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Terapia em grupos como tratamento para 

a obesidade: a visão do profissional nutricionista

La terapia de grupos en el tratamiento de la obesidad: la mirada del profesional nutricionista

 

Graduando do curso de nutrição

da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA

(Brasil)

Jassana Moreira Floriano

jassanamf@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A reeducação alimentar é um processo de mudança de hábitos e tem como foco principal a alimentação saudável, inserção de exercícios físicos, e conseqüentemente, a perda de peso. O objetivo com este trabalho foi realizar reflexões baseadas em observações registradas, relatar os métodos utilizados com grupos de reeducação alimentar, e o acompanhamento de terapia em grupo como tratamento para obesidade. Em encontros semanais, foram utilizadas técnicas de educação cooperativa e motivacionais para perda de peso ponderal (PP), adesão à dieta e atividade física; e fornecida dieta hipocalórica individual específica, que tinha como propósito a mudança gradativa do habito alimentar das participantes. Houve correlação entre o número de reuniões e a PP. Nos participantes com permanência de mais de 7 semanas observou-se PP média mais elevada. A terapia em grupo obteve um bom resultado para os pacientes mais aderentes e parece ser mais adequado ao tratamento de indivíduos com menores graus de obesidade. Com essa experiência foi possível identificar que é necessário que o participante assuma um compromisso próprio, devendo estar ciente que o processo de reeducação exige dedicação. Para o profissional nutricionista é essencial aproveitar a fase inicial de motivação para estipular metas possíveis. Sabemos que ainda há muito a avançar para que se tenha a perspectiva de um trabalho mais interdisciplinar e humano.

          Unitermos: Grupos de autoajuda. Obesidade. Terapia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A obesidade é provavelmente o mais antigo distúrbio metabólico, havendo relatos da ocorrência desta desordem em múmias egípcias e em esculturas gregas (Blumenkrantz, 1997). A obesidade pode ser considerada a mais importante desordem nutricional nos países desenvolvidos (Dyer, 1994) e estima-se que mais de um terço da população norte-americana esteja acima do peso desejável (Baron, 1995).

    As tendências de transição nutricional ocorridas neste século direcionam para uma dieta mais ocidentalizada, a qual, aliada à diminuição progressiva da atividade física, converge para o aumento no número de casos de obesidade em todo o mundo. Isso representa aumento na morbidade e na mortalidade associadas à obesidade, já que esta é fator de risco para várias doenças. (Francischi et al, 2000).

    O ganho de peso pode estar associado a problemas psicológicos, como estresse, ansiedade e depressão (Baron, 1995; Jebb, 1997), influenciando principalmente o comportamento alimentar (Stunkard & Wadden, 1992).

    Jebb (1997) afirma que a etiologia da obesidade é, provavelmente, uma das mais complexas. De fato, o seu desenvolvimento possui múltiplas causas e é o resultado de complexas interações entre fatores genéticos, psicológicos, socioeconômicos, culturais e ambientais (Blumenkrantz, 1997).

    A obesidade se apresenta não apenas como problema científico e de saúde pública, porém como grande indústria que envolve o desenvolvimento de fármacos, de alimentos modificados e estratégias governamentais estimulando a prática regular de atividade física e a orientação alimentar a fim de promover melhores hábitos.

    A reeducação alimentar consiste em um processo de mudança de hábitos, diferente de dietas e regimes restritivos que prometem emagrecimento rápido, a reeducação tem como foco principal a alimentação saudável, melhoria do cardápio diário, inserção de exercícios físicos a rotina e assim, conseqüentemente, a perda de peso.

    É essencial que todo esse processo seja acompanhado por um profissional da área, assim, considera-se que o estágio é um processo de aprendizagem indispensável aos profissionais que desejam estar preparados para enfrentar os desafios de sua carreira. É a oportunidade de o acadêmico fazer a relação entre a teoria e a prática, conhecendo a realidade cotidiana da sua área de atuação. Dentre as diversas áreas de prática do nutricionista como profissional de saúde, se destaca, pela popularidade, a nutrição clínica.

    Desta forma, o objetivo com este trabalho foi realizar reflexões baseadas em observações registradas, relatar os métodos utilizados com grupos de reeducação alimentar, bem como, o acompanhamento de terapia em grupo como tratamento para obesidade através de participação voluntária em estágio de extensão comunitária.

Referencial teórico

    É fato conhecido que uma nutrição equilibrada e a prática regular de atividade física são fatores fundamentais para se ter uma boa qualidade de vida e combate a obesidade. (Tirapegui, 2003)

    Segundo a Organização Mundial da Saúde, a obesidade já constitui uma epidemia mundial. Atinge a todas as camadas sociais, tanto nos países desenvolvidos como nos denominados em desenvolvimento. Evidências experimentais recentes assinalam que 35% da população brasileira tem sobrepeso.

    Esta doença vem merecendo atenção crescente como problema de saúde pública, em função do rápido aumento do número de pessoas obesas no mundo afetando não só os países industrializados como também, e de forma crescente, aqueles em desenvolvimento sobrepondo-se ao problema da fome e da desnutrição.

    A explicação para este fenômeno de crescimento maior de obesidade nas populações menos favorecidas deve-se certamente em boa parte á mudança do padrão alimentar destes países, propiciada por uma maior capacidade de comprar alimentos e à tendência secular de que quando isto acontece os alimentos preferidos são os ricos em gorduras. Nosso povo vem mudando seu padrão de alimentação e vem comendo menos carboidratos e mais gorduras. A este fenômeno, comum aos países emergentes, denomina-se de transição nutricional (Monteiro, 1995).

    Tem-se conhecimento de que a obesidade é fator de risco importante para diabetes mellitus do tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia, infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais, entre outras doenças.

    É de se prever que o padrão de doenças da população do Brasil se desloque das doenças associadas à desnutrição para as doenças metabólicas e cardiovasculares, claramente imbricadas entre si. Não há nenhuma dúvida de que a proporção de indivíduos com diabetes mellitus do tipo 2 vem aumentando no mundo e em nosso país, coincidentemente com o crescimento da obesidade. O Ministério da Saúde do Brasil, através do seu Departamento de Doenças Crônicas afirma que as doenças cardiovasculares são a primeira causa de óbito em nosso país (cerca de 300.000 mortes por ano) e que a prevenção da obesidade pode levar a uma redução de 30% na sua incidência. Mas ainda, além de suas conseqüências, também atinge os serviços de saúde. Os custos diretos e indiretos da obesidade são elevadíssimos; de 2% a 7% dos gastos dos países com a saúde são atribuídos a esta doença (WHO, 1998).

Atuação na terapia em grupos

    Trata-se de um relato descritivo e observacional, que ocorreu durante estágio voluntário não obrigatório realizado no setor de nutrição clínica. Unidade esta, que conta com apenas uma nutricionista responsável.

    O Estágio aconteceu de janeiro a junho de 2011, conveniado com a Prefeitura Municipal de Itaqui-RS. Durante o decorrer da semana eram visitadas Unidades Básicas de Saúde localizadas nos bairros, em que as atividades eram divididas entre atendimento clínico e grupos de debate com propósito de reeducação alimentar.

    A terapia em grupos era uma atividade que constituía o cronograma de ações desenvolvidas pela Nutricionista. Constituído de mulheres em sua totalidade, a busca pelo grupo era de maneira espontânea ou por indicação do médico. Em encontros semanais, com duração de 60 minutos, foram utilizadas técnicas de educação cooperativa e motivacionais a fim de estimular para perda de peso ponderal, para a adesão à dieta e a prática de algum tipo de atividade física. Para isso, era fornecida dieta hipocalórica individual específica, que tinha como propósito a mudança gradativa do hábito alimentar.

    Durante os encontros eram expostas as dificuldades encontradas por cada participante, bem como, traçadas suas metas e expectativas futuras. O acompanhamento da evolução de cada um dos participantes era feito através das explanações individuais ocorridas nos encontros, além da aferição do peso corporal realizada uma vez a cada mês.

    Como métodos de motivação, os rótulos dos alimentos prediletos dos participantes eram analisados coletivamente e para que pudessem ser identificados os pontos positivos e negativos da ingestão destes, todas as orientações dadas partiam de bibliografias cientificas e eram desaconselhados a aplicação de planos alimentares taxativos e modismos. Como alternativa eram utilizados exemplos práticos e diários, exemplificando, formas de reaprender a fazer escolhas na feira e no supermercado.

    O tratamento da obesidade teve como foco a perda de peso, para uma melhor qualidade de vida das participantes. De acordo com as pesquisas científicas utilizadas, os grupos de terapia para obesidade tem, em média, um resultado variável, chegando a se obter uma perda ponderal (PP) de até 10% em 3-6 meses. Embora muito utilizada na atenção primária, esta abordagem tem sido pouco estudada.

    O acompanhamento do projeto extensionista aconteceu durante o decorrer de 6 meses, foram avaliados a PP e possíveis fatores relacionados a isso. Os resultados foram organizados de forma descritiva. Houve correlação entre o número de reuniões e a PP. Notoriamente os participantes com permanência de mais de 7 semanas, apresentaram uma PP média mais elevada.

    A terapia em grupo obteve um bom resultado para os pacientes mais aderentes e parece ser mais adequado ao tratamento de indivíduos com menores graus de obesidade. O ideal será a inclusão de um grupo controle em um próximo estudo.

Reflexão sobre a prática clinica e suas intempéries

    Na prática clínica, as maiores dificuldades encontradas em relação ao setor de nutrição, foram relacionadas ao baixo número de profissionais atuantes que, conseqüentemente, ficam sobrecarregados de funções e a indisponibilidade de estrutura física e de materiais apropriados.

    Nos grupos de debate de reeducação, que são realizados em ambiente externo a unidade de saúde, verificou-se a motivação dos pacientes e resultados satisfatórios em relação à mudança de hábitos alimentares e perda de peso. Em ambas as atuações, foi possível observar o papel do nutricionista como educador, ressaltando a sua importância na formação da opinião do paciente.

    A educação nutricional deve compreender a complexidade da alimentação e esse processo pedagógico-nutricional encontra sustentação nas discussões e reflexões desenvolvidas entre profissional e paciente. Os pontos abordados sugerem que as dificuldades e impasses encontrados pelo nutricionista clínico não significam demérito da sua atuação, mas se tornaram incompatíveis às contribuições conferidas à melhoria da nutrição, saúde e qualidade de vida das pessoas.

    Com essa experiência foi possível identificar que antes de qualquer atitude, é necessário que o participante assuma um compromisso próprio e devendo estar ciente de que o processo de reeducação consome tempo e exige dedicação. Para o profissional nutricionista é essencial aproveitar a fase inicial de motivação para estipular metas possíveis em curto prazo e auxiliar na perda de peso. Sabemos que ainda há muito a avançar para que se tenha a perspectiva de um trabalho mais interdisciplinar e humano.

Referências bibliográficas

  • BARON, R. Understanding obesity and weight loss [online]. 1995 

  • BLUMENKRANTZ, M. Obesity: the world's metabolic disorder [online]. Beverly Hills, 1997.

  • BORGES, N. L. Experiência prática como contribuição na formação docente. Anais do II Seminário de Pesquisa do NUPEDE, Uberlândia, p. 303-308. 2010.

  • EDITORIAL. Obesidade: Podemos melhorar? Rev. Assoc. Med. Bras.; 47(1); 1-2; 2001-03

  • FRANCISCHI, R. P. P.; PEREIRA, L. O. ; FREITAS, C. S.; KLOPFER, M.; SANTOS, R. C.; VIEIRA, P.; LANCHA JUNIOR, A. H. Obesidade: atualização sobre sua etiologia, morbidade e tratamento. Rev. nutr; v. 13, n.1, p. 17-28, jan.-abr. 2000.

  • GUIMARÃES, J. B.; TAVARES, M. R. G., NEUMANN, C. R. Tratamento da Obesidade: Modelo de Grupo Baseado em Terapia Cognitivo Comportamental. Rev. Bras. Med. Fam. Comunidade. v.6, n.18, 2011.

  • HALPERN, A. A Epidemia de Obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab. São Paulo. 43(3); 175-176; 1999-06.

  • JEBB, S. A. An etiology of obesity. British Medical Bulletin, London, v.53, n.2, p.264-285, 1997.

  • MONTEIRO, C. A., MONDINI, L., SOUZA, A. L. M., POPKIN, B.M. The nutrition transition in Brazil. Eur J Clin Nutr 1995;49:105-13.

  • STUNKARD, A.J., WADDEN, T.A. Psychological aspects of human obesity. In: BJÖRNTORP, P., BRODOFF, B.N. Obesity. Philadelphia: J.B. Lippincott, 1992. p. 352360. 

  • TIRAPEGUI, J. Atividade física e obesidade. Rev. Bras. Cienc. Farm.; 39(4); 467-467; 2003-12.

  • TIRAPEGUI, J. Riscos e prevenção da obesidade. Rev. Bras. Cienc. Farm.; 39(3); 347-348; 2003-09.

  • WHO. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of WHO Consultation on Obesity. World Health Organization. Geneva, 1998.

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