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Síndrome Nefrótica Primária e a sistematização
da assistência de enfermagem

El Síndrome Nefrótico Primario y la sistematización de la asistencia de enfermería

 

*Graduandas do Curso de Bacharel em Enfermagem da Faculdade

Metropolitana São Carlos – Famesc, Bom Jesus do Itabapoana-RJ

**Docente do Curso de Bacharel em Enfermagem da Faculdade

Metropolitana São Carlos – Famesc, Bom Jesus do Itabapoana-RJ

(Brasil)

Rosilane Carla da Silva*

Tais Moreira Dias*

Fernanda Castro Manhães**

castromanhaes@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve por objetivo analisar o conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre a síndrome, além de verificar se nas unidades hospitalares onde estes atuam existe uma sistematização da assistência de enfermagem para tais casos. A pesquisa se caracteriza como qualitativa, descritiva, com aplicação de questionários para coleta de dados estatísticos referentes ao tema proposto. Os sujeitos da pesquisa foram constituídos por 40 profissionais de enfermagem que atuam em unidades hospitalares da região Norte e Noroeste Fluminense. Os resultados foram analisados estatisticamente, sendo comparados a outros estudos similares. Ao analisar os resultados obtidos junto aos profissionais de enfermagem, foi possível constatar que existem limitações em relação aos conhecimentos sobre a doença. Concluiu-se que se faz necessário uma atenção as instituições hospitalares e a utilização da sistematização da assistência de enfermagem em crianças com síndrome nefrótica, destacando a importância do profissional de enfermagem neste processo.

          Unitermos: Síndrome Nefrótica Primária. Sistematização da assistência de enfermagem. Glomerulopatias.

 

Abstract

          This study aimed to analyze the knowledge of nurses about the syndrome and to verify if the hospitals where they work there is a systematization of nursing care for such cases. The research is characterized as qualitative, descriptive, with questionnaires for collecting statistical data related to the proposed topic. The study subjects consisted of 40 nurses working in hospitals in the North and Northwest Fluminense region. The results were statistically analyzed and compared to other similar studies. When analyzing the results obtained from the nurses, it was established that there are limitations on the knowledge about the disease. It was concluded that attention is needed hospital institutions and the use of the systematization of nursing care in children with nephrotic syndrome, highlighting the importance of nursing professionals in this process.

          Keywords: Primary Nephritic syndrome. Systematization of nursing care. Glomerulopathies.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    Estudos apontam que as glomerulopatias, ou doenças glomerulares, são as principais causas, em todo o mundo, da doença renal crônica (DRC), respondendo, em alguns países, por cerca de 60% dos casos de tratamento dialítico (CARMO et al., 2008).

    De acordo com Carvalho et al. (2003), são classificadas como primárias as glomerulopatias que aparecem isoladamente, e como secundárias, quando se associam a doenças sistêmicas, como lúpus eritematoso sistêmico, diabetes, dentre outras. A glomerulopatia dá origem a diversas manifestações clínicas, dentre as quais a síndrome nefrótica (SN), causada pelo aumento da permeabilidade às proteínas plasmáticas tendo por característica proteinúria acima de 3,5g/1,73m2 de superfície corpórea ao dia, além de hipoalbuminemia e edema (TITAN, 2013).

    Dentre as glomerulopatias que mais frequentemente acarretam a síndrome nefrótica Primária (SNP), estão a glomerulopatia de lesões mínimas, a glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF), glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP), glomerulonefrite membranosa e mais raramente a glomerulonefrite por depósitos mesangiais de IgA (GNIgA) (TITAN, 2013).

    A SN acomete a população adulta e infantil, sendo a SN primária (SNP) a mais prevalente, especialmente em crianças, respondendo por cerca de 80% dos casos, enquanto a secundária, ocasionada por diabetes, lúpus eritematoso sistêmico, amiloidose, infecções virais e bacterianas, neoplasias, dentre outros, responde por cerca de 20% (VERONESE et al., 2010).

    O profissional de enfermagem, por estar mais próximo ao paciente, deve conhecer os sinais e sintomas da SNP, a fim de encaminhar ao profissional médico especialista, além de oferecer os cuidados necessários, evitando que o problema se agrave. Para tanto, a utilização da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é considerada significativa, pois individualiza o cuidado, fornecendo subsídios para a execução e a avaliação da assistência, baseada em um raciocínio clínico registrado de forma organizada, oferecendo ao enfermeiro condições de diagnosticar circunstâncias sobre a saúde do doente que estejam sob sua responsabilidade, controlando possíveis alterações em seu estado de saúde (DEL’ANGELO et al., 2010).

    Diante da alta prevalência de SNP em crianças, este estudo teve por objetivo analisar o conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre a síndrome, além de verificar se nas unidades hospitalares onde estes atuam existe uma sistematização da assistência de enfermagem para tais casos.

2.     Revisão de literatura

2.1.     Doenças glomerulares

    São definidas como doenças glomerulares os processos inflamatórios que atingem especialmente o glomérulo, não existindo evidências definitivas sobre os mecanismos responsáveis pelo seu surgimento. Apesar de não serem, em geral, muito frequentes, sua importância se deve ao fato de estar entre as principais causas de insuficiência renal crônica terminal (GROSSMAN et al., 2006).

    A lesão glomerular é acompanhada de alterações na estrutura, função e permeabilidade do glomérulo, independente do mecanismo de lesão envolvido, acarretando uma passagem anormal de proteínas e outros elementos, além de reduzir a função da filtração glomerular, acarretando distúrbios na excreção de água e sódio (TITAN, 2013).

    Em geral, as doenças glomerulares estão associadas à síndrome hematúria assintomática, glomerulonefrite aguda, glomerulonefrite rapidamente progressiva, síndrome nefrótica ou glomerulonefrite crônica, podendo evoluir para estágios avançados de insuficiência renal e necessidade de diálise (PERES; BERTOL, 2012).

2.2.     Síndrome Nefrótica Primária

    A Síndrome Nefrótica (SN) é definida como o conjunto de sinais, sintomas e achados laboratoriais que se desenvolvem quando ocorre um aumento patológico exagerado da permeabilidade dos glomérulos às proteínas, acarretando proteinúria maciça. A proteinúria, nestes casos, se apresenta superior a 3,5g/1,73m2/24h, equivalendo, em crianças a >40-50mg/Kg/24h (CARVALHO et al., 2003).

    De acordo com Peres e Bertol (2012), trata-se de uma doença pediátrica, pois é 15 vezes mais comum em crianças do que em adultos, apresentando incidência de dois a sete casos em 100.000 crianças por ano, com prevalência de 16 casos por 100.000 crianças. Pode ser primária, também chamada de idiopática, ou secundária, quando ocasionada por outras doenças sistêmicas, uso de drogas, infecções e neoplasias.

    A maioria das crianças apresenta uma forma idiopática, com padrão histológico de doença por lesões mínimas, glomeruloesclerose segmentar e focal ou proliferação mesangial. Lesões mínimas sensível à corticoterapia é a forma mais comum, mas recidivas ocorrem em até 70% dos casos. A maioria dos casos de lesões mínimas ocorre antes dos cinco anos de idade. Crianças corticodependentes e corticoresistentes estão mais frequentemente relacionados aos outros tipos histológicos. A raça branca é mais responsiva à corticoterapia do que a raça negra (PERES; BERTOL, 2012, p. 6).

    De acordo com o Ministério da Saúde, o pico de apresentação da síndrome é aos 2 anos de idade e entre 70% a 80% dos casos ocorrem em crianças com menos de 6 anos (BRASIL, 2014).

    No mesmo sentido, Riyuzo et al (2006) afirmam que a maior parte das crianças nefróticas possui de 1 a 6 anos de idade, apresentando padrão histológico renal de lesões glomerulares mínimas e remissão da proteinúria após tratamento com corticosteróide, não sendo, nestes casos, realizada biópsia renal. Os autores ressaltam que no primeiro ano de vida, a síndrome não é comum, sendo síndrome nefrótica congênita quando surge proteinúria e sinais clínicos logo após o nascimento, até três meses de idade, e infantil entre quatro meses e um ano de idade.

    Em crianças, a forma mais comum da doença é por lesões mínimas (DLM), representando 80% dos casos e apresentando uma prevalência duas vezes maior em meninos, quase inexistência de hematúria macroscópica, perda seletiva de albumina, boa resposta a corticóides e excelente prognóstico renal, sendo muito rara sua progressão para insuficiência renal, com 80% dos pacientes evoluindo para remissão espontânea até o final da infância (PERES; BERTOL, 2012).

    De acordo com o Ministério da Saúde (2014, p. 2):

    Até 1940, a taxa de mortalidade de crianças com SN era cerca de 40%, principalmente devido à ocorrência de infecções, mas foi significativamente reduzida com a introdução do tratamento com glicocorticóides e antibióticos. O prognóstico a longo prazo tem melhor correlação com a resposta à terapia com corticosteróide do que com os achados histológicos. Os pacientes que respondem à terapia com glicocorticóide têm excelente prognóstico e raramente evoluem para insuficiência renal.

    Quanto às complicações da doença, na fase inicial podem ocorrer infecções, trombose venosa ou arterial e insuficiência renal aguda, além de hiperlipidemia, desnutrição, insuficiência renal crônica pela má evolução da glomerulonefrite, alteração de várias funções endócrinas e distúrbios hidroeletrolíticos, dentre outras (BRASIL, 2013).

    Para o diagnóstico de SNP em crianças e adolescentes, os seguintes critérios clínicos e laboratoriais devem ser observados: edema; proteinúria nefrótica – proteinúria acima de 50 mg/kg/dia ou acima de 40 mg/m2/h ou acima de 3,5 g/24 h/1,73 m2 ou índice proteinúria/creatininúria (IPC) acima de 2,0; hipoalbuminemia – albumina sérica abaixo de 2,5 g/dl; hiperlipidemia (colesterol total igual ou acima de 240 mg/dl ou triglicerídios igual ou acima 200 mg/dl (BRASIL, 2014).

    Realizado o diagnóstico de SN, o objetivo deve ser o tratamento adequado da doença e de suas possíveis complicações, além da interferência mínima nas atividades habituais, no estado nutricional, no crescimento e no desenvolvimento físico e emocional da criança (GROSSMAN et al., 2006).

    Existem diversos protocolos para o tratamento da SNP, entretanto, o mais utilizado é realizado com Prednisona oral, administrada diariamente por 4 a 6 semanas, sendo interrompida antes, em caso de remissão, mudando-se, a seguir, para dias alternados por mais 4 a 6 semanas. Em geral, 90% dos pacientes apresentam melhora da proteinúria após o tratamento, mas caso isso não ocorra, o paciente deve ser classificado como não responsivo aos corticóides, sendo aconselhável a biopsia renal (CARVALHO et al., 2003).

    Cerca de 50% dos pacientes que respondem bem à corticoterapia não desenvolvem nunca mais a doença ou raramente apresentam episódios que também respondem bem ao tratamento, com remissão permanente. O restante desenvolve recidivas frequentes, com intervalos inferiores a 6 meses, podendo tornarem-se dependentes de corticóides (CARVALHO et al., 2003).

2.3.     Sistematização da assistência de enfermagem à criança com Síndrome Nefrótica

    A partir da década de 1950, a enfermagem consolidou-se enquanto ciência através da construção de conhecimentos próprios, ocorrendo, especialmente a partir da década de 1970, o desenvolvimento de teorias que auxiliassem no estabelecimento da profissão. Neste contexto, surgiu o processo de enfermagem, representando um mecanismo de se aplicar na prática profissional os conhecimentos desenvolvidos (HERMIDA, 2004).

    A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma metodologia de trabalho de responsabilidade do enfermeiro que apresenta diversas nomenclaturas para sua denominação, dependendo do referencial adotado, da finalidade e da área a que se destina. Os termos contemporâneos mais utilizados são: Metodologia da Assistência e Sistematização da Assistência. Entretanto, também são mencionados: Processo de Enfermagem (PE), Processo de Cuidado, Metodologia do Cuidado, Processo de Assistir e Consulta de Enfermagem. A pluralidade de termos para designar a metodologia pode ter colaborado para dificultar a socialização do conhecimento e a apropriação desse método científico nos processos de trabalho da enfermagem (CRUZ; ALMEIDA, 2010, p. 922).

    A SAE deve ser executada obedecendo cinco fases, onde a primeira se refere à investigação, onde ocorre uma coleta sistematizada de dados dos pacientes e seus respectivos problemas; sendo seguida pelos diagnósticos de enfermagem, onde se busca identificar os problemas por meio da análise dos dados coletados; realizando-se então o planejamento, a fim de se determinar os resultados almejados, as metas e a identificação das intervenções necessárias; realizando-se então a implementação do plano de ação e, por fim, a avaliação, analisando o sucesso do plano e as possíveis mudanças que deverão ser tomadas. As diversas etapas são interligadas, envolvendo um julgamento crítico que direcionarão as ações da enfermagem (LIMA et al., 2006).

    Segundo Castilho et al. (2009, p. 281), o Conselho Federal de Enfermagem determina que a SAE deve ser uma prática em todas as instituições de saúde, constituindo-se em um processo de trabalho que atenda “às necessidades da comunidade e como modelo assistencial a ser aplicado em todas as áreas de assistência à saúde pelo enfermeiro”, por propiciar uma otimização na qualidade da assistência de enfermagem.

    O Conselho Federal de Enfermagem (COFEn), por meio da Resolução nº 358/2009, afirma que a SAE organiza o trabalho do profissional relativo ao método, pessoal e instrumentos, possibilitando a operacionalização do Processo de Enfermagem (PE), sendo um instrumento metodológico que norteia quanto aos cuidados a serem prestados pelos profissionais, possibilitando o registro da prática assistencial através da documentação nos prontuários dos pacientes (COSTA et al., 2010).

    A utilização da SAE pode trazer diversos benefícios, reduzindo a incidência e o tempo de internação hospitalar, pois proporciona agilidade no diagnóstico e tratamento dos problemas de saúde, criando um plano de eficiência na redução de custos e melhoria na comunicação entre a equipe profissional, além de prevenir erros e repetições desnecessárias, contribuindo para uma assistência mais qualificada (GROSSI et al., 2011).

    Para Pinho et al. (2011), uma barreira que vem se apresentando à execução e adesão da SAE é o desconhecimento dos profissionais sobre o processo de enfermagem, pois quando este é realizado sem o devido conhecimento, sua execução é realizada apenas para cumprir uma tarefa institucional, não existindo a consciência de sua importância na atuação profissional.

    A SAE ainda não está implantada na grande maioria das instituições de saúde, seja de forma total ou parcial, devido às diversas dificuldades para a sua implementação, dentre as quais podem ser citadas a falta de interesse do profissional, falta de conhecimento, carência de efetivo e dificuldade de aceitação da equipe multiprofissional, devido à descrença e rejeição às mudanças (REMIZOSKI et al., 2010).

    Neste sentido, cabe ao profissional de enfermagem buscar conhecimentos para reconhecer os sinais e sintomas da SNP, a fim de encaminhar a criança ao especialista em Nefrologia, bem como prestar uma assistência de qualidade.

3.     Materiais e métodos

    A pesquisa foi descritiva, desenvolvida pelo método qualitativo, com procedimentos bibliográficos e de levantamento utilizando livros e artigos científicos, sendo como instrumento aplicação de questionários para coleta de dados referentes ao tema proposto.

    Os sujeitos da pesquisa foram constituídos por 40 profissionais de enfermagem que atuam em unidades hospitalares da região Norte e Noroeste Fluminense. A coleta de dados foi realizada a partir de questionário semi-estruturado, entendido por Minayo (2007) como aquela que parte de certos questionamentos apoiados na teoria que interessa à pesquisa. Dessa forma, o pesquisado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto sem respostas prefixadas pelo pesquisador.

    Os resultados foram analisados estatisticamente, sendo comparados a outros estudos similares. A pesquisa foi realizada respeitando-se a aceitação ou não em participar da mesma e, em caso afirmativo, esta foi documentada por meio do preenchimento de um termo de consentimento assinado pelo profissional. Os dados individuais foram mantidos sob sigilo, somente disponíveis para o próprio participante.

4.     Resultados e discussão

    A pesquisa foi realizada durante o mês de maio, em uma amostra composta por 40 profissionais de enfermagem que atuam em unidades hospitalares. A primeira parte do questionário buscou delinear o perfil dos profissionais.

    Do total de entrevistados, 24 são do sexo feminino e 16 do sexo masculino, como se pode observar no gráfico abaixo.

Gráfico 1. Sexo dos entrevistados

    Foi possível observar que 60% da amostra é constituída por profissionais do sexo feminino, o que já vem sendo constatado por diferentes estudos, demonstrando que a enfermagem possui esta característica, pois desde o início da profissão, esta era desempenhada por mulheres. Segundo Elias e Navarro (2006), desde o surgimento da enfermagem, esta vem sendo exercida, em sua maioria, por mulheres, sendo considerado social e culturalmente um trabalho apropriado ao gênero feminino.

    Quanto à idade, 6 profissionais declaram possuir até 30 anos; 19 entre 31 e 40 anos; 9 entre 41 e 50 anos; e 6 possuem idade acima de 50 anos (Gráfico 2). A idade média dos profissionais foi de 38,3 anos.

Gráfico 2. Idade dos entrevistados

    No que se refere à escolaridade, 3 possuem curso de auxiliar de enfermagem completo; 19 concluíram o curso técnico de enfermagem; 3 possuem ensino superior incompleto; 9 concluíram o ensino superior; e 6 possuem pós-graduação (Gráfico 3).

Gráfico 3. Escolaridade

    Dos entrevistados, 6 atuam como auxiliares de enfermagem; 23 como técnicos de enfermagem; e 11 como enfermeiros (Gráfico 4).

Gráfico 4. Função que ocupa no hospital

    Ao se comparar a escolaridade com a função desempenhada, foi possível observar que, apesar de alguns poucos profissionais já terem concluído o curso de graduação em enfermagem, ainda se mantém na função de técnicos. No entanto, na maioria dos casos, a escolaridade está proporcional à função que os profissionais desempenham.

    Indagados sobre o setor onde atuam na instituição hospitalar, 21 afirmaram trabalhar em UTI Geral; 6 na Enfermaria; 2 no Centro Cirúrgico; 4 na Central de Materiais; e 7 no Pronto Socorro (Gráfico 5).

Gráfico 5. Setor onde o profissional atua

    De acordo com Collatto (2009), os profissionais que trabalham no centro cirúrgico e em UTIs necessitam tomar decisões rápidas e precisas, devido à freqüência de situações inesperadas que podem levar à morte do paciente, devendo, portanto, possuir conhecimento técnico atualizado sobre as doenças e intervenções necessárias.

    Em relação ao tempo de trabalho na função que ocupa atualmente, 4 entrevistados estão há menos de 5 anos; 14 entre e 5 e 10 anos; 13 entre 11 e 15 anos; 3 entre 16 e 20 anos; 1 entre 21 e 25 anos; 4 entre 26 e 30 anos; e 1 há mais de 30 anos. O tempo médio de trabalho da amostra foi de 13,2 anos (Gráfico 6).

Gráfico 6. Tempo de atuação na função

    Grande parte da amostra (66%) possui entre 5 e 15 anos de profissão, estando familiarizados com a função. Assim, torna-se contraditório que tão poucos conheçam a SNP, haja vista ser uma doença recorrente nas instituições hospitalares. No entanto, nenhum dos profissionais atua na ala pediátrica, o que pode, senão justificar, ao menos atenuar o desconhecimento sobre a doença.

    A segunda parte do questionário se voltou ao conhecimento e atitudes dos profissionais referentes à Síndrome Nefrótica Primária, sendo estes questionados se possuem conhecimento sobre a doença, onde 14 afirmaram que sim e 26 responderam negativamente (Gráfico 7).

Gráfico 7. Conhecimento sobre a Síndrome Nefrótica Primária

    Os profissionais que responderam afirmativamente a questão anterior informaram que adquiriram este conhecimento nos cursos técnicos, nas universidades, em livros, na Internet e no próprio local de trabalho, ao se depararem com casos da doença.

    Ao serem solicitados a definir a SNP, somente 2 dos 14 profissionais responderam corretamente, enquanto os demais afirmaram se tratar de infecção renal ou, de forma superficial, que se trata de uma doença que afeta crianças, demonstrando que mesmo aqueles que haviam afirmado conhecer a doença não possuem muito embasamento sobre a mesma.

    Tais dados são preocupantes, pois são os profissionais de enfermagem que, estando mais próximos ao paciente, desempenham papel importante na assistência, devendo estar atentos a possíveis sintomas e sinais da SNP, a fim de orientar sobre sua alimentação, ingestão hídrica e possíveis alterações no seu quadro clínico, além da importância em oferecer apoio emocional tanto à criança quanto à família.

    Ao serem solicitados a indicar sinais e sintomas que os fizessem suspeitar da síndrome, foram citados edema de face e membros, dor ao urinar, urina escura, náusea, icterícia, creatinina e ureia alteradas, diminuição do débito urinário, hiperlipidemia e hiperalbuminemia.

    Riella (2003) descreve como sintomas, anorexia, mal estar, pálpebras edemaciadas, retinas brilhantes, dor abdominal, perda de musculatura e edema, não sendo raros os casos onde se observa presença de anasarca com ascite e derrames pleurais não é rara (RIELLA, 2003). Não se constatou na literatura qualquer referência à urina de cor escura ou icterícia.

    Indagados sobre o procedimento a ser adotado em caso de suspeita de SNP, todos afirmaram encaminhar ao nefrologista ou ao médico plantonista.

    Questionados sobre a existência de alguma sistematização para a assistência de enfermagem no cuidado a pacientes portadores da SNF na unidade hospitalar onde atuam, apenas 2 profissionais responderam afirmativamente, informando que o protocolo utilizado se constitui em ofertar pouco liquido, manter o balanço hídrico e abster o paciente de dieta com sal.

    Segundo a literatura consultada, destacam-se os benefícios proporcionados pela implementação da SAE. No entanto, estes mesmos estudos vêm demonstrando as dificuldades existentes em sua operacionalização, onde ocorre uma dificuldade na divisão do tempo dos profissionais entre a sua elaboração e as atividades administrativas, sendo complicado administrar o tempo disponível para a realização das diversas tarefas que já possuem, com a qualidade exigida, em especial na realização da própria SAE, na prestação da assistência ao doente (GROSSI et al., 2011).

    Perguntados se consideram importante que os profissionais de enfermagem possuam conhecimentos sobre os cuidados de saúde primários aos pacientes com SNP, 34 entrevistados responderam afirmativamente e 6 responderam que não (Gráfico 8).

Gráfico 8. Importância do conhecimento da SNP pelos profissionais de enfermagem

    Dentre os que responderam afirmativamente à questão anterior, ao serem indagados sobre a forma como poderiam receber informações sobre a síndrome, estes ressaltaram a importância da formação continuada, palestras, simpósios, cursos específicos, sistematização da assistência de enfermagem, treinamentos e estudos periódicos com estudo de caso, além da inclusão do tema nos currículos dos cursos técnicos e de graduação.

    De acordo com estudo de Del’Ângelo et al. (2010, p. 760), existe uma clara necessidade de se capacitar e oferecer educação permanente ao enfermeiros, sendo necessárias estratégias que possibilitem a “visualização dos processos cognitivos (como o raciocínio diagnóstico) desenvolvidos pelo enfermeiro e uso de modelos de raciocínios hipotéticos (observações, softwares, simulação, jogos, estudos de casos e/ou situações-problema)”, a fim de reduzir tais dificuldades.

5.     Considerações finais

    Conforme dados apontados, o profissional de enfermagem deve estar preparado para oferecer uma assistência à criança com síndrome nefrótica, reconhecendo sintomas e tomando as medidas necessárias, além de oferecer apoio e orientações aos pacientes e familiares.

    Ao analisar os resultados obtidos junto aos profissionais de enfermagem, foi possível constatar que estes necessitam de mais conhecimentos sobre a doença, assim como se faz necessário que as instituições hospitalares passem a utilizar a sistematização da assistência de enfermagem em crianças com síndrome nefrótica, destacando a importância do profissional de enfermagem neste processo.

    A assistência de enfermagem deve ser realizada utilizando protocolos que tenham como meta a identificação e uniformização de condutas que possam minimizar o agravo, sendo necessário, para tanto, que os profissionais possuam conhecimento técnico sobre o tema, a fim de oferecer um melhor atendimento, pois o sucesso, tanto na detecção do problema quanto no tratamento, depende das habilidades e conhecimentos deste profissional.

    Neste sentido, a sistematização da assistência de enfermagem é uma importante aliada na prática do cuidado, trazendo benefícios ao paciente. No entanto, a implementação da sistematização da assistência de enfermagem, que propõe uma sistematização do cuidado, ainda não é uma realidade, sendo necessário que os profissionais sejam sensibilizados sobre sua importância e conheçam sua operacionalização.

    É possível afirmar que a sistematização da assistência de enfermagem constitui-se em um modo dinâmico e sistemático de prestação de cuidados de enfermagem, pois propicia um cuidado humanizado, voltado a resultados, com a otimização de custos, levando os profissionais de enfermagem a avaliarem constantemente sua prática, em busca de outras alternativas que possam se mostrar mais bem sucedidas para o paciente, tornando-se importante forma de gerenciar e organizar de forma dinâmica, segura e competente a assistência prestada.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires, Agosto de 2014  
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