” ou “reduzir” o termo cultura, é importante definir a cultura como uma construção simbólica sócio-histórica, onde se projeta a construção dos fenômenos culturais da modalidade atletismo, tencionando uma teia de emaranhados históricos constituídos por várias sociedades que realizaram a prática do atletismo.

    Abrangendo a partir daqui, a história épica desta modalidade esportiva, que segundo Redkva e Freitas Jr. (2010 p. 13-18) o atletismo na trajetória humana possui três momentos distinto. O primeiro é chamado de pré-esportivização que corresponde à luta por sobrevivência do homem, ou seja, as corridas, os saltos e os arremessos serviam para obter o alimento, ou para fugir de predadores, posteriormente teria surgido as competições onde os homens competiriam entre-se, como forma de preparação para a guerra, também como forma de entretimento. Este primeiro momento histórico surgiu na pré-história e teve fim na extinção dos antigos jogos olímpicos.

    O segundo momento que ocorreu a partir da Idade Media, é chamado de sistematização esportiva, que segundo o autor iniciou-se na introdução do esporte nas escolas inglesas, dando início a regulamentação do atletismo, que se tornou esporte amador, com sua difusão por todo o mundo, finalizando este momento de sistematização com a criação em Londres da Confederação Internacional de Federações de Atletismo, que retirou o cunho amador do esporte e regulamentou as competições e prova esportiva, tornado o mesmo, esporte de alto rendimento.

    O autor continua abordando o histórico do atletismo, discorrendo sobre o terceiro momento histórico do atletismo, que é denominado de competições esportivas formais que está “umbilicalmente” ligado a nova era dos Jogos Olímpicos, que se tornou a mais importante competição formal para os atletas profissionais.

    A Confederação Brasileira de Atletismo (2012, p. 06) define o atletismo como sendo “provas atléticas de pista e de campo, corridas de rua, marcha atlética, corrida através do campo (cross country) e corridas em montanha.” Esta é uma forma de classificação desta modalidade esportiva, mas a essência deste, leva nos a descobrir muitas outras especialidades, dentro das mesmas citadas. Segundo Vieira (2007, p. 11) o atletismo ganha função de destaque na historia da humanidade, com o surgimento da primeira edição dos jogos disputados no estádio de Olímpia, onde todos queriam conhecer “os mais rápido, o mais alto, o mais forte” esta expressão está diretamente relacionada com as provas de corrida, saltos e lançamento.

    O esporte olímpico Atletismo, que serve como base para a maioria das demais modalidades, é uma atividade natural por excelência. No início dos tempos, essa prática era realizada, visando à conservação e à preservação da espécie e foi sendo incorporada à cultura humana. Assim começou o Atletismo, chamado esporte de base, por não apresentar grande dificuldade em sua prática, ser de fácil assimilação, e por utilizar as formas básicas do movimento: andar, correr, saltar, saltitar, lançar, arremessar. (NASCIMENTO, 2000, p. 31).

    As modalidades esportivas que fazem parte do atletismo estão em um seleto grupo de práticas corporais difundidas mundialmente, segundo a Confederação Brasileira de Atletismo (2014) “o atletismo conta a história esportiva no homem no Planeta. É chamado de esporte-base, porque sua prática corresponde a movimentos naturais do ser humano” estes movimentos são correr, saltar, lançar e arremessa.

    Ao situarmos uma prática corporal social e, ao ligá-la diretamente aos símbolos produzidos, interpretados e reproduzidos dentro de uma determinada sociedade, posicionando um padrão dentro de determinada sociedade de criação e/ou recriação dos símbolos através das práticas corporais, podendo até mesmo inserir-se em outras sociedades.

    Nesta situação está havendo a produção e a difusão da cultura. O que deve ficar evidenciado nesta afirmação não é a redução, do conceito cultura, mas a tentativa de corroborar na explicação destas práticas corporais como componentes da construção de um fenômeno sócio-histórico maior e, “acredito que atualmente seja possível complementar essas discussões, considerando as manipulações e os tráfegos simbólicos que os seres humanos realizam em função de seus contextos locais e específicos.” (DAOLIO, 2004, p. 23).

    Após o entendimento da historicidade do atletismo, de seu surgimento na pré-história, de seu percurso até chegar aos dias atuais, onde sempre compôs grandes eventos esportivos sedo parte importante destes. É a partir deste, que se faz notória toda esta criação simbólica humana do atletismo através dos séculos de práticas atléticas, compondo assim um dos mais antigos esportes criados e, difundidos por gerações da humanidade.

    Na discussão de cultura toda a subjetividade humana onde a produção de um símbolo esta alicerçada por as questões sociais, necessidades e contradições humanas, do ser produtor de tal simbologia em uma dada época histórica. Segundo Daolio (2004, p. 09) “todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural, desde os primórdios da evolução até hoje, expressando-se diversificadamente e com significados próprios no contexto de grupos culturais específicos”.

3.     O atletismo na formação do profissional de Educação Física

    Pensar na formação profissional é primeiramente, entender a estruturação dos componentes curriculares, as ementas das disciplinas e, sobretudo, as metodologias de trabalho adotada pelos professores que ministram as aulas. Desta forma o convite é para pensarmos nas formas de apropriação e produção do conhecimento cientifico, dentro da graduação, que é o inicio da produção cientifica e de desenvolvimento dos sujeitos que serão capazes de intervir socialmente de forma autônoma e crítica.

    A partir da graduação é fornecida de maneira incisiva, a fundamentação teórica que possibilitará a atuação profissional consciente no ambiente em que se pretender desenvolver as atividades profissionais.

    Está fundamentação teórica é obtida a partir das metodologias, segundo Darido (1995, p. 124) há no curso de Educação Física, duas vertentes de formação uma que é denomina de “Curriculum científico" e está relacionada as propostas de cunho teórico-cientifico, que pauta por uma formação crítica e ampliada. Já a segunda vertente é denominada de "Curriculum tradicional" e está relacionada a formação profissional a partir da experiência, podendo ser melhor percebido nas disciplinas esportivas, que “são geralmente ministradas priorizando a vivencia de habilidades motoras através de seqüências ditas pedagógicas executadas pelos próprios alunos, limitando seus conteúdos teóricos ao ensino de regras e estratégias esportivas” (SILVA; DARIDO, 2011, p. 525).

    Esta duas correntes de currículo pode estabelecer grandes diferenças na formação profissional, Darido (1995, p. 125) evidencia

    que o discurso do profissional em Educação Física formado na proposta "Científica" apresentou diferenças em relação ao modelo "Tradicional". O discurso se apresentou mais articulado e continha uma mistura de elementos das diferentes propostas da Educação Física na escola (Abordagem Desenvolvimentista, Construtivista e Crítico-superadora).

    No entanto, mesmo como a mudança no discurso “os profissionais formados na perspectiva ‘Científica’ continuam utilizando apenas uma parcela da cultura corporal, ou seja os esportes tradicionais; basquete, vôlei e futebol” (DARIDO, 1995, p.125). O que condiz com a pesquisa realizada por Matthiesen (2007, p. 01) onde:

    ...dos 56 alunos matriculados na disciplina “Fundamentos do Atletismo” em 2002 (27 do curso de Bacharelado e 29 do curso de licenciatura em Educação Física), apenas 15 (27%) tiveram contato com o atletismo no período escolar que antecedeu a Universidade, enquanto os 41 restantes (73%) não tiveram contato com essa modalidade esportiva no mesmo período.

    Estas correntes críticas, vem mudando os currículos e a maneira de pensar dos novos profissionais da Educação Física, com a máxima de possibilitar o entendimento dos “elementos teóricos para a assimilação consciente do conhecimento, de modo que possa auxiliar o professor a pensar autonomamente. A apropriação ativa e consciente do conhecimento é uma das formas de emancipação humana” (SOARES; et al, 1992, p. 10). Está metodologia de apropriação consciente e emancipação dos sujeitos, tornou-se muito bem aceita dentro dos cursos de Educação Física, esta advinda do “livro Metodologia do ensino de educação física, de 1992, uma das obras com maior repercussão na área nos anos de 1990 e que cunhou a denominação ‘crítico-superadora’ para essa abordagem” (DAOLIO, 2004, p. 21).

    No entanto, esta abordagem metodológica foi pensada para o desenvolvimento de ações pedagógicas na Educação Física escolar, sendo elaborada para atender as necessidades do Ensino Fundamental e Médio, onde são

    abordados alguns aspectos específicos de um programa de Educação Física para o ensino fundamental e médio que venham responder à inquietação do professor quanto ao conhecimento a ser tratado, à sua distribuição nas diferentes séries e aos procedimentos para ensiná-lo. (SOARES; et al, 1992, p. 41).

    Partindo da concepção crítico-superadora de Soares et al (1992, p. 41) que entende a Educação Física como a disciplina escolar que vem para tratar pedagogicamente da área entendida pela mesma como cultura corporal que é possuidora de uma temática especifica e particular, que visa aprender as diversas formas da expressão corporal como linguagem.

    Esta abordagem produz o entendimento de cultura corporal a partir das apropriações humanas estabelecidas através das representações, das idéias e dos conceitos produzidos socialmente, para desenvolvê-lo da consciência pessoal, produzindo a expressão da subjetividade relacionada a própria realidade humana, ou seja, entendem a cultura corporal seguindo a linha de pensamento de Geertz (2008), sobre cultura, partindo assim das produções de significados das formas simbólicas, nesta perspectiva o esporte (o atletismo) é entendido dentro da construção do processo sócio-histórico cultural (tematizado no tópico anterior).

    Como visto esta é uma discussão crítica da condição humana e pertinente a ser realizada dentro do sistema acadêmico, entretanto, para seu emprego no nível superior é necessário que o professor realize adaptações para a utilização desta abordagem e, “mais evidente ainda é a carência de propostas críticas para o trato com o esporte no contexto do ensino superior, no processo de formação inicial de professores de EF” (REZER, 2010, p. 273), “esta preocupação torna-se ainda mais relevante quando se sabe que muito pouco se tem discutido sobre o processo de ensino-aprendizagem das modalidades esportivas” (SILVA; DARIDO, 2011, p. 526).

    É realidade na formação inicial em Educação Física, a pouca base metodológica especifica para o trato pedagógico crítico dos processos de ensino-aprendizagem do esporte no ensino superior, o que resta ao professor muitas vezes são adaptações metodologias de bases pensadas e discutidas, para a escola. No entanto, a graduação tem suas necessidades e especificidades que necessitam serem melhores debatidas.

    Reconhecem se, as influências sofridas nos currículos de Educação Física quanto à ampliação crítica nas ultimas décadas, mas estas mudanças nos currículos efetivar-se nas aplicações didático-pedagógicas dos conteúdos das disciplinas de cunho esportivo, e mais especificamente nas disciplinas de atletismo? Aqui é lançado um questionamento, ao qual não ousarei responder, mas trarei algumas evidências levantadas na pesquisa de Silva e Darido (2011), onde voltaremos, nossos olhares para as implicações destes seguimentos de pensamento junto as disciplinas de Atletismo.

    A pesquisa foi composta por quatro instituições de ensino superior do estado de São Paulo, onde duas das instituições eram públicas e ofereciam os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física, e as outras duas eram privadas e forneciam apenas o curso de licenciatura, compôs a instrumentação para coleta de dado a observação das aulas, a entrevista e a analise documental.

    A pesquisa obteve os seguintes resultados, quanto ao ambiente das aulas, a pista de atletismo foi o local que mais se utilizou para execução das aulas, mas não especificamente o local da prova em questão, demonstrando a preocupação dos docentes em trabalhar possibilidades em ambientes diferenciados. Quanto aos materiais pode ser observada uma grande variação, com materiais oficiais, adaptados e recursos tecnológicos. Dos conteúdos desenvolvidos, basicamente foram os blocos de provas do Atletismo.

    Entretanto, em uma das instituições o docente afirmou que busca desenvolver as questões sócio-históricas do Atletismo, notou-se também que mesmo a ênfase tendo sido dada aos conteúdos procedimentais, os conteúdos conceituais estiveram muito presentes, o que poderia ser segundo a pesquisadora uma resposta as críticas sofridas pelo modelo tradicional, que teve como conseqüência a aproximação com o modelo teórico-cientifico.

    Muitos outros pontos foram destacados na pesquisa, no entanto, estes já trazem um quadro a cerca das concretizações dos conteúdos do Atletismo no curso de Educação Física e das formas que o atletismo vem sendo trabalhado, situando que “a atuação profissional deve então ser considerada como uma integração de diferentes elementos e não só como conseqüência direta da formação profissional ‘Científica’ oferecida nos bancos da Universidade” (DARIDO, 1995, p. 126).

4.     O ensino do atletismo na escola

    O modelo de escola que está enraizada na sociedade, de maneira geral é o da escola tradicional, Leão (1999) explica que mesmo sendo muito criticada a escola tradicional ainda faz parte do modelo de educação da grande maioria das escolas do nosso país, ou seja, a mesma continua resistindo as fortes críticas e, sofrer com fortes questionamentos sobre a adequação aos padrões sociais da atualidade.

    Este modelo de educação é criticado, pois “boa parte dos professores, provavelmente a maioria, baseia sua prática em prescrições pedagógicas que viram senso comum, incorporados de sua passagem pela escola ou transmitidas pelos colegas mais velhos” (LIBANÊO, 2002, p. 19).

    Este tipo de prática pedagógica tem implicitamente uma teoria norteadora, mas torna-se uma pratica onde o professor não tem a capacidade de identificar qual a finalidade de sua atuação dentro da perspectiva educacional, a qual esta fazendo uso, desta forma o conhecimento do professor não está baseado diretamente no conhecimento cientifico e sim na experimentação e assimilação de informações do conhecimento a partir das experiências e das vivências do mesmo.

    Entender os fatores que nos permita indicar claramente as direções traçadas pelas práticas educativas, é por tanto difícil, o que existe é uma corrente que expressa uma atualidade educativa ou direção pedagógica, pela existência de um reconhecimento social, com a implantação no pensamento da prática educativa nos setores educadores (MARTINS, 2006, p. 74).

    A Educação Física, assim como todas as outras disciplinas deve pautar-se, em possibilitar oportunidades de desenvolvimento das capacidades necessárias para os educandos possam intervir socialmente de forma ativa, entender que criança não se desenvolve somente numa esfera cognitiva separadamente da esfera motora, ou vice-versa, mas sim pela “interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária” (BECKER, 1993. p. 88).

    Assim algumas tendências pedagógicas entendem que “a prática escolar consiste na concretização das condições que asseguram a realização do trabalho docente. Tais condições não se reduzem ao estritamente ‘pedagógico’, já que a escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade” (LIBANÊO, 2002, p. 19).

    A escolha de uma metodologia de ensino indica a autonomia diante dos vários métodos de ensino, pois tal escolha implica estudo do conhecimento teórico, conjuntamente com uma analise social do meio ao qual se está inserido, na identificação da aplicabilidade da metodologia e das conseqüências que surgirão a partir da intervenção direta do professor.

    Desta forma “fica claro que o modo como os professores realizam seu trabalho, selecionando e organizando o conteúdo das matérias, ou escolhem técnicas de ensino e avaliação tem a ver com pressupostos teórico-metodológicos, explicita ou implicitamente” (LIBANÊO, 2002, p. 19).

    Para que a educação escolar seja revista com novas perspectivas, é importante que o aluno adquira além do conhecimento prático. O conhecimento histórico deve fazer do aprendizado do aluno, para que o mesmo possa interpretá-lo, e assim construir uma linguagem nos três contextos, isto é, no contexto comunicativo, expressivo e teórico (NASCIMENTO, 2010, p. 98).

    Assim as formas que os professores, desenvolvem o conteúdo do Atletismo dependem de suas capacidades de desenvolver estes contextos na aplicação do conteúdo de ensino, para que o atletismo deixe de ser visto pelos educandos “como um esporte pouco atrativo e ‘sem graça’. Tal fato, por vezes, desmotiva professores que não vêem no ensino do atletismo um desafio e também não vislumbram um conteúdo capaz de ser ensinado num contexto escolar” (MIRANDA, 2012, p. 181).

    O fato de o esporte ser visto como algo “sem graça” que a caba por desmotivar o professor, pode está ligado, a aplicação de métodos que não tornam as aulas interessantes, pois aulas que “têm como objetivo único ensinar o movimento técnico, preocupando-se apenas com o ‘saber fazer’” (PRADO; MATTHEISEN, 2007, p. 120), leva não só, o estudo do atletismo, como o de qualquer modalidade esportiva a torna-se uma atividade monótona, maçante e desinteressante.

    Cabe ao professor “compreender que, para as crianças, o elemento lúdico deve ser preponderante para que modalidades como o atletismo sejam atrativas.” (MIRANDA, 2012, p. 182). Pois ocorre que,

    em muitos casos, o atletismo é abordado com enfoque voltado em grande medida para o desenvolvimento das valências físicas e abordagens voltadas somente para o treinamento de força, velocidade e resistência, que serão demandadas nas provas em si e na busca de um aperfeiçoamento dos movimentos específicos de cada prova (MIRANDA, 2012, p. 182).

    Portanto, para vencermos a resistência da aplicação de conteúdos que se diferencie, é importante basear se pela literatura que tem defendido a aplicação do atletismo e de outros conteúdos relacionados ao esporte para além dos procedimentos. A criança deve ser levada por um caminho de descobertas para que conheça a pratica do esporte, mas que também o compreenda em sua totalidade, a partir da produção dos significados históricos construídos dentro da sociedade, mas que toda esta iniciação esportiva consciente seja lúdica e proveitosa. “No Brasil, e mais especificamente no Estado de São Paulo, a iniciação e a especialização esportiva são desenvolvidas, em grande parte nos clubes esportivos particulares e em centros esportivos administrados por secretarias municipais” (ARENA; BÖHME, 2000, p.185).

    Para Arena e Böhme (2000, p. 184) “as atividades esportivas podem contribuir para um desenvolvimento biopsicossocial harmonioso da criança e do adolescente nos diferentes períodos etários.” “Nesta perspectiva, o ensino do atletismo constitui-se um meio importante no processo ensino-aprendizagem, pois reúne um vasto campo de formas de movimentos como correr, marchar, saltar, lançar e arremessar” (ZANON; ROCHA JR., 2000, p. 60). Por tanto a iniciação da criança no esporte organizada por uma metodologia com base coerente ao ensino da modalidade esportiva, relacionada à faixa etária, poderá contribuir no desenvolvimento da criança.

    Desta forma Zanon e Rocha Jr. (2000, p. 59) entendem que a criança faz a experimentação de possibilidades e de seus limites motores através do movimento e que a partir do conhecimento corporal, a criança adquire a autoconfiança necessária para a formação da consciência corporal. Portanto, a iniciação esportiva deve ocorrer no período em que Teixeira; Pini (1978) (apud VIEIRA 1989, p. 24) chamam de adolescência pré-puberal esta fase estende-se dos 10 a 12-14 anos, tendo como característica o despertar para as atividades desportivas, nesta fase há o domínio da flexibilidade, do ritmo, do desenvolvimento da forca e da velocidade em regime de resistência.

    Portanto, não se quer negar as capacidades ou benefícios do esporte, mas que o estudo não seja pura e simplesmente, alicerçado com base nas provas oficiais, na perspectiva de competições, estabelecimento dos melhores, aperfeiçoamentos da técnica e dos movimentos, apenas procedimentos, mas que sejam compreendidos os porquês da prática.

Conclusões

    Por tanto é importante proporcionar o desenvolvimento das necessidades motoras das crianças e dos adolescentes, participantes de uma prática atlética regular que pode potencializar o aspecto locomotor, cognitivo e afetivo dos praticantes, com a aplicação do devido trato pedagógico, respeitando as condições de desenvolvimento das crianças.

    O desenvolvimento de atividade didática pedagógica, como este conteúdo da Educação Física, deve nortear-se por uma preocupação com o equilíbrio do cognitivo, assim como das próprias capacidades físicas individuais dos discentes. Mesmo que a prática seja com a intenção de atividades para o lazer, desenvolvimento esportivo, da saúde preventiva, ou que o interesse esteja ligado ao estabelecimento de uma prática voltada ao alto rendimento. A iniciação esportiva deverá contribuir na formação biopsicossocial dos praticantes.

    Independentemente de qual seja o objetivo do praticante do atletismo, ele deve ter conhecimento que o permita entender os efeitos de sua prática e quais reações seu corpo estabelecerá, desta forma dentro das aulas de Educação Física cabe ao professor o papel de estabelecer tais relações.

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