Programa Segundo Tempo: determinantes da participação dos universitários da UFSM em atividades de esporte e lazer Programa Segundo Tiempo: determinantes de la participación de los universitarios de la UFSM en actividades de deporte y recreación |
|||
*Especialista em Educação Física Escolar e Mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação Física do CEFD/UFSM **Acadêmica do Curso de Educação Física – Licenciatura do CEFD/UFSM ***Acadêmico do Curso de Educação Física-Bacharelado do UFSM. CEFD/UFSM ****Especialista Educação Física Escolar e Acadêmica do Curso de Educação Física do CEFD/UFSM *****Mestre em Ciências do Movimento Humano Coordenadora Pedagógica PST Universitário/UFSM. CEFD/UFSM ******Orientador/Professor adjunto do CEFD/UFSM Coordenador Técnico administrativo do PST (Brasil) |
Daiane Dalla Nora* Lidiane Soares Bordinhão** Laís Cavalheiro* Leonardo Oliveira dos Santos Junior** Daiana Cristina Dickel*** Filipe Betin Capa*** Simone Neiva Milbradt**** Mônica Pozzebon***** Matheus Francisco Saldanha Filho****** |
|
|
Resumo O Programa Segundo Tempo Universitário da UFSM busca contribuir para a consolidação de uma política pública permanente de esporte e de lazer na universidade. O objetivo do PST é democratizar a prática esportiva e mobilizar a comunidade acadêmica, garantindo o direito de acesso ao esporte recreativo e de lazer de qualidade. A pesquisa teve como objetivo identificar os fatores determinantes da participação e permanência dos beneficiados no Programa, assim como as melhorias identificadas por eles. O estudo caracterizou-se como exploratório descritivo. Participaram de maneira não probabilística 92 estudantes (59,78 % masculino e 40,22% feminino), com idades entre 18 e 28 anos, participantes das atividades de Futsal feminino e masculino, Ginástica, Hidroginástica, Musculação, Natação, Tênis e Voleibol há mais de 6 meses. Para a coleta de dados, utilizou-se como instrumento o questionário. O estudo evidenciou que os beneficiados vislumbram no envolvimento em práticas de esporte e lazer alcançar um bem estar, com resultados observados nos âmbitos físicos, psicológicos e sociais. Unitermos: Políticas Públicas. PST. Esporte. Lazer.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com |
1 / 1
Introdução
A Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 217, garantiu o direito às práticas desportivas a todo cidadão, sendo o Estado responsável pela sua oferta. No entanto, segundo Liberato; Soares (2010) foi no ano de 2003 com a criação do Ministério do Esporte, que foram apontados resultados significativos para o desenvolvimento do esporte no âmbito nacional e, mais especificamente, a partir da I Conferência Nacional do Esporte, que ocorreu em 2004.
Segundo Padilha (2006), os espaços destinados à prática dos esportes e ao lazer, são precários e quase inexistentes, revelando a precariedade dos direitos afirmados. Em virtude deste fato, o Estado tem criado seus próprios programas direcionados à prática. Ao passo em que há a precariedade nos locais públicos, principalmente em locais de grande densidade populacional, são impostas improvisações para o atendimento, ficando a escola pública como facilitadora para esta demanda.
Levando em conta essa afirmativa, nos últimos anos, independente do esporte e do lazer se manifestar de diferentes formas e lugares e de ser amplamente estudado, o papel da instituição superior de ensino, as universidades, em relação à promoção e consolidação de ações planejadas ainda é muito recente. Por ser também uma instituição social, ela não está alheia aos valores da sociedade e nem aos seus órgãos mantenedores. Tendo dessa forma, a instituição, independente dos interesses alheios, o dever de deixar seu legado no sentido de legitimar um programa e suas metas a serem alcançadas (RIBEIRO e MARIN, 2012).
As políticas públicas que envolvem o esporte e lazer, no ensino superior são igualmente importantes quanto as que envolvem a política de assistência estudantil como a educação, moradia, alimentação e a saúde da comunidade acadêmica. Há que se ressaltar nesse espaço a importância do esporte e o lazer como um bem cultural, historicamente construído pela humanidade e, portanto, passível de ser legitimado como um direito de todos (BRASIL, 2009).
Ainda segundo Ribeiro e Marin (2012), o lazer é um meio de emancipação, que é vivenciado no tempo livre e exerce um papel de formação e educação humana. Levando em conta tal afirmativa, se pensa que os bens culturais e sociais do cidadão e o esporte e o lazer na universidade devem ter um papel importante na formação humana.
Nesta perspectiva, no ano de 2012, o Programa Segundo Tempo Universitário (PST) foi implantado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no sentido de contribuir para a consolidação de uma política pública permanente de esporte e de lazer. O objetivo do PST é democratizar a prática esportiva e mobilizar a comunidade acadêmica, garantindo o direito de acesso ao esporte recreativo e de lazer de qualidade na UFSM. Especificamente, tem finalidade de oferecer práticas esportivas educacionais, recreativas e de lazer de qualidade; mobilizar ações assistemáticas, buscando sensibilizar aqueles que não praticam atividades físicas regulares; contemplar atividades que propiciem a melhoria das capacidades e habilidades motoras, contribuindo na cultura de prevenção e promoção da saúde e qualidade de vida dos participantes; propiciar atividades co-participativas, nas quais a diversidade cultural, social e sexual seja respeitada e fortalecer as diretrizes do projeto pedagógico da UFSM, articulando ações transversais, no âmbito da política de assistência estudantil.
O PST Universitário tem como prioridade atender aos acadêmicos moradores da Casa do Estudante Universitário, que são oriundos de diferentes cidades do Rio Grande do Sul e até mesmo de outros estados, e buscam na Instituição a oportunidade de Formação de qualidade com garantia de Assistência Estudantil. Assim, o PST Universitário/UFSM se insere neste conjunto de políticas públicas, para proporcionar que os acadêmicos tenham acesso ao esporte e ao lazer de qualidade de maneira gratuita.
O PST/UFSM procura aumentar o número de praticantes de atividades esportivas educacionais, buscando uma melhoria no convívio e na integração social, bem como a melhoria da autoestima, das capacidades e habilidades motoras e das condições de saúde dos participantes. Destacando a importância da prática regular de atividades esportivas e de lazer ser reconhecida em nossa instituição, que os praticantes/beneficiados reconheçam esta prática como um direito e que os não- praticantes se conscientizem da importância deste hábito para de uma vida saudável, culminando na implementação do Programa enquanto uma Política de Assistência Estudantil.
Afora esse particular, e sabido que o envolvimento em práticas de esporte e lazer pode resultar em importantes benefícios, sejam eles físicos, psicológicos e sociais. De fato, autores como Ortiz, Isler e Darido (1999), Saba (2001), Lico; Darido (2001), Tahara; Schwartz e Silva (2003), Tahara (2003), Rojas (2003) entre outros, apontam que os principais determinantes para aderir e manter tal prática são: controle de peso, à obtenção de uma saúde melhor e à redução dos níveis de estresse, sendo que a interação social conforme salienta Wankel (1993, apud TAHARA, 2003) representa um dos principais determinantes na adesão e posterior manutenção dessa prática, sendo que as pessoas sentem mais prazer e atração pela atividade proposta quando os membros do grupo se identificam e se autoconhecem.
Aderência, de acordo com Barbanti (1994), refere-se à manutenção da participação num programa de exercícios independentemente se este é individual ou coletivo, previamente estruturado ou não.
De acordo com Saba (2001), os motivos que propiciam a aderência podem ser compartimentados em três grupos principais: fatores pessoais, ambientais e características do exercício físico. O autor classifica o prazer como sendo a primeira influência benéfica à manutenção da prática. Mesmo que o exercício não esteja levando à condição de bem-estar completo almejado pelo indivíduo, o autor acredita que o prazer encontrado em sua prática garante sua continuidade.
Tahara; Schwartz e Silva (2003) concordam que fatores psicológicos como prazer e divertimento são alguns dos motivos para a manutenção da prática da atividade física. Os autores afirmam que o significado que a atividade tem para cada participante, também é de extrema importância, pois está relacionado à obtenção dos objetivos que cada um tem em relação à atividade e ao sucesso em sua realização.
Nas últimas duas décadas, observa-se um grande aumento de parte da população praticante de algum tipo de exercício físico. Nota-se ainda que este índice de novos aderentes continua crescendo. Certamente, o conhecimento dos benefícios proporcionados pela realização do exercício, aliado a busca de uma manutenção ou melhora da saúde e a prática pela diversão em si, são motivos que tem contribuído para um aumento no número de pessoas que iniciam um programa de exercícios físicos (LICO; DARIDO, 2001).
Allsen, Harrison e Vance (1997, apud TAHARA, 2004) relatam a crescente aderência da população à prática de atividades físicas, seja em ginásios, clubes, campos e também em contato direto com a natureza, uma vez que está havendo uma crescente conscientização a respeito da importância da prática regular de exercícios, para o aprimoramento dos níveis físico, psicológico e social.
Segundo Lico; Darido (2001) algumas características podem contribuir com a manutenção da prática de exercícios físicos em longo prazo. São elas: Proporcionar momentos de sucesso e prazer, tornando a atividade o mais agradável possível; Proporcionar condições favoráveis ao desenvolvimento da amizade, através do trabalho em grupo; Procurar desenvolver atividades recreacionais alterando, na medida do possível, o local da prática; Variar sempre as atividades, enfatizando a criatividade durante o planejamento do programa, uma vez que as pessoas reclamam da elevada repetição das atividades; Proporcionar desafios adequados às habilidades motoras individuais. Isto poderá contribuir na percepção de autoeficácia, que tem se mostrado como um dos fatores mais importantes para a manutenção em longo prazo; Manter uma relação positiva entre professor-aluno e os próprios alunos; Procurar adequar as habilidades, conforme a homogeneidade do grupo. Incentivar a participação do cônjuge ou namorado/a na mesma atividade do praticante, já que as atividades realizadas em conjunto e incentivos mútuos tendem a contribuir para uma manutenção em longo prazo.
Em estudo realizado por Biddle (1992) ficou evidenciado que em relação aos adultos aderirem à prática de atividades físicas, os principais fatores são referentes ao divertimento, a sentir-se bem, ao controle de peso, à melhora da flexibilidade e redução dos níveis de estresse.
De forma semelhante aos demais autores já citados, Guarnieri (1997, apud TAHARA; SCHWARTZ; SILVA, 2003) enfoca que obter benefícios para a saúde, como sentir-se bem, controlar o peso, melhorar a aparência e reduzir o estresse, são os principais fatores que fazem com que determinado indivíduo adira a um programa de exercícios físicos regulares. As influências sociais da família e amigos são, também, de extrema importância à manutenção da atividade física, pois esse suporte social incentiva o praticante a manter o interesse em continuar fisicamente ativo.
Já, a falta de tempo e a jornada de trabalho – ou de estudos – são motivos frequentemente apontados em estudos científicos, como principais coibentes da adesão à prática de atividades físicas, entre indivíduos de diversas faixas etárias e categorias profissionais (CASTRO-CARVAJAL et al., 2008), incluindo praticantes regulares de atividades físicas (TAHARA; SCHWARTZ; SILVA, 2003).
É importante ressaltar que poucos estudos foram realizados no país no sentido de esclarecer quais são as variáveis que interferem no processo que leva os indivíduos a iniciar uma prática regular de atividade física, a se manter nesta prática, desistir da atividade, bem como, as razões que levam estes indivíduos a não iniciar a prática da atividade física (LICO; DARIDO, 2001).
Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo identificar os fatores determinantes da participação e permanência dos beneficiados no PST Universitário/UFSM, assim como as melhorias identificadas por eles.
O estudo caracterizou-se como exploratório descritivo. Participaram de maneira não probabilística 92 estudantes (59,78 % masculino e 40,22% feminino), com idades entre 18 e 28 anos, matriculados no ano letivo de 2012 na UFSM, RS e, participantes das atividades de Futsal feminino e masculino, Ginástica, Hidroginástica, Musculação, Natação, Tênis e Voleibol há mais de 6 meses. A coleta de dados foi realizada durante o mês de janeiro de 2013.
Para a coleta de dados, foram utilizadas três questões fechadas, onde duas delas (Quais os determinantes (motivos, razões) que levam você a participar das atividades propostas pelo PST Universitário/UFSM? E, quais os determinantes (motivos, razões) que levam você a se manter nas atividades propostas pelo PST Universitário/UFSM?) apresentavam-se mediante escala de pontuação Likert com valores entre 0 a 5, em que o valor mínimo representa “Não importante” e o valor máximo “Muito importante”, devendo ser assinaladas conforme o grau de importância.
Na terceira pergunta solicitava-se que o participante apontasse, dentre as melhorias apresentadas, quais delas melhor se aplicavam para si, após sua inclusão no PST Universitário. As três questões utilizadas compõem o instrumento de avaliação do grupo gestor do PST Universitário/UFSM, o mesmo foi aplicado no mês de janeiro do ano de 2013.
Os dados foram digitados em uma planilha do Microsoft Office Excel 2010 para triagens, manipulação e processamento dos dados e a representação dos resultados em gráficos e tabelas gerados a partir do mesmo aplicativo. Os quantitativos originados serão analisados de forma qualitativa.
Resultados e discussão
Quanto à elaboração de pesquisas que procuram compreender o complexo processo de aderência à atividade física e seus fatores determinantes, Okuma (2004) destaca que a maior parte destes estudos é originada dos países mais desenvolvidos, onde a preocupação com a qualidade de vida vem rapidamente ganhando espaço no que tange às questões político governamentais. Entre estes estão os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e alguns países da Europa.
E, de fato, poucas pesquisas foram encontradas sobre aderência e manutenção em relação a atividades de esporte e lazer – projetos sociais, esta discussão será feita baseada em estudos similares do objeto de estudo desta pesquisa.
Identificamos a partir da figura 1, os determinantes que levam os universitários a participarem do PST Universitário, acreditamos que estes fatores, quando classificados conforme o grau de importância, estão demonstrando os interesses e objetivos de cada indivíduo ao ingressarem em um Programa de esporte e lazer.
Figura 1. Demonstrativo dos “Determinantes que levam os indivíduos a aderir às atividades do PST Universitário”
Pode-se observar que as variáveis: “Praticar atividades físicas” e “Procurar bem estar geral” são fatores destacados pelos colaboradores, dentre as demais opções enquanto determinantes de adesão nas atividades do PST/UFSM. Acredita-se que este envolvimento em práticas de esporte e lazer acarretará um bem estar, com resultados observados nos âmbitos físicos, psicológicos e/ou sociais. A partir disso, podemos concordar com autores como Ortiz, Isler e Darido (1999), Saba (2001), (Lico; Darido, 2001), Tahara; Schwartz e Silva (2003), Tahara (2003), Rojas (2003) e afirmar que a interação social se apresenta como um dos principais determinantes na adesão e posterior manutenção nas atividades do PST, aonde os participantes se autoconhecem e se identificam, sentindo mais prazer pela atividade proposta. No que se refere a variável “Praticar atividades físicas”, podemos afirmar que grande interesse pelas atividades do PST envolve questões relacionadas à saúde, como controle corporal, condicionamento, nível de stress e outros.
Para melhor visualização do grau de importância dado a estas variáveis apresentamos o quadro 1, a seguir.
Quadro 1. Distribuição percentual do grau de importância atribuída aos objetivos relacionados a busca de atividades de esporte e lazer
O objetivo que leva as pessoas buscarem Programas de Esporte e Lazer é a procura por uma prática de atividade física (74%), seguido de bem estar geral (46%). Em estudo de Freitas e Tubino (2003), verificou-se que são diversos os motivos para o início das atividades esportivas, com destaque para a participação e convivência com outras pessoas (66%) e a melhora da saúde por opção própria (73%).
Estudo de Freitas e Tubino (2003) objetivou diagnosticar os principais fatores que determinam a aderência esportiva como lazer na atualidade. O grau de concordância evidenciou: participação (64%), convivência e interação (67%), identificação com a atividade praticada (67%), manutenção da saúde (77%) e qualidade de vida (80%). No caso deste estudo, foram apontados como importantes as variáveis fugir da rotina (46%) e participar de eventos (40%). Pode-se afirmar que a rotina acadêmica e a carga de trabalhos e afazeres justificam este resultado, ao contrário dos achados de (CASTRO-CARVAJAL et al., 2008), onde a jornada de trabalho – ou de estudos – são motivos frequentemente apontados como coibentes da adesão à prática de atividades físicas, entre indivíduos de diversas faixas etárias e categorias, os participantes buscam na prática de esporte e lazer o que Biddle (1992) evidenciou em seu estudo, fatores referentes ao divertimento, a sentir-se bem e redução dos níveis de estresse (apud MARINHO; GUGLIELMO, 1997).
Mais que preencher tempo livre, os sujeitos deste estudo buscam uma troca de experiência (%) e conhecer novas pessoas (%). Sem dúvida, há uma estreita relação entre a prática esportiva e a questão da saúde, mas, na busca de novas possibilidades para a sociedade, o esporte na perspectiva do lazer deve estar vinculado a novas estratégias de interação social, comunicação, cooperação e solidariedade no intuito de garantir melhora da qualidade de vida de modo mais amplo, ou seja, tem que necessariamente valorizar a cultura nacional, identificar, promover e divulgar as diversas formas de adaptação a natureza de convivência humana.
Sabendo os determinantes que motivam os acadêmicos a participarem das atividades do PST Universitário, busca-se identificar se estes mesmo objetivos os mantêm ativos no Programa, ou se outras categorias são levantadas, assim observa-se na figura 2.
Figura 2. Demonstrativo dos Determinantes que mantêm os indivíduos nas atividades do PST Universitário
Nota-se que os mesmos fatores relevantes permanecem: Praticar atividades físicas; Procurar bem estar geral, variáveis apontadas densamente como muito importantes, seguidos dos determinantes Fugir da rotina e Participar de eventos (citados como muito importantes e/ou importantes).
Conforme Weinberg; Gould (2001) o conhecimento sobre os benefícios do exercício para a saúde é um importante fator de aderência a sua prática. Mas, por outro lado, embora o conhecimento sobre tais benefícios tenha ligações com o aspecto motivacional, ele não é suficiente para predizer a aderência ao exercício. Com isso destacam os autores, a necessidade dos profissionais em Educação Física transmitirem amplamente os benefícios do exercício através de uma visão multidisciplinar, de maneira que, os aspectos psicológicos, fisiológicos, sociais e, sobretudo, educacionais (educação do e pelo movimento), possibilitem, talvez, a continuidade dessa prática.
As variáveis “Acompanhar amigos”, “Troca de experiências” e “Conhecer novas pessoas”, ilustradas no Quadro 2, nos mostram a importância das inter-relações pessoais para que as pessoas permaneçam em uma prática de atividade de esporte e lazer.
Quadro 2. Distribuição percentual do grau de importância das variáveis: "Acompanhar amigos”, “Troca de experiências” e “Conhecer novas pessoas
Guarnieri (1997, apud TAHARA; SCHWARTZ; SILVA, 2003) apresentam os benefícios para a saúde, como sentir-se bem, controlar o peso, melhorar a aparência e reduzir o estresse, enquanto principais fatores que fazem com que determinado indivíduo adira a um programa de exercícios físicos regulares. E, destacam que as influências sociais da família e amigos são de extrema importância à manutenção da atividade física, pois esse suporte social incentiva o praticante a manter o interesse em continuar fisicamente ativo.
As variáveis também confirmam algumas características citadas por Lico; Darido (2001) enquanto fortes contribuintes para a manutenção da prática de exercícios físicos em longo prazo. Destacamos: Proporcionar momentos de sucesso e prazer aos alunos, tornando a atividade o mais agradável possível; Proporcionar condições favoráveis ao desenvolvimento da amizade, através do trabalho em grupo; Procurar desenvolver atividades recreacionais alterando, na medida do possível, o local da prática; Variar sempre as atividades, enfatizando a criatividade durante o planejamento do programa, uma vez que as pessoas reclamam da elevada repetição das atividades; Manter uma relação positiva entre professor-aluno e os próprios alunos; Incentivar a participação do cônjuge ou namorado/a na mesma atividade do praticante, já que as atividades realizadas em conjunto e incentivos mútuos tendem a contribuir para uma manutenção em longo prazo.
Verifica-se que a busca por bem estar geral é a motivação para aderir em uma prática de esporte e lazer, e a percepção de melhorias, neste aspecto, podem determinar a manutenção nesta prática. Na tentativa de identificar se há melhorias após a inclusão no PST Universitário/UFSM lançamos aos colaboradores, que estão incluídos no Programa há seis meses, esta questão. As respostas partiram dos beneficiados e estão expostas na figura 3.
Figura 3. Demonstrativo das melhorias alcançadas pelos indivíduos após a inclusão no PST Universitário
Aspira-se com esta questão poder relacionar as intenções do programa PST Universitário/UFSM com as melhorias alcançadas/observadas pelos participantes das atividades. Assim, consta no planejamento inicial do Programa a intenção de alcançar os seguintes resultados: Melhoria no convívio e na integração social dos participantes; da auto-estima dos participantes, das capacidades e habilidades motoras dos participantes, das condições de saúde dos participantes, da qualificação de professores e estagiários de educação física, pedagogia ou esporte envolvidos e, aumento do número de praticantes de atividades esportivas educacionais, dentre outros.
Podemos observar que de fato os participantes afirmam ter ocasionado melhoria das condições de saúde (69%), das capacidades e habilidades motoras (60%), da autoestima (51%) e, no convívio e na integração social (45%). Ortiz, Isler e Darido (1999 apud, SOUZA 2007), afirmam que o significado que a atividade tem para cada participante é de extrema importância, pois está relacionado à obtenção dos objetivos que cada um tem em relação à atividade e ao sucesso em sua realização. Assim, Saba (2001) classifica o prazer como sendo a primeira influência benéfica à manutenção da prática. Mesmo que o exercício não esteja levando à condição de bem-estar completo almejado pelo indivíduo, o autor acredita que o prazer encontrado em sua prática garante sua continuidade e proporcione melhorias.
Considerações finais
A partir da compreensão dos principais fatores que determinam a aderência dos participantes do PST Universitário/UFSM, serão apresentadas algumas conclusões sobre este estudo.
Pode-se afirmar que os beneficiados vislumbram no envolvimento em práticas de esporte e lazer alcançar um bem estar, com resultados observados nos âmbitos físicos, psicológicos e/ou sociais. No que se refere ao âmbito físico, podemos afirmar que grande interesse pelas atividades do PST envolve questões relacionadas à saúde, como controle corporal, condicionamento, nível de stress e outros. Há uma estreita relação entre a prática esportiva e a questão da saúde, mas a interação social também se apresenta como importante determinante na adesão e posterior manutenção nas atividades do PST, os sujeitos buscam uma troca de experiência e conhecer novas pessoas. A rotina acadêmica e a carga de trabalhos e afazeres fazem com que os participantes encontrem na prática de esporte e lazer o divertimento, o sentir-se bem e consequentemente a redução dos níveis de estresse. A conexão entre bem estar físico, social e psicológico resulta no bem estar geral almejado pelos beneficiados do Programa.
O PST Universitário/UFSM, até o momento, tem alcançado os seus objetivos de possibilitar melhorias no convívio e na integração social dos participantes; da autoestima dos participantes, das capacidades e habilidades motoras dos participantes, das condições de saúde dos participantes, da qualificação de professores e estagiários de educação física, pedagogia ou esporte envolvidos e, aumento do número de praticantes de atividades esportivas educacionais. Pois os próprios beneficiados afirmam ter notado melhorias das condições de saúde, das capacidades e habilidades motoras, da autoestima e, no convívio e na integração social.
Não se deve esquecer que o esporte na perspectiva do lazer além de desenvolver os aspectos físicos tão importantes para a conquista e manutenção da saúde, contribui em outros aspectos, como na amizade iniciada quando do inicio às atividades do Programa, a familiaridade e os sentimentos, como a diminuição da ansiedade e da depressão, redução do isolamento social, já que muitos não residem originariamente nesta cidade.
As conclusões deste estudo limitam-se, possivelmente, a atual amostra e, apesar da sua pouca representatividade, subsidiará novos estudo a respeito do tema, além de novas intervenções relacionadas a atividades de esporte e lazer.
O que ficou implícito nesta pesquisa é que a preocupação principal com a qualidade de vida é vista como sinônimo de saúde biopsicosocial, concluindo-se que se devem apresentar novas atitudes e incentivos, por meio de políticas públicas, para usufruir do lazer enquanto um direito em toda sua potencialidade. No ensino superior tal iniciativa é igualmente importante quanto as que envolvem a política de assistência estudantil como a educação, moradia, alimentação e a saúde da comunidade acadêmica, visto que os bens culturais e sociais do cidadão, o esporte e o lazer devem ter um papel importante na formação humana.
Referências bibliográficas
BARBANTI, V. J. Dicionário de Educação Física e do Esporte. São Paulo: Editora Manole, 1994.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada em 5 de outubro de 1988: Brasília, 2006. Disponível em: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf. Acesso em 27 de dezembro de 2013.
______. Ministério da Educação. O Plano de Desenvolvimento da Educação: Razões, Princípios e Programas (PDE). Brasília. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/livrov4.pdf. Acesso em: 27 de dezembro de 2013.
CASTRO-CARVAJAL, J. A. et al . Aspectos Asociados a la Actividad Física en el Tiempo Libre en la Población Adulta de un Municipio Antioqueño. Revista Salud Pública, Bogotá, v. 10, n. 5, Nov. 2008.
FREITAS, A. M. de; TUBINO, M. J. G. Contribuições sobre causas de aderência as práticas esportivas na perspectiva do lazer no Rio de Janeiro. Fitness & Performance Journal, v.2, n.4., p.213-220, 2003.
LIBERATO, A.; SOARES, A. Políticas Públicas de Esporte e Lazer: novos olhares. Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2010.
LICO, F.; DARIDO, S. C. Aderência e atividade física: aproximações com a educação física escolar. In: Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, 12, 2001, Caxambu. Sociedade, ciência e ética: desafios para a educação física/ciências do esporte. Anais. Caxambu: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, 2001.
OKUMA, S. S. O idoso e a atividade física: fundamentos e pesquisa. Campinas: Papirus, 2004.
PADILHA, V. et al. Dialética do Lazer. São Paulo: Cortez, 2006.
RIBEIRO, G. M.; MARIN, E. C. Políticas de Esporte e Lazer nas Universidades Públicas Brasileiras. Anais. Disponível em http://www.ufpel.edu.br/enpos/2011/anais/pdf/CS/CS_00170.pdf. Acesso em: 27 de fevereiro de 2013.
ROJAS, P. N. C. Aderência a pratica de exercício físico em academias de ginástica da cidade de Curitiba- PR. Dissertação de mestrado do curso de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina, 2003.
SABA, F. K. F. Aderência à prática do exercício físico em academias. São Paulo: Manole, 2001.
SOARES, A. et. al. Diagnóstico do Esporte e Lazer na Região Norte Brasileira - o existente e o necessário. SOARES, A.; LIMA, P. C. de, SILVA, A. C. da; e CARDOSO, L. (orgs.). Manaus: EDUA, 2011.
SOUZA, B. C. Freqüência e aderência de indivíduos em programa de musculação. 2007. Trabalho de Conclusão. Curso de Educação Física. Centro Universitário Feevale, Novo Hamburgo, RS. Disponível em: http://ged.feevale.br/bibvirtual/Monografia/MonografiaBiancaSouza.pdf. Acesso em: 20 de novembro de 2013.
TAHARA, A.K.; SCHWARTZ, G. M.; SILVA, K.A. Aderência e manutenção da prática de exercícios em academias. Revista Brasileira Ciência e Mov. 2003; 11(4): 7-12.
TAHARA, A. K. A aderência às atividades físicas de aventura na natureza, no âmbito do lazer. Dissertação de Mestrado. Rio Claro/SP: UESP, 2004.
WEINBERG, R.S; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2ª Ed. 2001.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires,
Agosto de 2014 |