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Fatores que impedem o profissional de Educação

Física a desenvolver a modalidade dança na escola

Factores que impiden a los profesionales de Educación Física desarrollar la modalidad de baile en la escuela

Factors impeding professional Physical Education to develop the dance at school

 

*Graduada em Educação Física pela Faculdade Adventista de Hortolândia

**Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia

Hortolândia – SP

(Brasil)

Jaqueline Conceição da Silva*

Maria Heloisa Reis e Silva*

Helena Brandão Viana**

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A dança é apresentada como elemento da cultural corporal. A contribuição dessa arte é fundamental no desenvolvimento da coordenação motora, lateralidade, ritmo, autoimagem, equilíbrio, orientação espacial, aspectos sociais e emocionais do educando. O objetivo desta pesquisa foi identificar os motivos pelos quais o profissional de Educação Física Escolar pouco trabalha ou não trabalha dança em suas aulas, durante o ano letivo. Foi realizada uma pesquisa de campo, de caráter descritivo, feita com professores de Educação Física Escolar em escolas da região metropolitana de Campinas. Após os dados coletados e da revisão na literatura apresenta-se aqui propostas metodológicas para o crescimento da modalidade que é de suma importância para o crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente.

          Unitermos: Dança. Educação Física. Ensino.

 

Abstract

          The dance is presented as part of the cultural body. The contribution of this art is essential in the development of motor coordination, laterality, rhythm, self-image, balance, spatial orientation, social and emotional aspects of the student. The aim of this research was to identify the reasons why the professional Physical Education just works or does not work with dance in their classes during the school year. A field research ​​with Physical Education teachers in schools in the metropolitan region of Campinas was performed. After the collected data and literature review, here presents methodological proposals for the growth of the sport which is extremely important for the growth and development of children and adolescents.

          Keywords: Dance. Physical Education. Teaching.

 

Recepção: 24/09/2014 – Aceitação: 03/10/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Vemos que a dança existe e está presente na vida do ser humano há milhares de anos. O ser humano é um ser dançante desde sua infância, um ser que possui ritmo natural.

    Freire (2001, citado por ASSIS; SIMÕES; GAIO, 2009, p. 301) diz que, “[...] nosso povo tem o swing como algo tão espontâneo e o molejo como característica rítmica cultural”. Acredita-se que 90% da população, ou mais, já teve contato com dança, seja na prática ou apenas no visual.

    Marques (1997, p. 21):

    Se por um lado o fato do Brasil ser um país onde a dança é de domínio público torna-o um país democrático, peculiar, vibrante e corporal, por outro lado tem excluído a possibilidade de estudarmos dança com maior profundidade, amplitude e clareza (e até mesmo menos riscos de lesões para o corpo). Ou seja, o fato do Brasil ser um país “dançante” tem também alijado a dança da escola.

    A dança é um conteúdo da cultura corporal de movimento, que está relacionada à Educação Física, mas infelizmente não é muito praticado nesta disciplina (KLEINUBING; SARAIVA, 2009).

    A dança traz inúmeros benefícios aos seus praticantes. Esses benefícios vão desde o simples prazer em dançar, passando por desenvolver e aprimorar expressão corporal, coordenação motora, ritmo, equilíbrio e, desenvolve a capacidade intelectual, conforme afirma Rocha (2010), se estendendo para melhora da autoimagem, respeito e além de trabalhar o lado emocional do indivíduo. “A dança é, sem dúvida, uma das maiores catalisadoras da manifestação e expressão do movimento humano” (CARBONERA; CARBONERA, 2008. p.38.)

    Os primeiros contatos com a dança, na escola, acontecem na Educação infantil, mesmo sabendo que muitas vezes o intuito não é desenvolver os fatores ritmo, expressão e consciência corporal. Esse primeiro contato é de suma importância na vida da criança, pois proporcionará fatores que a levem a pensar, agir e sentir, explorando suas mais diversas emoções (PERES; RIBEIRO; MARTINS JUNIOR, 2001).

    “[...] Dançar para as crianças é bom pelo simples ato de dançar; entretanto se solicitamos um significado ou propósito para sua dança a riqueza de sua imaginação criativa responde facilmente” (SOUZA, 2010, p. 154).

    Com o decorrer do tempo o contato do aluno com a dança, como conteúdo escolar, passa a ser reduzido, ocorrendo geralmente por ocasião de datas comemorativas (PERES, RIBEIRO; MARTINS JUNIOR, 2001).

    Quanto à necessidade de termos essa disciplina dança na escola Saraiva et al. (2005b, p. 61, apud KLEINUBING & SARAIVA, 2009, p.194-195) afirma ser a dança um:

    [...] fenômeno que em sua gênese apresenta uma riqueza de possibilidades em vivências corporais, sociais e afetivas – tem papel especial na formação humana. Ela possibilita diferentes experiências estéticas que promovem “a ampliação da sensibilidade – como a capacidade de percepção do mundo, tornando capaz de vivenciá-lo e recriá-lo.

    No Brasil são escassos os cursos de graduação em dança, contudo esse conhecimento deve permear as aulas de Educação Física e Artística de acordo com os PCNs (BRASILEIRO, 2003).

    “[...] Segundo os PCNs, com a prática da Dança, os alunos já começam a tomar consciência de seus corpos e das diversas histórias, emoções, sonhos e projetos de vida que neles estão presentes” (ROCHA, 2010, p.3).

    A dança, mesmo fazendo parte da Educação Física, não se faz mais presente como disciplina escolar, permanecendo uma desconhecida na educação formal. Professores licenciados ou bacharelados deveriam ter conhecimentos dessa disciplina que é de suma importância no âmbito escolar (MARQUES, 1997).

    Gaspari (2005 apud PEREIRA; HUNGER, 2009, p. 769), constatou em pesquisa com professores de Educação Física que suas dificuldades para ensinar dança na escola se devem a: pouca ou nenhuma experiência/ vivência com dança na escola; ao conteúdo de dança, quando trabalhando na graduação de Educação Física ser restrito ao período de no máximo dois semestres; ao ensino de dança na graduação ter sido insuficiente para sentirem-se seguros para ministrar tal conteúdo na escola.

    O que se verifica muitas vezes na prática cotidiana é uma crença de que, para ensinar dança na escola ou mesmo para acreditar tê-la aprendido na faculdade, há que ser um exímio dançarino (PEREIRA & HUNGER 2009, p. 772).

    Muitos professores também destacam que pelo fato de serem homens não se sentem prontos ou preparados para tal disciplina. Tratando de preconceitos voltados à dança Hanna (1999 apud KLEINUBING & SARAIVA, 2009, p. 200-201) destaca que: “[...] talvez esse seja um indício do forte preconceito que ainda acerca a dança no que diz respeito à participação dos homens, já que a história da dança tem apontado que muitos foram e/ou são homossexuais”.

    Infelizmente este é um fator que muito contribui, ainda nos dias de hoje, na sociedade e “[...] para não afastar os meninos das aulas, os/as discentes intitulam as aulas de dança de expressão corporal, educação pelo movimento entre outras terminologias” (ASSIS; SIMÕES; GAIO, 2009, p. 302).

    O preconceito, muitas vezes começa dentro dos próprios lares, onde os pais afirmam que “dança é coisa de mulher”. Entretanto, para alguns estilos de danças específicas, como dança de rua, samba, entre outras, não há essa ideia. Para “[...] outras manifestações em que a dança não está associada ao corpo delicado da bailarina clássica, mas, ao contrário, á virilidade e à força, à identidade cultural e racial” (MARQUES, 1997, p. 22).

Metodologia

    Este estudo tratou-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, feita com professores de Educação Física Escolar. A pesquisa foi realizada em 13 escolas Municipais, sete escolas Estaduais e três escolas Particulares, na região Metropolitana De Campinas. As escolas escolhidas receberam uma Autorização de Pesquisa e os profissionais um Termo de Consentimento. Assim que as documentações foram entregues e assinadas, os professores preencheram um questionário. Alguns questionários foram entregues e retirados em uma reunião de HTPC, outros pessoalmente. Nenhuma documentação ou questionário foi entregue ou recebido através de email. O questionário utilizado para a pesquisa foi elaborado pelas pesquisadoras desse trabalho, nele há 17 perguntas sobre a relação do profissional com a dança, se ele teve ou não dança em sua grade curricular, se houve aceitação por parte dos alunos durante os conteúdos apresentados, se é possível trabalhar essa modalidade.

    Essa pesquisa foi submetida ao comitê de ética da PUC Campinas sob o número CAAE: 02222412.0.0000.5481, e parecer n. 97.773, aprovado em 14/09/2012.

Resultados e discussão

    Após a análise das respostas dos questionários, temos os seguintes resultados.

Figura 1. Na sua graduação você teve Dança em sua grade curricular?

    Embora seja hoje uma disciplina comum durante o processo de graduação do Professor de Educação Física, 18 professores alegaram que tiveram a dança como disciplina curricular durante os anos letivos no ensino superior, e cinco professores alegaram não terem tido essa disciplina durante sua graduação.

Figura 2. Já fez ou faz algum curso de capacitação do gênero?

    Apesar de grandes e abrangentes capacitações em dança que o nosso país oferece, metade possui curso de capacitação e a outra metade nunca fez nenhum tipo de curso do gênero.

Figura 3. Acredita que com o conteúdo que foi ensinado na graduação, é possível trabalhar dança na escola?

    Entre os profissionais da área da Educação Física Escolar, que tiveram capacitação de dança durante ou depois da sua graduação 24% responderam que sim é possível trabalhar com conteúdo obtido, e 76% alegaram que não é possível.

Figura 4. Acredita que a dança tenha algum diferencial em relação a outros conteúdos da Educação Física? Qual?

    A Dança por se tratar de uma disciplina que não trabalha somente o físico, mas também as emoções foi perguntado aos entrevistados, se a dança possui ou não um diferencial das outras atividades. Todos os professores entrevistados que responderam essa questão, 42% discordaram e 58% concordaram que a dança possui um diferencial. Embora tenha sido perguntado qual seria o diferencial, nenhum respondente preencheu esse quesito.

Figura 5. Em suas aulas já trabalhou esse conteúdo?

    Nas aulas de Educação Física Escolar, durante o ano letivo, o número de professores que não trabalhou com a dança ainda é superior aos que trabalharam.

    A questão de número seis (Como avalia sua experiência?) foi feita para os entrevistados que incluíram a dança em suas aulas de Educação Física com o objetivo de avaliar sua experiência quanto ao conteúdo trabalhado. Os profissionais da área que responderam essa questão forneceram as seguintes informações:

    A questão de número sete (Houve aceitação por parte dos alunos?) verificou como os alunos reagiram ao conteúdo trabalhado. Os professores responderam que:

    Na questão de número oito (O que considera como obstáculo e/ou dificuldade para se trabalhar dança na ambiente escolar?), obteve-se as seguintes respostas:

Figura 6. Possui alguma sugestão para melhoria ou para implantação desse conteúdo na escola?

    Do total de respostas, 13% alegou não ter sugestões, enquanto a grande maioria 87% alegou ter muitas sugestões para a melhoria ou implementação do conteúdo Dança a ser aplicado em escolas. Elas são citadas abaixo:

    A partir da questão 10, somente respondeu quem não teve o curso de capacitação em dança, ou seja, somente três entrevistados.

    Na questão de número 10 foi perguntado se o professor “Acredita que a dança tenha algum diferencial em relação a outros conteúdos da Educação Física? Qual?” Um respondeu que sim e os outros dois que não.

    Na questão de número 11, foi perguntado se o professor “Em suas aulas já trabalhou esse conteúdo”, apesar de os entrevistados terem colocado respostas negativas na pergunta de número dois, no qual perguntava se ele havia tido ou não alguma capacitação em Dança, o esperado era que mesmo não tendo o profissional poderia ter trabalhado, porém as respostas foram todas negativas. Por isso não há analise das questões 12, 13, 14 e 15.

Figura 7. Por qual motivo não trabalha elementos da dança em suas aulas?

    A questão 16 (Figura 7) foi respondida pelos entrevistados que obtiveram respostas negativas referente à pergunta de número 11.

Figura 8. Em caso de falta de recurso ou conhecimento necessário e apropriado, 

estaria disposto a aplicar o conteúdo, caso fosse suprida a necessidade existente?

Discussão

    A grande maioria dos autores pesquisados defende o ensino da dança nas aulas de educação física, tratando, inclusive, sobre os inúmeros benefícios deste conteúdo. Alguns chegam até mesmo a propor algumas aulas.

    Em relação aos professores pesquisados a realidade, pode se dizer, que não está em sua totalidade de acordo com a literatura. O número de professores que vê na dança algum diferencial é quase que o mesmo daqueles que nada vê de especial.

    Muitos profissionais da área não se sentem capacitados para esse tipo de aula, alegando, inclusive não haver, na graduação, base para tanto. Essa foi à mesma conclusão a que Peres, Ribeiro e Martins (2001) também chegaram.

    É fato que mesmo o curso de Educação Física, tendo hoje em sua grade curricular a disciplina de Dança, este conteúdo por vezes é apenas uma base de como se pode e/ou deve trabalhar a dança. Sobre isso diz Rocha e Rodrigues (2007, p. 18):

    Sabemos que a universidade não irá fornecer fórmulas pré-fabricadas e receitas de como trabalhar a dança na escola. É necessário que os profissionais acreditem em sua criatividade e experiência de vida, trabalhando os aspectos que consideram mais importantes para o desenvolvimento do aluno na escola.

    A isso, acrescentaríamos que cabe ao professor a busca por mais informações, materiais, recursos para aprimorar e melhorar caso tenha interesse em desenvolver o conteúdo dança na escola.

    Pouco mais da metade dos entrevistados nunca trabalhou o conteúdo dança em suas aulas, porém, aqueles que trabalharam, quando questionados sobre como foi sua experiência, mostraram respostas extremamente positivas.

    Na questão aceitação dos alunos, considerando a resistência por parte de alguns, principalmente dos meninos, por questões já citadas no decorrer do trabalho, conclui-se também que é possível haver grande aceitação.

    Maneiras e recursos para se trabalhar a dança são inúmeros, como foi citado. Para auxiliar, nesse sentido temos autores que possuem propostas interessantes como Marques (1997), Strazzacapa (2001), Gaspari (2002), entre outros.

    Colocar em prática é o fator que ainda precisa ser trabalhado.

Considerações finais

    Através de estudo realizado, por meio de pesquisa de campo e revisão bibliográfica, percebemos que apesar de termos grandes incentivadores em nossa literatura, a realidade encontrada através da pesquisa não é exatamente a esperada.

    O intuito deste trabalho foi identificar os fatos que levam os profissionais de Educação Física não trabalharem o conteúdo dança em suas aulas.

    Ficou nítido que a dança na escola é utilizada apenas em determinadas situações (datas comemorativas) como uma forma de entretenimento e não como habilidade ou uma forma de desenvolver capacidades físicas cognitivas, coordenativas e emocionais.

    Verificou-se que existem dificuldades e relutância por parte de muitos profissionais. Os maiores empecilhos citados foram a falta de capacitação, inexperiência, relutância por ainda haver preconceitos existentes nas famílias, entre outros.

    O fator positivo é que dentre os professores pesquisados percebeu-se que há no meio, profissionais sérios, com interesse em buscar o melhor para seus alunos, se aprimorando, na tentativa de aprimorar o perfil da Educação Física escolar.

Referências bibliográficas

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