Educação Física no ensino médio: estratégias de ensino para as lutas Educación Física en escuela media: estrategias de enseñanza para las luchas Physical education in secondary schools: teaching strategies for struggles |
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*Acadêmica/o da Disciplina do Estágio Supervisionado: Pesquisa da Prática Pedagógica do 5° período do Curso de Educação Física – Licenciatura da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI **Professora Orientadora da Disciplina do Estágio Supervisionado: Pesquisa da Prática Pedagógica do 5° período do Curso de Educação Física – Licenciatura da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (Brasil) |
Fernanda de Souza* Luciana Gomes Alves** Paulo Roberto Serpa* |
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Resumo O presente estudo objetiva verificar que estratégias de ensino podem ser utilizadas para que os alunos se interessem pelas lutas como conteúdo nas aulas de Educação Física Escolar. A ideia é refletir sobre as manifestações das lutas como conteúdo no ambiente escolar utilizando-se da metodologia de ensino Crítico-emancipatória. Realizamos uma pesquisa qualitativa do tipo pesquisa-ação, utilizando como instrumentos de coleta de dados um questionário de forma diagnóstica, os relatórios de por meio de 8 intervenções e a produção de um cartaz ao final, como forma de avaliação, tudo realizado durante as aulas da disciplina Estágio Supervisionado: Pesquisa da Prática Pedagógica do curso de Educação Física. Para tanto, participaram do estudo aproximadamente 80 escolares com idade entre 14 a 16 anos, sendo por volta de 47 meninos e 33 meninas. Os alunos cursam o Ensino Médio no período matutino, compreendendo três turmas, estas, da Escola de Educação Básica Maria da Glória Pereira, localizada em Balneário Camboriú/SC – Brasil. A razão que levou os pesquisadores a realizar o estudo, foi de reconhecer as lutas como conteúdo na Educação Física, tendo em vista a importância destas no ambiente escolar. A análise delimitou-se a reflexão das aulas e a prática pedagógica a partir dos dados coletados. No decorrer das intervenções observou-se que tanto a questão problema como os objetivos formam alcançados em diversas aulas e atividades, não somente pelas atividades em si, mas também, pela forma diferenciada de como foram desenvolvidas as aulas. Neste trabalho obtive-se a constatação que o conteúdo pode e deve ser aplicado durante as aulas de educação física. Por fim, percebe-se que ocorreu uma evolução dos pesquisadores, pois ao longo das intervenções foram superando as dificuldades que surgiam. Também, recomenda-se a realização de outras pesquisas relacionadas, que possam dispor de mais tempo para estudos teóricos e empíricos. Unitermos: Educação Física Escolar. Ensino Médio. Estratégias de ensino. Lutas.
Abstract This study aims to verify that teaching strategies can be used so that students are interested in the fights as a subject in school physical education classes. The idea is to reflect on the manifestations of struggles as content in the school environment using the methodology of Critical-emancipatory education. We conducted a qualitative study of action research type, using as instruments of data collection a questionnaire diagnostically, reports of interventions through 8 and the production of a poster at the end, as the assessment, all done during class discipline Supervised: Research Teaching Practice of Physical Education course. For both, participated in the study approximately 80 students aged 14-16 years, around 47 boys and 33 girls. Students enrolled in the high school in the mornings, comprising three classes, those of the School of Basic Education Maria da Gloria Pereira, located in Balneario Camboriu / SC - Brazil. The reason that led the researchers to conduct the study was to recognize the struggles as content in physical education, in view of the importance of the school environment. The analysis was delimited reflection classes and teaching practice from the data collected. During the interventions was observed that both the question and the problem Objectives are achieved in various classes and activities, not only for the activities themselves, but also by different way how classes were developed. This work got the realization that content can and should be applied during physical education classes. Finally, it was an evolution of the researchers is perceived because of the speeches were over overcoming the difficulties that arose. Also, it is recommended to perform other related research that may allow more time for theoretical and empirical studies. Keywords: Physical Education. Secondary Education. Teaching strategies. Struggles.
Recepção: 17/07/2014 - Aceitação: 22/09/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
As aulas de Educação Física no Ensino Médio são destinadas a jovens, em que os conteúdos a serem desenvolvidos devem ser direcionados para o reforço e aperfeiçoamento do que já foi aprendido durante todo o Ensino Fundamental. Esta em que seriam trabalhadas as mais variadas práticas corporais, e dentre outras, as lutas. Que por meio desta e suas subdivisões iria trabalhar com os alunos noções de ataque-defesa, da rivalidade, compaixão, ética, etc. Assim, acredita-se que sejam necessárias práticas pedagógicas no ensino médio que beneficiem os espaços para o ensino dos diversos conteúdos da Educação Física, assim como as Lutas.
Para as intervenções, utilizou-se da metodologia de ensino crítico-emancipatória idealizada por Elenor Kunz, que objetiva a emancipação das pessoas, ou seja, que estas possam a partir de situações de conflito e decisões consigam interferir na sua própria realidade.
Escolhemos aplicar o tema lutas no ensino médio, não somente para romper paradigmas criados ao seu redor, mas também, pelo envolvimento empírico de um dos pesquisadores com o assunto, pensando então em aproveitar seus conhecimentos prévios, é que surgiu a ideia de aplicá-lo dentro do ambiente escolar, também por parte de interesse do outro pesquisador, em ter a oportunidade de aprender, praticar e ensinar o conteúdo.
Desenvolver um trabalho com o tema lutas na escola, mais especificamente no ensino médio é muito importante, pois é um meio de conscientização para com os adolescentes que estão passando para fase adulta, em que estes diferentemente das brigas, se beneficiarão com as lutas posteriormente no mundo, pelo respeito, disciplina, desafio, entre outras qualidades de caráter formativo que as lutas vão introduzir na sua vida.
Autores como: Brasil (2000); Kunz e Trebels (2010); Kunz (2004); Rissi (2010), entre outros, trazem em suas publicações, conteúdos e atividades muito válidas para o ensino médio, voltadas alguns diretamente para o enfoque da abordagem crítico-emancipatória e outros para o tema lutas no ambiente escolar. De modo que os investigadores utilizaram em suas intervenções a abordagem crítico-emancipatória, conseguindo com esta, resultados muito positivos e significativos para com os alunos do ensino médio.
Partiu-se então o seguinte questionamento: Que estratégias de ensino podem ser utilizadas para que os alunos se interessem pelas lutas como conteúdo nas aulas de Educação Física Escolar?
Através deste questionamento surgiu o objetivo geral da pesquisa e respectivamente os específicos: Desenvolver estratégias de ensino para que os alunos se interessem pelas lutas como conteúdo nas aluas de Educação Física Escolar; Desmistificar a violência ligada às lutas; Apresentar as lutas como prática para todos os gêneros; Utilizar estratégias diversificadas para o ensino; Identificar o interesse dos alunos a partir das estratégias utilizadas nas aulas.
2. Fundamentação teórica
Ensino Médio e a Educação Física
Conforme Brasil (2000), a LDB mais recente de 1996, determina que Ensino Médio também é a Educação Básica. A Constituição de 1988 bem como a Emenda Constitucional nº 14/96 apresenta que o ensino médio além de ser garantido pelo estado, deve ser gratuito, de modo a se tornar direito de todo cidadão (ibidem).
Brasil (2000) apresenta que esta LDB o impõe a esta categoria, através do Art. 21, ao qual divide a educação em dois níveis: educação básica compreendendo a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; e a educação superior. Também, a mesma apresenta o ensino médio como sendo a etapa final da educação básica, tendo sua duração de no mínimo de três anos.
Para a Educação Física a LDB define que esta deve estar integrada a proposta pedagógica das escolas, de modo que sua prática pode ser facultativa aos estudantes em alguns casos previstos pela lei (BRASIL, 2012).
Darido et al (1999) ainda ressalva que na LDB de 96, o ensino médio tem o caráter de formação geral, de forma a trabalhar menos conhecimentos específicos do que interdisciplinares. De maneira que o currículo apresentará três áreas: “códigos de linguagem, ciência e tecnologia e sociedade e cultura, todas com igual peso (1999, p. 139)”. Logo a Educação Física está ligada a área dos códigos e linguagens ou Linguagens, Códigos e suas Tecnologias assim como designada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2000. apud SANTOS; MARCON; TRENTIN, 2012 p. 571).
Surgindo assim Gonzáles e Fraga, apresentando algumas das possibilidades que podem explicar do porque a Educação Física estar incluída nesta área do conhecimento. A educação física tem então “a responsabilidade de levar os estudantes a experimentar, conhecer e apreciar diferentes práticas corporais sistematizadas, compreendendo-as como produções culturais dinâmicas e diversificadas (GONZÁLES; FRAGA, 2009, apud SANTOS; MARCON; TRENTIN, 2012 p. 571)”.
Outro fator primordial se não o principal para a presença da Educação Física nesta área, se esclareceria pela presença da linguagem corporal, pois, esta é um meio muito grande de interação dos alunos com a cultura corporal de movimento, ou seja, com os saberes da Educação Física Escolar.
As lutas na Educação Física Escolar
As lutas estão inclusas nos PCNs (BRASIL, 1988: 96 apud LEITE; BORGES; DIAS, 2012), no bloco de conteúdos nas disciplinas de Educação Física. Como citado pelos PCNs, os objetivos da prática de lutas na escola são de compreender e de vivenciar as lutas, relacionar as lutas com a violência, conseguir diferenciar as lutas de brigas e de aprender as lutas como defesa pessoal. Partindo do pré-suposto, de que no ensino médio devem-se reviver os ensinamentos dos anos anteriores, este retoma e/ou apresenta novamente as lutas para esta fase do ensino, em que o mesmo faz parte da cultura corporal de movimento.
As lutas foram criadas a partir das necessidades por princípios de respeito, princípios éticos entre outras características a serem cultivadas no ser humano. Segundo Brasil (1988 apud RISSI, 2010, p. 18) diz que:
as lutas são disputas em que os oponentes devem ser subjugados mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, imobilização ou exclusão de um determinado espaço, combinando movimentos de ataques e defesa. Caracterizando uma regulamentação especifica que tem por fim punir atitudes de violência e deslealdade.
As lutas são então práticas corporais que possuem certa quantidade de choques corporais durante sua prática. Atualmente são praticadas para os fins do desporto de rendimento, lazer, defesa pessoal ou autodefesa, e também condicionamento físico através das academias.
Rissi menciona que a maioria das artes marciais tiveram suas origens no oriente, onde tinham ideologia mais filosófica, contudo quando chegaram ao ocidente elas foram sofrendo tantas alterações, que praticamente perderam a sua relação com as crenças e a filosofia, “sendo trabalhados de forma maximizada os conceitos competitivos, sendo as lutas adaptadas para o regimento de regras, [...] sendo denominado nas olimpíadas de esporte de luta” (RISSI, 2010, p. 18). Assim, o mesmo pode concluir que “toda arte marcial é uma luta, mas nem toda luta é uma arte marcial” (ibidem p. 18).
Rissi (2010) acrescenta ao que já foi mencionado, que a relação tanto nociva quanto virtuosa das lutas é alterada conforme ao contexto e a intenção colocada ou imposta à mesma. Assim Leite, Borges e Dias (2012, p. 2) apresentam as lutas como sendo:
inquestionável a importância dessa prática corporal caracterizada como lutas, e indispensável sua utilização como conteúdo da Educação Física nas Escolas. Seu valor vai desde cultural e histórico, a benefícios à saúde e de caráter psicomotor, cognitivo, como equilíbrio, agilidade, coordenação motora, lateralidade, percepção, noção espaço-temporal, respeito ao próximo e as regras, além das aulas de lutas proporcionarem também socialização e interação, social.
Estratégias de ensino
Podemos entender como estratégias de ensino, os meios utilizados por parte dos professores no processo de ensino-aprendizagem, levando-se em conta as atividades que serão aplicadas e resultados a serem alcançados. Masetto (1996) ainda ressalta que as estratégias além de facilitar a aprendizagem, devem auxiliar aos alunos no alcance dos objetivos daquela aula, incluindo assim, técnicas de ensino, e os diversos recursos para a mesma. Anastasiou e Alves (2004, p. 71 apud MAZZIONI, 2013, p. 96) notam que:
As estratégias visam à consecução de objetivos, portanto, há que ter clareza sobre aonde se pretende chegar naquele momento com o processo de ensinagem. Por isso, os objetivos que norteiam devem estar claros para os sujeitos envolvidos – professores e alunos – e estar presentes no contrato didático, registrado no Programa de Aprendizagem correspondente ao módulo, fase, curso, etc...
Contudo ainda no processo de ensino-aprendizagem existem alguns intervenientes que podem alterar os resultados esperados ou conduzi-los para outro caminho. Para estes Mazzioni (2013, p. 96) apresenta: “as condições estruturais da instituição de ensino, as condições de trabalho dos docentes, as condições sociais dos alunos, os recursos disponíveis”. Por isso, percebemos que o plano de ensino, e por consequência os planos de aulas devem ser flexíveis, e devem estar sujeitos a modificações durante um processo de ensino-aprendizagem.
3. Metodologia
Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa-ação, que para Thiollent, (1985:14, apud BALDISSERA, 2001, p. 5):
é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação da realidade a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo.
Para Tripp, a pesquisa-ação é “[...] um termo genérico para qualquer processo que siga um ciclo no qual se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela” (TRIPP, 2005, p. 445, 456). Portanto, os pesquisadores primeiramente planejaram, depois implementaram (interviram), a seguir descrevendo e por fim avaliaram as suas práticas, para no correr das intervenções fossem aprimorando suas atitudes didáticas.
Esta abordagem do tipo qualitativa, segundo o livro: análise de dados qualitativos de Pereira (1999), a investigação qualitativa seria a representação de uma manifestação, seu comportamento e suas relações com outros eventos. De forma a se ocupar, a investigação de eventos. Ou seja, ela procura traçar o perfil das manifestações, de acordo com o comportamento dos participantes, assim investigando as relações sociais, culturais, individualidades, etc.
Participaram do estudo os dois pesquisadores supervisionados pela orientadora, além de 80 escolares com idade entre 14 a 16 anos, sendo por volta de 47 meninos e 33 meninas, e também indiretamente o professor de Educação Física das classes.
Os alunos cursam o Ensino Médio no período matutino, compreendendo três turmas, estas, da Escola de Educação Básica Maria da Glória Pereira, localizada em Balneário Camboriú/SC – Brasil. Sendo que a mesma possui nos horários matutino e vespertino uma carga horária de aula de 45 minutos, e um intervalo (recreio) de 15 minutos. Ainda no período matutino o horário de entrada é de 7h30min, recreio é das 9h45min às 10h, e saída é às 11h30min.
Esta escola pode-se dizer que é uma escola privilegiada, pois possui muitos materiais para a educação física, além do espaço adequado para as práticas, sendo este uma quadra poliesportiva.
Utilizamos em nossa pesquisa alguns instrumentos, que foram uma entrevista estruturada, com perguntas descritivas e fechadas. Esta entrevista nos proporcionou alguns dados diagnósticos importantes sobre os conhecimentos prévios dos alunos. Esta tratava principalmente das aulas de educação física, do modelo de aula que preferiam (teórica, pratica, trabalhos em grupo, etc.), e se já haviam praticado algum tipo de luta, também da diferença de luta e briga. Vimos à necessidade de utilizar um caderno de campo, que foi fundamental no registro dos acontecimentos.
Utilizando-se como principal instrumento de pesquisa, às intervenções onde nelas foram utilizados a avaliação diagnóstica e a partir desta a formulação do plano de ensino, os planos de aula, compreendendo um plano para cada aula, contabilizando um total de 7 planos de aula. Também, os relatórios produzidos após cada intervenção, que descreveram as práticas pedagógicas dos licenciandos.
Com relação aos procedimentos de pesquisa, num primeiro momento entrou-se em contato com a escola pretendida para as intervenções, onde foi apresentado o tema a ser trabalhado e as intenções dos acadêmicos, após este, foram assinados os termos de compromisso.
A coleta dos dados foi realizada com turmas do ensino médio, por meio das intervenções, iniciando com uma visita, logo uma avaliação diagnóstica e mais sete intervenções, sendo que após cada intervenção eram realisados relatórios sobre a prática pedagógica dos acadêmicos, afim de, formar a análise de dados deste artigo.
4. Análise dos dados
Utilizamos como estratégias principalmente as aulas práticas e nestas, situações técnicas de lutas, assim como atividades mais diversificadas e lúdicas. Estas sempre seguindo a abordagem crítico-emancipatória que sugere, ao final dos ensinamentos e práticas uma espécie de atividade em que os alunos poderão reinventar as propostas apresentadas.
Segundo Oliveira, em seu artigo metodologias emergentes no ensino da educação física, as aulas que seguem a abordagem Crítico-Emancipatória devem seguir uma trajetória lógica, “1) arranjo material; 2) transcendência de limites pela experimentação; 3) transcendência de limites pela aprendizagem; 4) transcendência de limites criando” (1927, p. 26). A partir disto, percebe-se que em nossas intervenções, conseguimos acompanhar esta proposta metodológica com sucesso.
Em algumas práticas utilizamos materiais didáticos que auxiliaram na aprendizagem significativa e chamavam a atenção dos alunos para a prática. Com relação ao uso destes, entendemos que todo material ou instrumento utilizado para facilitar a aprendizagem dos alunos seria um material didático.
Logo, quando apresentamos atividades que não eram propriamente as lutas, e sim atividades que apresentavam algumas características das lutas, importantes para defesa, tais como: correr, saltar, desviar, girar, fintar, etc. percebemos uma aceitação muito maior por ambos os sexos. Isto se deve ao fato de que as brincadeiras foram mais lúdicas, não tão voltadas para as técnicas. Segundo Tristão o lúdico “está sendo utilizado com o significado de jogo, brincadeira ou brincar, pois o brincar é um processo natural na vida de todas as pessoas e perpassa por diferentes fases, nas diferentes etapas da vida de cada sujeito” (2010. p. 15. Grifos do autor).
A ideia de trazer outras atividades esta justamente na transferência de ações de um esporte/jogo para outro é chamado de Transfert. “O termo Transfert, trata da possibilidade de transferência das ações técnico-táticas de um JEC [Jogos Esportivos Coletivos] para outro JEC, tendo em vista que as modalidades possuem as mesmas invariantes e regras de ação” (SCHERRER, GALATTI. 2008. p. 239). Porém, mesmo Scherrer e Galatti tendo apresentado que isto ocorre nos Jogos Esportivos Coletivos acreditamos que o mesmo possa ocorrer de atividades mais lúdicas para os esportes, tanto coletivos tanto individuais como as lutas, independente de que sejam iguais as invariantes e regras de ação.
Com a aula diagnóstica percebemos, por meio da entrevista, que os alunos se confundiam muito com o conceito de lutas e de brigas. A partir desta constatação viu-se a necessidade de termos algumas conversas com os alunos relacionados ao assunto. Para tanto, utilizamos a própria aula diagnóstica e a aula final para esclarecimentos, fora os constantes e sucintos comentários sobre o assunto em outras aulas. Para uma maior desmistificação, utilizamos então como recurso, a própria avaliação realizada na ultima aula, em que alguns grupos iriam pesquisar sobre lutas, sobre brigas e a relação/confusão existente entre as duas.
Com relação aos gêneros nas lutas, percebemos nas aulas iniciais que os meninos tinham medo de “sem querer”, acabar por machucar seus colegas, da mesma forma que as meninas tinham o receio de serem atingidas de uma maneira mais forte e se machucar. Porém, estes receios foram sendo sanados no decorrer das intervenções, pois, mesmo que em muitas aulas eles acabaram tendo que interagiram em confronto direto, não houve maiores complicações, nenhum aluno se machucou durante as aulas e nem as aulas incentivaram a violência entre elas.
Quando avisados que a escola trocou os horários das turmas, de modo que perdemos uma das nossas, assim pegando outra turma, significou para nós uma quebra no processo, em que os novos alunos perderam então boa parte do desenvolvido inicialmente, sendo que ainda tentamos retomar alguns assuntos com eles.
Com relação aos dados retirados da entrevista, entendemos que os alunos preferem mais as aulas práticas, porém isto além de não ser uma verdade absoluta, demonstra que eles não estão totalmente satisfeitos com as aulas de educação física que tem. Isto se evidencia porque segundo as entrevistas eles também gostam de aulas em que poderiam fazer trabalhos em grupos na sala e de aulas dialogadas em sala.
Já com a relação dos mesmos em já terem praticado ou não alguma luta, a grande maioria dos alunos de ambas as turmas nunca teve vivencia de luta, e os que tiveram, foi das seguintes lutas: Taekwondo, capoeira, jiu-jitsu, muay tai, box, karatê, kung-fu, judô e MMA.
Com relação aos dados retirados dos cartazes, percebeu-se que os grupos procuraram dizer que as mídias apresentam algumas lutas como incentivadoras de brigas, e até mesmo desvirtuando o verdadeiro sentido das lutas, taxando-as como brigas. Além disso, apresentaram que as lutas são pouco desenvolvidas dentro das escolas, relatando inclusive alguns argumentos apresentados pelos professores, como por exemplo, a falta de conhecimento prévio dos professores e a possível incitação a confusões dentro da escola. Foi interessante perceber que houve grupos que realizaram uma espécie de fundamentação ao citar os parâmetros curriculares nacionais, com relação à existência do conteúdo lutas na educação física escolar.
Também, conforme surgiam inquietações e discussões com relação às práticas, acabamos por certo momento refletindo se um professor de educação física que não tem os conhecimentos técnicos sobre determinados esportes poderia então, oferta-los em sua disciplina. Partindo do entendimento dos pesquisadores, é possível sim, mas o sucesso estaria partindo da experimentação, da vivência do aluno.
Em nossas intervenções os alunos vivenciaram atividades desenvolvidas de forma lúdica, pois nossas intervenções não visaram tão afundo uma determinada luta (judô, karatê, capoeira) sendo assim, a parte da técnica ficou superficial e as regras de competição foram pouco citadas. Logo pensando na vida profissional futura, e dos profissionais que já estão por ai, acreditamos que se possa contar com a presença/participação de um professor de lutas, para demonstrar em uma ou duas aulas, as regras e técnicas específicas das lutas pretendidas e trabalhadas.
A partir de tudo que viemos apresentando sobre as intervenções, percebemos que num geral houve um crescimento tanto nosso como professores, como de nossos alunos, acreditando assim que realizamos uma boa prática, recheada de resultados positivos.
5. Conclusão
Acreditamos como futuros professores, que precisamos aprender muito mais com relação à intensidade do cotidiano escolar e a como nos adaptarmos as dificuldades enfrentadas. Precisamos viver mais na escola, para promover futuras mudanças que se farão necessárias ao longo de nossas vidas.
É clara a importância de intervir em meio escolar para nossa formação como futuros professores, pois esta atividade permite oportunizar a este distinto profissional, que seja mais consciente, com uma instrução mais humana, com uma visão de sociedade mais realista.
Chegamos ao final da pesquisa, e percebemos que a experiência adquirida junto aos alunos, pode ser um estimulo maior para nossa formação, observando assim que no ambiente escolar poderemos trilhas nossos caminhos, enquanto “seres da educação”. Percebemos, durante as aulas, que ocorreu um processo evolutivo, principalmente de nossa parte. Ao longo das intervenções, tivemos algumas dificuldades e com estas algumas superações, o que nos acrescentou inúmeras aprendizagens.
Por fim, entendemos que o conteúdo apresentado por meio deste é de certo modo simples de ser aplicado numa escola, mas, precisa ser planejado, organizado e apresentado aos alunos com muita clareza e determinação, para que os mesmos sintam-se seguros para a prática, já que este conteúdo “lutas” não é muito aplicado pelos professores por falta de conhecimento e de vontade. Se tivermos interesse em ensinar algo, vamos ensinar, é só uma questão de prioridades. Neste trabalho obtivemos 100% de aprovação durante as práticas e constatamos que o conteúdo pode e deve ser aplicado durante as aulas de educação física.
Referências
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MASETTO, Marcos. Didática: A Aula como Centro, 3ª Ed. São Paulo: FTD, 1996. MAZZIONI, Sady. As estratégias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem: concepções de alunos e professores de ciências contábeis. Revista Eletrônica de Administração e Turismo – ReAT | vol. 2 – n. 1 – JAN./JUN. – 2013.
OLIVEIRA, Amauri A. Bássoli de. Metodologias Emergentes no Ensino da Educação Física. Revista da Educação Física/UEM 8(1):21-27, 1997.
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