Prevalência da síndrome metabólica em hipertensos Prevalencia de síndrome metabólico en hipertensos |
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*Nutricionista. Graduação em Nutrição pela FUNORTE. Montes Claros MG **Nutricionista. Mestre em Ciências de Alimentos. Professora do Curso de Graduação em Nutrição da FUNORTE. Montes Claros MG ***Nutricionista. Especialista em Saúde Pública. Professora do Curso de Graduação em Nutrição da FUNORTE. Montes Claros MG *****Nutricionista. Doutora em Ciências da Saúde. Professora do Curso de Graduação em Nutrição da FUNORTE. Montes Claros MG (Brasil) |
Larissa Gonçalves Pereira* larissagoncalvesp@yahoo.com.br Maria Fernanda Oliveira* Maysa Dutra de Moura** Wanessa Casteluber Lopes*** Lucinéia de Pinho***** |
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Resumo Objetivo: Determinar a prevalência da Síndrome Metabólica em pacientes portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica. Metodologia: Tratou-se de uma pesquisa transversal, descritiva e de abordagem quantitativa, realizada no ano de 2010. O universo da pesquisa foi composto por portadores de hipertensão arterial, de ambos os gêneros, com idade entre 40 e 59 anos completos, cadastrados na Estratégia do Agente Comunitário de Saúde (EACS) da Cidade de Montes Claros – MG. Resultados: Os 46 participantes que participaram da pesquisa apresentaram pelo menos 1 fator de risco, uma vez que todos os indivíduos participantes são portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica, 32,60% apresentaram 2 fatores de risco, 47,80% estavam com 3 fatores de risco, 8,60% estavam com 4 fatores de risco e nenhum dos indivíduos apresentou 5 fatores de risco. Após a análise de todos os critérios, a prevalência da síndrome metabólica nos indivíduos estudados foi de 56,40%. Conclusão: O estudo aponta uma necessidade de acompanhamento nutricional periódico e constante, bem como do planejamento alimentar individualizado e dinâmico, a fim de reduzir os fatores de risco associado à síndrome metabólica. Unitermos: Hipertensão. Síndrome Metabólica.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Síndrome Metabólica (SM) é caracterizada por um conjunto de fatores cardíacos e metabólicos que em conjunto aumentam os riscos para as doenças cardiovasculares (DCV). Pode ser definida de vários modos por diferentes organizações, mas a definição proposta pelo National Cholesterol Education Program-Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) é a mais recomendada para utilização na clínica, por sua simplicidade e praticidade. De acordo com esta definição, são classificados como portadores de SM aqueles que apresentam três ou mais dos seguintes critérios: circunferência abdominal (CA) elevada, aumento dos níveis de triglicérides séricos, redução do High Density Lipoprotein Cholesterol (HDL-C), hipertensão arterial sistêmica e hiperglicemia (ALVES, 2012).
A prevalência mundial de Síndrome Metabólica é preocupante, sendo que alguns estudos mostram dados elevados e variando entre 13,7 e 39%, com predomínio entre as mulheres. Os indivíduos portadores dessa síndrome apresentam um risco de 2 a 3 vezes maior de morbidade cardiovascular e cinco vezes maior para o Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), quando comparados a indivíduos sem a síndrome (FRANCO et al, 2009).
A hipertensão arterial sistêmica (HAS), um importante componente da SM, tem alta prevalência e baixas taxas de controle, sendo considerada um dos principais fatores de risco modificáveis para as DCV e um dos mais importantes problemas de saúde pública. Inquéritos populacionais em cidades brasileiras nos últimos 20 anos apontaram uma prevalência de HAS de 35,8% nos homens e de 30% em mulheres, semelhante à de outros países (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2010; DIAS et al., 2009).
Levando-se em consideração a importância de reduzir os fatores de riscos associados à SM, o presente trabalho justifica-se pela necessidade do desenvolvimento de pesquisas que quantifiquem a prevalência dessa condição clínica em indivíduos com HAS, uma alteração fisiopatológica que faz parte dos critérios utilizados para o diagnóstico da SM.
Diante disso, este trabalho teve por objetivo determinar a prevalência da Síndrome Metabólica em pacientes portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica, cadastrados e freqüentes em uma Estratégia do Agente Comunitário de Saúde (EACS) no município de Montes Claros/MG.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva e de abordagem quantitativa, realizada no ano de 2010. O universo da pesquisa foi composto por portadores de hipertensão arterial, de ambos os gêneros, com idade entre 40 e 59 anos completos, cadastrados na Estratégia do Agente Comunitário de Saúde (EACS) da Cidade de Montes Claros - MG, totalizando aproximadamente 46 indivíduos (censo). Os critérios de inclusão dos participantes foram: ser portador de hipertensão arterial conforme diagnóstico obtido do prontuário de atendimento da Unidade, ter idade superior a 18 anos, apresentar os exames laboratoriais realizados nos últimos seis meses e consentirem participar da pesquisa. Quanto aos critérios de exclusão, foram considerados: não aceitar participar da pesquisa e não comparecer na EACS na data prevista para a coleta de dados.
A todos os indivíduos foi apresentado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assinado em caso de concordância, de acordo com a resolução CNS196/96. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
A etapa de coleta de dados foi realizada durante reuniões de rotina, com agendamento prévio e mediante convite, a partir da lista de endereço e contato fornecida pela EACS. No primeiro momento foi apresentado o projeto aos pacientes com o objetivo de sensibilizar a participação. Foi aplicada a todos os sujeitos uma ficha-protocolo contendo: nome, sexo, idade, altura, peso, índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal, glicemia em jejum, triglicerídeos (TG), colesterol total (CT), HDL-colesterol e LDL-colesterol.
Os parâmetros antropométricos foram obtidos por acadêmicas de nutrição devidamente treinadas. O peso corporal foi obtido em balança Filizola® (precisão de 0,1 kg), sendo que o indivíduo estava descalço e portanto roupas leves. A estatura foi obtida com finta métrica ineslática (precisão de 0,1 cm). A fita foi fixada à parede, em uma área plana sem rodapés e os indivíduos estavam em posição ortostática, descalços, com calcanhares juntos, costas retas e braços estendidos do lado do corpo. Calculou-se o IMC (IMC = Peso/Altura2), conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para avaliação do estado nutricional. Foram utilizados os seguintes pontos de corte para classificação dos indivíduos quanto ao IMC (kg/m2): normal < 25; sobrepeso de 25 a 29,99 e obeso ≥ 30.
A medida da circunferência abdominal foi feita no ponto médio entre a crista ilíaca e a face externa da última costela, com fita métrica inelástica, em posição ortostática, com o paciente em pé, sem roupa no tórax, e no final da expiração. Foram considerados com obesidade abdominal indivíduos que apresentavam valores ≥ 94 cm para homens e ≥ 80 cm para mulheres, conforme diretrizes da IDF (2005).
Para avaliação bioquímica, utilizou-se o resultado dos exames laboratoriais de glicemia em jejum, triglicerídeos (TG), colesterol total (CT), HDL-colesterol (HDL-c) e LDL-colesterol do paciente nos últimos seis meses.
O diagnóstico de SM foi estabelecido segundo NCEP/ ATP III (NAKAZONE, 2007) critérios também adotados pela I Diretriz Brasileira de Síndrome Metabólica (2005). Na população estudada, somou-se à condição de HAS, a presença de dois dos seguintes fatores: 1) CC>102cm para homens e >88cm para mulheres, o que caracteriza obesidade abdominal (OA); 2) triglicerídeo sérico ≥150mg/dL; 3) HDL-c <40mg/dL para homens e <50mg/dL para mulheres; e 4) diabetes mellitus ou glicemia de jejum ≥110mg/dL, para caracterizar o diagnóstico de SM.
A análise estatística foi realizada usando o pacote estatístico SPSS 15.0. O procedimento estatístico foi baseado na analise descritiva, sendo os dados foram apresentados como médias e desvios-padrão para variáveis contínuas. As proporções foram usadas para expressar variáveis dicotômicas.
Resultados
A presente pesquisa foi composta por 46 indivíduos, sendo 21,7% do sexo masculino e 78,3% do sexo feminino, revelando uma predominância das mulheres. A idade média da amostra foi de 51,19 anos para indivíduos do sexo feminino e 52,80 anos para o sexo masculino. A altura média foi de 1,56 m para mulheres e 1,68 m para homens. Em relação ao peso, a média foi de 61,98 Kg e 76,28 kg para mulheres e homens, respectivamente, sendo que esta variável variou de valores bem baixos (38 Kg) a valores mais significativos (100,7 Kg), revelando uma grande heterogeneidade da amostra estudada, como demonstrado na Tabela 1.
Tabela 01. Características demográficas e clínicas da população estudada estratificada pelo sexo. Montes Claros (MG), Brasil, 2010
Os valores da circunferência da cintura (CC), de acordo com o gênero, revelaram médias de 88,50 cm para o sexo feminino e 96,20 cm para o sexo masculino, os quais se encontram acima dos valores estabelecidos pela IDF (2005), que são ≥ 80 cm para as mulheres e ≥90 cm para os homens, indicando, portanto, presença de obesidade abdominal (Tabela 1).
Em relação aos triglicerídeos, os valores médios foram de 109,97 mg/dL para o sexo feminino e 123,6 mg/dL para o sexo masculino. Para os níveis de Lipoproteína de Alta Densidade (HDL-c), os homens apresentaram uma média de 48,4 mg/dL, enquanto que as mulheres apresentaram valores médios de 48,75 mg/dL. Os níveis de glicemia mostraram que a média variou de 87,7 mg/dL a 90,19 mg/dL para sexo masculino e feminino, respectivamente (Tabela 1).
Classificando a amostra estudada segundo os valores de circunferência da cintura e exames laboratoriais, observou-se que dos 46 indivíduos estudados, 71,7% apresentaram obesidade abdominal, 13% apresentaram hipertrigliceridemia, 47,8% estavam com baixos níveis de HDL-c e 23,9% apresentaram níveis elevados de glicemia.
Na análise do estado nutricional observou-se 2,8% do sexo feminino apresentaram magreza grau II e 20% dos homens e 47,2% das mulheres estavam eutróficos. Analisando a prevalência de indivíduos com inadequação do IMC, percebe-se que os valores são preocupantes, uma vez que a pré-obesidade foi encontrada em 60% dos indivíduos do sexo masculino e em 30,6% do sexo feminino, enquanto que a obesidade de grau I estava presente em 20% dos homens e 19,4% das mulheres.
Através da quantificação dos fatores de risco utilizados para a determinação da prevalência da Síndrome Metabólica, concluiu-se que 100% da amostra apresentaram pelo menos 1 fator de risco, uma vez que todos os indivíduos participantes da presente pesquisa são portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica, 32,60% apresentaram 2 fatores de risco, 47,80% estavam com 3 fatores de risco, 8,60% estavam com 4 fatores de risco e nenhum dos indivíduos apresentou 5 fatores de risco. Após a análise de todos os critérios, a prevalência da síndrome metabólica nos indivíduos estudados foi de 56,40% (Tabela 2).
Tabela 02. Análise da prevalência da Síndrome Metabólica em portadores de hipertensão, de ambos os gêneros
Discussão
A partir dos resultados apresentados verificou-se uma alta prevalência de estado nutricional inadequado entre os indivíduos avaliados. Analisando o sexo feminino, constatamos que 30,6% estavam com pré-obesidade ou sobrepeso e 19,4% com obesidade grau I. Em relação ao sexo masculino, a situação é ainda mais preocupante, pois 60% estavam com pré-obesidade e 20% com obesidade grau I, apontando para a necessidade de cuidados específicos com os indivíduos hipertensos, de forma a recuperar o estado nutricional adequado e, conseqüentemente, de saúde.
Analisando a Síndrome Metabólica (SM) entre o grupo de hipertensos estudados, podemos concluir que a sua prevalência foi substancialmente elevada (56,40%). A obesidade abdominal (71,7%) e os baixos níveis de Lipoproteína de Alta Densidade (47,8%) apresentaram percentuais preponderantes em relação às alterações nos níveis de glicemia (23,9%) e a hipertrigliceridemia (13,0%).
Vargas et al. (2007) apud Pontes e Souza (2008), estudaram 325 homens maiores de 35 anos, aparentemente saudáveis, buscando esclarecer as associações entre síndrome metabólica com o estilo de vida dos participantes da pesquisa. Os autores utilizaram os critérios do IDF (2005) e os resultados obtidos mostraram uma prevalência de 41,2% nos indivíduos da zona urbana, corroborando, assim, os resultados encontrados na presente pesquisa. Em contrapartida, os resultados de Oliveira, Souza e Lima (2006), mostram valores para de Síndrome Metabólica de 18,6% em homens do semiárido baiano.
Braga, Carneiro e Silva (2008), realizaram estudos baseados nos critérios da IDF (2005), com 802 indivíduos portadores de hipertensão arterial, atendidos ambulatorialmente em uma Clínica de Hipertensão e encontraram uma prevalência de 68,6% para síndrome metabólica, sendo 53% no sexo feminino e 15,6% para sexo masculino.
As anormalidades que compõe a SM se caracterizam por um alto grau de interação, uma contribuindo para o estabelecimento da outra. Os efeitos deletérios dos componentes da SM (hipertensão arterial, alteração da glicemia jejum, obesidade abdominal e dislipidemias) no sistema cardiovascular, renal e outros não deixam dúvidas quanto às conseqüências causadas pela síndrome, e quanto a sua predição sobre a mortalidade vascular. A base do tratamento da SM é a perda de peso associada à adoção de hábitos alimentares saudáveis, bem como ingestão equilibrada de carboidratos, proteínas e lipídeos. Estímulo às mudanças no estilo de vida, tais como práticas de atividade física e alimentação saudável, é fundamental para minimizar o risco para o desenvolvimento da síndrome metabólica (DIAS et al., 2009; SANTOS et al. 2006).
Conclusão
A Síndrome Metabólica é uma entidade complexa, sem ainda uma causa bem estabelecida. Sua prevalência aumenta com o excesso de peso, principalmente com a obesidade abdominal, e está associada a um aumento de risco de doenças cardiovasculares e de diabetes mellitus tipo 2. A dieta desejável para portadores de síndrome metabólica deve priorizar o consumo de alimentos com baixo teor de gordura saturada, estimulando a ingestão de alimentos de baixo índice glicêmico e com quantidades adequadas de fibras alimentares.
Diante disso, pode-se perceber a importância do acompanhamento clínico-nutricional na redução dos riscos do aparecimento da SM e doenças cardiovasculares, além da melhora da qualidade de vida. As intervenções nutricionais que devem ser realizadas demonstram o papel fundamental do profissional de Nutrição na prevenção, acompanhamento nutricional periódico e constante, bem como do planejamento alimentar individualizado e dinâmico, a fim de reduzir os fatores de risco associado à síndrome metabólica.
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