Necessidades nutricionais de macronutrientes em jogadores de futebol: uma revisão bibliográfica Nutritional needs of macronutrients in soccer players: a bibliographical review |
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*Nutricionista, Doutora e Mestre em Nutrição Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública – USP **Nutricionista pelo Centro Universitário Lusíada – UNILUS – Santos – SP Especialidade em Obesidade, Emagrecimento e Saúde UNIFESP – Santos – SP |
Tamara Eugenia Stulbach* Márcia dos Santos Moraes** (Brasil) |
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Resumo O futebol é um esporte que apresenta grande esforço físico, intensidade, exercícios intermitentes, qualidade do adversário e importância do jogo. Deseja-se saber as alterações metabólicas desses atletas e a conduta dietética para o melhor desempenho. A preocupação com a nutrição dos jogadores deve ser a de oferecer uma alimentação equilibrada e variada, para atender às demandas e necessidades de carboidratos, proteínas e lipídeos. O objetivo deste estudo foi o de fazer uma revisão bibliográfica sobre o consumo dos macronutrientes, segundo a ADA (2000) em atletas de futebol. Unitermos: Macronutrientes. Alimentação. Referência.
Abstract
Football is a sport that has a great physical effort, intensity,
intermittent exercises, quality of opponent and importance of the game.
Want to know is the metabolic changes of these athletes and conduct diet
for the best performance. Concern about the nutrition of the players
should be to offer a varied and balanced diet, to meet the demands and
needs of carbohydrates, proteins and lipids. The purpose of this study was
to review literature on the consumption of nutrients, according to the ADA
(2000) athletes in football.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Nos últimos anos, a nutrição tem sido alvo de crescente interesse por parte de atletas e praticantes de atividade física, cada vez mais consciente de seus benefícios. No futebol, o esporte coletivo mais popular do Brasil, a nutrição e a hidratação deve fornecer ao atleta o aporte energético e os nutrientes necessários para garantir o desempenho, assegurar o peso ideal, recuperar traumas e lesões, tendo como objetivo final a saúde e a performance do jogador
Para ter um bom desempenho, o jogador de futebol tem como aspecto fundamental a nutrição e o treinamento. A demanda de energia dos treinamentos e competições requer que os jogadores consumam uma dieta balanceada, particularmente rica em carboidratos.
O presente estudo tem como objetivo analisar a participação dos macronutrientes em jogadores de futebol, a partir de dados da literatura.
Os carboidratos
Uma alimentação adequada desempenha um grande papel na realização de qualquer tipo de atividade física independente da sua idade. (LIMA; PERCEGO, 2001).
Quando se fala em atleta, deve-se então ter um aporte calórico maior para atender o gasto energético imposto pelo treinamento, tanto em quantidade como qualidade no que se diz respeito antes, durante e depois treinamento.
Para isso, deve-se fornecer um balanço adequado de proteínas, lipídeos, Carboidratos (CHO) e atender o consumo alimentar diário que varia de 5.300 a 8.800 kcal/dia. Em relação ao consumo alimentar de jogadores de futebol, os registros alimentares estimam que o consumo diário varie de 5.300 a 8.800 kcal/dia. (Guerra; Barros; Tirapegui, dez/2004).
O CHO desempenha uma grande função, pois é substrato energético indispensável na realização do exercício físico, no catabolismo da glicose presente na corrente sanguínea e do glicogênio muscular e hepático, portanto seu papel metabólico no organismo é a produção de energia.
O próprio organismo quando em exercício de alta intensidade tem a preferência do CHO por causa do ritmo mais acelerado no processo de energia, assim eles apresentam a capacidade de gerar ATP mais rápido por meio de processos oxidativos.
Assim, em treinamentos extenuantes para que haja estoques de glicogênio muscular é necessária a ingestão de CHO que é diretamente proporcional à duração do exercício.
Quando inicia o exercício e aumenta a sua intensidade o metabolismo anaeróbico é ativado e o CHO começa a ser fonte de energia principalmente o glicogênio muscular. Mesmo com o andamento do exercício quando é ativado o metabolismo aeróbico, é iniciado o fornecimento de energia por meio de CHO especialmente os 20 a 30 minutos subseqüentes.
Sabe-se que os estoques de CHO no músculo e fígado são limitados por isso a reposição dos estoques de glicose é recomendada através de uma alimentação equilibrada principalmente para melhor desempenho e performance.
Nos estágios iniciais do exercício e quando há aumento de sua intensidade, o metabolismo anaeróbico é ativado e os CHO passam a ser fonte energética predominante, principalmente por meio do glicogênio muscular. A medida que o exercício é continuado e a intensidade é mantida de baixa a moderada, o metabolismo aeróbico é iniciado e o fornecimento de energia por meio dos CHO ainda é bastante importante, especialmente nos 20 a 30 minutos, subseqüentes. Neste momento não há participação mista do catabolismo de lípides e de uma pequena parcela de proteínas como substratos energéticos. (VIEBIG; NACIF, 2007).
A captação e utilização da glicose pelo músculo esquelético são por sua vez aumentadas quando o consumo de CHO é feito durante a atividade física, aumenta o desempenho na corrida, durante os momentos finais de jogo.
Se houver glicose disponível a partir da ingestão de CHO, este, ingerido irá retardar a fadiga (tanto muscular como central), poupa o glicogênio do músculo esquelético e do fígado de serem usados para gerar energia.
Se houver disponibilidade de glicose sanguínea é importante porque poupa a proteína muscular de ser queimada como fonte de energia, já que esta é uma função das proteínas.
Quando o estoque de glicogênio muscular está completo para o necessário na produção de energia, a glicose que sobra é prontamente transformada em gordura e armazenada como triglicerídeos nas células do tecido adiposo subcutâneo.
Dietas ricas em CHO, causam diminuição na mobilização de gorduras para o fornecimento de energia o que aumenta ainda mais a participação das proteínas como substrato energético.
A gordura intra-abdominal revelada pelo aumento da cintura é resultado da hiperglicemia que promove liberação da insulina sob forma de gordura no interior do abdômen é um dos componentes da Síndrome metabólica.
A ingestão diária de CHO corresponde 60 a 70% do valor energético da dieta, suficiente para atender as necessidades para realização da atividade física. A reposição do glicogênio pode ser aumentada pelo consumo diário de 5 a 8 g por kg de peso corporal, mas se o treino for mais intenso e de longa duração, pode chegar a 10 g por kg ao dia. (VIEBIG; NACIF, 2007).
As fibras também são importantes para o atleta, pois ela promove a quantidade adicional de glicogênio e glicose sanguínea, permite o tempo suficiente para digestão e absorção dos alimentos e evita a sensação de fome.
Lipídeos
Juntamente com o CHO, a gordura é a principal fonte de energia durante o exercício. Poupar o uso do glicogênio muscular é o objetivo da utilização de gordura durante o exercício, já que seu metabolismo contribui com cerca de 20% do fornecimento total de energia. (GUERRA; BARROS NETO; TIRAPEGUI, dez. 2004).
As funções dos lipídeos no organismo são importantes como o armazenamento de energia e fornecimento de grandes quantidades de energia para o trabalho biológico.
Os lipídeos desempenham funções importantes no organismo, como o armazenamento de energia e fornecimento de grandes quantidades de energia potencial para o trabalho biológico. (VIEBIG; NACIF, 2007).
A intensidade do exercício é o que determina a participação dos lípides como substrato energético, o fluxo sanguíneo aumentado pela atividade física, aumenta a utilização de lípides como fonte de energia e com liberação dos ácidos graxos pelo tecido adiposo e pela depleção das reservas corporais dos ácidos graxos pelo tecido adiposo e pela depleção das reservas corporais de CHO.
No metabolismo aeróbico, os lípides armazenados representam o substrato energético ideal para o exercício prolongado leve a moderado podendo suprir em até 80% das necessidades energéticas nessas atividades.
Deve-se sempre seguir a recomendação, pois o consumo elevado na dieta de gordura é um problema comum nos atletas o que torna mais difícil as quantidades preconizadas de CHO, ao passo que a redução severa neste consumo, não é aconselhável já que além de participar do metabolismo de energia, ele também transporta as vitaminas lipossolúveis que são componentes das membranas celulares (ADEK).
O consumo de lipídeos não deve ser maior do que 30% do valor energético total diário, já que os feitos adversos de uma dieta hiperlipídica em relação a saúde são bem conhecidos. (GUERRA; BARROS NETO; TIRAPEGUI, dez. 2004).
Como já foi mencionado que o organismo tem preferência primordial pelo CHO por serem usado mais rápido, as gorduras também são fontes de calorias para os treinos, porém o organismo demora mais para utilizá-las, portanto ela só deve ser utilizada como “reserva” de energia, quando o organismo já estiver usado grande parte de CHO. (SAÚDE E PERFORMANCE, 2008).
Os óleos de soja usados para preparo de refeições, margarina e manteiga, são alimentos que têm proteínas e estão contidos na recomendação diária de 25% de kcal.
As principais funções dos lipídeos não se resumem só como substrato energético, mas como:
proteção dos órgãos vitais e de articulações;
reduz o impacto negativo de possíveis traumatismos durante treinamentos e competições;
são isolantes térmicos, principal em caso de nadadores, mergulhadores, envolvidos em ambientes frios;
dietas restritas em lípides, podem ocasionar hipovitaminoses e suas conseqüências uma vez que transportam as vitaminas lipossolúveis ADEK envolvidas nos processos metabólicos.
Os ácidos graxos essenciais permanecem 10% saturados, 10% poliinsaturados, 10% de monoinsaturados.
Os indivíduos treinados apresentam maior capacidade de poupar glicogênio muscular e de retardar a queda do desempenho e a fadiga muscular, uma vez que o treinamento e o condicionamento físico regular podem aprimorar a utilização dos ácidos graxos de cadeia longa presentes no tecido muscular, aumenta a capacidade oxidativa das gorduras em exercícios brandos a moderados. (VIEBIG; NACIF, 2007).
O treinamento e o condicionamento físico regular podem aprimorar a utilização dos ácidos graxos de cadeia longa resultantes da hidrólise dos triacilglicerídeos presentes no tecido muscular, aumentando dessa forma a capacidade oxidativa para as gorduras e exercícios brandos a moderados. Assim, os indivíduos treinados apresentam maior capacidade de poupar glicogênio muscular e de retardar a queda de desempenho e a fadiga muscular. (VIEBIG; NACIF; 2007, p. 225).
Proteínas
Apesar dos CHO e lipídeos serem quantitativamente, os combustíveis preferenciais para o exercício, alguns tipos de exercícios pode aumentar a oxidação de aminoácidos, principalmente os de cadeia ramificada – que são aminoácidos primariamente metabolizados principalmente no músculo, que são essenciais: leucina, valina e isoleucina, e ao invés de serem utilizados pelo fígado, como no caso dos demais aminoácidos.
Nos exercícios de endurance ou resistência as proteínas têm a função de servir como substrato energético, juntamente com os CHO e lípides, ela são utilizadas para a síntese de massa muscular e novos compostos protéicos, induzido pelo treinamento físico, no reparo e recuperação dos tecidos após a atividade física.
As proteínas são utilizadas para a síntese de massa muscular e de novos compostos protéicos induzidos pelo treinamento físico e para o reparo e recuperação dos tecidos após a atividade.Nos exercícios de endurance ou resistência, as proteínas têm a função de complementar e servirem como substrato energético, juntamente com os carboidratos e lípides. No caso do indivíduo realizar treinamento de força, as proteínas atuam como material estrutural para a síntese de tecidos, especialmente na hipertrofia muscular.
A formação de proteínas específicas é a função metabólica mais importante dos aminoácidos, incluindo proteínas estruturais como tecido muscular e proteínas funcionais como as enzimas. (VIEBIG; NACIF, 2007).
Estão sendo discutidas não só as necessidades protéicas dos atletas em geral, não só pelas suas necessidades estarem aumentadas devido ao exercício, mas em relação aos benefícios da suplementação de aminoácidos no desempenho.
As necessidades protéicas de um atleta são maiores que um indivíduo sedentário por causa dos reparos de lesões induzidas pelo exercício nas fibras musculares, ganho de massa magra e uso de pequenas quantidades de proteínas como fonte de energia durante a atividade.
As necessidades protéicas de um atleta são maiores do que num indivíduo sedentário por causa do reparo de lesões induzidas pelo exercício nas fibras musculares, do uso de pequenas quantidades de proteína como fonte de energia durante a atividade e do ganho de massa magra. (GUERRA; BARROS NETO; TIRAPEGUI, dez. 2004).
As proteínas como fontes de alimento são: carnes (vermelhas e brancas), ovos, leite, queijos e iogurtes. São importantes para a formação da massa muscular, além da produção de hormônios. Aproximadamente 15% das kcal devem vir das proteínas.
A recomendação protéica aumenta em até 100% para atletas influenciados pela disponibilidade de CHO, intensidade, duração e tipo de exercício realizado, ingestão energética, qualidade da proteína ingerida, sexo e idade.
Os aminoácidos servem como fonte auxiliar de combustível durante o exercício prolongado de intensidade moderada. O aumento da degradação protéica com o exercício fornece disponibilidade de glicogênio.
Para isso, vários fatores foram associados com o aumento da oxidação do treinamento, intensidade do exercício, sexo do atleta, estes aminoácidos são irreversíveis, perdidos se não forem repostos através da dieta, o processo normal da síntese protéica é prejudicado, o que resulta numa redução de proteínas corporais.
A reposição das proteínas recomendadas poderia ser facilmente atingida com o aumento do valor energético da dieta em decorrência do gasto na atividade física, já que muitas fontes de CHO também fornecem boas quantidades de proteínas.
O excesso de ingestão protéica pode sobrecarregar o organismo e muitos atletas recorrem a isso sendo especialmente afetadas as funções hepáticas e renal, pelo aumento das concentrações da uréia e outros compostos como ácido úrico e creatinina, aumentando o risco de desidratação, devido À necessidade da diluição dos seus metabólitos excretados via urina. Sabe-se que cada grama de uréia excretada leva consigo cerca de 100 ml de água. (GUERRA; BARROS NETO; TIRAPEGUI, dez. 2004).
Considerações finais
É importante ressaltar o papel da alimentação no desempenho de uma modalidade esportiva, principalmente o futebol, onde o consumo inadequado de CHO é fator limitante no desempenho durante os jogos.
As evidências científicas publicadas sugerem que, em jogadores de futebol, a ingestão de carboidratos deve ser de 60 a 70% do valor energético total (VET), de lipídeos até 30% do VET e de proteína de 10 a 15% do VET, segundo a ADA (2000), através de uma alimentação que atinja a recomendação, ou seja: não por falta ou por excesso de nutrientes. Desta forma, serão satisfeitas as necessidades nutricionais destes atletas e conseqüentemente o seu desempenho esportivo será otimizado.
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