Estimativa da composição corporal de universitárias de um curso de Educação Física de Goiânia Estimación de la composición corporal de universitarias de un curso de Educación Física de Goiania |
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*Discentes do Curso de Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira **Orientador. Docente do curso de Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira, Mestre e Doutor em Educação Física (Brasil) |
Dyego Ferreira Facundes* Pablo Lucio Reis* Renata Fonseca Melo* Selma Barbosa Batista* Thales Agostinho de Oliveira* Prof. Ademir Schmidt** |
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Resumo Tanto a obesidade quanto a desnutrição são problemas recorrentes em todo o mundo, independente do desenvolvimento de um país. Além disso, tais distúrbios trazem um déficit considerável nos cofres públicos através de medidas medicamentosas e cirúrgicas. Contudo, os métodos de avaliação da composição corporal, principalmente os antropométricos, são excelentes ferramentas para estimar o nível de saúde quanto à quantidade de adiposidade no organismo. A partir disso, buscamos estabelecer a estimativa da composição corporal de estudantes de Educação Física buscando identificar se os dados obtidos dessas futuras profissionais da saúde condizem com valores aceitáveis. Desse modo, foram avaliadas, de forma descritiva, 11 universitárias de 20 a 44 anos do 6º período de Educação Física de uma instituição privada de ensino superior de Goiânia e submetidas à avaliação de massa corporal e dobras cutâneas utilizando uma balança digital e um compasso (adipômetro) de pregas cutâneas. O percentual de gordura da amostra indicou média de 23%, o que pressupõe um bom índice de saúde sem riscos associados à desnutrição ou obesidade. Individualmente, 2 acadêmicas apresentaram valores acima da média, sendo que uma delas encontra-se na região limítrofe para um alto risco relacionado à obesidade. 4 universitárias apresentaram dados percentuais abaixo da média, porém distantes do limite para o alto risco de desnutrição. Sendo assim, na média, as graduandas possuem valores admissíveis com o que é preconizado na literatura, no entanto individualmente, algumas devem ficar atentas quanto aos seus índices e realizar uma avaliação mais profunda. Unitermos: Composição corporal. Percentual de gordura. Adipômetro.
Recepção: 11/05/2014 - Aceitação: 20/08/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Os índices de obesidade e sobrepeso têm aumentado consideravelmente nos últimos anos, tanto em países em desenvolvimento quanto em nações desenvolvidas (MONTEIRO et al., 1995; POPKIN/DOAK, 1998). Tal fenômeno mundial tem acarretado um desenvolvimento cada vez maior de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, câncer, diabetes melitus (MARIATH et al., 2007). Por outro lado, o baixo nível de gordura corporal pode estar associado à bulimia nervosa, anorexia e desnutrição calórico-proteica (RIOS et al. 2010; GUEDES/GUEDES, 1995).
Diante desse quadro alarmante, as áreas da saúde e principalmente da Educação Física têm atribuído maior notoriedade à relevância da estimativa da composição corporal atrelada à busca da aptidão física, tanto para a manutenção de um estilo de vida saudável quanto para o desempenho esportivo e de alto rendimento (DELGADO, 2004). Não obstante, surgem a cada ano aparelhos e métodos mais tecnológicos que busquem quantificar com exatidão os valores daquela composição tais como: analises bio-quimicas, raio-x, ressonância magnética, densimetria, bioimpedância elétrica, espessura de dobras cutâneas, ultra-sonografia, excreção de creatinina, pesagem hidrostática dentre outros (GUEDES/GUEDES, 1990; CARVALHO/NETO, 1999).
Baseando – se nisso, este estudo objetivou estimar a composição corporal de indivíduos do sexo feminino do 6º período de Educação Física de um estabelecimento de ensino particular da cidade de Goiânia.
A preocupação central do trabalho focou-se nas seguintes problemáticas: Será que alunas do 6º período de Educação Física de uma universidade particular possuem níveis aceitáveis, no que tange a percentual de gordura, massa gorda e massa magra, de acordo com os parâmetros atualmente designados como saudáveis? E mais ainda: quais os riscos para a saúde das acadêmicas que apresentarem dados acima ou abaixo do que é preconizado como normal pela literatura.
2. Investigando o assunto
Segundo a World Health Organization:
A obesidade é uma doença crônica, que envolve fatores sociais, comportamentais, ambientais, culturais, psicológicos, metabólicos e genéticos. Caracteriza-se pelo acúmulo de gordura corporal resultante do desequilíbrio energético prolongado, que pode ser causado pelo excesso de consumo de calorias e/ou inatividade física (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2000, p. 4).
Constantemente, os meios de comunicação têm debatido acerca dos índices ascendentes de obesidade e sobrepeso. Estudos atualizados têm mostrado que o sobrepeso e a obesidade relacionam-se a inúmeras doenças cardiovasculares (POWERS / HOWLEY, 2000) como, por exemplo, o enfarte e o acidente vascular cerebral.
Está bem definido na literatura, inclusive nacional, que alta proporção de GC (obesidade) potencializa aumento na concentração plasmática de lipoproteínas de baixa densidade (LDL-C low density lipoprotein cholesterol), com concomitante redução na concentração sangüínea nas lipoproteínas de alta densidade (HDL-C high density lipoprotein cholesterol). Estas frações alteradas proporcionam a formação da placa de ateroma nos vasos sangüíneos, para culminar em enfarte ou acidente vascular cerebral (CEZAR, 2000, p. 5).
A Sociedade Brasileira de Cardiologia apud Mariath et al. (2007) aponta que 80% da população adulta é sedentária e que 52% dos adultos brasileiros estão acima do peso, sendo 11% obesos, o que corrobora para o aumento da morbidade e mortalidade, já que a obesidade é fator de risco para várias doenças crônicas não transmissíveis. A pesquisa também indicou que a região Sul do país possui os maiores índices de excesso de peso (sobrepeso) e obesidade, 89,6 % e 25,2 % respectivamente (IBGE apud MARIATH et al. 2007).
Por outro lado, um baixo teor de gordura também desencadeia distúrbios fisiológicos que afetam consideravelmente a saúde do organismo, uma vez que os lipídios são compostos orgânicos presentes no homem que desempenham extrema importância no mesmo.
(...) organismo necessita de lipídios em quantidades mínimas (20 a 25% do valor calórico total da dieta) para desenvolver as funções fisiológicas essenciais. Como, por exemplo, a formação de membranas celulares, fornecimento energético, transporte e estoque de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Os lipídios também estão envolvidos no funcionamento dos sistemas nervoso e reprodutor, no ciclo menstrual, assim como no crescimento e maturação sexual durante a pubescência (CEZAR, 2000, p. 6).
Conseqüentemente, o outro extremo da obesidade também não é benéfico para o ser humano. Vitaminas importantes necessitam da presença daqueles compostos biomoleculares como, por exemplo, a vitamina A que tem influência direta na visão e na pele; vitamina D que contribui para o desenvolvimento dos dentes e ossos; vitamina E que protege as células contra oxidações e radicais livres e vitamina K que auxilia na coagulação sanguínea. Além disso, os sistemas reprodutivos masculino e feminino também são intensamente afetados devido à diminuição exagerada de gordura. Na mulher, os hormônios femininos, constituídos de natureza lipídica (progesterona e estrogênio), que controlam a ovulação e a gestação e cuidam da manutenção do útero desencadeiam distúrbios, que vão desde a ausência da menstruação até a infertilidade. Do mesmo modo ocorre com o homem, pois a testosterona (hormônio sexual masculino também constituído à base de lipídios) é o ativador da espermatogênese que origina os espermatozoides afetando diretamente a fertilidade masculina (GUYTON, 2006).
Perante tal panorama, muito tem – se discutido acerca da composição corporal na área da Educação Física e suas principais implicações para a saúde e/ou treinamento especializado. Para tanto é necessário esclarecer o conceito dessa expressão para posteriormente destacar sua relevância. Malina (1969, p. 10) diz que a composição corporal é a “quantificação dos principais componentes estruturais do corpo humano”, isto é, colocar em linguagem numérica todos os dados que são obtidos através dos diversos métodos de análise da estimativa da composição corporal ressaltando os percentuais de gordura. Nieman apud Costa (2001, p. 21) explicitam de forma mais específica e contundente que “a composição corporal é a proporção entre os diferentes componentes corporais e a massa corporal total, sendo normalmente expressa pelas porcentagens de gordura e de massa magra”. A massa gorda total consiste em todos os lipídios espalhados pelo corpo, no entanto, a gordura que será mensurada através de porcentagem engloba a gordura não – essencial resultante do acúmulo de gordura no tecido adiposo, constituída por triglicerídeos (DELGADO, 2004). A massa livre de gordura ou massa corporal magra inclui água, tecido conjuntivo, músculos, ossos, órgãos internos mais os lipídios essenciais que giram em torno de 2 a 3% e 5 a 8% em homens e mulheres respectivamente (LOHMAN, 1992; CEZAR, 2000).
Deste modo, avaliação da composição corporal é extremamente importante para a saúde, qualidade de vida, desempenho esportivo, desenvolvimento maturacional e biológico.
Inúmeras investigações científicas têm demonstrado que a avaliação dos componentes da composição corporal são importantes indicadores para o processo de acompanhamento do crescimento, desenvolvimento e maturação dos seres humanos, assim como, suas alterações podem estar associadas a doenças, distúrbios alimentares e práticas de atividades físicas (RECH et al., 2007).
A estimativa dessa composição não se restringe apenas à busca de um corpo perfeito (estética), mas também se constitui como uma significativa ferramenta para a Educação Física, Nutrição e áreas afins objetivando principalmente o aprimoramento da qualidade de vida e saúde, tanto individual, quanto populacional. Tais áreas devem preocupar – se intensamente com esses aspectos, identificando as reais necessidades do indivíduo quanto à perda ou ganho de gordura, uma vez que nem sempre os anelos do sujeito estão em consonância com o que é realmente saudável para ele (COSTA, 1999). Este mesmo autor também destaca a atenção excessiva à estética em detrimento de um bem estar físico, mental e social.
Embora muitas vezes a questão estética seja excessivamente valorizada, devemos prestar especial atenção no aspecto saúde, pois considerando a relação existente entre o excesso de gordura corporal e doenças crônico-degenerativas, fica evidente a necessidade da realização de estudos com o objetivo de verificar os níveis de adiposidade da população, bem como a realização de avaliações de aspectos da composição corporal a fim de oferecer subsídios para a prescrição e o acompanhamento de programas de exercícios (COSTA, 1999, p. 1).
Assim sendo, é imprescindível destacar a importância de se avaliar os componentes corporais para o pleno desenvolvimento de cada indivíduo, não se atentando exclusivamente para o fator estético, porém, almejando especialmente um estado de saúde completo e global, posto que essa avaliação pode suscitar artifícios para uma boa prescrição de exercícios e/ou dieta.
Para isso, utilizamos diversos métodos de avaliação corporal que nos permitem mensurar a real condição de cada organismo. Muitos são os métodos (bioimpedância elétrica, pesagem hidrostática, densimetria, exames laboratoriais, técnicas antropométricas etc.) (GUEDES/GUEDES, 1990; CARVALHO/NETO, 1999) para quantificar a quantidade de gordura, no entanto, optamos por utilizar o método antropométrico, pois segundo Petroski (1995) apud Passos (2003)
Os métodos de campo para estimar a composição corporal através de técnicas antropométricas, que avalia massa corporal, estatura, medida de dobras cutânea, circunferências e diâmetros, são bastante utilizados e apresentam vantagens tais como: uma boa relação das medidas antropométricas com a densidade corporal obtida através dos métodos laboratoriais, equipamentos com baixo custo financeiro e ocupação de pequeno espaço físico, facilidade e rapidez na coleta de dados e a não invasividade do método (PASSOS, 2003, p.1-2).
Embasando – se nisso, foi escolhido como método antropométrico a ser trabalhado, as medidas de dobras cutâneas, uma vez que existe uma vasta literatura e equações pertinentes que analisam e identificam o percentual de gordura, a massa magra e a gordura absoluta e que reafirmam a expressividade desta técnica no que tange a cálculo de composição corporal.
Para tanto, é imprescindível citar Delgado, que nos fornece uma boa definição para esse termo:
Como forma de definição podemos dizer que dobra ou prega cutânea, é uma medida que visa avaliar, indiretamente, a quantidade de gordura contida no tecido celular subcutâneo e, a partir daí, podermos estimar a proporção de gordura em relação ao peso corporal do indivíduo (DELGADO, 2004, p. 34).
Além de avaliar a quantidade de gordura corporal subcutânea, a estimativa de dobras cutâneas também é importante e vantajosa para se avaliar a composição corporal, pois ela proporciona a análise de várias regiões anatômicas do corpo, isto é, fornece um parâmetro global, do corpo inteiro e, ao mesmo tempo pondera sobre locais anatômicos específicos, como tríceps, bíceps, abdômen, região subescapular, axilar, coxa, perna, peitoral etc.
Como a disposição da gordura localizada no tecido subcutâneo não se apresenta de forma uniforme por todo o corpo, as medidas de espessura das dobras cutâneas devem ser realizadas em várias regiões a fim de se obter visão mais clara sobre sua disposição (GUEDES, 2006, p. 116).
Deste modo, as medidas de pregas cutâneas proporcionam uma análise simultaneamente geral e específica da densidade corporal de um indivíduo. Geral, porque ela utiliza – se do corpo inteiro, como um todo para avaliar a composição. E especifica, pois ela lança mão de analisar diversas regiões anatômicas especificas, o que proporciona dados mais fidedignos. Aliado a isso, é um dos métodos preferidos pelos profissionais de Educação Física.
A mensuração das pregas cutâneas, por ser uma técnica simples, pouco onerosa e de fácil manuseio e, sobretudo, por apresentar alta fidedignidade, correlaciona-se otimamente com técnicas mais sofisticadas, tem sido o método preferido dos pesquisadores na área do exercício físico e nos esportes (FERNANDES, 2003, p. 48).
Destarte, as dobras cutâneas fundamentam-se como um método não tão caro, de fácil interpretação e aplicabilidade e que está acessível a todos os profissionais de Educação Física, que devem utilizá-lo não apenas no âmbito do fitness, todavia é um mecanismo que cabe muito bem no ambiente escolar, tendo em vista a grande incidência tanto de escolares obesos, quanto de excessivamente magros, o que pode acarretar conseqüências na qualidade de vida futura dos mesmos, resultando principalmente em gastos milionários do governo com ações corretivas, vez que a profilaxia seria um método mais eficiente para combater esses quadros.
3. Metodologia
A pesquisa se classifica como descritiva, que segundo Cervo e Bervian (2002) se caracteriza por observar, registrar, analisar e correlacionar variáveis sem manipulá-las, procurando descobrir, com a precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características.
Participaram da pesquisa 11 sujeitos do sexo feminino com faixa etária entre 20 a 44 anos (25,7±6,6), alunos do 6º período do curso de educação física de uma instituição de ensino superior privada de Goiânia-GO.
Os sujeitos foram submetidos à avaliação antropométrica de massa corporal e composição corporal. As medidas de massa corporal foram obtidas através de uma balança digital de marca Bioland (capacidade até 200 kg). A composição corporal foi estimada através da medida da espessura de dobras cutâneas (EDC), com base no protocolo de 4 dobras de Petroski (1995), utilizando um compasso de marca Sanny. O percentual de gordura foi calculado através da equação de Siri (1961), sendo a gordura absoluta e a massa corporal magra (MCM) calculadas de acordo com Guedes (1994).
Depois de estimada a composição corporal, os dados foram tratados com base na estatística descritiva utilizando o software Microsoft Excel (versão 2010) e comparados aos padrões de referência disponíveis na literatura pertinente.
4. Resultados e discussão
No gráfico 1 temos o percentual de gordura de cada uma das onze avaliadas. Podemos observar uma heterogeneidade na amostra, uma vez que os valores da amostra se mostraram muito distintos uns dos outros.
Gráfico 1. Porcentagem de gordura corporal
Percebemos que a média de percentual de gordura da amostra foi 23 % ± 4,4%. Petroski (1995) encontrou valores similares. Em seu estudo, o percentual médio de gordura das mulheres girou em torno de 23,18%. Na análise de Krug e Braz (1998) os valores médios desse percentual em universitárias do curso de Educação Física de uma universidade do Rio Grande do Sul foram 26,16% ± 2,96%. Concomitantemente, Rios (2010) observou que 30 mulheres com idade média de 24,33% ± 5,72% apresentaram 23,86% ± 4,75% de gordura corporal. Pianca et al. (2007) investigou 10 universitárias com idade média 20 anos ± 1 ano. Dividiu-as em 2 grupos (treino e controle). O grupo treino (GT) tinha como pré-requisito a prática de exercícios resistidos há pelo menos oito semanas. Esse grupo obteve um percentual médio de gordura de 24,7% ± 4,1%. Já o grupo controle, foi composto por indivíduos não praticantes de atividade física e obtiveram 29,2% ± 4,7% de percentual médio de adiposidade subcutânea. Do mesmo modo, Gubiani e Pires Neto (1999) considerou o percentual de gordura de 24 universitárias para seu estudo e obteve valores de médios de 23,18%. Podemos observar que em todos estes estudos o percentual médio oscilou entre 23% e 29,2% de gordura subcutânea. Para tanto, como um de nossos objetivos é classificar o percentual encontrado neste artigo, utilizamo-nos da tabela de Lohman (1992) que encontra-se na obra de Heyward e Stolarczyk (1996).
Baseado nesta tabela podemos inferir que o percentual médio de gordura constatado neste estudo (23%) encontra-se na média para o público feminino (22 – 27%), segundo esses autores, no que tange a riscos predisponentes a obesidade e desnutrição. Se estendermos essa análise aos demais, o artigo de Pianca et al. (2007) foi o único que denotou valores acima da média, isto é, dados que constituem-se como sobrepeso para o grupo em questão. É necessário ressaltar que além disso “os valores apresentados na tabela supracitada estão de acordo com os valores propostos pela Organização Mundial da Saúde, justamente porque tais percentuais de gordura corporal não trazem danos à saúde” (CEZAR, 2000, p. 6).
Vários autores explicitam intervalos considerados saudáveis para o sujeito. Segundo Heyward (1991), o percentual aceitável de gordura para mulheres adultas jovens oscila de 22 a 25%, podendo variar entre 16 e 25% em se tratando de população geral feminina. Nahas (1989) considera 20% como percentual ideal entre as mulheres, sendo que valores acima de 30% de gordura são definidos como obesidade.
Analisando o gráfico 1 individualmente, podemos constatar ainda que 2 sujeitos da amostra (18,1%) estão com índices acima da média (27 - 29%) segundo dados da tabela em questão. Um desses sujeitos, inclusive apresenta dados limítrofes entre percentuais acima da média e aqueles que podem realmente trazer riscos à saúde (≥ 30%), qual seja a obesidade aliada também a sérias complicações cardiovasculares e coronarianas. Todavia, verificou-se ainda que 4 universitárias (36,3%) apresentaram dados abaixo da média (12 – 22%), de acordo com a tabela de Lohman (1992). No entanto, nenhuma delas encontra-se próxima à região de transição que define um alto risco à saúde associado à desnutrição (≤ 12%) e consequentemente a implicações biológicas desfavoráveis ao equilíbrio do corpo. Contudo, do mesmo modo averiguamos que 5 acadêmicas (45,4%) possuem percentuais de gordura dentro da média e, portanto possuem menores fatores de risco do que as demais colegas.
Os percentuais de gordura mensurados no gráfico 1 foram transformados e subdivididos em gordura absoluta, que é a medida da gordura subcutânea em quilogramas (Kg), e a massa corporal magra (MCM). Tais dados estão constantes no grafico 2.
Gráfico 2. Gordura absoluta (Kg) e massa corporal magra (Kg)
Observou – se que a gordura absoluta dos sujeitos manteve - se no intervalo entre 8,3 Kg e 24,3 Kg tendo uma amplitude de 16 Kg entre as universitárias. Em sua tese de doutorado, Petroski (1995) encontrou a gordura absoluta variando de 11,11 Kg a 36,18 Kg resultando em uma amplitude de 25,07 Kg. Uma possível justificativa a essa variação pode estar atrelada à heterogeneidade da amostra estudada em ambos os casos resultando em 4,4 e 5,77 de desvio – padrão, respectivamente.
Comparando – se as análises de ambos os gráficos, percebemos que quanto maior for a distância entre os valores de massa corporal magra e os dados de gordura absoluta, menor será o percentual de gordura. Tais resultados reafirmam que o método de dobra cutânea, independente do protocolo utilizado, fornece informações consistentes sobre a gordura corporal, até mesmo porque utiliza de várias regiões anatômicas para identificar estimativamente a distribuição dessa adiposidade.
5. Conclusão
Respondendo à primeira questão lançada na introdução do estudo, podemos constatar que, na média, os percentuais de gordura das universitárias estudadas estão em patamares aceitáveis, no que tange à questão de saúde relacionada à obesidade e desnutrição. Entretanto, analisando os dados individualmente, observou - se que algumas acadêmicas encontram – se com um risco de saúde acima da média, enquanto que uma destas possui um percentual de gordura em um valor limite para ser enquadrada em um sujeito com alto risco para doenças e desordens associadas à obesidade as quais já citamos anteriormente.
Contudo, algumas estudantes apresentaram dados abaixo da média, com valores inferiores aos que são preconizados como ideais. No entanto, nenhuma delas possui proximidade com o nível de alto risco associado à desnutrição. Além disso, não podemos inferir que tais mulheres estejam com a saúde abaixo da média, haja vista que as mesmas podem estar praticando exercícios físicos regulares a algum tempo, fator este, que é suficiente para influenciar diretamente na quantidade de gordura corporal das alunas.
Indubitavelmente, o método de estimativa da composição corporal através das dobras cutâneas constituiu-se como um excelente artifício para a análise da gordura corporal. Além disso, foi um método fácil e bastante seguro na determinação destes valores. Todavia, a capacidade técnica em manusear o compasso de dobras cutâneas configurou-se como a principal dificuldade encontrada para a obtenção de dados fidedignos da amostra. Fato este que foi sendo sanado gradativamente, através da repetição na utilização do adipômetro.
Portanto, tal estudo fora de extrema relevância para a análise da composição corporal das acadêmicas de Educação Física, visto que os valores serviram de diagnóstico para o estabelecimento do nível de saúde de cada uma. De igual modo, espera-se que como futuras profissionais da saúde, tanto no âmbito escolar quanto no mundo fitness, elas possuam um nível aceitável de bem estar físico, social e mental que possa colaborar para influenciar outras pessoas a cuidarem do seu próprio corpo e buscarem uma maior longevidade servindo assim de exemplo para os outros.
Para tanto, recomendamos que estudos mais detalhados e profundos sejam realizados, por exemplo, com os diversos períodos de Educação Física, de modo a propiciar um raio-x geral dos acadêmicos do curso, bem como considerar o nível de atividade física, a fim de fomentar e estimular a prática de exercícios físicos regulares para a manutenção de índices saudáveis de adiposidade, já que estes profissionais servirão de modelo para outras pessoas.
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