efdeportes.com

Representações de professores de Educação Física sobre o processo de avaliação na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental

Representaciones de los profesores de Educación Física sobre el proceso
de evaluación en la educación inicial y en los primeros años de la escuela primaria

 

*Licenciada em Educação Física

pela Universidade Federal de Lavras – UFLA

**Licenciado em Educação Física. Mestre e Doutor em Educação pela USP

Atualmente é professor Adjunto II do Departamento de Educação Física

da Universidade Federal de Lavras – UFLA

Ana Luiz Machado*

Prof. Dr. Fabio Pinto Gonçalves dos Reis**

fabioreis@def.ufla.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivou-se nesse artigo investigar, analisar e cotejar as concepções dos professores de Educação Física acerca do processo de avaliação que atuam em dois diferentes níveis de ensino: Educação Infantil e Ensino Fundamental – Anos Iniciais. Após o levantamento de material bibliográfico e estudos de obras e trabalhos sobre a Avaliação em Educação Física escolar foi necessária a elaboração de um questionário com questões abertas para a coleta de dados. A pesquisa foi realizada no município de Lavras – MG envolvendo 12 participantes e para o tratamento dos dados foi usada uma abordagem qualitativa baseada na análise do conteúdo. Os dados representaram um predomínio nas respostas que tendem utilizar a avaliação somente com caráter mensurativo, medidas e resultados sobre o desempenho motor, objetivando o seu desenvolvimento. Além disso, os conteúdos avaliados, os procedimentos e instrumentos utilizados no geral, não variaram ao serem comparados os dois diferentes níveis de ensino. Os resultados demonstraram que ainda é preciso muito estudo e reflexão sobre o tema.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Avaliação. Professores.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Durante a graduação, uma grande dificuldade encontrada na elaboração de planos de aulas é o quesito avaliação: O que avaliar? Quem avaliar? Quando? Qual instrumento utilizar? Quais as etapas? Mesmo durante os estágios na escola, observa-se que a dúvida permanece nos professores que já são formados. Alguns comentam que é muito pouco tempo de contato com o aluno para poder criar critérios de avaliação. Outros dizem que na teoria os métodos apresentam-se fáceis, porém na prática são inviáveis. E ainda, há quem diga que não são necessários a avaliação, o planejamento e a seleção de conteúdos, porque no dia-a-dia da escola o que é exigido é a capacidade de improvisação do professor.

    Além do planejamento, currículo e discussão sobre os conteúdos das aulas, é imprescindível o processo de avaliação do desenvolvimento global da criança e do grupo. Contudo, os critérios e instrumentos relacionados à avaliação são temas que merecem ampliação da sua discussão e reflexão, na tentativa de amenizar a ênfase somente nos conteúdos procedimentais das aulas tradicionais e aprimorar o recurso da avaliação. Já que além de ser um instrumento de feedback didático é um auxiliador para a mediação e reflexão do professor sobre sua prática pedagógica.

    As abordagens para a avaliação em Educação Física escolar sofreram modificações durante a História. Novas propostas foram sendo criadas a partir de críticas e considerações a respeito de uma abordagem pré- existente. Por isso, nos dias atuais existem diferentes concepções sobre o que é Educação Física escolar. Nesse sentido, não há um consenso sobre o que avaliar, como avaliar e qual o objetivo desse componente curricular. O interesse desse estudo surge a partir dessas observações e questionamentos sobre o tema. Visto que este é também uma grande dificuldade para o professor atuante e para o futuro docente.

Problemas de pesquisa

    Há diferenças nos critérios de avaliação dos professores de Educação Física no que se refere ao segmento infantil e anos inicias? De que forma são realizados os processos de avaliação na Educação Física escolar em relação aos dois segmentos de ensino? O que os professores de Educação Física Infantil e anos iniciais avaliam em suas aulas? Qual o objetivo da avaliação pelos professores atuantes na Educação Infantil e anos iniciais? Em quais momentos do processo pedagógico os alunos são avaliados, considerando os dois segmentos de ensino? Em relação à Educação Infantil e anos iniciais, quem é o sujeito que avalia nas aulas de Educação Física escolar? Quais os instrumentos utilizados pelos professores para a realização do processo avaliativo?

Objetivo

Objetivo específico

Metodologia

    A primeira fase da pesquisa foi o levantamento de material bibliográfico e estudos de obras e trabalhos sobre a Avaliação em Educação Física escolar. No segundo momento, para a coleta de dados, foi necessária a elaboração de um questionário com questões abertas. Para isso, é importante tomar precauções, segundo Mattos, Rosseto Júnior; Blecher (2008), de modo que um questionário deve-se iniciar com questões simples para introduzir o entrevistado ao tema e é preciso evitar questões que possam expor ou intimidar o entrevistado. Além de explicar e informar o objetivo de sua aplicação e o que se espera do informante logo na introdução. As principais vantagens do uso do questionário, de acordo com esses autores é garantir o anonimato do participante, evitar a influência do pesquisador na indução das respostas e não é preciso o treinamento do pesquisador.

    A amostra foi definida aleatoriamente, garantindo a representação do universo estudado. Após uma investigação nas escolas e troca de informações com os professores da área, foi feito um levantamento de quais professores atendiam aos requisitos básicos: atua ou já atuou na Educação Infantil e no Ensino Fundamental (Anos Iniciais) e possui formação em Educação Física. O convite foi feito a 12 professores e todos aceitaram participar.

    Todos os participantes receberam as principais informações antes de responder o questionário, juntamente com a cópia de um Termo de Consentimento.

    A pesquisa foi realizada em escolas públicas e privadas do munícipio de Lavras – MG e para a análise dos dados coletados foi usada uma abordagem qualitativa: a análise de conteúdo.

Caracterização dos sujeitos

    A maioria dos participantes é do sexo feminino, de modo que participaram da pesquisa oito (8) professoras e quatro (4) professores. Os professores que atuam em escola pública e privada foram somente dois (2). Os que atuam exclusivamente em escola pública ou em escola privada permanecem o número cinco (5) em ambos os casos. Também foi questionado o ano de conclusão da graduação. Os resultados entre 1988 e 1999 foram cinco (5) e entre 2000 e 2009 a quantidade foi maior, sete (7).

    Já em relação ao tempo de experiência em cada segmento os resultados demonstraram que a maioria possue entre 1 a 5 anos de atuação. Porém, dois (2) participantes se encontram na faixa entre 8 a 12 anos e outros dois (2) sujeitos entre 17 a 19 anos.

Tratamento dos dados: análise de conteúdo

    Segundo Souza Júnior, Melo & Santiago (2010, p. 34) a análise de conteúdo “consiste num recurso técnico para a análise de dados provenientes de mensagens escritas ou transcritas”. Para sua interpretação realizamos inferências na construção do texto, destacando generalidades e particularidades, destacando as falas na íntegra, articulando com o referencial teórico e as nossas próprias percepções. De acordo com Matos & Vieira (2002, p. 67) a análise de conteúdo procura a compreensão crítica do significado das comunicações.

    Para o procedimento da análise dos dados uma observação importante é perceber que, segundo Chizzotti (2005, p. 82), os sujeitos da pesquisa têm representações, parciais e incompletas, mas construídas com relativa coerência em relação à sua visão e à sua experiência. Portanto, a partir de uma análise cuidadosa o pesquisador tenta captar as percepções e interpretações do informante aproximando da realidade vivida e do seu contexto, de maneira a formular o sentido que os atores lhes dão. Apesar da possibilidade de não existir uma transferência total do conteúdo escrito das respostas para a prática pedagógica dos professores, talvez a frequência e o rigor de como e quando acontece o processo avaliativo, certamente as representações demonstram algo que o influenciam e que acreditam ser o correto.

1.     Avaliação em Educação Física Escolar

    Para compreender o tema e mostrar que é possível trabalhar avaliação em Educação Física escolar, Cunha (2008) investigou os sentidos e significados da avaliação da aprendizagem escolar dos professores formadores do curso de licenciatura em Educação Física. A autora concluiu que as práticas desenvolvidas pelos professores no curso de licenciatura podem influenciar a maneira de agir do futuro docente, já que servirão como experiências e reflexão para a sua formação. As posturas, a incoerência entre o discurso e a prática, ou seja, fatos que compõem o currículo oculto, também podem ser considerados como fortes influências na formação de novos professores.

    Darido (2012) apresenta uma proposta de avaliação para ser utilizada nas aulas de Educação Física, de modo que inicia a sua discussão explicando como era realizada a avaliação na ótica da abordagem tradicional, descrevendo as mudanças ocorridas e abordando as perguntas essenciais: Por que avaliar? Quem avalia? Como avaliar? O que avaliar? Quando avaliar? A partir disso, sugere instrumentos para o processo avaliativo: Observação e Registro; Análise de Produções e Registros dos alunos; Provas; Autoavaliação; Portfólio; Nota/conceito e considerações sobre a didática.

    João B. Freire (2009, p. 174), defende que “não basta medir para avaliar, pois isso não leva em conta os meios que o aluno utiliza para chegar aos resultados, meios esses que são os elementos mais indicativos do progresso do seu conhecimento.” E mesmo porque não se pode medir/ mensurar tudo que existe. Ele ainda critica o processo de avaliação na escola de que todo o grupo deve responder da mesma forma a questões idênticas, tentativa de homogeneizar a turma.

    Metodologia do Ensino de Educação Física, uma obra clássica da área, elaborada em 1992, dedica um capítulo sobre a Avaliação do processo ensino/aprendizagem na Educação Física. O tema foi abordado sob os seguintes aspectos: que significado esse processo tem assumido; em que condições vem se dando a avaliação e quais as novas referências usadas metodologicamente à avaliação. Para o Coletivo de Autores (2009) a avaliação esta relacionada ao projeto político pedagógico da escola, servindo de referência para a análise da aproximação ou distanciamento do eixo curricular que norteio o projeto. E ainda, enfatizam a importância do diálogo, interação e comunicação entre os envolvidos no processo. O aluno deve ter a possibilidade de expressar e participar, assumindo responsabilidades como todos os outros envolvidos que pode ser considerada a Avaliação Participativa/Coletiva. A partir de dados obtidos da observação sistemática das aulas de Educação Física verificaram que a avaliação tem sido entendida e tratada, predominantemente por professores e alunos para:

  • Atender as exigências burocráticas expressas em normas da escola;

  • Atender a legislação vigente;

  • Selecionar alunos para competições e apresentações tanto dentro da escola quanto com outras escolas. (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 96).

    Sobre o processo avaliativo, Silva (2005, p. 139) diz que é fundamental a reflexão sobre a ação e que as informações sobre as crianças devem servir para a orientação pedagógica e para a reflexão do planejamento. Além disso, ele deve permitir a análise e interpretação de dois aspectos: nível de desenvolvimento real da criança e nível de desenvolvimento potencial da criança, conceitos da teoria vygotskyana. O autor concluiu que a ausência de observação e registros na Educação Infantil, apesar de ser uma exigência afirmada na lei, pode ser resultado das condições materiais e estruturais das escolas e os limites de uma cultura avaliativa.

2.     Resultados e discussão

    Para a análise e discussão dos dados foram definidas três temáticas de aproximação que seguem adiante.

2.1.     Avaliação: definição, objetivo e prática docente

    A partir do interesse em verificar o que na opinião dos professores seria a Avaliação, as respostas que mais apareceram dizem respeito à verificação dos resultados alcançados ou aprendizado atingido.

    “Verificar se os conteúdos planejados para o desenvolvimento/aprendizado dos alunos estão sendo alcançados: se os objetivos finais estão sendo atingidos.”

    “Diagnóstico para verificar o aprendizado e se os objetivos propostos foram alcançados.”

    “Uma forma de avaliar o desenvolvimento do aluno em cima daquilo que você trabalhou com ele, durante certo período de tempo. Desenvolvimento e aprendizagem.”

    A avaliação vista como instrumento para medir, classificar também apareceu em algumas respostas.

    “Processo para avaliar as habilidades motoras, cognitivas e afetivas.”

    “Observar características, movimentos e outros aspectos do ser.”

    Surgiu uma única resposta que abrangeu quando, quem, por que e para que avaliar.

    “Processo contínuo que leva em consideração os processos vivenciados pelas crianças, resultado de um trabalho intencional do professor. Deverá constituir-se em instrumentos para a reorganização de objetivos, conteúdos, procedimentos, atividades e como forma de acompanhar e conhecer cada criança.”

    Para a maioria o objetivo da avaliação é detectar o que precisa ser desenvolvido, intervir e ajudar na melhora do aprendizado. Alguns acrescentaram que é importante para refletir sobre o trabalho realizado e para direcionar as aulas.

    “Avaliar se uma criança esta ou não desenvolvendo uma motricidade saudável; refletir sobre o ambiente da instituição e o trabalho desenvolvido.”

    “Verificar as dificuldades, qualidades e potencialidades de cada um. Motivação e interesse para criar estratégias de aula.”

    “Identificar as reais necessidades dos alunos. Direcionar o trabalho a ser executado pela Educação Física. Garantir a aquisição de habilidades e competências em relação ao movimento corporal.”

    Os professores avaliam suas aulas, ou seja, sua prática docente através da observação e registro dos cumprimentos dos objetivos do planejamento. Porém, uma resposta demonstrou a participação dos alunos e outra citou a opinião da coordenadora.

    “No final de cada aula, sentamos em uma roda e conversamos sobre o que gostaram, o que tiveram dificuldade, para que eu possa melhorar minhas aulas e motivá-los.”

    “Toda semana minha coordenadora avalia as aulas dando um visto e dando sua opinião. Mas, minhas anotações permitem eu perceber se algo funcionou.”

    A partir dessa observação, tornou-se evidente que o processo avaliativo evidencia o que o aluno aprende desconsiderando como o professor ensina, o que deveria ser um dos momentos do processo de ensino/aprendizagem.

2.2.     Conteúdos e metodologia de ensino

    Para o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI (1998) a observação, o registro, o planejamento e a avaliação são instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática. A avaliação deve permitir a criança acompanhar suas conquistas, suas dificuldades e suas possibilidades ao longo de seu processo de aprendizagem.

    A avaliação do movimento deve ser contínua e servir como instrumento para a reorganização de objetivos, conteúdos, procedimentos, atividades. A observação cuidadosa sobre cada criança e sobre o grupo fornece elementos que podem auxiliar na construção de uma prática que considere o corpo e o movimento das crianças. Devem ser documentados os aspectos referentes à expressividade do movimento e sua dimensão instrumental (RCNEI, 1998). Ou seja, é necessário que sejam oferecidas condições e que existam oportunidades, portanto instrumentos, recursos para que as crianças explorem suas capacidades expressivas.

    Quando perguntado sobre o que você avalia na Educação Infantil a maioria enfatizou as habilidades motoras, desenvolvimento psicomotor.

    “Conceitos de lateralidade, noção espacial, ritmo, coordenação motora fina e global, esquema corporal, equilíbrio, enfim psicomotricidade e habilidades.”

    “Desenvolvimento, coordenação motora fina e grossa, lateralidade, percepção espacial e temporal.”

    Juntamente com as habilidades motoras alguns acrescentaram a importância da socialização.

    “O desempenho cognitivo e motor, juntamente com sua socialização e seu progresso das competências e habilidades.”

    “Socialização, conhecimento do corpo, domínio de movimento, domíno espaço-temporal, manipulação de objetos, cumprimento de regras.”

    Talvez a opinião que se distancia um pouco da maioria seria a que relacionou expressão do movimento ao desenvolvimento do aluno.

    “Aspectos referentes à expressividade do movimento e suas dimensões. Desenvolvimento de suas competências, o uso de gestos e ritmos corporais diversos para expressar-se, deslocamentos.”

    E outra que considera o aluno de maneira global.

    “Avalio o alunos em todas as suas dimensões: cognitiva, corporal e afetiva.”

    Tanto na Educação Infantil quanto nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental o predomínio no conteúdo avaliado nas aulas é majoritariamente o desenvolvimento motor, algumas respostas incluiram também conteúdos atitudinais.

    “Desenvolvimento hierárquico do seu comportamento motor, pois através da diversificação e complexidade possibilita a formação de estrutura cada vez mais organizada.”

    “Fatos aprendidos, conceitos construídos, entendimento, experimentação e execução da prática.”

    Observou-se claramente na amostra que os professores formados antes do ano de 2000 possuem uma tendência mais tecnicista (biologização), preocupada principalmente com o aspecto motor do aluno. Com exceção de um sujeito, talvez por estar em um programa de mestrado, uma formação continuada que aborda as novas tendências. Os formados após essa data já incluíram outros aspectos em seus critérios avaliativos.

    Os professores responderam também como avaliam seus alunos e quais instrumentos pedagógicos utilizam na Educação Infantil. A maioria avalia através de atividades práticas, circuitos, brincadeiras que utilizam material esportivo.

    “Todos os dias observando as dificuldades de cada um para posteriormente fazer um parâmetro de comparação se houve desenvolvimento. Utilizamos tanto a parte externa da escola, como materiais: corda, arco, bola, pneus, túnel, cones, garrafas, jogos, colchonetes.”

    Alguns utilizam ainda brincadeiras e atividades práticas, porém avaliam também conteúdos atitudinais nas aulas.

    “Avaliação contínua, através das atividades realizadas, participação, interesse, integração com os colegas, desempenho. O lúdico (brincadeiras) é o principal instrumento pedagógico.”

    Os professores justificaram que a observação é um método mais fácil, rápido e eficaz. Outros disseram que o método escolhido é o mais condizente com a realidade escolar, a proposta da escola ou da abordagem pedagógica. Apenas três manifestações focaram a justificativa no aluno.

    “É uma forma segura de identificar se houve aprendizado, cada criança tem um tempo para amadurecer e devemos respeitá-los e não compará-las uma com as outras.”

    “Para saber se o aluno aprendeu, dar oportunidade de voz ao aluno, maior contato professor-aluno.”

    “Na avaliação formativa você consegue englobar todos os aspectos de desenvolvimento dos alunos.”

    Um número pequeno, apenas cinco (5), respondeu que utiliza fichas de observação, registros ou relatórios.

    “Segundo suas capacidades, fichas de acompanhamento de desenvolvimento pessoal.”

    “Observação e avaliação diagnóstica, quadro de atividades e valores, quadro de habilidades e competências.”

    Em relação à maneira como os alunos são avaliados e os instrumentos utilizados as respostas ficaram divididas em observação diária/registros a partir da realização das práticas e uso de material esportivo para avaliação do desempenho motor. O que diferencia um pouco da Educação Infantil é a introdução dos esportes, citado em uma resposta e a inserção da redação/trabalho escrito.

    “Atletismo, lançamentos, coordenação, outros.”

    “Idem à Educação Infantil, avaliação oral (conversa) e redação.”

    Apesar dos professores manterem praticamente a mesma resposta para os dois segmentos de ensino, duas respostas se distanciaram ao ser cotejado Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

    “Segundo suas capacidades. Dinâmicas de criação de jogos, produção e transmissão para outros grupos.”

    “Além do seu desempenho, os seus conhecimentos teóricos e práticos. Pesquisas, livros, trabalhos, outros.”

    Além de uma opinião que inclui os dois quesitos.

    “Coletando dados/informações sobre o processo ensino-aprendizagem (registro, relatórios, entrevistas, vídeos, fotos, testes, pesquisa, debates, música, interpretação de desenhos).”

    Como afirma Perrenoud (1999, p. 104), “a observação é formativa quando permite orientar e otimizar as aprendizagens em curso sem preocupação de classificar, certificar, selecionar.” Por isso, mesmo dizendo que são realizadas observações para a avaliação é preciso considerar se essa prática é sistematizada e qual o objetivo final.

2.3.     Fases e sujeitos do processo avaliativo

    Os momentos de avaliação, segundo a maioria dos professores acontece durante todas as aulas, ela é contínua. Havendo poucas divergências, alguns disseram que existe um momento específico: Mensalmente, Bimestralmente ou Semestralmente.

    “Observação gradativa.”

    “De acordo com as habilidades adquiridas.

    “Bimestralmente e Semestralmente.”

    Ou ainda,

    “De acordo com a fase que os alunos se encontram.”

    Ao responderem a última pergunta, se existe a participação dos alunos como sujeitos atuantes no processo de avaliação, com exceção de uma, todos responderam que sim. Porém, ao explicar de que forma ela acontece surgiram diferentes situações. Três grupos de respostas se aproximaram. Primeiro (“VOZ do aluno”): através de roda de conversa, feedback dos alunos, trabalhos em grupo. Segundo (“AÇÂO do aluno”): participação efetiva nas aulas práticas, o aluno executa as ações, atua nos seus movimentos e reações do seu processo de amadurecimento. Terceiro (“VIDA do aluno”): mudança de atitudes.

    “Sim, a todo o instante as crianças ou grupo participam do processo de avaliação por meio de conversas e trabalhos em grupo, onde são questionados conteúdos e situações reais vivenciadas.”

    “Sim, diante de situações ele age, executa uma ação em que é possível avaliá-lo.”

    “Sim, os alunos/pais são conscientes do processo de avaliação, caderno de registro.”

    Para os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (1997) a avaliação deve ser algo útil, tanto para o aluno como para o professor, para que ambos possam dimensionar os avanços e as dificuldades dentro do processo de ensino e aprendizagem e torná-lo cada vez mais produtivo. Também é importante que ela seja realizada para além dos aspectos biofisiológicos e reconheça as individualidades.

    O documento sugere ainda que o conhecimento dos conteúdos, as suas regras, estratégias e habilidades envolvidas, a autonomia do aluno, as relações sociais, entre outros, são aspectos que permitem uma avaliação abrangente do processo de ensino/aprendizagem.

    Notou-se que, em geral, os alunos não têm acesso à análise do seu desenvolvimento, ou seja, a avaliação não é usada como um instrumento de aproximação, uma relação de confiança e troca entre professor e aluno.

    Foi ainda observado na análise que em relação ao gênero e ao tipo de instituição não houve alterações entre os participantes. E, além disso, em nenhuma resposta ou conversa os professores demonstraram que usam a avaliação com forma de punição, sanção ou chantagem para controlar os alunos. Apesar de ser uma prática comum utilizada por outros componentes curriculares. Portanto, talvez essa seja uma limitação do questionário que não conseguiu abranger respostas que relatassem discursos moralizantes e de relações de poder. Ainda que seja possível o professor omitir. Ou seja, seria necessário um trabalho de observação de campo para tentar aproximar mais da realidade.

Considerações finais

    As condições histórico-sociais certamente determinam os procedimentos da avaliação escolar. Existem abordagens pedagógicas que culminaram em diferentes tendências avaliativas ao longo da trajetória da Educação Física escolar. Porém, mesmo com mudanças paradigmáticas, acompanhamos resquícios das concepções sobre avaliação ainda nos dias atuais: as orientações a partir de parâmetros quantitativos para seleção, classificação e comparação, além de análises totalmente tecnicistas e mensurativas. Ou ainda, a estratégia do professor em avaliar somente na dimensão procedimental - avaliar o que o aluno já sabe fazer ou aprendeu a fazer.

    Predominantemente, o que acompanhamos nos estágios e verificamos em produções acadêmicas é que na Educação Infantil e anos iniciais o objetivo principal é o avanço das habilidades motoras, ou seja, o foco da avaliação é no aspecto físico.

    Sabemos que de alguma maneira, a avaliação existe nas aulas, porém há também a irrelevância do processo avaliativo para a aula de Educação Física, quando a mesma objetiva o momento de lazer, recreação – laissez faire ou somente a simples prática esportiva para benefícios físicos. Considerando apenas o critério de assiduidade ou a participação nas aulas.

    Algumas pesquisas apontam que alguns professores já inovaram no processo avaliativo, propondo para os alunos, trabalhos com filmagens, criação de blogs, jornal impresso. Outros professores passaram a exigir caderno específico da Educação Física, incentivando a pesquisa sobre informações do conteúdo estudado. Além disso, com as mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), na elaboração de perguntas sobre conteúdos da Educação Física, isso fez com que professores começassem a aplicar provas escritas.

    Portanto, o caráter tradicional de classificação, comparação do desempenho físico e mensuração tem sido ao poucos, substituído por critérios como participação, autoavaliação, pesquisas, apresentações, entre outros. Alternativas que devem estar pautadas pelo planejamento de ensino, possuir um objetivo, metodologia e não ser somente um instrumento para cumprir uma exigência burocrática da escola ou do sistema educacional.

    As representações dos professores foram analisadas individualmente, porém constatamos uma repetição (frequência) e aproximação (presença) dos significados entre os participantes, o que nos leva a pensar que essa representação como aqui foi estudada pode ser considerada coletiva. E que além de aspectos pessoais (histórico da formação, satisfação com a profissão), as características da cultura escolar, os fatos sociais e a nossa identidade profissional interferem na construção das representações sociais.

    Podemos elencar as principais concepções de Educação Física para os professores participantes da pesquisa:

    Percebemos que o caráter pedagógico, a função da escola na construção do conhecimento, ou seja, o objetivo geral de qualquer outro componente curricular é deixado de lado nesse tipo de concepção. Além disso, perdemos um pouco da identidade e especificidade da nossa profissão quando passamos a reproduzir somente um tipo de conteúdo e modelo fixo de aula tornando apenas um mero executor ou treinador do corpo físico.

    O objetivo da pesquisa não foi elaborar um manual de como agir durante as aulas de Educação Física ou de como o professor deve escolher sua metodologia de ensino. Esse trabalho buscou analisar as representações dos professores, o que pode influenciar no processo avaliativo e como os alunos estão sendo avaliados na Educação Física Infantil e Anos Iniciais. Os resultados indicaram que ainda é preciso estudos e investimentos na área, além de uma discussão profunda sobre os objetivos da Educação Física no âmbito escolar que por sua vez serão os balizadores da avaliação.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 196 | Buenos Aires, Septiembre de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados