Benefícios do treinamento resistido na melhoria da qualidade de vida durante o processo de envelhecimento humano Los beneficios del entrenamiento resistido en la mejora de la calidad de vida durante el proceso de envejecimiento humano |
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*Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará **Graduando em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará (Brasil) |
Abraham Lincoln de Paula Rodrigues* Igor Neves Torres* Petterson Goes Girão** |
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Resumo Estima-se que em 2020, o Brasil terá alcançado a sexta posição em relação à população de idosos no mundo. Ao longo do envelhecimento, várias são as mudanças que ocorrem nos sistemas do corpo, em grande parte, essas alterações vêm acompanhadas de várias conseqüências negativas que acabam trazendo prejuízos para a qualidade de vida do idoso. Sendo assim, é necessário que na medida em que se envelhece, sejam mantidos e estimulados hábitos de vida saudáveis. A adoção de exercícios físicos pode contribuir amenizando tais efeitos deletérios decorrentes do envelhecimento. Treinamento resistido pode ser entendido como um conjunto de processos e meios que levam ao aumento e aperfeiçoamento da força muscular, associado ou não a outra qualidade física. O treinamento resistido pode melhorar a força e o equilíbrio nos, reduzindo assim, significativamente, o risco de quedas nos idosos, que podem levá-los a condições de incapacidade física, colaborando assim para que os idosos tenham uma melhor qualidade de vida. O objetivo do estudo foi atualizar acerca dos benefícios da realização de exercícios resistidos na melhoria da qualidade de vida na população idosa. Para a elaboração desse estudo de revisão literária foram revisados periódicos das bases de dados eletrônicas Google Acadêmico, Scielo e Pubmed. Encontraram-se referências que embasam a prática do treinamento resistido na população idosa, visando, sobretudo amenizar, retardar ou até prevenir o surgimento de alguns dos efeitos deletérios advindos com o envelhecimento humano, assim como auxiliar no tratamento de algumas doenças, evitando em alguns casos até o seu surgimento. Conclui-se a partir da realização desse estudo de revisão de literatura que o treinamento resistido mostrou-se eficiente na promoção e melhoria da qualidade de vida na população idosa. Assim, a prática regular do treinamento resistido voltado para o desenvolvimento de força muscular e outras qualidades físicas, é recomendada para idosos em forma de atenuar os efeitos negativos do envelhecimento como osteoporose, a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, as doenças degenerativas e as cardiopatias. Unitermos: Idosos. Treinamento Resistido, Qualidade de vida.
Recepção: 20/02/2014 – Aceitação: 19/08/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) a população idosa brasileira está apresentando um crescimento maior do que a população mundial de forma geral. Estima-se que em 2020, o Brasil terá alcançado a sexta posição em relação à população de idosos no planeta.
O processo de envelhecimento está associado a um conjunto de gradativas modificações estruturais e funcionais, denominado declínio funcional, o qual pode ser influenciado tanto por fatores intrínsecos como a hereditariedade e doenças crônicas não transmissíveis, como por fatores extrínsecos, este mais associado a questões ligadas ao estilo de vida, nutrição e o exercício físico (ACSM, 1998).
Ao longo do envelhecimento, várias são as mudanças que ocorrem nos diversos sistemas do corpo humano, todavia, a maioria das pessoas idosas consegue manter as suas capacidades cognitivas e físicas em um grau estável. Observa-se que a prática do exercício resistido por idosos vem crescendo significativamente nos últimos anos. Treinamento resistido ou contra-resistência pode ser entendido como um conjunto de processos e meios que levam ao aumento e aperfeiçoamento da força muscular, associado ou não a outra qualidade física (NOVAES e VIANNA, 2003).
Associada ao trabalho de alongamento está evidenciada na literatura científica que o treinamento contra-resistência melhora a flexibilidade, além de gerar uma melhoria na força e no equilíbrio, reduzindo dessa forma, significativamente os riscos cardíacos e os riscos de quedas, que podem levar os idosos a condições de incapacidade física. Estudos mostraram que o treinamento resistido também pode contribuir para o combate a obesidade, para uma melhora da postura e para o bem estar psicológico do idoso, colaborando assim para que os idosos tenham uma maior qualidade de vida (AVEIRO et al, 2004).
Diante do conteúdo exposto acima e com a finalidade de contribuir acrescentando e atualizando sobre esse tema tão relevante nos dias atuais, foi proposta a realização do estudo. O objetivo do estudo foi atualizar acerca dos benefícios da realização de exercícios resistidos na melhoria da qualidade de vida na população idosa.
Metodologia
Para a elaboração desse estudo de revisão literária foram revisados periódicos das bases de dados eletrônicas Google Acadêmico, Scielo e Pubmed. Para a realização da busca, utilizaram-se os descritores “treinamento resistido”, “idosos” e “qualidade de vida”. Foram encontrados 547 artigos, sendo selecionados 17 de acordo com os critérios de inclusão do estudo que foram: artigos publicados entre os anos de 2004-2014; classificação no Qualis (A1, A2, B1, B2 ao B3); artigos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol; artigo experimental (ensaio clínico randomizado) ou revisão de literatura. Os critérios de exclusão adotados foram: não foram aceitas monografias de conclusão de curso, teses e/ou dissertações de mestrado.
Fisiologia do envelhecimento humano
Do ponto de vista biológico e fisiológico, o envelhecimento humano está diretamente relacionado a um conjunto de modificações gradativas, estruturais e funcionais, que se pode observar nos seres humanos, a esse conjunto de alterações pode-se denominar declínio funcional. Essa série de transformações que o corpo humano passa ao longo do seu processo de envelhecimento pode ser influenciada tanto por fatores intrínsecos (hereditariedade e doenças crônicas não transmissíveis) como por fatores extrínsecos (estilo de vida, aspectos nutricionais e o exercício físico) (ACSM, 1998).
O processo de envelhecimento vem acompanhado de uma série de efeitos que afetam os diferentes sistemas do organismo humano. Em geral, na medida em que se envelhece os indivíduos apresentam uma diminuição da aptidão física. Entretanto, alguns destes efeitos deletérios podem ser amenizados e até evitados através da prática da atividade física (MATSUDO e MATSUDO, 1992).
Esse declínio nas diversas funções fisiológicas dos idosos acaba gerando uma preocupação com o estado de saúde do idoso, assim como, com a sua autonomia em relação à realização de atividades comuns ao longo do seu dia a dia. Segundo Wolinsky e Fitzgerald (1994) as lesões causadas pelas quedas nos idosos são um grande problema de saúde pública, que são muitas vezes, agravadas pela falta de prática de atividades físicas nessa população.
Dentre as alterações decorrentes do envelhecimento, pode-se afirmar que o corpo como um todo apresenta um aumento da massa gorda, uma diminuição da massa muscular e óssea, e, principalmente, observa-se uma diminuição da capacidade funcional nos idosos (ABASSI et al., 1998). Com o envelhecimento, também se verifica uma diminuição da modulação da função cardíaca pelo sistema nervoso autônomo (SNA), ocorrendo declínio na resposta a alguns estímulos (NÓBREGA e KARNIKOWSKI, 2005).
Portanto, como pode ser observado nos estudos, o envelhecimento gera uma série de alterações nos sistemas do organismo humano. Em grande parte, essas alterações vêm acompanhadas de várias conseqüências negativas que acabam trazendo prejuízos para a qualidade de vida do idoso de uma forma geral. Sendo assim, é necessário que na medida em que se envelhece, sejam mantidos e estimulados hábitos de vida saudáveis. Atualmente está evidenciado na literatura científica que a adoção de exercícios físicos pode contribuir amenizando tais efeitos deletérios decorrentes do envelhecimento para o corpo humano.
Benefícios dos exercícios resistidos para os idosos
Toscano e Oliveira (2009) Afirmam que um estilo de vida saudável está diretamente associado à adoção da pratica de atividades físicas, sejam elas realizadas no âmbito do trabalho, da locomoção, do lazer e das atividades domesticas, e, desta forma, repercutem em seus praticantes, proporcionando melhores padrões de saúde e qualidade de vida. Segundo Vuori (1995) a prática de exercício físico, além de combater o sedentarismo, contribui para a manutenção da aptidão física do idoso, tanto no que diz respeito à questão da saúde, quanto em relação as suas capacidades funcionais.
Os exercícios resistidos ou musculação tem-se mostrado muito eficientes para aumentar a força muscular, a densidade mineral óssea e a flexibilidade de idosos, mesmo aqueles mais longevos ou portadores de grande comorbidades, adaptando-os aos limites de amplitude que eventuais processos degenerativos possam determinar (MANZINI FILHO, FERREIRA e CÉZAR, 2006).
A adoção de um programa de treinamento resistido em idosos deve ter como objetivo principal, amenizar as alterações decorrentes do envelhecimento. Dessa forma, o programa deve estar diretamente relacionado: a) ao melhoramento da flexibilidade, força, coordenação e velocidade; b) elevação dos níveis de resistência, com vistas à redução das restrições no rendimento pessoal para a realização de atividades cotidianas; c) manutenção da gordura corporal em proporções aceitáveis. Esses aspectos influenciarão diretamente na melhoria da qualidade de vida dessa população (MATSUDO e MATSUDO, 1992).
Heyward (2004) afirma que um dos principais objetivos do treinamento resistido na terceira idade deve ser a manutenção da força muscular, pois ela deve ser suficiente para que os idosos possam pelo menos realizar suas atividades da vida diária sem estresse ou fadiga, mantendo assim sua independência funcional. A força muscular atinge o seu pico máximo por volta dos 20 a 30 anos, após esse período, apresenta um declínio gradativo até por volta dos 50 anos, e depois começa diminuir em uma proporção de 12 a 15% a cada década, com uma maior aceleração de perda após os 65 anos
Aagaard et al. (2007) em seu estudo, analisaram idosos com idades entre 68 anos a 78 anos, que iniciaram o treinamento resistido ou aeróbio, antes dos 50 anos, buscando compará-los com um grupo de idosos destreinados em relação ao tamanho das fibras musculares e a performance muscular, através de avaliações de força máxima isométrica do músculo quadríceps, de uma taxa de desenvolvimento da força e composição e tamanho das fibras musculares. O resultado mostrou que o grupo de idosos praticantes do treinamento resistido mostrou uma maior preservação na massa muscular e na funcionalidade do músculo. Segundo Bittencourt (1986) e Santarém (1999) a força e a resistência muscular têm no treinamento resistido seu principal desenvolvimento. A explicação para tal fato reside, principalmente, da proliferação das miofibrilas e ao aprimoramento de unidades motoras para contração simultânea.
Encontraram-se referências na literatura científica que embasam a incorporação da prática do treinamento resistido na população idosa, visando, sobretudo amenizar, retardar ou até prevenir o surgimento de alguns dos efeitos deletérios advindos com o envelhecimento humano, assim como auxiliar no tratamento de algumas doenças, evitando em alguns casos até o seu surgimento.
Considerações finais
Conclui-se a partir da realização desse estudo de revisão de literatura que o treinamento resistido mostrou-se eficiente na promoção e melhoria da qualidade de vida na população idosa. Contribuindo para a melhoria da resistência e da força muscular em idosos, o que nesse grupo, faz-se muito importante, visto que, a ocorrência de quedas, é muito comum na população nessa faixa etária, e, representa um enorme risco a integridade e a saúde do idoso. Assim, a prática regular do treinamento resistido voltado para o desenvolvimento de força muscular e outras qualidades físicas, é recomendada para idosos em forma de atenuar os efeitos negativos do envelhecimento como osteoporose, a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, as doenças degenerativas e as cardiopatias. Nos últimos anos, a população idosa vem aumentando consideravelmente, e com isso cresce também a necessidade e importância de mais estudos tratando sobre o tema e sobre a saúde do idoso de forma a contribuir para o prolongamento de suas vidas e a melhoria da sua qualidade de vida, atrelado sempre a uma vida ativa e independente, possibilitando assim a realização das suas tarefas cotidianas.
Referências
AAGAARD, P; MAGNUSSON, P.S; LARSSON, B; KJER, M; KRUSTTRUP, P. Mechanical muscle function, morphology and fiber types in lifelong trained elderly. Medicine and Science in Sports and Exercise 39 (11), pp. 1989-1996, 2007.
ABBASI, A.A; MATTSON, D.E; DUTHIE, JR, E.H; WILSON, C; SHELDAHL, I; SASSE, E; RUDMAN, I.W. Predictors of lean body mass and total adipose mass in community-dwelling elderly men and women. American Journal of the Medical Sciences, 315(3), 188-193, 1998.
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. The recommended quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in healthy adults. Medicine Science Sports Exercise, v.30, n.6, p.975-91, 1998.
AVEIRO, M.C; NAVEGA, M.T; GRANITO, R.N; RENNÓ, A.C.M; OISHI, J. Efeitos de um programa de atividade física no equilíbrio e na força muscular do quadríceps em mulheres osteoporóticas visando uma melhoria na qualidade de vida. R. bras. Ci.e Mov. 2004; 12(3): 33-38.
BITTENCOURT, N. G. Musculação: uma abordagem metodológica. Rio de Janeiro: Sprint, 1986. p. 29-30
HEYWARD, V.H. Avaliação Física e Prescrição de Exercícios. Técnicas avançadas. 4º Edição. Editora Artmed: Porto Alegre, 2004.
IBGE. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 20/02/2014.
MATSUDO S. M. M.; MATSUDO, V. K. R.; BARROS NETO, T. L. Prescrição e Benefícios da atividade física na terceira idade. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 6, n. 4, p. 19-30, 1992.
MAZINI FILHO, M.L; FERREIRA, R.W; CÉZAR, E.P. Os Benefícios do Treinamento de Força na Autonomia Funcional do Indivíduo Idoso. Revista de Educação Física. Escola de Educação Física do Exército, v. 134, p. 57-68, 2006.
NÓBREGA, O.T; KARNIKOWSKI, M.G.O. A terapia medicamentosa no idoso: cuidados na medicação. Ciên Saúde Coletiva 2005;10(2):309-13.
NOVAES, Jefferson S. & VIANNA, Jefferson M. Personal training e Condicionamento Físico em Academia. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
SANTARÉM, J. M. Promoção da saúde do idoso. Jornal da Musculação, ano V, n. 25, fev/mar, p. 26-27, abr/mai, p. 20-21, jun/jul, p. 26-27, ago/set, p. 26-27 1999.
TOSCANO, J. J. O; OLIVEIRA, A.C.C. Qualidade de vida em idosos com distintos níveis de atividade física. Revista brasileira de medicina do esporte, Niterói, v.15, n.3, p.169-173, maio/jun. 2009.
VUORI, T. Exercise and physical health: musculoskeletal health and functional capacities. Research Quarterly for Exercise and Sport, v. 66, n. 4, p. 276-285, 1995.
WOLINSKY, F.D; FITZGERALD, J.F. Subsequent hip fracture among older adults. American Journal of Public Health, p. 1316-18, 1994.
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