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A influência da fisioterapia na neuroplasticidade em pacientes

com acidente vascular encefálico: uma revisão integrativa

A influencia de la fisioterapia en la neuroplasticidad en pacientes con accidente cerebrovascular encefálico: una revisión integradora

The influence of physical therapy in neuroplasticity in patients with vascular brain injury: an integrative review

 

*Acadêmica do curso de Fisioterapia

do Instituto Superior de Teologia Aplicada INTA

**Professora, orientadora do curso de Fisioterapia

do Instituto Superior de Teologia Aplicada INTA

Ana Karen Rodrigues da Silva*

Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha*

aleudineliamonte@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O AVE é uma das principais causas de incapacidades crônicas e morte do mundo, responsável por 10% delas e sendo considerado a causa mais freqüente de internações hospitalares. Nos últimos 40 anos a incidência de AVE teve uma redução de 42% nos países desenvolvidos, porém teve um aumento superior a 100% nos países de média e baixa renda. As seqüelas do AVE vão além da hemiplegia, que o seu sinal mais comum, cursando com independência funcional, impossibilitando os indivíduos acometidos de realizar suas AVD’s e tornando-os dependentes de cuidadores. A neuroplasticidade ou reorganização cortical é a capacidade de organização e adaptação do SNC frente a uma lesão e ao aprendizado. Assim, a fisioterapia através de estratégias baseadas na biomecânica e estímulos sensoriais tem a capacidade de estimular reorganizações corticais e promover melhorias ao indivíduo seqüelado de AVE, sendo de grande valia a idéia de neuroplasticidade por representar um avanço nos processos de reabilitação. O objetivo desse artigo é avaliar, por meio de revisão integrativa da literatura, os efeitos da fisioterapia, bem como suas diversas modalidades, na plasticidade cerebral de indivíduos com seqüelas provenientes de AVE. Foi realizada uma busca por publicações dos últimos seis anos nos bancos de dados BIREME, SciELO e LILACS a partir dos descritores "acidente vascular encefálico”, “fisioterapia”, “neuroplasticidade”, “plasticidade neuronal” e “reaprendizagem motora”; que foram relacionados com o descritor "acidente vascular encefálico”. Foram selecionados 36 artigos a partir da leitura dos títulos, dos quais sete atenderam aos critérios de inclusão definidos e compuseram o quadro de resultados do trabalho. As evidências na literatura mostram que a prática de atividades repetitivas e a utilização de protocolos fisioterapêuticos por pacientes de AVE traz benefícios tanto a sua condição física quanto a sua qualidade de vida, tornando-os mais independentes e tornando mais fácil a readaptação ao meio social. Porém, nota-se a escassez de pesquisas realizadas no Brasil sobre o tema e a necessidade de pesquisas em humanos para que haja uma comprovação sólida e palpável dos benefícios da fisioterapia na plasticidade neuronal.

          Unitermos: Fisioterapia. Neuroplasticidade. Acidente Vascular Encefálico.

 

Abstract

          The stroke is a leading cause of chronic disability and death in the world, accounting for 10% and it is considered the most frequent cause of hospital admissions. Over the past 40 years the incidence of stroke was reduced by 42 % in developed countries, but had an increase of over 100 % in middle and low income. The sequelae of stroke hemiplegia go beyond that its most common sign, occurring with functional independence, preventing individuals affected to perform their ADLs and making them dependent on caregivers. The neuroplasticity or cortical reorganization is the ability of organization and adaptation of the CNS to injury and forward to learning. Thus, physiotherapy through strategies based on biomechanical and sensory stimuli has the ability to stimulate cortical reorganizations and promote improvements to the sequel person AVE, being very important the idea of ​​neuroplasticity to represent a breakthrough in the process of rehabilitation. The aim of this paper is to evaluate, through a literature review, the effects of physiotherapy, as well as its diverse manifestations of brain plasticity in patients with sequelae from stroke. Search publications for the past six years on the banks of BIREME, SciELO and LILACS from descriptors was performed "cerebrovascular accident", "physiotherapy", "neuroplasticity", "neuronal plasticity" and "motor relearning" ; that were associated with the descriptor " cerebrovascular accident ". 36 articles from the reading titles, seven of which met the inclusion criteria defined and composed the results framework of the study were selected. The evidence in the literature show that the practice of repetitive activities and the use of physical therapy protocols for patients of stroke brings benefits both your physical condition and their quality of life, making them more independent and making it easier to retrofit the social environment. However, there is a dearth of research conducted in Brazil on the issue and the need for research in humans so there is a solid and tangible evidence of the benefits of physical therapy on neuronal plasticity.

          Keywords: Physical therapy. Neuroplasticity. Vascular Brain Injury.

 

Recepção: 14/06/2014 – Aceitação: 25/09/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O acidente vascular encefálico (AVE) é uma importante causa de morbimortalidade e a terceira causa de morte no mundo, responsável por 10% delas. Anualmente atinge 15 milhões de pessoas, e dessas pessoas atingidas, 5 milhões ficam com seqüelas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Nos últimos 40 anos, houve uma redução de 42% na incidência do AVE em países de alta renda e mais de 100% de aumento em países de média e baixa renda. No Brasil, os índices de mortalidade são altos, porém decrescentes; em 2007, atingiram 31,4% do total de óbitos. (CRUZ et al. 2012)

    A excitabilidade do hemisfério afetado pelo AVE fica reduzida devido a lesão em si e ao desuso, bem como há evidência de desequilíbrio na interação entre os hemisférios (LINDENBERG et al., 2010). Barato (2009) afirma que, após um insulto neurológico, como o AVE, ocorrem mudanças plásti­cas, em resposta à excitabilidade diminuída e ao não uso do membro afetado, reduzindo o tamanho da representação cortical do mesmo.

    Conexões neuronais são continuamente feitas e desfeitas, de acordo com os inputs aferentes assimilados pelo sistema nervoso central (SNC). Por isso, mudanças plásticas na função e organização cerebral podem ocorrer devido a alterações no comportamento que produzam significativo input aferente ao SNC. (CRUZ et al. 2012).

    Assim, de acordo com Yen (2008), a melhora no desempenho motor pode colaborar para mudanças apropriadas na organização cerebral. Tal melhora está relacionada com mudanças nas medidas neurofisiológicas.

    A neuroplasticidade faz parte de um processo dinâmico, no qual o input aferente, quando adequadamente direcionado, proporciona vantagens terapêuticas. A Fisioterapia, por sua vez, utiliza-se de estratégias que se baseiam na biomecânica e em estímulos sensoriais tornando-se imprescindível após o AVE, tendo como objetivo principal a promoção de uma reorganização cerebral, além de estimular a plasticidade neuronal (BHATT et al., 2007), tendo em vista que, após uma lesão no SNC, ocorre uma reorganização cortical promovida pelo próprio organismo, que necessita de tratamento (YEN et al., 2008).

    Assim, devido a grande complexidade do SNC, sua enorme gama neural, a variedade de respostas oferecidas por ele e a necessidade de uma possível reorganização, em casos de lesões, torna-se essencial um estudo sobre os aspectos plásticos deste sistema e sobre a forma como a fisioterapia e suas modalidades podem influenciar estes aspectos e colaborar para a reorganização, trazendo bases para a prática clínica do paciente neurológico vítima de AVE.

    O presente artigo tem como objetivo avaliar, por meio de revisão integrativa da literatura, os efeitos da fisioterapia, bem como suas diversas modalidades, na plasticidade cerebral de indivíduos com seqüelas provenientes de acidente vascular encefálico.

2.     Metodologia

    Remete a uma revisão de literatura do tipo integrativa, realizada no período de outubro de 2012 a junho de 2014, que visa deduzir questões sobre o tema abordado, a partir de uma seleção de estudos diretamente influenciados sobre essas questões. Nos métodos estão inclusos o exame das pesquisas para discutir hipóteses, sugestões para novas questões teóricas e realização de uma pesquisa notória. 

    De acordo Whittemore e Knafl (2005), a revisão integrativa é um método de exame específico que resume literaturas empíricas ou teóricas para fornecer uma compreensão mais abrangente de um fenômeno particular. Assim, tem o potencial de apresentar o estado da ciência, contribuir para o desenvolvimento da teoria, e tem aplicabilidade direta à prática e à política.

    Ainda de acordo com o autor, para ser considerada uma pesquisa, a revisão de literatura deve seguir o mesmo rigor da pesquisa primária. Portanto, para esta revisão, foram consideradas as fases de pesquisa: identificação do problema e objetivo da pesquisa; pesquisa da literatura com foco sobre o tema a ser estudado; avaliação dos dados aplicando critérios de inclusão e exclusão. 

    Assim, esse conceito representa a opção metodológica para a construção dessa pesquisa.

    A busca pela literatura foi feita através das bases de dados de literatura científica e técnica: Literatura Latino-Americana e de Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e BIREME. Os descritores foram: "acidente vascular encefálico”, “fisioterapia”, “neuroplasticidade”, “plasticidade neuronal” e “reaprendizagem motora”; estes, por sua vez, foram relacionados com o descritor "acidente vascular encefálico”. A busca considerou as publicações dos últimos seis anos, a fim de nos ater a referências mais atuais, já que forma incluídas revisões de literatura considerando a escassez de estudos originais e válidos sobre o tema.

    Após a leitura dos resumos dos artigos selecionados a partir do título, foram determinados os seguintes critérios de inclusão: estudos em língua portuguesa, estudos disponíveis na íntegra, publicações originais que abordassem o tema e revisões de literatura, considerando que a quantidade de artigos originais não seria suficiente para atingir o objetivo desta pesquisa. HYPERLINK "http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0104-07072011000300023&script=sci_arttext" Foram critérios de exclusão: artigos repetidos, artigos não acessíveis em texto completo, resenhas e artigos cujo tema não se relacionava diretamente com o objeto deste estudo e artigos em língua estrangeira.

3.     Resultados e discussão

    Foram encontrados 36 artigos continentes dos descritores buscados nas fontes de busca previamente definidas, dos quais 16 eram de língua estrangeira, 5 tratavam-se de trabalhos de conclusão de curso e/ou monografias, 4 dispunham apenas do resumo e 3 remetiam a trabalhos realizados anteriormente ao ano 2008. Assim, apenas 8 artigos se encaixaram aos critérios de inclusão da pesquisa e foram selecionados para compor o quadro dos resultados do presente artigo, encontram-se descritos abaixo:

Autores

Ano

Título

Tipo de estudo

Objetivo

Andressa Benvenutti Benvegnu, Luthiele Araújo Gomes, Carla Trindade de Souza, Tábata Bellagamba Batista Cuadros, Letícia Werkhauser Pavão, Simone Nunes Ávila

2008

Avaliação da medida de independência funcional de indivíduos com

seqüelas de acidente vascular encefálico (AVE)

Observacional / longitudinal.

Avaliar a evolução da capacidade de independência funcional de indivíduos com seqüela de AVE na realização de atividades da vida diária, tanto na fase de hospitalar (considerada fase aguda) quanto na ambulatorial –­­(considerada fase crônica).

Angela Maria Brol, Flavia Bortoloto, Nedi Mello dos Santos Magagnin

2009

Tratamento de restrição e indução do movimento na reabilitação funcional de pacientes pós acidente vascular encefálico: uma revisão bibliográfica

Revisão

Realizar uma pesquisa bibliográfica acerca da eficácia da TRIM em pacientes acometidos por AVE.

Marcella de Pinho Borella, Tatiana Sacchelli

2009

Os efeitos da prática de atividades motoras sobre a neuroplasticidade

Revisão

Avaliar a eficácia da prática de atividades motoras sobre a neuroplasticidade

Keila Cristianne Trindade da Cruz, Maria José D’Elboux Diogo

2009

Avaliação da capacidade funcional de idosos com acidente vascular encefálico

Exploratório descritivo transversal

Avaliar a capacidade funcional de idosos com AVE e verificar a relação, bem como a influência de variáveis sociodemográficas e de saúde na capacidade funcional desses sujeitos.

Gabriela Barato, Tatiana Fernandes, Mariana Pacheco, Victor Hugo Bastos, Sergio Machado, Mariana Pimentel de Mello, Júlio Guilherme Silva, Marco Orsini

2009

Plasticidade cortical e técnicas de fisioterapia neurológica na ótica da neuroimagem

Revisão

Verificar a dinâmica da reorganização do sistema nervoso central após a aplicação de téc­nicas de fisioterapia neurológica.

Cláudia Araújo de Paula Piassaroli, Giovana Campos de Almeida, José Carlos Luvizotto, Ana Beatriz Biagioli, Manoel Souza

2012

Modelos de Reabilitação Fisioterápica em Pacientes Adultos com Sequelas de AVC Isquêmico

Revisão

Verificar na literatura a existência de protocolos de reabilitação fisioterápica para pacientes com seqüelas de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) e a elaboração de uma sugestão de tratamento fisioterápico para estes pacientes, visando a melhora nas atividades de vida diária (AVD's).

Pâmella Carneiro da Cruz

Levy Aniceto Santana

Flávia Ladeira Ventura Dumas

2012

Fisioterapia e neuroplasticidade

após acidente vascular encefálico:

uma revisão da literatura

Revisão

Apresentar uma revisão da literatura sobre a influência da Fisioterapia na plasticidade neuronal após o AVE.

Izabela dos Santos Mendes Mariana Cesar Ribeiro dos Reis Djenifer Queiroz de Souza Ana Carolina Lacerda Borges Sérgio Takeshi Tatsukawa de Freitas Fernanda Pupio Silva Lima Mário Oliveira Lima

2012

Métodos terapêuticos utilizados em sujeitos com deficiência sensória motora após disfunção vascular encefálica: revisão de literatura

Revisão sistemática e descritiva

Avaliar por meio de revisão de literatura os efeitos de alguns exercícios funcionais aplicados em indivíduos com hemiplegia espástica após disfunção vascular encefálica.

    Dos artigos selecionados, 50% (4 artigos) foram publicados no ano de 2009 e, destes, um tratava-se de estudo exploratório descritivo transversal, 3 artigos com publicação do ano de 2012, tratando-se de revisão de literatura, um estudo do tipo observacional longitudinal, tendo sua publicação no ano 2008.

    De acordo com Benvegnu et al. (2008) o acidente vascular encefálico (AVE) é causado por uma interrupção do fluxo de sangue para o cérebro devido à obstrução de uma artéria (origem isquêmica) ou ruptura de vasos sanguíneos cerebrais (origem hemorrágica), sendo considerado a doença vascular que mais acomete o SNC. A hemiplegia é um sinal clássico do AVE e é caracterizada por perda dos movimentos voluntários em um hemicorpo, apresentando alterações musculares, sensitivas e cognitivas. Uma das seqüelas mais importantes do AVE é a dificuldade na realização dos movimentos, que está relacionada à diminuição da função cognitiva, indicando uma forte influência negativa para a recuperação dos movimentos e sobrevivência dos indivíduos acometidos por essa patologia. Dependendo da gravidade das seqüelas apresentadas, esses indivíduos têm comprometido seu nível de independência funcional nas atividades cotidianas, tais como alimentar-se, tomar banho, vestir-se, deambular, deitar-se e levantar-se, necessitando de auxílio de outra pessoa para a realização das atividades de vida diária (AVDs).

    A neuroplasticidade dentre suas muitas definições, segundo Borella (2009), pode ser descrita como a capacidade de adaptação do sistema nervoso, especialmente a dos neurônios, às mudanças nas condições do ambiente que ocorrem diariamente na vida dos indivíduos. Esta reorganiza­ção neural é um objetivo preliminar da recuperação neural para facilitar a recuperação da função e pode ser influenciada pela experiência, comportamento, prática de tarefas e em resposta a lesões cerebrais.

    Ainda de acordo com Borella (2009), a neuroplastici­dade atividade-dependente é um mecanismo para a recuperação em resposta ao treinamento, dependente da demanda de tarefas antes de uma simples quantidade de atividade motora. E mais do que a repetição de movimentos é a manipulação de variáveis específicas da prática como a intensidade e especificidade da tarefa, que maximizarão o poten­cial da recuperação. Essa especificidade de trei­namento induz reorganização cortical, e o número de neurônios e a intensidade das vias neurais envol­vidas na tarefa são diretamente relacionadas com a intensidade e freqüência da prática da mesma. Isto porque o treinamento motor pode promover neurogênese, sinaptogênese, angiogênese, mo­dulação pré e pós sináptica entre outros, e todos esses podem contribuir para resultados positivos na recuperação em resposta a esse treinamento.

    O estudo de Cruz (2012) evidencia que diferentes tipos de intervenção motora e sensorial para otimizar a recuperação pós-AVE se mostraram eficazes em termos de mudança na função e na reorganização cortical quando estabelecidos dentro dos princípios da neuroplasticidade, constatando que a recuperação motora é interdependente de mudanças corticais, ou seja, o tipo de tarefa motora, a quantidade de repetições das atividades, o direcionamento das tarefas, a motivação para a realização do ato motor e estímulos sensoriais podem auxiliar no aprendizado, na formação de memória e em conseqüentes mudanças neuroplásticas.

    O estudo de Benvegnu et al. (2008) mostrou que a função motora dos pacientes, quando realizam fisioterapia, evolui positivamente e que ao esperar longos períodos para iniciar a fisioterapia ou não realizá-la durante o período hospitalar têm um impacto negativo na função motora e conseqüentemente na sua funcionalidade. Observa-se, também, que a sobrevida e a funcionalidade melhoram com os cuidados gerais e a reabilitação na fase hospitalar. Por isso, a importância da reabilitação após o AVE tem sido enfatizada em vários estudos.

    O estudo realizado por Cruz e D’Elboulx (2009) com 44 idosos de idade média de 66 anos, mostrou que a idade é inversamente proporcional aos valores da medida de incapacidade funcional (MIF) e seus domínios, ou seja, quanto maior a idade, menor foi a capacidade funcional apresentada pelos entrevistados, o que aponta para a necessidade de se investir em estratégias de reabilitação que venham amenizar as perdas funcionais advindas da própria idade e, principalmente, das seqüelas de AVE. Além disso, dos 44 sujeitos, 32 tinham acesso a serviço de fisioterapia (28 ambulatório de Neuroclínica e 4 em Centro de reabilitação) e 12 não possuíam acesso a serviços de saúde, assim os que tinham condições para acessar o serviço de saúde tinham capacidade funcional melhor que aqueles que não acessavam esses serviços.

    Mendes (2012) afirma que, atualmente, existem vários métodos que podem ser utilizados pelos fisioterapeutas para o tratamento de pacientes com hemiplegia espástica, os quais devem ser empregados de acordo com o quadro clínico apresentado pelo paciente, visando à funcionalidade. De acordo com os resultados obtidos dos artigos pesquisados por Mendes (2012), acredita-se que os exercícios funcionais possam estimular a neuroplasticidade, melhorando suas atividades físicas e os aspectos psicossociais, porém, com seqüela permanente. A terapia funcional envolve a contração de vários músculos durante a realização de cada exercício e isso faz com o indivíduo aprenda quais necessitam de contração durante suas atividades (aprendizagem motora), ou seja, gerando a inibição recíproca.

    Brol et al., realizaram em 2009 uma revisão de literatura sobre a eficácia da terapia de restrição e indução do movimento (TRIM), que, segundo o autor, atua através do treinamento repetitivo, conduzindo a um recrutamento amplo de neurônios adjacentes à lesão, para a inervação dos músculos paréticos do membro superior afetado pelo AVE. Porém, alguns estudo revisados por Brol et al. (2009) afirmam que a melhora na função motora produzida pela TRIM em pacientes de AVE, está associada a mudanças na lateralidade da ativação cortical no hemisfério não lesado, em relação ao hemisfério ipsilateral, ou seja, o tratamento pode promover a recuperação motora pela mudança de posição de recrutamento cortical em direção ao hemisfério cerebral não lesado. Diante disso, sugere-se que o córtex motor do hemisfério não lesado pode ser um alvo efetivo para as intervenções fisioterápicas de reabilitação direcionadas à melhora funcional após o AVE. Por fim, Brol et al. (2009) concluiram que a TRIM é um produto do advento científico da fisioterapia que traz benefícios funcionais para os pacientes que se submetem a ela. Porém, faz-se necessário investigar mais detalhadamente essa técnica a fim de reduzir as complicações psicológicas advindas deste tratamento, maximizando, assim, a funcionalidade do membro superior acometido.

    Barato et al., realizaram uma pesquisa através de estudos que utilizaram imagens de ressonância magnética funcional (RMF) em pacientes vítimas de AVE após a utilização de técnicas de fisioterapia. Este método possibilita observar a existência de alterações significativas na topografia dos mapas somato-motores tanto em sujeitos saudáveis quanto em pacientes. Já que a técnica permite precisar a lesão e seu processo de reorganização plástica segundo as funções altera­das, proporcionando melhor compreensão dos mecanismos responsáveis pelos déficits neurológi­cos e incapacidades irreversíveis. Através da revisão foi pos­sível verificar ativações ipsilateral ou contralateral à lesão, ativações bilaterais, bem como ativações em torno da área lesionada através de RMF. Estudos apontam para a relevância do papel do córtex motor primá­rio na recuperação funcional. O mesmo lado do cór­tex motor primário intacto com projeções ao córtex ipsilateral contribuem para tal recuperação.

    Para Piassaroli (2012) o processo de conduta fisioterápica objetiva ma­ximizar a capacidade funcional e evitar complicações se­cundárias, possibilitando ao paciente reassumir todos os aspectos da vida em seu próprio meio. Trabalhando como um cientista clínico do movimento, o fisioterapeuta é capaz de identificar e avaliar as estratégias fisioterápicas apropriadas. Esse processo inclui lidar com os fatores so­ciais e psicológicos que afetam o paciente com AVC.

    Piassaroli (2012) afirma, ainda, que os programas terapêuticos aplicados pelos profis­sionais da saúde consistem em processos pelos quais se ministra, orienta, guia e ensina a demanda funcional ade­quada, a fim de estimular que os mecanismos de reorga­nização neural desenvolvam-se de forma ideal, na tenta­tiva de recuperar ao máximo as funções sensório-motoras dos pacientes com lesão neurológica. Tendo em vista que dentro do contexto geral de seqüelas neurológicas, a motricidade domina as expectati­vas dos pacientes, de seus familiares e da equipe multidis­ciplinar, independentemente de fatores cognitivos, emo­cionais e sociais, a fisioterapia é uma das especialidades que mais tem sido solicitada mundialmente por equipes multiprofissionais que trabalham em hospitais, clínicas, serviços de atendimento domiciliar e outros que tratam pacientes neurológicos. Esta rotina varia desde a intervenção cirúrgica ao tratamento clínico, passando, posteriormente, para o tratamento fisioterápico. Este consiste, na medida do possível, em restabelecer funções e/ou minimizar as seqüelas deixadas. No entanto, o quadro tende, com o tem­po, a se estabilizar e o paciente apresenta, na maioria das vezes, uma hemiparesia ou uma hemiplegia, dependendo não somente da área cerebral afetada, como também da extensão deste acometimento. Isto faz com que a pessoa torne-se um eterno paciente da fisioterapia, desenvolven­do, na maioria das vezes, uma atividade relativa.

4.     Considerações finais

    O AVE é um grande problema de saúde pública mundial que resulta em déficits neurológicos temporários ou permanentes, de variadas intensidades, que podem comprometer a independência do indivíduo acometido na realização de atividades de vida diária, sendo uma das principais causas de morbimortalidade do mundo.

    Sabe-se que o cérebro humano está constantemente so­frendo alterações e este é um dos motivos que difi­culta o entendimento de seus mecanismos, como a regulação da neuroplasticidade após a lesão. Mas, por meio desta revisão, analisando os resultados dos estudos e as revisões literárias antecedentes a esta, pode-se sugerir que a prática de tarefas ou habilidades específicas, sejam elas novas ou já conhecidas, deve ser sempre o foco principal do programa de tratamento dos pacientes neurológicos, conduzindo assim a melhor recuperação funcional, pois a neuroplasticidade é, aparentemente, atividade-dependente e não simples­mente uso-dependente. Esta perspectiva evidencia a relação da neuroplasticidade com a abordagem do controle motor na Fisioterapia, na medida em que esta se fundamen­tada na compreensão da biomecânica humana, como resultado da adaptabilidade do organismo, agindo como um sistema na elaboração de estratégias para solucionar desafios motores.

    Nenhum estudo apresentou efeitos colaterais em suas intervenções, entretanto foram metodologicamente heterogêneos e um pouco limitados. Portanto, sugere-se que mais pesquisas práticas, principalmente com seres humanos, sejam realizadas para uma melhor compreen­são das mudanças plásticas durante a recuperação das funções nervosas, apresentando ca­minhos de investigação científica a serem desenvolvidos, os quais poderão contribuir para a fundamentação de novos procedimentos de intervenção, considerando-se a notória escassez de trabalhos sobre esse aspecto, principalmente, no que diz respeito ao âmbito nacional.

Referências bibliográficas

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