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Qualidade de vida relacionada à saúde em 

adolescentes com excesso de peso e sem excesso de peso

Calidad de vida relacionada con la salud en adolescentes con y sin exceso de peso

 

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

Departamento de Educação Física e do Desporto

(Brasil)

Estefane Ribeiro Rodrigues

Luciana Mendes Oliveira

Nádia Fabrícia Rodrigues Oliveira

Vinícius Dias Rodrigues

viniciuslabex@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) em adolescentes com excesso de peso e sem excesso de peso. Foi utilizada uma amostra de 77 adolescentes das séries finais do ensino fundamental do distrito de Nova Esperança. Foi realizada a avaliação do estado nutricional onde os adolescentes foram submetidos à mensuração do peso e altura segundo o protocolo de Must et al. (1992), após a coleta dos dados foi feito o índice de massa corporal (IMC). Para a avaliação da qualidade vida relacionada à saúde foi apresentado o questionário (PedsQL 4.0), validado para o uso no Brasil. A amostra foi caracterizada descritivamente para as variáveis de peso e altura, ela ocorreu de forma aleatória onde utilizou a fórmula de cálculo de amostra aleatória, adequada para representar a população de referência: n - (z ². p. (1-p) / e ²). deff + taxa de não resposta. Para todas as situações foi adotado um nível de significância de 5%. Foi utilizada análise descritiva (media, desvio padrão) e a freqüência do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) 19.0. Diante dos resultados dos 77 adolescentes participantes, foi diagnosticado que os 12 adolescentes com excesso de peso apresentaram escore global de 60,37 (DP 12,20) nos domínios físico, média de 78,90 (DP 2,55), emocional média 54,91 (DP 19,36), social média 80,90 (DP 20,47), QVRS escolar média de 68,75 (DP 17,46), e psicossocial 69,39 (DP 16,18). Os achados dos escores dos adolescentes sem excesso de peso apresentaram escore global 63,34 (DP 10,95) de QVRS física média de 80,95 (DP 16,87), emocional média 63,92 (DP 19,39), QVRS social 85,61 (DP 15,95), escolar 71,0 (DP 16,39) e psicossocial média de 73,51 (DP 13,34), De acordo com os relatos dos pais foi diagnosticado uma QVRS menor que o auto-relato dos adolescentes em ambos os grupos (com excesso de peso e sem excesso de peso) e em todos os domínios, com exceção do domínio emocional que apresentou escore mais alto dos pais 69,22 (DP 37,76) em relação aos adolescentes 62,98 (DP 19,38), mostrando que os pais de acordo com a descrição dada sobre a questão emotiva de seus filhos, apresentaram escores positivos do domínio emocional, entrando em contradição com os dados dos adolescentes. Conclui-se que os escolares com excesso de peso possuem uma QV menor em relação aos que não possuem excesso de peso sendo observada esta relação em todos os domínios (social, físico, emocional, escolar e psicossocial). Em relação à avaliação dos pais com QV dos adolescentes, observou-se uma visão decrescente em relação ao relato dos filhos em quase todos os domínios, com exceção do domínio emocional, que mostrou escores crescentes em relação ao adolescente. Tal resultado pode apontou um escore menor em adolescentes acima do peso bem como um estado emocional mais afetado em relação aos pais, nesse caso, sugere-se uma intervenção no cotidiano da população pesquisada com intuído de aprimorar e melhorar a qualidade da assistência oferecida a esses jovens.

          Unitermos: Qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS). Adolescentes. Excesso de peso.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A obesidade é considerada um problema de saúde pública que vem atingindo crianças, adolescentes, adultos e idosos que com sua predominância mundial fez com que a OMS qualificasse tal situação como epidêmica, atingindo diferentes regiões e diversos segmentos sociais, causando grande preocupação entre autoridades sanitárias e na população em geral (WHO, 1998).

    A composição corporal refere-se ao componente morfológico. É entendida como a quantificação do corpo humano em massa de gordura e massa corporal magra. Este é um componente fundamental, assim como os demais, para indicar o estado de saúde, isto porque o excesso de massa gorda em relação à massa corporal caracteriza obesidade, que está relacionada a várias doenças (ACSM, 1996; NIEMAN, 1999).

    A composição corporal do adolescente é mais difícil de ser interpretada, uma vez que a idade cronológica, durante esta fase, perde parte de sua importância. É freqüente que dois adolescentes de uma mesma idade tenham corpos diferentes, pois as alterações que levam o corpo de criança a se transformar no de adulto podem ocorrer mais cedo ou mais tarde (CASTILHO, 2007). Segundo a mesma autora, o fato de os adolescentes estarem em fase de crescimento traz limitações ao uso do IMC, pois ele não reflete as mudanças na composição corporal e não se correlaciona de modo adequado com a estatura.

    A composição corporal pode ser visualizada de várias maneiras, mas existem dois modelos que são utilizados na maior parte dos estudos relacionados a tal. O primeiro é baseado na perspectiva de bioquímicos e o segundo na perspectiva daqueles que trabalham com indivíduos em clínicas, centros de nutrição, academias e outros locais (MALINA; BOUCHARD, 2002).

    De acordo com Guedes; Guedes (1998), para os epidemiologistas, está claro que o sobrepeso e a obesidade apresentam explicações ambientalistas, uma vez que nos últimos tempos é muito provável não terem ocorrido alterações substanciais nas características genéticas de tais populações, enquanto as mudanças nos seus hábitos de vida parecem ter sido enormes. Neste caso, o progressivo aumento na proporção de indivíduos obesos, observado nas últimas décadas em âmbito populacional, é explicado pelo estabelecimento do equilíbrio energético positivo resultante dos inúmeros fatores associados ao ambiente. Além disso, admitindo-se que o sobrepeso e a obesidade apresentam importantes variações intra e Inter indivíduos, o que evidencia estarem sujeitos a complexo sistema multifatorial, especialistas têm procurado identificar a contribuição relativa com que os fatores de origem genética e do ambiente participam na suscetibilidade de alguém se tornar obeso ou de apresentar sobrepeso.

Metodologia

    O estudo se caracteriza como sendo do tipo descritivo, de corte transversal e com análise quantitativa dos dados, foi realizado a partir da utilização de uma amostra composta por 77 adolescentes entre 11 e 15 anos de idade devidamente matriculados em uma escola da rede pública do Município de Nova Esperança – MG, selecionadas aleatoriamente das séries finas do ensino médio. Após as autorizações, foi enviado aos pais das crianças selecionadas, um termo de esclarecimento e livre consentimento para a participação da pesquisa, onde os mesmos autorizaram seus filhos a participarem do estudo e em seguida, a recolha dos dados foi realizada nos horários das aulas de Educação Física.

    A pesquisa foi dividida em duas etapas, primeiro foram avaliadas as medidas das variáveis antropométricas para determinar o estado nutricional dos adolescentes segundo o protocolo de Must et al. (1992). Sendo avaliada a massa corporal e estatura. Para a tomada dos dados foi utilizado uma balança da marca Lumina MEA 02550, com precisão 18 kg e um estadiômetro da marca BSM-370 com precisão de 0,1 cm. A partir dessas medidas foi estabelecido o IMC através da formula peso/altura2 de cada individuo.

    A segunda etapa foi a avaliação da qualidade de vida relacionado à saúde (QVRS) para isso foi aplicado o questionário pediátrico Pediatric Quality of Life Inventory (PedsQL 4.0) validado por Varni, Seid, Rode (1999) sendo seu uso permitido no Brasil. Trata se de um instrumento modular que avalia o (QVRS) de crianças e adolescentes com idades entre 02 e 18 anos (este instrumento possui dois formatos paralelos de questionários, um para o adolescente e outro para os pais, sendo este último desenhado para avaliar a percepção dos pais quanto à QVRS de seus filhos o qual foi enviado para casa para o preenchimento). Utilizou-se o PedsQL, auto-aplicável, para adolescentes entre 13 e 18 anos, que compreendeu 23 itens divididos em quatro domínios: domínios físico (1-8), emocional (9-1), social (14-18) e escolar (19-23) e o outro formato destinado para a percepção dos pais em relação a QVRS de seus filhos contendo 23 itens, sendo quatro domínios: domínio físico (24-31), domínio emocional (32-36), domínio social (37-41) e domínio escolar (42-46).

    Os dados recolhidos foram inseridos e analisados (média, desvio padrão) a partir da utilização do Software SPSS for Windows 19.0. Para verificar as relações entre a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) em adolescentes com excesso de peso e sem excesso de peso. Para as duas situações foram adotadas um nível de significância de 5% (p≤0,05).

Discussão dos resultados

    A apresentação dos valores descritivos relativos do (QVRS) mostraram que os adolescentes com excesso de peso apresentaram escores menores em todos os domínios do (QVRS) em relação aos sem excesso de peso ou com baixo peso. Nota se que dos 77 adolescentes avaliados 12 se encontravam acima do peso afetando por tanto seu estado físico, emocional, escolar, social e psicossocial, ou seja, em todos os requisitos do (QVRS). Em um estudo feito por americanos com 166 crianças e adolescentes de 8 a 18 anos em busca de tratamento no hospital pediátrico, foi utilizado o mesmo instrumento (Peds QL) tendo resultado semelhante onde o (QVRS) foi mais baixa em jovens obesos média 68,9 em todos os domínios (físico, emocional, social, e escolar) comparados com seus pares de peso normal média 83,0​​ (ZELLER MODI, 2006).

    A tabela 01 mostra os escores menores para os adolescentes com excesso de peso que corroboram com alguns estudos feitos por americanos onde obtiveram dados semelhantes aos encontras nessa pesquisa. Em outra pesquisa feita em 2002 com crianças e adolescentes com idade entre 5 e 18 anos para analisar a QVRS de crianças e adolescentes obesos comparadas com aquelas que são saudáveis ou aquelas com diagnóstico da clínica de nutrição do hospital infantil e centro de saúde (San Diego, Califórnia), onde foram recrutados 106 crianças e adolescentes para esta pesquisa, teve como resultado uma baixa qualidade de vida em crianças e adolescentes obesos média 67 (DP 16,3); e um (QVRS) mais alta para crianças e adolescentes saudáveis, média 83 (DP 14,8) (SCHWIMMER et al, 2003).

Tabela 1. Domínios de QVRS (físico, emocional, escolar, social e psicossocial)

    De acordo com Willians et al. (2005), crianças e adolescentes com excesso de peso (sobrepeso e obesidade) relataram baixa QVRS em comparação com adolescente sem excesso de peso (eutróficos e de baixo peso), situação essa devido à má qualidade de vida. Esta diferença entre os escores dos dois grupos pode estar relacionada ao fato da adolescência por si só ser um período de intensas mudanças, conflitos e insegurança, o que coloca o adolescente como vulnerável frente às contradições sociais e culturais que cercam as questões emocionais relativas à auto-imagem Kunkel et al (2006) produzindo ao adolescente obeso/sobrepesado, uma pressão social incômoda e uma sensação de inadequação perante os padrões sociais vigentes, que poderá provocar dificuldades relacionais e, muitas vezes, evitar o exposto físico em suas atividades e da realização de algumas tarefas quotidianas indispensáveis, que requerem contactos sociais (SILVA et al, 2006).

    Quanto ao resultado do (QVRS) dos pais e adolescentes a tabela 03 mostra que os pais obtiveram escores menos do que os adolescentes com exceção do estado emocional que apresentou escore mais alto dos pais 69,22 (DP 37,76) em relação aos adolescentes 62,98 (DP 19,38), relatando que os pais de acordo com a descrição dada sobre a questão emotiva de seus filhos, mostraram uma visão de (QVRS) crescente emocionalmente, entrando em contradição com os dados dos adolescentes.

Tabela 2. Resultados dos domínios da QVRS dos pais e dos adolescentes

    No domínio físico a (QVRS) física média do relato dos adolescentes foi de 80.63 (DP 16,08) e dos seus pais de 72,40 (DP 22,28). No domínio social mostra a QVRS média 84,93 (DP 16,58) enquanto que referentes a seus pais a média foi de 77,96 (DP 20,20), e no psicossocial o escore dos filhos foi de 72,68 (DP 13,80) e de seus pais a média de 71,66 (DP 17,13). O domínio emocional foi o único que teve divergência onde os pais obtiveram média de 69,22 (DP 37,76) segundo Modi et al. (2003) a menor concordância diante dos achados no domínio emocional entre crianças e seus pais não são unicamente relacionado à obesidade, os mesmos achados são consistentes com outros resultados sobre (QVRS) e outras populações pediátricas.

    Uma razão possível para a menos concordância entre pais e filhos esse domínio específico pode ser o impacto do funcionamento parental, pelo fato do filho presenciar a preocupação do dos pais em relação ao seu estado de saúde influenciando negativamente no emocional dos adolescentes (ZELLER et al, 2004).

Conclusão

    Diante dos resultados avaliados com os 77 adolescentes das séries finais de uma escola do distrito de Nova Esperança município de Montes Claros-MG conclui-se que os escolares com excesso de peso possuem uma QV menor em relação aos que não possuem excesso de peso sendo observada esta relação em todos os domínios (social, físico, emocional, escolar e psicossocial).

    Em relação à avaliação dos pais com QV dos adolescentes, observou-se uma visão decrescente em relação ao relato dos filhos em quase todos os domínios, com exceção do domínio emocional, que mostrou escores crescentes em relação ao adolescente.

    Tal resultado pode apontou um escore menor em adolescentes acima do peso bem como um estado emocional mais afetado em relação aos pais, nesse caso, sugere-se uma intervenção no cotidiano da população pesquisada com intuído de aprimorar e melhorar a qualidade da assistência oferecida a esses jovens.

Referencias

  • ACSM. American College of Sports Medicine. Manual para teste de esforço e prescrição de exercício. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.

  • CASTILHO, S.D. Estudo associa composição corporal e maturação sexual em adolescentes. Universidade Estadual de Campinas. Disponível em internet: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/dezembro2003/ju240pag09.html. Acesso em 12 dez. 2007.

  • GUEDES, D. P. e GUEDES, J. E. R. P. Controle do peso corporal: composição corporal, atividade física e nutrição. Londrina: Midiograf, 1998.

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  • MALINA, R. M.; BOUCHARD, C. Atividade Física do atleta jovem: do crescimento à maturação. São Paulo: Roca, 2002.

  • MODI, AC. QUITTNER, AL. Validation of a disease-specific measure of health-related quality of life for children with cystic fibrosis. J Pediatr Psychol. v.28, n.1, p.535-45; 2003.

  • NIEMAN, D. C. Exercício e saúde. São Paulo: Manole, 1999.

  • SCHWIMMER JB, BURWINKLE TM, VARNI JW. Health-related quality of life of severely obese children and adolescents. JAMA; v.289, n.1, p.1813–9; 2003.

  • SILVA MP, JORGE Z, DOMINGUES A, NOBRE EL, CHAMBEL P, DE CASTRO JJ. Obesidade e qualidade de vida. Acta Med Port.; v. 19, n.247-50; 2006.

  • WHO (World Health Organization). Obesity - preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO consultation on obesity. Geneva; 1998.

  • WILLIAMS J, WAKE M, HESKETH K, MAHER E, WATERS E. Health-related quality of life of overweight and obese children. JAMA, v.293, n.1, p. 70 – 6; 2005.

  • ZELLER MH, KIRK S, CLAYTOR R, ET AL. Predictors of attrition from a pediatric weight management program. J Pediatr. v.14, n.1, p.144:466 –70. 2004.

  • ZELLER MH, MODI AC. Predictors of health-related quality of life in obese youth. Obesity (Silver Spring); v.14, n.1, p.122-30; 2006.

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