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Futebol e globalização: perspectivas teóricas

Fútbol y globalización: perspectivas teóricas

 

Licenciatura em Educação Física - Universidade Estadual de Londrina

Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas - Universidade Estadual de Ponta Grossa

Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Campo Mourão

Edson Hirata

chinahirata@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste texto, de caráter exploratório, foi realizar uma aproximação entre os estudos sobre o processo de globalização e o futebol. Para tanto, utilizou-se as pesquisas de autores que priorizaram a globalização e outros que a relacionavam com o futebol. Constatou-se a possibilidade de integrar estes dois objetos sob as distintas abordagens sugeridas pelos autores, seja pela forma descricionista das características da globalização, pela análise da relação entre o local e o global, ou ainda pelo combate a hegemonia provocada pelo fenômeno da globalização, levantada por alguns autores.

          Unitermos: Futebol. Sociologia do Esporte. Globalização e esporte.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No Brasil, o futebol é um dos temas preferidos da população. Ele é debatido recorrentemente em distintos níveis de discussão e em todos os lugares, desde os programas de televisão, nas reportagens de jornais e revistas, nas argumentações acadêmicas até as conversas de botequim. Sua importância fez que inspirasse filmes, músicas e novelas.

    Tendo em conta as devidas proporções, os debates sobre o fenômeno da Globalização também passou a ser incorporado por diferentes ambientes. O senso comum tem entendido a globalização como sinônimo de um ou mais dos seguintes fenômenos: política da liberdade de mercado em uma economia mundial; a ocidentalização ou americanização do modo de vida política, econômica e cultural; a proliferação de novas tecnologias de informação, notadamente a internet; e o vislumbramento de uma comunidade unificada.

    Mas, academicamente qual é o significado da Globalização? Quais suas características, causas e conseqüências? Qual é a sua interferência ou influência sobre o campo esportivo, e em especial sobre o futebol?

    Assim, nesta perspectiva, o objetivo desse estudo foi verificar como está sendo tratada a relação entre Futebol e o processo de Globalização no meio acadêmico e apresentar algumas perspectivas teóricas para os estudiosos dessas duas temáticas.

Globalização e futebol

    Na Enciclopédia de Filosofia de Stanford, o verbete “Globalização” foi esmiuçado pelo Professor Willian Scheuerman, do Departamento de Ciências Políticas da Indiana University (Estados Unidos). Para o pesquisador, a Globalização está relacionada especialmente com três situações: a desterritorialização, a interconectividade social e a velocidade das atividades sociais.

    No entendimento do pesquisador, desterritorialização tem conexão com as atividades sociais que não estão mais definidas em um “território”, no sentido tradicional de localização geográfica, isto é, as atividades sociais ocorrem independente de um lugar marcado. Assim, videoconferências podem ser assistidas, de forma interativa, com pessoas espalhadas por todo o planeta, simultaneamente; mercadorias podem ter peças produzidas na Ásia, serem montadas na Europa e vendidas na América do Sul; ou ainda, um turista pode se sentir confortável em um aeroporto ou shopping, ainda que esteja em um país distante e com cultura distinta da sua nação de origem, pois nestes locais existe uma mobília mundializada1. No campo futebolístico, o campeonato nacional inglês, a Premier League, é um exemplo emblemático deste processo de desterritorialização. O campeonato nacional da Inglaterra, não é mais caracterizado por ser um evento com ingleses, para ingleses e no território inglês. Atualmente, nesta competição, as partidas são televisionadas para todo o mundo; as equipes são formadas por jogadores destaques da América do Sul, África e de todas as partes da Europa, o que acaba estimulando a existência de um mercado consumidor em escala mundial e torcedores e simpatizantes das mais variadas nações. Os campeonatos nacionais da Espanha e da Itália seguem a mesma lógica.

    A segunda característica da globalização, segundo Scheuerman (2010), é a interconectividade social, que se refere ao impacto que ações ocorridas em um lugar distante provocam no desenvolvimento de uma determinada localidade. O futebol pode ajudar a exemplificar essa situação. A Lei do Passe2 no Brasil acabou sendo revogada por influência, também, mas não unicamente, de uma decisão nos tribunais europeus sobre um jogador belga. A decisão da Corte Européia começou a servir de jurisprudência no Brasil3. Outra situação exemplar ocorrida recentemente no campo esportivo foi a cobrança de transparência nas atividades financeiras das entidades administrativas do futebol na esfera mundial, que também começou a ecoar em solo brasileiro, tanto que constantemente os negócios envolvendo a CBF têm sido postos em dúvida. Vide CPI CBF-Nike e queda de Ricardo Teixeira da presidência da CBF.

    O processo de modernização do futebol brasileiro na década de 1990 foi desencadeado, como veremos adiante, pela necessidade de se atualizar o modo de gestão dos clubes em relação ao que era feito na Europa, nomeadamente na Itália, Inglaterra e Espanha. Isto é, como prega Scheuerman (2010), o que acontece em um continente pode refletir em pressões para que mudanças ocorram em um local distante.

    Por fim, Sheuerman faz referência a velocidade da atividade social como uma das características do processo de Globalização. Enquanto a desterritorialização e a interconectividade social estão mais relacionadas com o espaço, este último aspecto procura enfatizar a importância da agilidade dos processos contemporâneos. Essa velocidade é atribuída a proliferação dos transportes de alta velocidade, o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação e da tecnologia de informação.

    Nesse aspecto, o espetáculo esportivo foi beneficiado, uma vez que a diminuição das distâncias potencializou as oportunidades de grandes times se enfrentarem em competições internacionais e, em conseqüência disso, o esporte ficou mais atrativo e mais fácil de ser mercantilizado como um produto da indústria do entretenimento. Além disso, a velocidade com que as informações ligadas ao campo esportivo são disseminadas também contribui sobremaneira para a mercantilização do espetáculo. Internet, sistemas de mensagens instantâneas via celular, canais de televisão por assinatura, dentre outras novas tecnologias, aceleraram e inovaram a maneira como o esporte chegava aos torcedores/consumidores e se tornaram uma ferramenta eficaz para gerar receitas.

    O sociólogo brasileiro Renato Ortiz não discorda dessas características que Sheuerman atribui ao processo de Globalização, no entanto, aborda de forma distinta. Uma das particularidades do pensamento de Ortiz é a forma como encara a globalização da economia e da técnica e os seus reflexos sobre a cultura. O autor propõe um olhar diferenciado para a globalização da cultura, que ele prefere tratar de mundialização. Vejamos seus argumentos para esta decisão:

    Foi em contraposição a esta perspectiva que elaborei a distinção entre os conceitos de mundialização da cultura e globalização da economia e da técnica. Eu queria afirmar, por um lado a existência de um processo único, mas também compreender como ele se realizava de maneira diversificada e conflitiva no âmbito dos universos simbólicos. Neste sentido, não haveria uma ‘cultura global’ ou uma ‘identidade global’, a unicidade postulada no plano econômico e tecnológico seria imprópria para se compreender a dimensão cultural.”(Ortiz, 2009, p.246)

    Na sua obra, Mundialização e Cultura, Ortiz (2000) aprofunda essa questão, reforçando que a economia global pode direcionar que a economia dos outros países tome a forma que pretende, mas que o mesmo não se aplica a cultura. Ou seja, não haveria uma cultura que se sobrepusesse sobre as outras e as exterminasse. Elas vivem juntas. O exemplo dado pelo autor, do predomínio da língua inglesa, contribui no entendimento desse pensamento. Para Ortiz, apesar do uso da língua inglesa imperar, por inúmeras razões que não trataremos aqui, em vários ambientes transnacionais, como em uma rodada de negócios entre multinacionais, na linguagem da informática, no tráfego aéreo ou em eventos científicos e esportivos, ele não extermina as línguas nativas em outras situações, como na família, no trabalho e na religião, onde ele pouco se manifesta. É possível fazer uma analogia com o mundo esportivo. O futebol, por exemplo, apesar de ser jogado e assistido em todo o planeta, em muitos países ele não extinguiu os jogos ou esportes locais. Na Índia, o críquete sobressai sobre as outras modalidades, inclusive na mídia televisiva (UOL ESPORTE, 2011). O Sumo, tradicional esporte no Japão, a despeito do futebol ter conquistado um lugar de destaque na preferência da população, continua sendo praticado e assistido com o mesmo grau de interesse por grande parte da população nipônica (FERRARI, 2008). Inúmeros outros exemplos poderiam ser citados para fortalecer o argumento que a difusão de um esporte por todo o planeta motivada pela indústria do entretenimento não extingue os desportos tradicionais locais, uma vez que as culturas e povos nativos apresentam formas de resistência.

    Esse pensamento de Ortiz parece ir ao encontro da tese de “glocalização” de Richard Giullianoti e Roland Robertson (2009). Os autores em sua obra “Football & Globalization”, tratam de analisar essa relação entre o local e o global utilizando o futebol como objeto e tendo como tese principal a interdependência entre esses dois pólos, vistos pela maioria dos estudiosos como antagônicos. Os argumentos desses autores caminham no sentido de explicar a dualidade entre o homogêneo e heterogêneo, o local e o global, de uma forma inédita, pois utilizam o campo esportivo para realizar suas interpretações teóricas sobre o processo de Globalização. A explanação baseia-se no conceito de glocalização defendido por Giulianotti e Robertson e tentaremos detalhar seus fundamentos aqui.

    Os autores esclarecem que a palavra glocalização significa “localização global” ou “globalização local” e era muito usada nos círculos empresariais, no final da década de 1980, para descrever as técnicas da Sony e outras empresas em adaptar as práticas industriais às condições locais. No futebol, a glocalização pode ser percebida no marketing de clubes e ligas, que recrutam jogadores de determinada nação para tentar atrair torcedores/consumidores daquela nacionalidade, ou ainda, a utilização de imagens televisivas globais, mas com a narração de um profissional local, que procura aproximar o telespectador do evento.

    Segundo Giulianotti e Robertson (2009), o futebol é um campo frutífero para discutir a dualidade do global e local, uma vez que ao observar o jogo historicamente pode-se notar como a difusão do mesmo tem sido sustentada pelas interrelações entre o universal e o particular, entre a heterogenização e a homogeneização.

    Para os autores, a homogeneização é evidenciada pela difusão das regras unificadas do futebol e pela tentativa de implantar o jogo limpo (fair play) como ética esportiva universal. Contudo, pressões significativas em direção a divergência cultural permanecem. Enquanto na Inglaterra os árbitros permitem contatos mais fortes, os árbitros da Europa Central e Sul tendem a penalizar esse tipo de contato. Em relação ao fair play, alemães e franceses discordam do conceito de faltas profissionais que são usadas para evitar gols e os ingleses são intolerantes com jogadores que simulam lesões ou faltas. Ou seja, apesar das regras universais, cada região/país interpreta distintamente algumas situações.

    Giulianotti e Robertson (2009) utilizam também a religiosidade, aspecto que compreendem existir uma convivência entre o universal e o particular. A religiosidade e as crenças sobrenaturais mostram formas significativas de convergência e divergência. Assim, jogadores, equipes e torcedores, em muitas culturas, utilizam as divindades religiosas para proteger seus objetivos, mas certamente de forma muito distintas entre elas. Na Europa, por exemplo, os jogadores têm suas superstições pré-jogo como comer alimentos específicos, usar amuletos ou entrando por último no campo. No Brasil, o movimento Atletas de Cristo tem renomados adeptos, que comemoram seus gols com agradecimentos a Deus. Em contrapartida, na África, é comum a prática de bruxarias, que esvaziam as energias do oponente, repelem maus espíritos, usam amuletos de ossos humanos ou de animais, fazem feitiços, etc.

    Dessa maneira, entendem os autores, a existência transnacional das práticas espirituais confirma uma característica de homogenização cultural no cenário esportivo, mas as formas variadas como elas são praticadas garantem a heterogenização.

    Além da religiosidade, Giulianotti e Robertson enxergam esse processo de Glocalidade no sistema de mídia, que utiliza as mesmas imagens para divulgar os mega-eventos do futebol, todavia preferem utilizar seus próprios comentaristas e narradores para que o jogo seja interpretado de maneira nacionalmente distinta.

    Os autores enxergam a interdependência entre o homogêneo e o heterogêneo até nos estilos de jogo, técnicas e táticas ao argumentar que as táticas de jogo estão padronizadas e as médias estatísticas são utilizadas para fundamentar o treinamento físico, mas que pelo outro lado, a heterogenização também ocorre com a tendência de valorizar os jogadores de habilidade diferenciada, bem como os clubes que adotam estilos mais ofensivos.

    No recorte temporal contemporâneo em que está inserido o contexto da nossa temática, esse debate sobre a globalização é pertinente e importante, haja vista que não é unânime a idéia de que esse processo foi benéfico ao esporte mais popular do planeta.

    Um autor que se inscreve nessa perspectiva, a de que o processo de Globalização do futebol tem conseqüências negativas também é o professor de Sociologia do Esporte da Loughborough University (Inglaterra), Joseph Maguire. O pesquisador britânico entende que Globalização faz referência a rede crescente de interdependências (políticas, culturais e sociais), de tal monta que se torna difícil entender os processos locais sem fazer referência aos fluxos globais.

    A abordagem de Maguire enfatiza a questão da movimentação de duplo sentido, entre o local e o global, que ele denominou de fluxos. Para o autor os fluxos podem ser humanos, tecnológicos, econômicos, midiáticos e ideológicos4.

    Inspirado nesse conceito de fluxo, Maguirre recupera os estudos de Elias e Dunning, que a princípio não visavam relacionar esporte e Globalização, contudo, esses autores demonstraram estar atentos ao processo de difusão internacional do esporte através do qual acreditavam haver conexão entre a desportivização e o processo civilizador. Para tanto argumentavam que algumas ações ocorridas no campo esportivo durante sua difusão, tais como o controle sobre a violência, a padronização de regras, criação de autoridades e de instituições administradoras, atuavam como processos de aceleração civilizadora.

    Maguire, apoiado na teoria configuracional de Elias, descreve que os costumes ocidentais, dentre eles as práticas esportivas, tornaram-se sinônimos de conduta civilizada e que os mesmos foram transmitidos de duas maneiras: pelos ocidentais que se espalhavam por outras nações ou pela assimilação desses costumes pelos estratos superiores dos povos não-ocidentais, muitas vezes atuando como símbolo de distinção, prestígio ou poder.

    Dessa maneira, a dispersão do esporte pelos continentes contribuía para o processo dominante de difusão da cultura ocidental sobre as outras nações. Por isso, o autor mostra-se receoso em relação ao esporte-espetáculo que tende a marginalizar jogos locais. Diante dessa ameaça sugere uma resistência ao processo global de desportivização, ou seja, o autor intenta propor uma alternativa ao esporte-espetáculo, sobretudo como alternativa corporal para as pessoas, opondo-se à hegemonia de um esporte globalizado.

    Essa postura anti-hegemônica não é isolada. Dentre os adeptos desse posicionamento, temos o sociólogo Pierre Bourdieu (1998), que apesar de focar quase com maior intensidade no aspecto econômico da globalização, o autor indica também a influência desse processo sobre a cultura. Para Bourdieu, o campo cultural conseguiu certa autonomia a seus agentes ao livrar-se da obrigatoriedade de abordar temas religiosos, políticos, de realezas, etc., mas a onda neoliberal acabou forçando os artistas, escritores, produtores culturais e afins a engedrarem produtos para atender a demanda mercadológica, retirando assim, a autonomia duramente conquistada.

    O ataque de Bourdieu é direcionado ao neoliberalismo, em especial, a nação americana, que é acusada de tentar impor como universal o seu modelo econômico. Se essa tese em relação à cultura pode ter validade, no campo futebolístico, há ressalvas.

    Vejamos como Giulianotti e Robertson (2009) negam a influência americana sobre a globalização do futebol. Para os autores, os esportistas americanos rejeitavam conscientemente os jogos europeus modernos porque lembravam culturas do velho mundo, do colonialismo, do socialismo. Por isso, enquanto o futebol se popularizava na Europa, América Latina e Ásia, os esportes americanos (futebol e baseball) tinham apoio da sociedade americana, notadamente no sistema educacional, meios de comunicação e indústrias, uma vez que era uma maneira simbólica dos imigrantes mostrarem seu comprometimento com a nova sociedade.

    Outro aspecto interessante levantado pelo autor é que a globalização do esporte é distinta das outras formas de cultura mundializada como a música e filme, que foram influenciadas fortemente pela sociedade norte-americana. O esporte americano não tentou se difundir pelo mundo, ao contrário, se contentou em satisfazer com o engajamento doméstico que celebra a modo de vida americano.

    Importante lembrar que a americanização está deixando de ser homogênea em função da diversidade que as influências dos grupos imigrantes e das novas formas de diferenciação identitária. Basta lembrar que o futebol (soccer) é muito apreciado pelos migrantes latinos e europeus que vêem no futebol uma oportunidade para celebrar publicamente sua identidade (GIULIANOTTI; ROBERTSON, 2009).

Considerações finais

    Essa tentativa de realizar uma aproximação entre o processo de Globalização e o Futebol possibilitou algumas constatações iniciais:

  1. As características inerentes à Globalização, na visão de Scheuermman, demonstraram ser aplicáveis ao mundo do futebol, ou seja, parece plausível que o futebol seja entendido enquanto objeto de estudo, um fenômeno desterritorializado, dotado de elevada interconectividade social e usuário beneficiado significativamente pela velocidade das atividades sociais;

  2. A discussão da relação entre o local e o global é muito pertinente ao atual quadro do futebol haja vista que a predominância da modalidade na mídia mundial provoca um desequilíbrio nas relações com as outras modalidades; e

  3. A hegemonia do Futebol, enquanto um produto da indústria do entretenimento mundial causa discussões teóricas, acarretando inclusive sugestões de alternativas para opor a essa predominância.

Notas

  1. Exemplos dados por Renato Ortiz em: Ortiz, R. Mundialização e Cultura. São Paulo: Brasiliense, 2000.

  2. A Lei do Passe regia a forma dos contratos de trabalho dos jogadores profissionais de futebol no Brasil e era considerada uma lei arcaica e escravagista. Boa parte do capítulo 1 e 2 tratarão sobre a luta pela revogação dessa lei.

  3. “Em 1988, Bosman transferiu-se para o RC Liège, time da segunda divisão da Bélgica. Dois anos mais tarde, após ter o seu salário reduzido drasticamente, Bosman tentou uma transferência, mas sua equipe impediu-o de ir jogar na França. O jogador recorreu, então, à Justiça comum. Ao final de uma batalha judicial que durou cerca de cinco anos, a UEFA tentou evitar a derrota em troca de US$ 1,4 milhão, mas não conseguiu. A decisão a favor de Bosman, ao estabelecer nova jurisprudência, não deixou dúvida quanto à posição contrária do Supremo Tribunal Europeu a duas regras fundamentais que regeram o futebol profissional durante décadas, a saber: (i) a exigência de que a equipe à qual o atleta estivesse vinculado deveria fornecer um atestado liberatório para a transferência deste para uma outra equipe, mesmo depois de encerrado o prazo contratual; [...]” (PRONI 1998, p.169).

  4. Quando Maguire fala de fluxo humano, ele quer fazer referência aos movimentos de pessoas como turistas, trabalhadores, migrantes. No caso esportivo parece fácil de identificarmos tal situação seja com os profissionais do esporte que se deslocam com freqüência, quer seja com os torcedores que podem ser considerados turistas. O fluxo tecnológico diz respeito à transferência de equipamentos e máquinas, que no contexto esportivo também acontece com a necessidade de se ter equipamentos que possam melhorar a performance, durante o jogo ou na preparação. Ex: chuteiras, robôs, programas e aparelhos para incrementar preparo físico, análise biomecânica dos movimentos, etc. O fluxo econômico relaciona-se com o intercâmbio de moedas, no esporte podendo ser exemplificado com as rescisões contratuais e transferências de atletas, prêmios em dinheiro, direitos televisivos, e o próprio mercado de equipamentos esportivos para prática e torcedores. O fluxo midiático envolve o movimento veloz das informações dentro dos meios de comunicação de massa. O esporte espetáculo enquanto protagonista da indústria do entretenimento fez com que modelos de práticas esportivas locais se adaptassem ao modelo global. O fluxo ideológico está ligado à transmissão de idéias associadas à movimentos e ideologias estatais/paraestatais. O autor usa os Jogos Olímpicos para exemplificar como as nações líderes utilizavam o esporte para divulgação de seu sistema econômico/ideológico.

Referências bibliográficas

  • BOURDIEU, P. Contrafogos: táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.

  • FERRARI, L. Brasil/Japão. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx0805200801.htm. Acesso em 14 ago. 2014.

  • GIULIANOTTI, R.; ROBERTSON, R. Football & Globalization. London: Sage, 2009.

  • MAGUIRE, J. Globalización y creación del deporte moderno. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 9, No. 67 – dez.2003. http://www.efdeportes.com/efd67/global.htm

  • ORTIZ, R. Globalização: notas sobre um debate. Revista Sociedade e Estado, Brasília. v. 24, n. 1, p. 231-254, jan./abr.2009.

  • ORTIZ, R. Mundialização e Cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 2008, 10ª. ed.

  • SCHEUERMAN, W. Globalization. The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2010 Edition), Edward N. Zalta (ed.). Disponível em: http://plato.stanford.edu/archives/sum2010/entries/globalization. Acesso em 14 ago. 2104.

  • UOL ESPORTE. Polícia da Índia usa bastões para dispersar multidão que buscava ingressos no críquete. Disponível em: http://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/2011/03/21/policia-da-india-usa-bastoes-para-dispersar-multidao-que-buscava-ingressos-no-criquete.jhtm. Acesso em 14 ago. 2014.

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