efdeportes.com

Contribuições de Émile Durkheim para a compreensão das 

ações de formação de atletas no voleibol brasileiro até 2011

Aporte de Emile Durkheim para la comprensión de las acciones para la formación de jugadores en el voleibol brasileño hasta 2011

 

Univates – Centro Universitário

(Brasil)

Rodrigo Lara Rother

rodrigorother@univates.br

 

 

 

 

Resumo

          A construção deste texto faz parte da avaliação da disciplina de Desenvolvimento, Espaço e Território, do programa de mestrado em Ambiente e Desenvolvimento da Univates – Centro Universitário. Consistiu em relacionar um dos autores da sociologia trabalhados em aula e sua devida bibliografia recomendada, com o tema abordado por cada aluno da disciplina em sua tese de dissertação final. Para este trabalho foi escolhido o autor Émile Durkheim, o qual buscaremos encontrar relações com a problemática da descoberta e formação de jovens atletas de voleibol.

          Unitermos: Voleibol. Formação de atletas. Anomia. Fato social.

 

Recepção: 18/09/2014 – Aceitação: 27/09/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Voleibol brasileiro: trabalho de base e resultados no cenário internacional

    Sabe-se que o voleibol é um dos principais esportes do Brasil, tanto em número de praticantes como em público e espaço na mídia. Isso se deve muito ao trabalho qualificado que é desenvolvido por técnicos e ao apoio que entidades esportivas prestam a esta modalidade, levando o país a resultados expressivos e várias conquistas internacionais (Moutinho et al, 2003; Beal, 2002; Espá et al, 2003; Fotia, 2003). No Rio Grande do Sul, segundo Dalsin (2004), a modalidade já era praticada muito antes de 1916, sendo este o ano em que teve seu primeiro evento público. Atualmente o estado é uma referência na formação de jovens atletas e tem representantes nas várias Seleções Brasileiras de base, tanto no masculino quanto no feminino, firmando o nome do país como um dos mais competitivos e destacados na modalidade. Mas nos últimos anos, esta supremacia do Brasil vem caindo e novas potências no esporte vêm emergindo neste contexto.

    Na categoria adulta, o Brasil ainda está se mantendo no pódio das principais competições internacionais, haja visto que estas equipes tem atletas oriundos de várias gerações distintas, formadas ao longo dos anos, e que vão se agrupando nesta categoria superior. Já nas categorias de base, onde a cada ano deve-se formar uma nova geração de atletas, não se pode dizer o mesmo. A hegemonia brasileira, que já foi mundial, parece estar agora restrita apenas ao continente sulamericano e, ainda assim, não mais em todas as categorias. Um exemplo é a categoria infanto-juvenil masculina que, como apontam os dados da Confederação Sulamericana de Voleibol (2012), venceu todos os campeonatos continentais de 1978 a 2006 e, após o título daquele ano, não conseguiu mais repetir o feito. Outro exemplo de declínio de resultados é a categoria infanto-juvenil feminina que, após conquistar o terceiro título mundial em 2009, no campeonato mundial seguinte ficou apenas na quinta colocação, já no contexto sulamericano, em 2011 perdeu o título continental após 15 anos.

    Após alguns resultados que deixaram em alerta as categorias de base, e com a pressão para formar uma equipe nacional de forte representatividade para a Olimpíada do Brasil em 2016, a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) lançou mão de várias ações para tentar reencontrar o caminho das conquistas: investimento de capital na estrutura dos Campeonatos Brasileiros de base; realização de avaliações de novos atletas em cada região do país; montagem de uma seleção infantil sub-15 e uma seleção escolar sub-14 para acelerar o processo de ingresso e adaptação de novas atletas para as seleções futuras; aumento do tempo de permanência dos atletas das seleções infanto-juvenil e juvenil em treinamento no Centro de Desenvolvimento do Voleibol da CBV; realização de mais partidas e torneios preparatórios para as seleções de base antes das competições sulamericanas e mundiais; realização do programa “Técnicos de Referência”, para qualificar técnicos de vários estados para que os mesmos multipliquem esses conhecimentos com os seus congêneres de profissão.

    Se classificadas estas seis iniciativas em categorias, percebe-se que cinco delas são voltadas a melhoria do treinamento, a preparação e a competição para os atletas. Somente uma envolve a qualificação dos técnicos formadores, ainda assim contemplando uma pequena minoria, classe esta que é a grande responsável pelo contínuo crescimento do voleibol e surgimento dos novos talentos para as seleções nacionais.

    Bizzochi (2000) e Bojikian (2003) ressaltam a importância do técnico de voleibol na formação técnica/tática dos novos atletas e Bompa (2004) aponta o mesmo como um grande responsável. Além destas questões técnicas e sociais, Weinberg e Gould (2001) lembram que em muitos casos não somente é responsabilidade do técnico o desempenho de sua equipe, como também o controle sobre os custos financeiros, a disponibilidade de locais e tempo necessário para os treinamentos, a solução de problemas de relacionamento com e entre seus atletas, entre outras questões psicológicas e organizacionais, causando ansiedade e estresse nos técnicos, dividindo a atenção que deveriam dedicar às tarefas formativas do dia a dia. O acúmulo destas várias atribuições pode dispersar o foco que o técnico necessita destinar ao processo formativo, causando efeitos negativos na descoberta e desenvolvimento de novos talentos da modalidade em questão. Contribuindo a esta lógica, Paiano (1998), Mariz de Oliveira (1991), Barros (1992), Possebom e Cauduro (2001) e Nista-Piccolo (1995), entre outros, apontam para uma desvalorização financeira do profissional que atua na área da Educação Física em geral, estendendo-se para os esportes de base, onde se trabalha com crianças e adolescentes e que não tem o mesmo reconhecimento e apelo que os profissionais que atuam em equipes esportivas adultas e profissionais, onde se movimentam maiores volumes de investimentos e retorno de mídia. Esta depreciação financeira leva os profissionais que atuam em equipes esportivas de base a exercerem mais funções ou buscarem outras fontes de renda paralelamente ao exercício de técnicos de voleibol.

    Este contexto encontrado pelo técnico de voleibol atualmente parece ser fator preponderante para que a qualidade da descoberta e desenvolvimento de novos talentos em formação sofram influências negativas e seja uma das causas da diminuição de conquistas internacionais das Seleções Brasileiras nas categorias de base nos últimos anos. A busca por uma identificação deste problema no Rio Grande do Sul, reconhecido “celeiro” no fomento das Seleções Brasileiras de base, parece ser fundamental e ponto de partida para um futuro estudo em âmbito nacional.

Émile Durkheim e sua obra

    Émile Durkheim é, juntamente com Karl Marx e Max Weber, um dos três principais nomes da sociologia como a conhecemos. Seu legado permanece até hoje, mesmo que seus trabalhos datem do século XIX. Teve reconhecidas como suas principais obras a Divisão do Trabalho Social (1893), Regras do Método Sociológico (1895), O Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912). Este francês deixou para os futuros estudiosos da sociologia alguns termos de expressivo significado, como por exemplo: o fato social, a consciência coletiva, solidariedade social, anomia entre outros.

    No período de formação da sociologia e seu reconhecimento como ciência, por volta do final do século XIX, Émile Durkheim preocupava-se em criar regras para o método sociológico, garantindo-lhe um status de saber científico, assim como as demais áreas do conhecimento como a física e a biologia, por exemplo. Contudo, tão importante quanto definir o método era definir o objeto de estudo. Assim, segundo Durkheim (2007), à sociologia caberia estudar somente os “fatos sociais”, e estes consistiriam em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção sobre este mesmo indivíduo. Ou seja, algumas obrigações morais que o indivíduo deve cumprir para tornar-se membro integrante e aceito na sociedade.

    Outro termo muito utilizado por Durkheim foi a “consciência coletiva”, que na sua definição é:

    “o conjunto de crenças e de sentimentos comuns à média da população de uma determinada sociedade, formando um sistema com vida própria, que exerce uma força coercitiva sobre seus membros, como o devoto que, ao nascer, já encontra as crenças e práticas religiosas estruturadas e em plena atividade” (DURKHEIM, 1999, p.57).

    Se as práticas apontadas no exemplo acima já existem, é porque estão fora dele, mas mesmo assim, exercem influência sobre seu comportamento e crenças. É um sistema que existe fora do indivíduo, mas que o controla pela pressão moral e psicológica, ditando as maneiras como a sociedade espera que se comporte. Esta situação está intimamente ligada ao “fato social” citado anteriormente, onde os costumes (principalmente do ambiente onde vive) transformam o indivíduo em uma reprodução do que já existe e é considerado socialmente permitido. O indivíduo que descumpre as normas empregadas pela sociedade que compõem um fato social e que tem uma consciência coletiva, podem trazer inúmeras limitações e entraves na vida e no dia a dia deste.

    Seguindo a lista de termos empregados pelo autor temos a “solidariedade social”, a qual pode ser definida pelos laços que prendem os indivíduos uns aos outros nas mais diferentes sociedades. Para compreendê-la melhor é preciso levar em consideração as idéias de consciência coletiva, ou comum, e consciência individual. Para Durkheim (2007) cada um de nós teria uma consciência própria, ou individual, a qual teria características peculiares e, por meio dela, tomaríamos nossas decisões e faríamos escolhas no dia a dia. A consciência individual estaria ligada, de certo modo, à nossa personalidade, sendo que a sociedade não seria composta pela simples soma de homens, isto é, de suas consciências individuais, mas sim pela presença de uma consciência coletiva ou comum. A consciência individual sofreria a influência de uma consciência coletiva, a qual seria fruto da combinação das consciências individuais de todos os homens ao mesmo tempo. A consciência coletiva seria responsável pela formação de nossos valores morais, de nossos sentimentos comuns, daquilo que temos como certo ou errado, honroso ou desonroso e, dessa forma, ela exerceria uma pressão externa aos homens no momento de suas escolhas, em maior ou menor grau. Ou seja, para Durkheim (1999) a consciência coletiva diria respeito aos valores daquele grupo em que se estaria inserido enquanto indivíduo, e seria transmitida pela vida social, de geração em geração por meio da educação, sendo decisiva para nossa vida social. A soma da consciência individual com a consciência coletiva formaria o “ser social”, o qual teria uma vida social entre os membros do grupo.

    O último dos termos abordados por este estudo é a “anomia”. Durkheim (2007) utiliza este conceito para melhor esclarecer uma situação de crise. Trata-se de um termo que se refere à importância da moral para a continuidade da sociedade, ou seja, em que condições um grupo se integra e continua sua existência. A palavra “anomia” deriva do prefixo “a”, que significa “ausência” e da palavra grega “nomos”, que significa “norma”, “regra” ou “lei”. Assim, trata-se da ausência e/ou degradação das normas, provocando uma instabilidade ou desmoralização. Várias acepções são imputadas ao termo como o estado de espírito do indivíduo arrancado de suas raízes morais, sem padrões, obedecendo apenas a impulsos desconexos, sem qualquer obrigação. A anomia surge em situações de crise social, quando se dá uma maior ausência da ação moral. Nestes instantes, as necessidades, os apetites, as paixões, estão descontroladas e confusas (ASSUMPÇÃO, GOUVEIA e JUNIOR, 2012).

Contribuições de Émile Durkheim a compreensão do contexto do voleibol nacional

    Na difícil tarefa de encontrar alguma influência, importância ou relação entre minha tese de mestrado e as idéias de Émile Durkheim, a primeira possibilidade que me parece existir é referente à problemática deste meu estudo, ou seja, a busca e formação de novos talentos para o voleibol, causado, como vimos anteriormente neste texto, pelo declínio na freqüência de resultados de grande expressão do voleibol brasileiro nas categorias de base e a perda da hegemonia sulamericana na modalidade.

    No estado de anomia estamos diante de um problema de controle social, com valores ausentes ou em conflito, onde os fins não estão ajustados às oportunidades, ocorrendo à anarquia e a ruptura do equilíbrio. Uma sociedade em crise, como neste exemplo a Confederação Brasileira de Voleibol apresentando ausência de melhores resultados com suas equipes de voleibol nas categorias de base, fica perturbada e a perigo de cair para uma posição social inferior, neste caso com relação ao ranking da Confederação Sulamericana de Voleibol. Este sentimento negativo, tratado com maiores reflexões e detalhes por Durkheim, me parece ser uma das relações entre as idéias do autor e minha tese, ou melhor, a problemática que a faz existir.

    Outro ponto de conexão entre a tese e as idéias de Durkheim pode ser o sentimento dos jovens atletas quando descobertos e inseridos numa equipe de treinamento para sua formação esportiva. O autor cita o papel social da educação e da escola neste processo, o que muito se assemelha ao seu congênere esportivo. Segundo Durkheim, um sistema de consciência coletiva (que pode ser entendido na forma escolar e esportiva) que “force” as crianças, adolescentes ou jovens atletas a comportarem-se, a comer, beber, vestir-se e falar de acordo com as normas e padrões vigentes na sociedade em que estão inseridos, acaba por repelir qualquer desvio dos padrões dessa sociedade, podendo provocar o isolamento do indivíduo, comparável a uma pena imposta por lei. Essa pressão sofrida pela criança é a pressão da sociedade tentando moldá-la à sua imagem e semelhança, no caso da escola e também dos modelos e índices pré-estabelecidos de atletas de alto nível. O indivíduo se submete à sociedade e é nessa submissão que ele encontra abrigo. A sociedade que o força a seguir determinados padrões, é a mesma que o protege e o faz sentir-se como parte daquilo. Essa dependência da sociedade traz consigo o conforto de pertencer a um grupo, um povo, um país, levando-os a submeterem-se a rígidos processos de treinamento por longos anos até atingirem o ápice de sua performance, da mesma forma que os que não apresentam os índices relativos ao alto rendimento não devem permanecer no grupo que será submetido a esse processo.

    Obviamente a leitura que devemos fazer disso não é nem de uma obrigação para com a submissão das crianças ao treinamento, aliás, realizam as atividades com extremo prazer, nem com uma atividade que as force a um determinado comportamento. De acordo com Durkheim, podemos identificar isso como um “fato social” e tratar como um fenômeno natural, característico dos grupos sociais, seja em um ambiente escolar ou em um ambiente esportivo, caracterizando mais uma possibilidade de relação entre as idéias do autor e minha tese de mestrado.

Referências bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 197 | Buenos Aires, Octubre de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados