efdeportes.com

Efeitos da suplementação de creatina na 

hipertrofia muscular em praticantes de musculação

Efectos de la suplementación con creatina en la hipertrofia muscular en practicantes de musculación

 

*Faculdade União de Goyazes - FUG, Trindade-GO

**Universidade Estadual de Goiás-UEG/ESEFFEGO, UniEvangélica

Anápolis – Goiás

(Brasil)

Wellington da Silva*

Wallacy Alves*

Fábio Santana**

wellingtonedfisica2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A suplementação de creatina tem sido pesquisada devido ao seu potencial efeito no rendimento físico de atletas e praticantes de musculação, contribuindo com a hipertrofia muscular e redução da fadiga. O objetivo desta pesquisa foi avaliar as alterações na composição corporal que envolvem o percentual de gordura dos praticantes de musculação suplementados com creatina monohidratada pura, alterações bioquímicas de creatinina e alterações hemodinâmicas de repouso durante a fase pré e pós-suplementação. Foram avaliados durante 8 semanas (n = 21) indivíduos praticantes de musculação, com faixa etária de (24,10 ± 2,88 anos), divididos em dois grupos, sendo: grupo experimental e grupo placebo. Deste modo foi analisado massa corporal, freqüência cardíaca, pressão arterial, duplo produto, IMC, IAC, circunferência abdominal, RCQ, percentual de gordura e creatinina. Houve redução significativa (p < 0,01) na massa corporal, (p < 0,05) no percentual de gordura corporal e (p < 0,03) na freqüência cardíaca, o que pode ter sido potencializado com a utilização da creatina. Para os demais parâmetros avaliados não houve diferença significativa entre os grupos. Podemos concluir que os resultados foram satisfatórios ocorrendo redução no percentual de gordura corporal do grupo suplementado, bem como, valores satisfatórios no que diz respeito às alterações bioquímicas e hemodinâmicas. Porém, novos estudos são necessários para contribuir com a comunidade acadêmica e científica.

          Unitermos: Creatina. Hipertrofia. Musculação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

1 / 1

Introdução

    Atualmente existe uma incansável busca por um corpo ideal que é aquele divulgado pela mídia como sendo o padrão de beleza a ser aceito na sociedade. Este processo de formação da imagem corporal pode ser influenciado por diversos fatores denominados como rituais para chegar ao ápice da perfeição, mas que sofrem influência tais como, sexo, idade, fatores hormonais, entre outros (DAMASCENO et al., 2006).

    Deste modo o treinamento resistido (TR) tem sua importância por desenvolver diversos benefícios ao corpo do indivíduo, não podendo ser visto somente como fonte de estética corporal, uma vez que o mesmo desenvolve habilidade funcional e flexibilidade, entre outros fatores, que pode ser resultado da redução de tecido adiposo – percentual de gordura corporal e aumento da massa magra – muscular. (FLECK; SIMÃO, 2008) e (CORTEZ, 2011).

    Além do treinamento, os suplementos alimentares (SA) têm sido apontados como possíveis recursos ergogênicos para alcançar os objetivos, entre as substâncias existentes destaca-se a creatina (CR) na qual pode influenciar na composição corporal (BACURAU, 2011).

    A CR (ácido α-metil guanidino acético) é uma amina de ocorrência natural sintetizada endogenamente pelo fígado, rins e pâncreas, a partir dos aminoácidos glicina, arginina e metionina (HERNANDEZ; NAHAS, 2009).

    Pode-se relatar que diversos estudos sobre as formas de suplementação de creatina e seus efeitos são benéficos ao indivíduo, porém, vale ressaltar que a saturação e manutenção dos níveis de creatina dentro de um padrão ideal, são necessários para evitar sobrecarga renal e promover a redução de uma elevada taxa de retenção de água intramuscular (GUALANO, 2010).

    Diante do exposto, este estudo teve como objetivo avaliar as alterações na composição corporal que envolve o percentual de gordura dos praticantes de musculação suplementados com creatina monohidratada pura, alterações bioquímicas de creatinina e alterações hemodinâmicas de repouso durante a fase pré e pós-suplementação de creatina.

Materiais e métodos

    O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa da Faculdade União de Goyazes através do protocolo 008/2012-1. Todos os indivíduos que fizeram parte do estudo foram informados sobre os objetivos da pesquisa e sobre seus direitos enquanto participantes e, voluntariamente, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as normas éticas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. (CERVO, 2007).

    A amostra foi composta por alunos de musculação da Academia Escola da Faculdade União de Goyazes (FUG) e Academia Acqua Fitness na cidade de Anápolis, onde foi extraída uma amostra de (n = 21) indivíduos do sexo masculino praticantes de musculação com faixa etária entre 20 e 30 anos, que freqüentam as aulas de musculação por período de 6 meses. As amostras foram divididas em dois grupos, sendo: G1 – grupo placebo e G2 – grupo experimental.

    Deste modo, esta pesquisa foi realizada utilizando uma intervenção por um período de oito semanas, com característica quantitativa e experimental em praticantes de musculação, sendo aplicado o método cego, utilizando um grupo placebo (G1) e um grupo experimental (G2), sendo a amostra escolhida aleatoriamente.

    Como critério de inclusão os alunos deviam estar participando de um programa de treinamento na musculação com objetivo de hipertrofia muscular no mínimo de 6 meses de treinamentos já realizados, além de se enquadrarem na faixa etária proposta. Aqueles alunos que não cumprirem a rotina de treinamento durante as 8 semanas com a freqüência de 3 a 5 aulas semanais e os que utilizam qualquer outro tipo de suplemento alimentar que possa interferir em nossa pesquisa foram excluídos.

    Para a pesagem dos suplementos foi utilizado uma balança de precisão marca Camry® modelo EK8022, no qual foram separados em duas porções de 25 gramas, sendo: grupo placebo – G1 com 25g de maltodextrina e para o grupo experimental – G2 5g de Creatina monohidratada e 20g de maltodextrina, onde o uso do suplemento foi diário durante as 8 semanas.

    Iniciamos as coletas de dados através de uma avaliação da composição corporal que foi realizada por Dobras Cutâneas (DC) no qual utilizou o protocolo de Pollock e Col., que utiliza de 5 DC (Tricipital, Peitoral, Supra-ilíaca, Abdômen e Coxa) para estimativa da composição corporal, sendo utilizado o adipômetro científico Sanny® calibrado com pressão de 10 mm, no qual utiliza bloco rastreado pela rede brasileira de calibração (RBC) (POLLOCK; WILMORE.,1993).

    Para aferição da massa corporal e estatura foi utilizada uma balança digital marca Toledo® modelo 2096PP/2 com estadiômetro acoplado com escala de graduação de 1 cm (centímetro), sendo calibrada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO.

    A coleta das circunferências (tórax, braço, cintura, abdômen, quadril, coxa e panturrilha) foi realizada de acordo com orientação de McArdle, utilizando a trena metálica antropométrica, marca Sanny® com escala de graduação a cada cm. De posse destas variáveis, foi calculado o Índice de Adiposidade Corporal (IAC) do grupo através da fórmula IAC = [(circunferência da quadril) / (estatura)1.5) – 18], para caracterização da amostra (MCARDLE; WILLIAM, 2003) e (TIBIANA et al, 2011).

    A Freqüência Cardíaca (FC) e Pressão Arterial (PA) de repouso foram coletadas através do medidor de pressão arterial Microlife® modelo BP3BT0-A automático, onde foram identificados os valores pressóricos - sistólico e diastólico, além da FC. Foi certificado que a amostra não praticou exercícios físicos no dia da coleta de dados, bem como, não terem ingerido bebidas alcoólicas, derivados de cafeína ou grande quantidade de alimentos e ao chegarem para a avaliação ficaram em repouso 10 minutos em um ambiente calmo para iniciar a coleta de dados (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2010).

    Na seqüência os alunos foram encaminhados a um biomédico, que fez a coleta sanguínea através de tubos a vácuo, seringas e o reagente creatinina da marca Doles®, no qual utiliza o método cinético de Jaffé modificado para exames laboratoriais de sangue/soro, utilizando o espectrofotômetro capaz de medir a absorbância em 520 nm, através do sistema “Colorimétrico” para determinação dos valores bioquímicos, seguindo os padrões de referência de acordo com o Manual Doles de Bioquímica Clínica, a fim de verificar o nível de creatinina sanguínea, de forma que possibilite dosar estes valores pré e pós intervenção e estimar sua concentração (MANUAL DOLES, 2007-2008).

    Após esta etapa, a amostra foi suplementada durante 8 semanas consecutivas com uso da suplementação de acordo com o descrito anteriormente, sendo que a coleta de todos as variáveis foram realizadas na fase pré e pós intervenção.

    Não houve intervenção do pesquisador na seqüência dos exercícios resistidos que envolvem a prescrição do treinamento dos integrantes da amostra, porém, como todos os alunos participaram efetivamente da intervenção de acordo com o objetivo de atingir hipertrofia muscular, o treinamento executado foi com uma intensidade entre 75% a 85% da carga máxima estimada (ACMS, 2011). Todos os voluntários preencheram recordatório alimentar (R24) e calculado o valor energético total (VET), e foram orientados a não modificarem seus hábitos alimentares durante a pesquisa, conforme orientação de uma nutricionista, no qual constatou que nenhuma amostra havia feito uso de qualquer recurso ergogênico durante 3 meses antes do inicio da pesquisa (BACURAU, 2011).

    Para análise estatística, todos os dados coletados foram tabulados em uma planilha do Software Excel for Windows versão 2007, e na seqüência transferidos para o Software SPSS - Statistical Package for Social for Windows versão 17.0 para as respectivas análises. Estas análises seguiram um procedimento descritivo, além do teste “t” de Student para avaliar e comparar as fases pré e pós-intervenção, com as respectivas médias e desvio padrão, adotando como significância um valor de (p < 0,05).

Resultados e discussões

    Destacamos abaixo os principais resultados da pesquisa, com os respectivos valores médios e desvio padrão que envolve a amostra avaliada com o G1 – Grupo Placebo e G2 – Grupo Experimental. Podemos observar no gráfico-1 que os valores antropométricos que envolvem massa corporal e estatura, não apresentaram diferença significativa entre os períodos avaliados quando comparados inter grupos.

    Quando realizamos a comparação entre os grupos, a massa corporal apresentou diferença significativa entre o G1 com 1,25 kg e G2 com 0,86 kg com significância de (p < 0,01). Em uma pesquisa realizada por Junior (2008), com 18 amostras suplementadas com creatina no grupo A e maltodextrina grupo B, submetidos a um TR por 8 semanas, apresentou um aumento da massa corporal entre as amostras com (p < 0,008), vindo de encontro com nossos achados.

    Deste modo o aumento da massa corporal no G1 quanto no G2, se deve ao desenvolvimento muscular que o TR proporciona ao indivíduo entre as fases pré e pós, sendo assim a significância apresentada na Tabela-1 pode ser justificada como fator derivado do treinamento das amostras envolvidas na pesquisa.

Gráfico 1. Caracterização da amostra avaliada envolvendo o grupo placebo e grupo experimental com as respectivas médias e desvio padrão

    Podemos analisar no gráfico-2 que os valores hemodinâmicos que envolvem freqüência cardíaca e pressão arterial sistólica e diastólica, apresentaram diferença entre os períodos avaliados, ou seja, pré e pós- intervenção.

Gráfico 2. Valores hemodinâmicos da amostra avaliada envolvendo o grupo placebo e grupo experimental com as respectivas médias e desvio padrão

    Quando realizamos a comparação do G1 e G2 na fase pré e pós a FC apresentou significância de (p < 0,03) no G1 e uma pequena diminuição no G2, isso ocorre devido à melhora do condicionamento físico das amostras envolvidas. Analisado as variáveis PAS e PAD as mesmas não apresentaram diferença significativa, mesmo com as alterações apresentadas.

    Analisando os resultados apresentados no gráfico-3 através da antropometria e a análise dos dados envolvendo as fases pré e pós-suplementação, não houve alteração significativa nos grupos G1 e G2 envolvendo a variável IMC, IAC, Circunferência Abdominal e RCQ.

Gráfico 3. Valores antropométricos da amostra avaliada envolvendo o grupo placebo e grupo experimental com as respectivas médias e desvio padrão

    Quando comparamos com a pesquisa de Santana (2009) os dados apresentados não mostraram resultados significativos, ou seja, este resultado reforça nossos achados. Mas podemos perceber que houve uma tendência na alteração de algumas destas variáveis tanto do G1 quanto do G2, porém, sem significância.

    Destacamos que os valores antropométricos são dependentes de outras variáveis, tais como, volume e intensidade do treinamento, bem como a ingesta calórica do indivíduo, além do repouso. Lembramos também que a creatina apresenta uma característica osmótica, e que em alguns casos podem favorecer a retenção hídrica, que conseqüentemente está relacionada com aumento dos valores antropométricos (MCARDLE; WILLIAM, 2003).

    Deste modo ao analisar o gráfico-1 sobre o percentual de gordura o G1 apresentou significância de (p < 0,03) com aumento no percentual de gordura. Porém, o grupo experimental mesmo não apresentando diferença significativa, apresentou redução no percentual de gordura corporal.

    No que diz respeito ao treinamento resistido na busca de hipertrofia, o grupo não apresentou uma resposta positiva nesta variável. Destacamos que uma ingesta elevada de carboidrato pode contribuir com este aumento de tecido adiposo, conforme apresentado no G1.

Gráfico 4. Valores de %GC (percentual de gordura) dos grupos G1 e G2 nas fases pré e pós-intervenção

    O grupo G2 mesmo apresentando redução no percentual de gordura, não obteve significância. Ao analisarmos os dois grupos, podemos destacar que a utilização de creatina pelo G2 pode ter sido potencializado com a utilização da creatina que promove maior desempenho no treinamento, bem como redução na fadiga, favorecendo desta forma, a conclusão do treino com maior eficiência.

    O teste de creatinina representado pelo gráfico-5 apresentou na sua fase pré-intervenção, valores de 1,02 mg/dl para o G1 e 0,98 mg/dl para o G2, sendo caracterizado valores dentro do padrão de acordo com o método cinético de Jaffé, no qual os valores de referência estão entre 0,6 mg/dl a 1,2 mg/dl para homens adultos (MANUAL DOLES, 2007-2008).

Gráfico 5. Valores da dosagem de Creatinina Sanguínea dos grupos pré e pós-teste

    Após as 8 semanas de treino foi realizado um novo teste de creatinina na fase pós-intervenção no qual o G1 apresentou uma pequena queda, apresentando 0,89 mg/dl, já o grupo G2 apresentou concentração 1,00 mg/dl, superior a fase pré intervenção, o que pode ser associado à ingesta de creatina no grupo G2. Vale ressaltar que os valores apresentados na dosagem de creatinina tem relação com o funcionamento do sistema renal, fatores hepáticos, ácido úrico e processos inflamatórios (WILLIANS et al, 2000).

    Assim os valores apresentados no teste de creatinina do G1 e do G2 na fase pré e pós estão mostrando que as amostras não ultrapassaram a fase de saturação do teste que significa uma concentração acima de 1,2 mg/dl, caracterizando que a suplementação usou o protocolo mais apropriado para a amostra. A maioria dos estudos de sobrecarga de CR utilizou doses diárias de 2 a 5 g de creatina durante a fase de manutenção (GUALANO, 2010) e (WILLIANS et al, 2000).

    Como citado anteriormente, o estudo apresenta algumas limitações, tais como, amostragem pequena e o não controle do treinamento que envolve o número e padronização de exercícios, repetições e séries, são fatores que podem ter afetado algumas das variáveis deste estudo.

Conclusão

    Mediante aos achados, podemos confirmar a hipótese que a suplementação de creatina monohidratada pura em praticantes de musculação, pode ser benéfica, trazendo algumas vantagens e contribuindo com o nível de desempenho do indivíduo no trabalho resistido apresentando melhora na composição corporal, que tem relação direta com a massa corporal, visto que, mesmo com o aumento desta variável no grupo experimental, houve redução no percentual de gordura, conseqüentemente diminuição da massa gorda e aumento de massa magra, ou seja, hipertrofia muscular.

    No que se refere às variáveis fisiológicas - hemodinâmica, houve melhora no sistema cardiorrespiratório que envolve a FC, PA e DP, podendo ser relacionado ao período de intervenção realizado através do treinamento.

    Assim considerando nossos achados, fica visível a necessidade de uma pesquisa por um período mais longo, com uma amostra maior para verificar quais efeitos a CR pode causar neste período de suplementação no indivíduo, bem como o controle de outras variáveis que podem interferir no processo.

Referências bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires, Agosto de 2014  
© 1997-2014 Derechos reservados