Alimentos, consumos e práticas: quem escolhe o que você come? Alimentos, consumos y prácticas: ¿Quién decide lo que comes? |
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*Mestrando em Lingüística pela Universidade Federal de Santa Catarina, pós-graduando em Ontologia e Epistemologia, Graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG (RS) ** Graduado em Biomedicina pela Universidade Federal do Mato Grosso-UFMT, Laboratório de Fisiologia de Sistemas e Toxicologia Reprodutiva da Universidade Federal do Mato Grosso-UFMT ***Graduanda em Biomedicina pela Universidade Federal do Mato Grosso-UFMT **** Doutorando em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC Mestre em Engenharia e Ciência de Alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande-FURG (RS) e graduado em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMT |
Ederson Luís Silveira* Jeferson José Silva Sousa** Meuren Theyla Niemes Feitosa*** Gean Pablo Silva Aguiar**** (Brasil) |
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Resumo A presente pesquisa descritiva de abordagem qualitativa visa trazer reflexões acerca dos mitos da alimentação saudável e os efeitos de práticas de alimentação não saudável. Neste sentido, embasados na bibliografia crítica que possibilite as problematizações propostas, teremos a fundamentação teórica necessária para a reflexão temática dos assuntos que aqui pretendemos abordar. Cabe aqui acentuar sobre a recorrência de práticas alimentares inadequadas a partir do fato de que poucas pessoas têm noções que sejam sequer básicas de uma alimentação equilibrada e saudável. Dessa forma, os ingredientes mais comercializados (gorduras, açúcares e sal) apontam para a busca da satisfação a curto prazo em que impera o enaltecimento do sabor e a adesão aos apelos das propagandas veiculadas nas diversas mídias. Porém, a influência externa aos sujeitos não pode ser percebida como único fator relevante, já que, pensando em um contexto maior que revela relações entre sujeitos, indústrias e práticas alimentares, teremos então condições de fugir aos apelos do senso comum e partir para problematizações mais abrangentes e significativas. Unitermos: Alimentação. Indústria. Consumidores. Saúde.
Abstract The present research descriptive qualitative approach aims to bring reflections about the myths of healthy nutrition and the effects of unhealthy eating practices. In this sense, based on critical bibliography which enables the problematizations proposals, we will have the theoretical foundation required for reflection that Affairs theme here we intend to address. It accentuate on the recurrence of inappropriate feeding practices from the fact that few people have notions that are even basic a balanced diet and healthy. Thus, the more ingredients marketed (fats, sugars and salt) point to the pursuit of short-term satisfaction that reigns the praise the taste and adherence to the calls of advertisements broadcast in various media. However, the external influence to the subject cannot be perceived as only relevant factor, since thinking in a larger context that reveals relationships between subjects, industries and food practices, you will then able to escape to the calls of common sense and go to more comprehensive and meaningful problematizations. Keywords: Power Supply. Industry. Consumers. Health.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 196, Septiembre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Das prateleiras de supermercado até a mesa do consumidor
É fato que a indústria alimentícia (ainda que voltada para interesses mercadológicos, como atualizar-se em relação ao que é vendido e o que não é comprado, adquirido ou consumido, por exemplo) preocupa-se em atender as demandas dos desejos dos seus consumidores e há uma pressão contínua de órgãos exteriores a ela, de organizações de saúde etc. que faz com que a indústria de alimentos, seja de origem animal ou vegetal, esteja direcionada no sentido de diminuir os impactos ambientais resultantes da produção de seus serviços, já que o agravamento da poluição resultou em muitos segmentos da sociedade com maior incidência de preocupação ambiental, o que também refletiu na indústria (AGUIAR & GOULART, 2013; AGUIAR & GOULART, 20014: AGUIAR et al., 2014).
Diante o exposto, pode-se afirmar, já que o que faz com que os alimentos sejam produzidos e (re)distribuídos está pautado nos índices de comercialização e venda destes produtos, que a indústria de alimentos se volta ao paladar dos seus clientes a fim de manter os lucros a partir da produção seriada de objetos de consumo mais comprados e consumidos. Portanto, se há maior incidência de consumo de alimentos gordurosos, por exemplo, a indústria irá voltar-se para a produção de alimentos neste setor. O mesmo se pode dizer em relação ao aumento da procura de produtos que caracterizam o que continuamente visa a inserção de práticas de alimentação saudável: como o número de pessoas que visam utilizar-se destes produtos tem aumentado, a indústria de alimentos também se volta para este filão, modernizando sua produção e colocando nas prateleiras de supermercado produtos cada vez mais sofisticados (entre mercadorias de preços variados) oferecendo produtos voltados para este setor de consumo. Sob este ponto de vista, os alimentos industrializados disponíveis no mercado passam a ser reflexo da cultura alimentar da população, porém não podemos deixar de pensar que o marketing dos alimentos industrializados é também uns dos maiores responsáveis sobre a decisão de compra dos consumidores, principalmente dos leigos.
O consumo de alimentos com altos teores de gordura, açúcares e sal está cada vez mais acentuado (KEDOUK, 2013) e isso pode ser percebido a partir das relações que se estabelecem com a comida desde cedo. Para que se possa ter um exemplo elucidativo vale a pena mencionar que, durante a infância, não é raro de encontrar, em muitos lares, a instituição de relações de poder no âmbito das práticas alimentares em que as pessoas vão sendo situadas. Assim, a criança precisa comer a verdura toda para poder ganhar a sobremesa (doce), ou seja, a relação com a comida passa a adquirir vestes de recompensa pelo sacrifício de aderir a uma alimentação saudável.
Além disso, podem ser aqui mencionados outros fatores que vão além da cultura e são (re)afirmados constantemente através do marketing das redes de fast food que faz com que se apresentem como empresas que comercializam “felicidade” e não “hambúrgueres”. Portanto, não se pode esquecer, neste contexto, a influência da mídia na formação de novos hábitos alimentares (JUNIOR & SILVA, 2014). Assim, a sedução das telas e outdoors traz não somente alimentos que visem a nutrição, mas que aparecem em contextos simulados, em que refrigerantes são associados à abraços apertados de quem se ama, margarinas se tornam metonímias de famílias perfeitas e assim por diante.
Neste contexto, pode-se então afirmar que se trata da sedução dos simulacros, que convencem mais do que o próprio real. Assim, se vivemos em uma época em que “a agonia do real e do racional que abre suas portas para uma era de simulação” (BAUDRILLARD, 1991, p. 60) é porque os simulacros convencem mais que o real, é porque “a verdade, a referência, a causa objetiva deixaram de existir” (BAUDRILLARD, 1991, p. 10). Diante disso, a maioria dos alimentos industrializados passam, por causa do conjunto de fatores mencionados (a popularização do consumo das substâncias destacadas, a sedução do mundo hiper-real das propagandas, etc.), a trazer em sua composição sal, açúcar e gordura (KEDOUK, 2013), pois estes ingredientes realçam os sabores dos alimentos o que faz com que se tornem mais saboroso ao paladar resultando na dependência do consumo cada vez mais frequente destes alimentos.
Neste contexto, se for levado em consideração a sedução do marketing das empresas, o poder dos simulacros vendidos e internalizados (há marcas que passam a ser evidenciadas em detrimento de outras) e a aquisição de produtos ao invés de outros (ainda que produtos alternativos sejam ofertados) bem como o consumo cada vez mais frequente – jazem nas prateleiras de supermercado as verduras “da infância” - perceber-se-á que temos a “fórmula” da disciplinarização dos corpos, pois em Foucault, os sujeitos “podem ser dóceis ao poder assim como servir de instrumento” (SILVEIRA, 2014, p. 4). Para Silveira (2014), a disciplinarização dos sujeitos não parte somente de fora (como efeito de uma contingência histórico-social sobre o sujeito), mas também das relações do sujeito em relação a si mesmo. Neste sentido, cabe então acentuarmos que “algumas vezes, o poder disciplinar está tão atrelado à vida social que se torna difícil conhecer sua ordem de aparecimento, porém, ele passa a ser percebido a partir de seus efeitos nos corpos disciplinados” (SILVEIRA, 2014, p. 5).
Cabe então acentuar que o consumidor de modo geral é o elo mais importante de qualquer cadeia agroindustrial, pois as práticas alimentares deste sujeito que consome, comprando os alimentos e fazendo a indústria se remodelar ou intensificar a produção de alimentos em detrimento de outros é que serão decisivas em relação à produção e comercialização de algum produto. A partir dessa visão, o objetivo deste trabalho passa a ser refletir acerca da importância que consumidores têm sobre suas escolhas alimentares, e desmistificar a culpabilização de um agente externo ao sujeito, pois o contexto em que situamos as discussões torna-se assim mais amplo e profícuo.
Cabe aqui acentuar sobre a recorrência de práticas alimentares inadequadas a partir do fato de que poucas pessoas têm noções que sejam sequer básicas de uma alimentação equilibrada e saudável. Dessa forma, os ingredientes mais comercializados (gorduras, açúcares e sal) apontam para a busca da satisfação a curto prazo em que impera o enaltecimento do sabor e a adesão aos apelos do marketing das empresas (parte excessiva dos alimentos comercializados são aqueles que dispõem de amplo apelo de propaganda e isso não ocorre por acaso) em que a saúde é um dos fatores que fica em último plano. Sobre o sabor dos alimentos industrializados, cabe destacar que cada vez mais têm surgido no mercado produtos saudáveis, por exemplo, que visam a apreciação dos consumidores inserindo gostos populares e preços variados, diferente do estereótipo coletivo que apregoa que alimentos integrais, por exemplo, não têm apelo sensorial dos paladares.
Os sujeitos consumidores entre práticas alimentares e influências externas
Sabe se que até hoje não há nenhuma comprovação cientifica de que existam outros motivos para alguém engordar ou emagrecer que não seja o previsto na primeira lei da termodinâmica (lei de conservação da energia): ao ingerir mais energia do que você gasta, você irá engordar e se ingerir menos energia que você gasta, irá emagrecer (KEDOUK, 2013). Desse modo, torna-se cada vez mais frequente que sejam culpabilizados fatores externos ao sujeito e, sobretudo, são negligenciados com frequência os hábitos alimentares, fazendo com que se direcionem críticas a determinados alimentos mais responsáveis que outros pelo aumento ou diminuição de peso, problemas hormonais, fatores hereditários, etc., como se elementos como a frequência com que os alimentos são consumidos, as porções excessivas de determinado alimento em detrimento de outro, o consumo exacerbado de grupos alimentares específicos (gorduras, açúcares, sal) e a falta de exercícios físicos não tivessem relevância na discussão.
Há de ser destacado aqui que, para muitas pessoas, comer está relacionado a um ato mais complexo, pois extrapola a noção de ingestão de nutrientes, ao associar-se a uma gama de emoções e sentimentos (descontrole emocional que leva a ingerir ou jejuar, por exemplo), além dos significados culturais atribuídos à comida. Deste modo, muitas vezes come-se visando eliminar simbolicamente o nervosismo, a ansiedade e as angústias, por exemplo, fazendo assim com que o comportamento alimentar esteja relacionado tanto aos aspectos técnicos e objetivos como também com aspectos socioculturais e psicológicos (GARCIA, 1997).
A importância do fenômeno do fast-food tem sido apontada como uma das chaves para a compressão da natureza da obesidade (um dos grandes problemas de saúde pública). Isto ocorre devido ao fato de ter ocorrido uma mudança drástica dos hábitos alimentares como a substituição dos carboidratos complexos (cereais, amidos) por carboidratos simples (açúcares e gordura), gerando enormes consequências para saúde (CARNEIRO, 2005). Isso não pode deixar de ser mencionado, porém, não como único fator, como muitas vezes se afirma através do senso comum.
Nas ultimas décadas houve uma pequena mudança nos hábitos do consumidor no sentido de este adotar uma postura mais consciente em relação aos produtos que adquire, principalmente em função dos que estão em busca por maior qualidade de vida, agregando à dieta questões de saúde, incluindo produtos com menor conteúdo de gorduras e calorias, ricos em fibras, pobres em sódio, entre outros. Diante destes fatores a indústria de alimentos, assim como todas as cadeias agroalimentares vêm acompanhando este comportamento dos consumidores (ISHIMOTO & NACIF, 2001) produzindo alimentos industrializados para esta parcela de consumidores para suprir a demanda nesta área de consumo. Porém, estes consumidores preocupados com questões de saúde são bem menores que a grande massa que procura alimentos que consideram mais saborosos apesar de serem altamente calóricos.
Dessa forma, cabe acentuar que a indústria sempre está voltada para as demandas aliadas aos desejos e necessidades do consumidor assinaladas através do número de vendas de determinado produto (é a linguagem do mercado) e desloca a produção para os filões que mais vendem. O valor dos produtos nas prateleiras de mercado aqui pode ser um elemento preponderante, mas não é tão decisivo, já que há refrigerantes que são mais caros que outros e nem por isso deixam de ser consumidos, como no exemplo de produtos que por serem continuamente veiculados pelas mídias passam a adquirir maior repercussão entre os consumidores. Então, é preciso reiterar que grande parte dos consumidores não têm conhecimentos satisfatórios acerca da natureza dos alimentos, muitas vezes não sabendo como realizar escolhas saudáveis e como se alimentar de forma adequada, noutras vezes, os hábitos alimentares são tão frequentes e repetidos que não permitem a mudança ou direcionamento para outros alimentos, fortalecendo assim a venda dos alimentos altamente calóricos reafirmados continuamente pelos meios de comunicação.
Neste contexto, é preciso ressaltar que na mídia não são veiculadas apenas propagandas de alimentos altamente calóricos, mas há uma demanda de anúncios sobre alimentos não-calóricos, como produtos integrais, refrigerante de fibras, etc., mas isso não é suficiente para que se mudem os hábitos alimentares de uma população. Outro fator alarmante é a presença cada vez mais expressiva de dietas rápidas que subverte os alimentos fazendo pensar que determinados alimentos podem ser consumidos através de práticas que beiram a inanição dos sujeitos por apresentarem restrições muito altas que ocasionam o emagrecimento, mas resultam em danos para a saúde.
No entanto, estas “fórmulas rápidas” são sempre substituídas por outras e seguidas como rituais para que se mantenha ou conquiste o corpo em forma, o que ocasiona em corpos silenciados em busca de identidades de reafirmação nos grupos que assumem ter por objetivo direta ou indiretamente, assumir nas palavras de Courtine (1995), um estado de corpolatria cada vez maior. Trata-se de um projeto que nunca termina, já que cada vez mais, a partir das partes que compõem o corpo, a ditadura da beleza impõe que sejam reformulados, desconstruídos os corpos ininterruptamente, a partir daquilo que sempre falta, seja numa parte ou noutra. (SILVEIRA, 2012)
Comida rápida, efeitos perversos...
Nos países desenvolvidos, há cada vez mais adeptos do consumo de comidas rápidas. Para os consumidores dos alimentos fast food, trata-se de alimentos que são altamente saborosos e acessíveis, já que estão em cada vez mais lugares e com preços chamativos. Porém, o alto consumo faz com que haja ingestão desenfreada deste tipo de comida tornando isto parte de um hábito alimentar a ponto do consumidor nem questionar (ou negligenciar a respeito d)o valor energético do que está sendo ingerido. Neste universo reinam as batatas fritas banhadas em óleo, os hambúrgueres acompanhados com molhos de apelo ao paladar como o ketchup, a maionese, a mostrada, somados às salsichas, enfim, com alto teor de sal e gordura (dois grandes vilões da saúde se não ingeridos de forma adequada).
Além destes alimentos, ainda pode ser aqui assinalada a alta ingestão de bolos e bebidas açucaradas que vem somar-se à dieta – dieta enquanto sinônimo de hábitos alimentares, podendo estes ser saudáveis ou não a julgar pela escolha dos alimentos a ser ingeridos (OLIVEIRA, 2011). Neste caso, o fator alarmante é que cada vez mais quantidades expressivas da população são compostas de consumidores que apreciam muito a ingestão destes alimentos.
Geralmente, o que importa para o consumidor é que os alimentos sejam baratos e saborosos, negligenciando e abstraindo-se de pensar em malefícios à saúde, fazendo com que assim sejam fortalecidos e reafirmados os hábitos alimentares a partir das cadeias de fast food caracterizando o que Fischler (1998) chamou de McDonalização dos costumes em contextos em que se consome grandes quantidades de açúcares, de gorduras e de sal (OLIVEIRA, 2011). Curioso notar que a prática de hábitos saudáveis emerge no cotidiano dos sujeitos enquanto necessária muitas vezes em contextos em que restrições de determinados alimentos ocasionadas pela ingestão em excesso é prescrita através de consultas médicas. Quando estes hábitos fazem emergir problemas com a saúde ocorre que estes mesmos sujeitos são forçados a mudar seus hábitos alimentares, o que geralmente ocorre depois de anos consumindo estes alimentos, ou depois descobrirem que já estão doentes.
É preocupante a quantidade de pessoas que baseia a alimentação em práticas não saudáveis e isto ocorre em todas as classes sendo o reflexo disto o grande número de programas de televisão que falam sobre saúde e alimentação tanto na TV aberta quanto na TV por assinatura, voltados para os mais diversos segmentos da sociedade. É preciso assinalar que alimentar-se adequadamente está associado a ter um equilibro em relação àquilo que você consume e não restringir todos os alimentos gordurosos e doces, pois dietas restritivas não constituem, nem de longe, uma alimentação adequada para o ser humano e sim o caminho oposto a partir do cuidado com a quantidade de alimentos e porções ingeridas, devido ao fato de que cada nutriente tem seu papel no nosso organismo, não podendo ser simplesmente substituído por outro (a maioria das dietas restritivas se afirma na contraposição disso, restringindo a ingestão de determinados grupos de alimentos, o que não caracteriza práticas de alimentação saudável, ao contrário do que é continuamente afirmado pelo senso comum). Por outro lado, o senso comum cristaliza modos de perceber que são negligenciados, como quando se afirma que não se deve viver para comer, mas comer para viver, alimentando-se do necessário, nem abaixo nem acima do que precisamos para nutrir-se dos ingredientes adequados em porções equilibradas, conforme acentuado anteriormente.
Efeitos da alimentação inadequada
Falou-se até aqui da problematização relacionada aos hábitos alimentares da população. A partir disso, foram destacados alguns elementos exteriores aos sujeitos e relacionados à própria imagem acerca dos alimentos e sobre as dietas. A falta ou excesso de nutrientes no organismo podem acarretar uma série de doenças. O presente capítulo visa tratar de forma breve, portanto, de reflexões acerca dos efeitos de uma alimentação inadequada. Neste contexto, pode ser mencionada uma doença em que a principal causa é a alimentação inadequada: trata-se do diabetes. A sociedade brasileira de diabetes estima que em 2012 no Brasil existiam 12 milhões de pessoas com diabetes, em 2013 o numero subiu para 13,4 milhões. Isto é reflexo das práticas alimentares inseridas e reproduzidas em nossa sociedade.
Assim, o número de brasileiros diagnosticados com a doença cresceu 76% nos últimos anos. A falta de informações sobre os fatores que desencadeiam o problema e hábitos de vida pouco saudáveis estão entre as principais razões desse aumento. O desconhecimento sobre como prevenir e o negligenciamento em relação aos cuidados com os hábitos alimentares é generalizado entre os brasileiros. A grande maioria, 87%, ainda acredita que evitar muito açúcar é única forma de combater o diabetes, desconsiderando fatores também importantes, como a adesão às práticas saudáveis de alimentação. Os dados faz parte da pesquisa “Diabetes: Mude seus hábitos”, que indica outro fator preocupante: 23% dos brasileiros nunca fizeram algum teste na vida visando a detecção dos sintomas ou o diagnostico da doença (LOPES, 2013).
Por causa dos fatores mencionados anteriormente, na atualidade o diabetes mellitus é considerado um dos mais alarmantes problemas de saúde pública, tanto pelo número de pessoas afetadas quanto pelas incapacitações e mortalidade prematura que pode provocar, quanto pelos custos envolvidos no controle e tratamento (PÉRES et al., 2007). Sobre o diabetes mellitus podemos assinalar que trata-se de um conjunto de doenças metabólicas resultante do aumento do nível de glicose no sangue, alterando o metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídios (ADA, 2013).
Nos últimos anos, a American Diabetes Association (ADA, 2013) recomenda a classificação do diabete em diferentes tipos, sendo os principais o diabete tipo 1, o diabete tipo 2 e Diabetes mellitus gestacional. No diabete tipo 1 há uma perda da capacidade do pâncreas de produzir insulina, enquanto que no diabete tipo 2 ocorre uma resistência à ação da insulina e uma deficiência relativa na secreção desse hormônio somados com fatores genéticos e ambientais (ADA, 2013). Em mulheres grávidas existe maior possibilidade de desenvolver resistência insulínica e, na maioria das vezes, as células β-pancreáticas não conseguem compensar essa resistência com a secreção de insulina, alterando o metabolismo de glicose, o que desenvolve o quadro de diabetes mellitus gestacional (RICHARDSON et al., 2007).
Nos dias de hoje, o diabete afeta 250 milhões de pessoas no mundo e a cada ano outras sete milhões desenvolvem essa doença. Atualmente, tornou-se uma preocupação crescente na saúde pública a níveis globais, pois tem levado a complicações graves que geram prejuízos na qualidade de vida dos doentes (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE DIABETES, 2011). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimava que cerca de 30 milhões de pessoas fossem diabéticas em 1985. No ano 2000 este número aumentou para 171 milhões e já no ano de 2012, pelo menos 2,9 milhões de pessoas morreu de diabetes, sendo essa doença considerada a quinta maior causa de mortalidade no mundo (ROGLIC et al., 2005).
Diante do que foi exposto, cabe ressaltar que alimentos ricos em carboidratos devem ser ingeridos em menor quantidade, pois após serem ingeridos são rapidamente convertidos em glicose, para suprir toda necessidade energética do organismo (consumir em menor quantidade não significa deixar de consumir). O consumo em excesso desses alimentos causa o agravamento dos níveis de glicose no sangue podendo ocorrer um aumento da glicemia, ocasionando um aumento dos lipídios sanguíneos e aumento do peso corporal, causando vários problemas graves (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2014).
Neste contexto, a hiperglicemia crônica está associada a danos progressivos, disfunção e falha de vários órgãos, gerando quadros de macroangiopatia, retinopatia, nefropatia e neuropatias. Nos dias atuais, com a melhora do tratamento há um aumento significativo da sobrevida dos indivíduos diabéticos, consequentemente, aumenta a chance do desenvolvimento das complicações, uma vez que estão relacionadas com tempo de exposição à hiperglicemia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2000).
Dessa forma, cabe ressaltar que a alimentação inadequada causa outros danos à saúde e não é somente a diabetes já que existem várias outras doenças que podem ser desenvolvidas neste contexto: colesterol elevado, gastrite, hipertensão e, claro, a obesidade. Assim, pode-se aqui afirmar que ter uma alimentação adequada aliada a práticas de atividades físicas já é um grande passo para ter uma vida saudável e melhor.
Entre brechas e percursos: finalizando o trabalho sem encerrar a discussão
Falar sobre hábitos alimentares e práticas de alimentação saudável implica considerar uma série de fatores. O presente trabalho, partindo da problematização de assuntos muitas vezes reproduzidos no senso comum de que haveria um culpado pela prática de alimentação não saudável na sociedade se torna um tanto esvaziadora de reflexões mais aprofundadas, se isso for considerado em um contexto maior. Assim, não é a indústria a culpada, ou a mídia ou apenas o sujeito consumidor, mas uma série de fatores que intercalados produzem efeitos sobre os sujeitos inclusive na relação consigo mesmo – de si para consigo.
Partindo na contramão das pesquisas e afirmações que preveem dietas a partir de restrições alimentares continuamente veiculadas em revistas, jornais, televisão, internet etc. e (re)afirmadas no cotidiano de qualquer classe social, propôs-se aqui a problematização do que seja de fato uma alimentação saudável, baseada não em restrições, mas na conscientização dos sujeitos acerca dos hábitos alimentares, independente de fatores externos que possam vir a influenciar na escolha.
Desse modo, práticas de alimentação saudáveis se relacionam com a dosagem de porções dos alimentos consumidos, à prática de exercícios físicos, à não limitação de grupos alimentícios em detrimento de outros, pois isso não constitui a base de uma alimentação saudável, mas a deturpação do que sejam práticas alimentares saudáveis baseadas no argumento do excesso. Cabe acentuar então que é preciso que haja a busca do equilíbrio, porque todos os nutrientes têm funções específicas no corpo humano desde gorduras a vitaminas.
Finalmente, cabe acentuar que é preciso que haja buscas em relação à aquisição de saberes e conhecimentos acerca da natureza de cada alimento, para que assim se possa perceber criticamente o que é veiculado como “saudável”, o que está sendo consumido e quais os efeitos do excesso ou da restrição exacerbada de algum nutriente. Senão, apenas buscar vilões externos ou influências que não explicam satisfatoriamente os modos com que os hábitos vão sendo incorporados na cultura e na história faz com que a alimentação seja vista como algo também externo ao sujeito, como se cada um pudesse se eximir da reflexão acerca daquilo que consome, como se as reflexões somente pudessem emergir no ato da consulta médica ou quando os efeitos da ingestão inadequada de nutrientes tenha se tornado irreversível.
Referências
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