Futsal: das questões de gênero à prática esportiva Futsal: de las cuestiones de género a la práctica deportiva |
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Discentes do Curso de Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira **Orientador. Docente do curso de Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira (Brasil) |
Lorena Ferreira Silva* Rafael Campos Silva* Stephany Fernandes Santos* Prof. Jovino Oliveira Ferreira** |
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Resumo O objetivo do presente estudo foi analisar a construção cultural do corpo feminino e verificar os preconceitos associados às questões de gênero quando o assunto é a prática do futsal feminino no Brasil. Para isto, levantou-se uma pesquisa bibliográfica de forma simples e objetiva percorrendo publicações acadêmicas nas temáticas, corpo, gênero e futsal. Para realização do estudo foi utilizado de pesquisa bibliográfica em artigos científicos, teses e informações a cerca do tema proposto. Onde foi possível efetuar comparações entre os autores e comprovar a diferenciação dentre os gêneros no esporte. Optou-se por discutir a condição dessa prática esportiva no âmbito de alta performance e a função mediadora do professor de Educação Física como um agente social e transformador dentro do contexto educacional. Alem disso, tentou-se elucidar questões de gênero no esporte e na educação física, construído pelo nosso modelo sociocultural, passando pelos preconceitos e discriminações na prática do esporte, verificando sua origem e vertentes. Unitermos: Educação Física. Esportes. Futsal. Gênero.
Recepção: 27/09/2014 - Aceitação: 08/010/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O futsal assim como o futebol é indiscutivelmente um dos esportes mais praticados no Brasil e que movimenta todo o país. Podemos dizer que assim como o futebol, o futsal também se trata de um fenômeno cultural cujo seu surgimento de acordo com Santana (2004), segue por duas diferentes vertentes, sendo a primeira defendida pelo seu surgimento no Uruguai, mais precisamente na ACM de Montevidéu, onde o professor Juan Carlos Ceriani teria criado as primeiras regras. Essa corrente sustenta que os jovens brasileiros foram até lá e, retornando trouxeram aquelas. Outra corrente acredita que foi no Brasil, na ACM de São Paulo, onde fora praticado por outros jovens a titulo de recreação - posição sustentada inclusive pela Confederação Brasileira de futsal (http://www.cbfs.com.br). Tornou-se um esporte masculinizado, estereotipado pela cultura brasileira onde a mulher e tais esportes passaram a ter caminhos opostos dentro da sociedade.
Assim nos deparamos com diversas interrogações a respeito da prática do futsal, e não são apenas interrogações que surgem, mas também afirmações em torno deste mesmo assunto aparecem e logo se fixam como verdades absolutas dentro do nosso modelo sociocultural. O presente trabalho visa demonstrar alguns dos padrões impostos pela sociedade, verificando que o que diferencia homens e mulheres, não são apenas aspectos biológicos, mas também os aspectos sociais, históricos e culturais.
Metodologia
O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que segundo Gil (1991) é quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. Foram pesquisados alem de livros, artigos científicos e teses já publicadas a cerca do tema proposto, no período de 2001 a 2014. Os bancos de dados pesquisados foram revistas digitais, artigos científicos, periódicos e sites de busca como Google acadêmico e Google livros, onde foi possível efetuar comparações entre os autores e comprovar as diferenças existentes dentre os gêneros no esporte em questão.
Referencial teórico
Alguns autores afirmam que determinadas culturas elegem e estabelecem suas construções para o feminino e o masculino, impactando diretamente nas ações dos mesmos dentro da sociedade. Para a nossa sociedade vestir calções, ter cabelos curtos ao invés de longos, calçar chuteiras ao invés de sapatilhas, ter hematomas e manchas nas pernas torna a praticante do futsal lésbica ou menos feminina que as demais mulheres que não praticam esse esporte, isto está fundamentado numa análise cultural, e conseqüentemente o fato do homem e da mulher se comportar diferente das expectativas sociais, no andar, falar, vestir entre outros procedimentos, já é motivo para serem julgados.
Segundo Goellner (2001), gênero é a construção social do sexo e o que diferencia homens e mulheres, não são apenas aspectos biológicos, mas sociais, históricos e culturais. Como todos sabem, existem diferenças entre homens e mulheres, todavia não se encadeiam apenas em fatores biológicos, e através deste determinante surgem conceitos e interrogações em relação a esses personagens que residem na sociedade das gingas, do futsal, do carnaval, do samba, que talvez pudéssemos chamar de sociedade brasileira. Podemos perceber que a educação que meninos e meninas tiveram antes de inserirem na escola, reflete amplamente nas aulas de educação física com discriminações e preconceitos de gênero.
Simões (2003) destaca que o esporte e a atividade física não fazem parte da realidade feminina brasileira; esse é um direito hoje que as mulheres não desfrutam por não ter sido educada para isso.
Não restam dúvidas de que a participação feminina no esporte gera manifestação, discriminações preconceitos e questionamentos quando as mulheres são protagonistas das modalidades esportivas determinadas culturalmente como masculinas.
Notamos que a mulher iniciou-se no âmbito esportivo através dos esportes individuais e sem contato corporal, pois o contato físico poderia oferecer risco ao seu corpo, já que alguns mitos e argumentos eram sustentados por médicos que tinham total domínio na Educação física na época.
No século XX, o Brasil estava vivendo um processo de higienização, cujo objetivo era proporcionar vida saudável para o estado. Assim veio a preocupação com a maternidade e como criar e educar as crianças que nasciam, e na concepção dos médicos, a atividade física passou a ser um conceito central para sustentar a ideologia de que para gerar crianças saudáveis para o país, era necessário realizar atividades físicas. Para isso a Educação Física deveria fazer parte do dia-a-dia do brasileiro, porém os médicos privaram a mulher de alguns esportes que poderiam machucar principalmente os órgãos de reprodução, mas alguns esportes que não ofereciam tanto perigo eram recomendados, como o voleibol, tênis e natação.
Viana (2008), afirma que não é o futsal em si que está errado, mas a forma como ele vem sendo desenvolvido por alguns professores nos primeiros contatos com a educação física, de outro lado vemos que as meninas não possuem incentivo para o esporte durante a infância, não jogam bola, não sobem em árvores, não correm, ou seja, não realizam quando pequena nenhuma atividade que beneficiará sua inserção ao esporte, para isso basta observarmos os brinquedos e as brincadeiras que tem a infância feminina fazendo com que a sociedade as identifique como fracas e incapazes de se incluírem ao esporte, principalmente no futsal.
De acordo com Souza e Knijnik (2007), o tratamento da mulher no esporte é inversamente oposto ao tratamento que o homem recebe, onde se reforça a desigualdade de gênero, mostrando a mulher em posições submissas, ou mesmo apelando para sua aparência física em detrimento de suas capacidades atléticas. Os autores mostram que a mídia exerce grande poder sobre a massa populacional ao produzir imagens de todos os tipos, como fotografias, anedotas, e textos. A mídia fortalece o que se chama de imaginário social coletivo, isto é, as representações que os vários grupos sociais fazem de determinados eventos e personagens. É por intermédio da mídia que os discursos dominantes sobre o que é ser homem, ou mulher, se estabelecem e instituem seu espaço no imaginário coletivo.
O esporte intervém participa de todas as grandes problemáticas sociais, da educação à política, passando por questões demográficas, geográficas e mesmo jurídica. Entretanto destaca-se que os estudos sociológicos sobre o impacto do esporte nas sociedades contemporâneas acabaram por transformar o esporte objeto de sua capacidade de integrar e até explicar os conflitos e a evolução histórica dos agrupamentos sociais. Estudos vêm para mostrar que o caráter civilizador do esporte em nossas sociedades, assim como a sua linguagem praticamente universal, favorece com que este seja um fenômeno de grande importância na história da humanidade. As diferenças que existem no tratamento dado pela mídia aos homens e às mulheres que praticam esportes foram estudadas em diversos estudos que apontou que apenas 15% de toda cobertura esportiva dos jornais norte-americanos eram sobre atletas mulheres, e ainda que apenas 5% da cobertura televisiva eram de mulheres no esporte. Na Suécia, 86,7% do tempo de cobertura foi destinado a homens no esporte e 11,7% para mulheres. Pesquisas também consideram as possíveis conseqüências que isso pode trazer na construção social de gênero e diferença entre mulheres e homens, na separação da sociedade pelo gênero, e no crescente aumento do mito que sustenta a passividade e a fragilidade da mulher.
De acordo com Souza e Knijnik (2007) as mulheres tiveram que lutar muito para assegurar um espaço no mundo dos esportes: desde o prestígio dos homens, passando pela menor exposição das mulheres esportistas pela mídia, e pelas premiações mais baixas que as atletas de ponta recebem em relação aos homens; chegando a menor participação das mulheres em eventos esportivos como os Jogos Olímpicos.
O status dessas mulheres continua sendo muito pequeno. Idéias poderosas que questionam a feminilidade e orientação sexual das atletas permanecem sendo mobilizadas contra as mulheres até os dias de hoje. O domínio do masculino é o público, o político e nele se inserem princípios de força, racionalidade, atividade, objetividade.
O domínio do feminino é o privado, o doméstico ao qual se inserem fragilidade, emoção, passividade e subjetividade. Essa distinção é acentuada com a naturalização dos seres humanos. Os homens seriam, por natureza mais corajosa, mais violenta, mais racional; já as mulheres, por natureza, estariam mais propensas ao choro, ao amor, e ao frágil. E assim, baseados em critérios naturais, nasceram às atividades ligadas ao sexo: esportes masculinos e esportes femininos.
Devido a essa estreita relação que existem entre esporte de rendimento e masculinidade, as mulheres atletas enfrentam variadas formas de discriminação. No imaginário social, as conquistas esportivas estão comumente associadas à velocidade, força e resistência; flexibilidade, equilíbrio e graça, ficam em segundo plano.
O esporte assim definido favorece aos homens e colabora para a construção social da hegemonia masculina. Ao mesmo tempo, as performances e os corpos dos homens são colocados como metas para a medição de toda conquista atlética, enquanto que as performances e corpos femininos servem como uma referência negativa. Em competições e eventos esportivos as diferenças entre homens e mulheres são desfeitas pelo desempenho e quebra de recordes, reconfigurando a identidade feminina.
A prática esportiva oferece um espaço para que as mulheres adquiram respeitabilidade e reconhecimento social, destruindo falsos estereótipos femininos associados à fraqueza física e psicológica. A imagem da mulher no esporte se tornou o oposto da imagem masculina na mídia esportiva. Enquanto os homens são descritos em relação às suas conquistas, competitividade, força física e psicológica, e a coragem em jogar mesmo quando seriamente machucados; as mulheres são descritas em relação a sua aparência física, sua feminilidade, seu comportamento não-competitivo e seus relacionamentos. Para mulheres que atuam em modalidades nas quais o domínio é masculino, o preconceito e a discriminação são ainda maiores. Tanto no futebol quanto no futsal brasileiro isso é muito claro.
As futebolistas brasileiras têm alcançado ótimos resultados internacionais, porém continuam desconhecidas para o grande público. Muitas destas mulheres estão engajadas em parecerem femininas quando praticam esportes socialmente considerados e representados masculinos, tais como futebol, handebol, futsal. Para elas é importante serem aceitas tanto como mulheres quanto como grandes atletas.
Resultados e discussões
Para Nunes e Silva (2009) É relevante salientar que preconceitos são firmados dentro da escola, reforçado nas aulas de Educação Física onde as meninas se distância ainda mais das práticas esportivas escolares, onde priorizam a competitividade tornando o esporte excludente. O desinteresse das alunas pelo futsal/futebol e o acomodamento dos alunos que se sentem confortáveis ao fazerem as aulas sem a presença das meninas, pois segundo eles, as mesmas não têm habilidades e atrapalham. Com vista à inclusão de meninas e meninos nas atividades esportivas escolares, deve-se fazer manifestar o prazer do esporte jogado com companheirismo e respeito às diferenças individuais, promovendo então reflexões sobre a desigualdade de gênero no esporte escolar, reorganizando os mesmos com direcionamento das ações cooperando na diferenciação das competitivas, reconstruindo a prática esportiva do futsal nas aulas mistas.
No esporte escolar em aulas mistas de Educação Física, a separação de meninas e meninos chega a ser uma atitude natural, as ações de diferenças de gênero geram preconceitos e são construídas culturalmente. De acordo com Daolio (2003), em torno de uma menina, quando nasce, paira toda uma névoa de delicadeza e cuidados. Basta observar as formas diferenciais de se carregar meninos e meninas, e as maneiras de os pais vestirem uns e outros. As meninas ganham de presente, em vez de bola, bonecas e utensílios de casa em miniatura. Além disso, são estimuladas o tempo todo a agir com delicadeza e bons modos, a não se sujarem, não suarem.
Podemos observar, portanto, que as diferenças de gênero existem desde que as crianças nascem meninos já asseguram toda altivez de um macho. Na porta do quarto da maternidade os pais já colocam chuteirinhas penduradas, camisa de times. Os presentes são bolas, bicicletas, skate que ajudam no desenvolvimento motor, e sendo assim falam que meninos já nascem sabendo jogar bola, enquanto as meninas têm toda uma delicadeza, ganham como presentes: bonecas, utensílios para casa e são estimuladas a terem bons modos como de uma “mocinha”. Devem ser preservadas de brincadeiras ditas “de menino”, e ajudarem as mães nas atividades domésticas, pois num futuro próximo, serão esposas e mães. Nesse sentido as oportunidades motoras ficam em desvantagens tornando assim meninos mais habilidosos que meninas. São idéias preconceituosas como essas que temos a necessidade de estarmos repensando sobre a sociedade em que vivemos, e não estarmos reforçando preconceitos que diferenciam comportamentos entre sexos.
Ainda segundo Daolio (2003), os valores culturais e as construções culturais para homens e mulheres estão tão enraizados na dinâmica cultural de nossa sociedade, que não bastaria uma conscientização ou um desejo de mudança para uma possível transformação da realidade social. Apesar de o preconceito dominar o esporte, classificando-o como um “universo masculino”, e não abrindo muitos espaços para as mulheres se envolverem e praticarem com a mesma proporção dos homens, o futsal feminino institucionalizado, ou seja, praticado por equipes em competições, iniciou-se em meados da década de 1980, apesar de ter tido uma ideologia na qual não se visava o esporte em si, mas a feminilidade, a beleza e a sensualidade das mulheres para atraírem o público aos estádios. Só no final dessa década com o aprimoramento da técnica no futsal feminino é que começou a ter credibilidade. Esta presença constante, marcante e expressiva da mulher no cenário esportivo, cria uma nova representação sobre a mulher atleta no imaginário coletivo e o que nos vem aparentemente, é que não existem mais preconceitos e desigualdades, e a mulher e o homem estão em pé de igualdade neste meio.
Considerações finais
A Educação Física é uma disciplina de que vêm contribuir para a formação de Identidades, e deve ser tratada como estabelecedora de conhecimento e se faz necessário que todos compreendam as diferenças individuais fazendo com que homens e mulheres transcendam preconceitos gerados culturalmente ao longo da história.
Através deste estudo vimos como a sociedade constrói o corpo feminino e assim constatamos que devido a esta construção, as meninas são consideradas frágeis, passivas, submissas, embora meninas e meninos recebam as mesmas influências.
Deste modo, esportes como o futsal e o futebol não fazem parte da realidade feminina, que se difere da masculina, por fatores culturais e não biológicos. Logo, sabemos que existem diferenças biológicas entre os sexos, mas não servem de argumentos para afastar a mulher da pratica de tais esportes.
Podemos concluir que o esporte exerce forte impacto sobre a sociedade, que o transforma em objeto não apenas competitivo, mas também de interação, participando das problemáticas sociais, educacionais e ate mesmo políticas.
Bibliografia
ARRUDA, A.E.I; REIS, G.P.S. Uma história do futebol feminino brasileiro: superando preconceitos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 163, 2011. http://www.efdeportes.com/efd163/uma-historia-do-futebol-feminino-brasileiro.htm
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Acesso em 13/05/2014
DAOLIO, J. Cultura: educação física e futebol. 2. ed. Campinas: UNICAMP, 2003.
FEDERAÇÃO MINEIRA DE FUTSAL. História do futsal. Disponível em http://www.fmfutsal.org.br/futsal/historia-do-futsal/ acesso em 13/05/2014.
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GOELLNER, S, V. Gênero, Educação Física e esportes: do que falamos quando em gênero falamos? In: VOTRE, S. Imaginário & representações sociais em educação física, esporte e lazer. Rio Janeiro:Gama Filho, 2001.
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SANTANA, W.C. Contextualização Histórica do futsal. Fortaleza, 2004. Disponível em http://www.pedagogiadofutsal.com.br/historia.aspx acesso em 13/06/2014.
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SOUZA, J.S.S; KNIJNIK, J.D.A. mulher invisível: gênero e esporte em um dos maiores jornais diários do Brasil. Rev. bras. Educ. Fís. Esp.São Paulo.V.21,N.1.jan/mar. 2007.
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