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Abordagem das aulas abertas na Educação 

Física escolar: uma revisão de literatura

El abordaje de las clases abiertas en la Educación Física escolar: una revisión de la literatura

 

*Graduado em Educação Física – Licenciatura Plena, UFSM. Pós-graduando

no curso de Especialização em Educação Física Escolar, UFSM

**Graduada em Educação Física – Licenciatura Plena, UFSM. Pós-graduanda

no curso de Especialização em Educação Física Escolar, UFSM

***Graduado em Educação Física – Licenciatura Plena, UFSM

(Brasil)

Cesar Vieira Marques Filho*

cesarvmf@hotmail.com

Cristina de Vargas Marconato**

criszvm@hotmail.com

Diozar Dalmolin da Silva***

diozerdalmolin@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Na década de 1980 surgiram abordagens da Educação Física escolar com o intuito de contrapor o modelo mecanicista existente. Dentre essas abordagens, destacamos a das “aulas abertas”. Ela tem por característica não ter diretividade do professor, onde as aulas não geram uma mera reprodução de gestos por parte dos discentes. O ensino é parte do aluno, que se torna o elemento central no processo de ensino-aprendizagem. Partindo dessa abordagem, já consolidada e presente no âmbito escolar brasileiro, o presente estudo objetiva realizar uma revisão de literatura sobre as Aulas Abertas, promovendo sua conceituação, caracterização e discutindo sobre sua relação direta com a prática.

          Unitermos: Educação Física. Abordagem. Aulas Abertas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Educação Física e sua prática são consideradas pela LDBEN 9394/96 como componente curricular da educação básica. Diferentes abordagens de Ensino da Educação Física Escolar, que surgiram a partir da década de 1970 (MONTEIRO, 2013). Conforme Barbieri; Porelli; Mello (2009) a partir de 1980, o Brasil foi marcado por um processo de abertura política, que influenciou diretamente o campo da Educação Física, gerando um momento de discussão e reflexão a respeito da legitimidade e importância dessa disciplina nas escolas. Como resultados, surgiram diversas concepções, abordagens e perspectivas, que buscaram dar um novo norte para a Educação Física escolar. DARIDO (2003) apresenta que nesse processo, o modelo mecanicista começou a ser muito criticado pelos meios acadêmicos e a educação física passou por um período de valorização dos conhecimentos produzidos pela ciência.

    A busca por romper com esse modelo mecanicista acarretou o surgimento das Abordagens Pedagógicas da Educação Física Escolar. Essas Abordagens podem ser definidas como movimentos que intencionam uma renovação teórico-prático com o intuito de estruturar o campo de conhecimento específico da Educação Física (AZEVEDO; SHIGUNO, 2000). No decorrer desses processos que resultam nos dias de hoje, cabe destacar as abordagens construídas, são elas: Desenvolvimentista, Construtivista-Interacionista, Crítico-Superadora, Sistêmica, Psicomotricidade, Crítico-Emancipatória, Cultural, Jogos Cooperativos, Saúde Renovada, PCN’s e Aulas abertas. (CANTANHEDE; DEBIEN; FERNANDES; SILVA, 2010).

    Dentre essas abordagens, a concepção denominada “Aulas Abertas”, surge como uma proposta que nega a diretividade por parte dos professores nas aulas. As Aulas Abertas surgem como o assunto de interesse central nesse estudo que, por meio de uma revisão bibliográfica, objetiva conceituá-la, apresentar suas características e discorrer a respeito de sua relação direta com a prática.

Metodologia

    A metodologia que emprega a revisão bibliográfica busca suporte no aspecto temporal que envolve determinada discussão em campo de conhecimento específico. Neste sentido, as características históricas e os apontamentos críticos de determinada época adquirem relevo e constroem o protagonismo para um novo patamar científico de debate. Ao se revisar o status de um saber específico, cria-se a oportunidade de analisar com mais profundidade aquilo que foi cuidadosamente desenvolvido por outros pesquisadores.

    Estudos que analisam a produção bibliográfica em determinada área temática, dentro de um recorte de tempo, fornecendo uma visão geral ou um relatório do estado-da-arte sobre um tópico específico, evidenciando novas idéias, métodos, subtemas que têm recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada. (NORONHA E FERREIRA, apud CAMELLO; CENDÓN; KREMER, 2000).

    A revisão bibliográfica também é parte importante no desenvolvimento dos aspectos estruturais de um trabalho monográfico, bem como no estado cumulativo de determinado conhecimento, fundamental a consistência do texto-base que suportará a discussão em curso.

    É necessário fazer com que os autores que você cita dialoguem entre si, tendo você como mediador, já que todas as pesquisas prévias reportadas na sua revisão devem ter sido selecionadas porque, por alguma razão, são relevantes para seu trabalho. Em função disso, nessa mediação, você poderá explicar porque as cita, em que medida contribuem para sua pesquisa. (SANTOS, 2006)

    Para a realização do presente trabalho buscou-se utilizar bases de pesquisa diversificadas, como trabalhos de conclusão de curso, livros, artigos publicados em anais de eventos e em revistas online.

Desenvolvimento

    A primeira produção bibliográfica sobre o assunto partiu de Hildebrandt e Laging em 1986, intitulada “Concepções Abertas no Ensino da Educação”. Esta obra deu origem a muitas produções e sistematizações do conhecimento na área.

    A abordagem das Aulas Abertas tem como ponto de partida o próprio aluno, é a partir dele que surgem as intenções pedagógicas, Hirai; Cardoso (2006) expõem que o aluno deve ocupar uma posição central no processo de ensino-aprendizagem. Para Freire (1987), a prática didática do professor deve partir dos saberes dos alunos.

    Em uma relação mais direta com a prática, esta abordagem está fundamentada no movimento das crianças, na história de vida e na construção da biografia esportiva dos estudantes de Educação Física, na concepção de esporte e movimento que a sociedade vem construindo ao longo da história e na realidade das aulas de Educação Física escolar (PAULA; PAULA, 2013). Uma concepção de ensino fechada inibe a formação de um sujeito autônomo e crítico, essa proposta indica a abertura das aulas no sentido de se conseguir a coparticipação dos alunos nas decisões didáticas que configuram as aulas (NICO, 2000).

    A concepção de Aulas Abertas em Educação Física considera a possibilidade de codecisão no planejamento, objetivos, seleção de conteúdos, metodologia e avaliação. O grau de abertura depende do grau de possibilidade de codecisão. Torna-se necessário a transformação do agir pedagógico na E.F. no âmbito escolar quando a intenção é propor mudanças (CARDOSO, 2003).

    As concepções de ensino são abertas quando planejar significa pensar, refletir e analisar o conceito de movimento: no esporte é “mundo de movimento”. Planejar obedece ao princípio da flexibilidade, com possibilidades de vários caminhos e experiências (NETO, 2011).

    Segundo Amaral; Rocha; Winterstein (2009), na Abordagem Aulas Abertas a participação tanto do aluno como do professor não se limita apenas aos problemas motores, abrange também problemas sociais.

    O processo de ensino nasce na prática concreta. Para Hildebrandt-Stremann (2011) o espaço de ação e reflexão necessita ser ampliado, permitindo ao professor direcionar seus interesses ao desenvolvimento dos processos de ensino planejando, observando, analisando, interferindo, influenciando as aulas conscientemente como processo de socialização. O aluno deve ser uma pessoa que sabe atuar autonomamente, que sabe refletir criticamente e, assim, apóia e promove os processos de decisão democrática na aula (CHAVES, 2004).

Considerações finais

    As experiências realizadas com essa abordagem apresentam algumas reflexões necessárias como a justificativa das metas do ensino do professor, que permite o mais cedo possível, uma participação nas decisões, por parte dos alunos; nas aulas, são programados espaços de ação relativamente amplos, que ajudem aos alunos em sua capacitação de auto-organização; os conflitos que atrapalham o processo de ensino devem são vencidos em discussões racionais.

    Foi possível identificar algumas limitações quando se trata da discussão a respeito da abordagem. Como não confundir processo codecisório com os alunos, com o professor “laissez faire” (professor permissivo). O professor deve ter um planejamento prévio para as suas aulas como um eixo estruturador da mesma, não deixando tudo para ser resolvido na aula por seus alunos, podendo ser o Projeto Pedagógico da disciplina na escola, não se esquecendo da importância da sistematização do conteúdo. Os alunos participarão do processo decisório do planejamento da unidade a ser estudada, podendo participar do processo decisório ao se planejar o Projeto Pedagógico da disciplina.

Referências bibliográficas

  • CARDOSO, C. L. Concepção de Aulas Abertas. In: KUNZ, E. (org.) Didática da Educação Física. Unijuí, Ijuí, 2003.

  • FREIRE, J. B. S. Educação Física de corpo inteiro. Teoria e prática da Educação Física. Scipione, Campinas, 1992.

  • AZEVEDO, E. S.; SHIGUNOV, V. Reflexões sobre as Abordagens Pedagógicas em Educação Física. In: Kinein - Revista de Estudos do Movimento Humano, 2000.

  • FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, São Paulo, 1987.

  • PAULA, A. S. N.; PAULA, F. A. N. Metodologia de aulas abertas enquanto instrumento para superação de lacunas nas aulas de Educação Física da escola do campo. Contribuição na formação dos trabalhadores campesinos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 184, 2013. http://www.efdeportes.com/efd184/aulas-de-educacao-fisica-da-escola-do-campo.htm

  • NETO, J. F. L. Epistemologia das Concepções Abertas no Ensino da Educação Física: O Legado de Jean Piaget. Paidéia, Ribeirão Preto, 2011.

  • NICO, G. A. C. Uma Experiência Utilizando Concepções de Aulas Abertas no Ensino da Educação Física em uma Escola Pública. Unicamp, Campinas, 2000.

  • DARIDO, S. C. Educação física na escola: questões e reflexões. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2003.

  • AZEVEDO, S. E.; SHIGUNOV, V. Reflexões sobre as abordagens pedagógicas de Educação Física. Kinein, Florianópolis, 2000.

  • CANTANHEDE, A. L. I.; DEBIEN, J. B. P.; FERNANDES, C. C.; SILVA, A. T. Conhecimento sobre as abordagens pedagógicas da Educação Física: escola estadual x escola particular. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 151, 2010. http://www.efdeportes.com/efd151/conhecimento-sobre-as-abordagens-pedagogicas-da-educacao-fisica.htm

  • NORONHA, D. P.; FERREIRA, S. M. S. P.: Revisões de literatura. In: CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B. V.; KREMER, J. M. (Orgs.). Fontes de informações para pesquisadores e profissionais. UFMG, Belo Horizonte, 2000.

  • SANTOS, L. F. A. Apostila Metodologia Da Pesquisa Científica II. Métodos e Técnica de Pesquisa II, Metodista de Itapeva, 2006.

  • HILDEBRANDT-STREMANN, R. Concepções Abertas no Ensino da Educação Física. Imperial Novo Milênio, Rio de Janeiro, 2011.

  • CHAVES, M. Pedagogia do Movimento: Diferentes Concepções. UFAL, Maceió, 2004.

  • CARDOSO, C. L.; HIRAI, R. T. Para a Compreensão da Concepção de “Aulas Abertas” na Educação Física Escolar. Motrivivência, Florianópolis, 2006.

  • MONTEIRO, F. A. L. A Educação Física Escolar: Abordagens Pedagógicas e Práticas de Ensino Sob a Ótica dos Professores e Gestores Educacionais na Região Ribeirinha de Porto Velho Rondônia. UNB, Porto Velho, 2013.

  • BARBIERI, A. F.; PORELLI, A. B. G.; MELLO, R. A. Abordagens, Concepções e Perspectivas de Educação Física quanto à Metodologia de Ensino nos Trabalhos Publicados na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (Rbce) em 2009. Motrivivência, Florianópolis, 2009.

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