Lesões e óbitos relacionados ao trânsito: análise da mortalidade em um estado brasileiro Lesiones y óbitos relacionados con el tránsito: análisis de la mortandad en un estado brasileño |
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* Graduanda em Saúde Coletiva - Universidade Federal da Bahia ** Graduação em Saúde Coletiva - Universidade Federal da Bahia *** Enfermeira - Faculdade São Salvador. Graduação em Saúde Coletiva Mestranda em Saúde Comunitária - Universidade Federal da Bahia (Brasil) |
Camila Gomes de Souza Andrade** Amana Santana de Jesus* Alda Santana de Jesus** Daiane Nascimento de Castro*** |
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Resumo A mortalidade por lesões e óbitos relacionados ao trânsito configuram-se um grave problema de saúde pública no Brasil. O presente estudo objetiva descrever o comportamento da mortalidade relacionada ao trânsito no Estado da Bahia no período de 2000 a 2009. Os dados foram coletados no Sistema de Informação de Mortalidade no referido período e as variáveis e categoria de acidentes de trânsito foram selecionadas a partir da classificação determinada pelo CID-10. Os resultados revelaram que a taxa de mortalidade por acidentes de trânsito na Bahia, sofreu elevação dos coeficientes no período estudado, variando de 7,3 para 10 mortos em cada 100.000 habitantes. A análise por sexo demonstrou que os homens são as maiores vítimas dos acidentes, bem como os ocupantes de automóveis e pedestres. Faz-se necessário a realização de novos estudos, a avaliação sistemática da qualidade dos dados oferecidos pelos Sistemas de Informação e a aplicação de políticas, ações e estratégias para a redução dos indicadores. Unitermos: Acidentes de trânsito. Mortalidade. Brasil.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
As lesões e os óbitos relacionados ao trânsito (LORT) tornaram-se um grave problema de saúde pública no Brasil. Os reflexos dessa problemática atingem diversos seguimentos e causam impactos sociais, pessoal, econômicos, além de elevar os custos com a saúde (MALTA, 2008). De acordo com Reichenheim et al (2011), no ano de 2007, este agravo representou cerca de 30% de todos os óbitos por causas externas no país.
Estudos apontam que desde a década de 80, os óbitos e as lesões ligadas ao trânsito apresentava tendência ascendente, apesar de serem considerados eventos evitáveis e previsíveis (WHO, 2004; REICHENHEIM et al, 2011). Diversos fatores contribuem para a ocorrência deste agravo, tais como as condições inadequadas de conservação das estradas e das vias urbanas, o uso do álcool associado à direção, a falta de uso dos equipamentos de segurança (SOUZA, 2005; MS, 2009). Destaca-se ainda, sobre o aumento expressivo da frota de veículos, em especial das motocicletas nas últimas décadas derivado principalmente pelo crescimento da renda da população (NETO, 2012).
É importante lembrar que, adoção de medidas preventivas consistem em ações determinantes para evitar que graves acidentes possam ocorrer. Diante desses fatores de risco, a resolutividade do problema torna-se mais complexa exigindo ações intersetoriais e articuladas. Nos últimos anos, estudos mostram que não apenas a mortalidade é elevada, como também os sobreviventes que sofreram lesões acabam com seqüelas físicas e psicológicas significativas (MALTA, 2008).
Os sistemas de informação de mortalidade, configuram-se uma importante ferramenta para a identificação do panorama nacional, estadual e municipal sobre a ocorrência das lesões e óbitos relacionados ao trânsito, além de subsidiar o planejamento, gestão e direcionamento das ações em saúde.
Diante disto, o presente estudo objetiva descrever o comportamento da mortalidade relacionada ao trânsito no Estado da Bahia no período de 2000 a 2009 e fomentar a elaboração de medidas preventivas relacionadas a este problema de saúde pública.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo com base de dados secundários. A coleta de dados foi realizada no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) disponível no DATASUS, que é uma importante fonte de dados de morbi-mortalidade no Brasil, por aportar informações relevantes para as análises sobre o quadro sanitário do país. Foram selecionados dados referentes aos anos de 2000 a 2009 da Bahia para analisar o comportamento da mortalidade por acidentes de trânsito, do Estado da Bahia, situado na região do Nordeste.
Para isso selecionou-se a variável Acidentes de Transporte classificada pelo CID-10 e as seguintes categorias: pedestre traumatizado por acidente, ciclista traumatizado por acidente, motociclista traumatizado por acidente, ocupante de automóvel traumatizado por acidentes (carro de passeio). As categorias ocupante de veículo de transporte pesado traumatizado por acidentes e ocupante de ônibus traumatizado por acidentes também foram utilizadas e seus dados foram agrupados. As taxas de mortalidades por residência segundo as variáveis - sexo e faixa etária foram calculadas e posteriormente analisadas.
O estudo realiza uma comparação entre os anos buscando traçar uma série temporal e compreender o comportamento deste problema, que também se configura como de saúde, no intervalo de dez anos, no estado da Bahia, através de representações gráficas e descritivas.
Resultados
A partir da análise dos dados, observa-se que a taxa de mortalidade por acidentes de trânsito na Bahia, sofreu oscilações no período de 2000 a 2009 (figura 01). Ao comparar os anos de 2000 e 2009 notou-se que houve uma elevação dos coeficientes de mortalidade, variando de 7,3 para 10 mortos em cada 100.000 habitantes. Os anos de 2005 e 2007 obtiveram os maiores valores neste período, com taxas de 10,2 e 11,1 por 100.000 habitantes respectivamente.
Na estratificação pela variável sexo, observou-se que as taxas de mortalidade por acidentes de trânsito foi maior para o sexo masculino do que o feminino durante todos os anos estudados. A taxa de mortalidade para o sexo masculino oscilou durante todo período e mantiveram-se elevadas, variando entre 12,16 (no ano de 2000) e 16,58 (no ano de 2009) mortos em cada 100.000 habitantes.
Com relação ao sexo feminino, as taxas de mortalidades no geral mantiveram-se estáveis, com pequenas oscilações, variando entre 2,59 por 100.000 habitantes no ano 2000, e 3,42 por 100.000 habitantes no ano 2009. Em ambos os sexos os coeficientes de mortalidade sofreram elevação durante o período estudado.
Os ocupantes de automóvel formam a maior categoria de óbitos relacionados ao trânsito, havendo uma elevação durante o período analisado, onde no ano de 2000 a taxa era 4,1 por 100.000 habitantes e passou a ser 4,7 por 100.000 habitantes em 2009. Logo após, como segunda maior categoria, estão os pedestres, que em 2009 tiveram um coeficiente de 2,4 por 100.000 habitantes.
A menor categoria de óbitos relacionada ao trânsito foi a de ocupante de veículo pesado e ônibus cujo coeficiente de mortalidade variou entre 0,1 e 0,2 mortos em cada 100.000 habitantes. Os motociclistas foram a terceira maior categoria de óbitos, e durante o período estudado sua taxa de mortalidade dobrou de 0,7 por 100.000 habitantes em 2000 para 1,8 em 2009 por 100.000 habitantes (figura 03).
Em relação à variável faixa etária, altas taxas de mortalidades relacionadas ao trânsito foram encontradas entre adultos jovens e idosos, em todo o período estudado, de 20 a 29 anos até 80 anos e mais. No ano 2000 observou-se que a maior faixa de óbitos relacionados ao trânsito estava entre 50 a 59 anos, com o coeficiente de 11,2 por 100.000 habitantes. Em 2009 a faixa de 20 a 29 obteve um coeficiente de mortalidade de 15,2 por 100.000 habitantes, sendo a mais alta taxa deste ano (figura 04).
Quando comparada aos nove estados da região Nordeste, a Bahia, em 2000 se encontrava em 6º lugar com 7,3 óbitos por 100.000 habitantes, enquanto que em 2009 ocupava o último lugar com 10 óbitos por 100.000 habitantes, menor taxa de mortalidade do Nordeste. Durante o período houve a elevação da mortalidade no estado. Em relação ao Brasil, no ano 2000, o estado da Bahia estava em 21º lugar (Taxa de mortalidade igual a 7,3 por 100.000 hab.), maior taxa que o estado de São Paulo (24º lugar- 6,2 óbitos por 100.000 hab.). A Bahia mantém a mesma taxa em 2009, caindo para 23ª colocação entre os demais estados do país.
Discussão
Os achados deste boletim revelaram que os óbitos relacionados ao trânsito atingem, sobretudo, os homens jovens e adultos. Estes dados condizem com estudos realizados no âmbito nacional, que revelam uma diferença acentuada entre sexos e faixa etária, especialmente quando analisadas por categorias de vítimas (REICHENHEIM et al, 2011).
Na análise estratificada, observou-se que os ocupantes de automóveis formam a maior categoria de óbitos relacionados ao trânsito, seguido de ciclistas e pedestres. Este resultado diverge dos achados nacionais, que apontam para os pedestres, com idade igual ou maior que 60 anos, como maior categoria, seguido de ocupantes de automóveis e motociclistas.
Diversos autores vêm discutindo sobre o aumento das taxas de mortalidade nas diferentes categorias, uma vez que este pode ser assistido em vários estados brasileiros. Além disso, as explicações atribuídas a ocorrência deste fenômeno, são inúmeras. Entre os fatores de risco, pontuam-se fatores humanos, relacionados aos veículos, fatores viários, aspectos socioeconômicos e de mobilidade urbana (MALTA, 2011; WAISELFISZ, 2011; NETO, et al 2012).
Dentre os fatores humanos, alguns autores destacam o ato de dirigir sob o efeito de álcool, o estresse, fadiga e tonteiras. Já entre os fatores viários identificam-se os sinais de trânsito deficientes, a manutenção ruim das estradas, iluminação insuficiente ou inexistente, má conservação do capeamento falta de acostamento e inclinações, muros de contenção e curvas inadequados (REICHENHEIM et al, 2011; BACCHIERI E BARROS, 2011).
Outro achado interessante neste trabalho e que também difere de outros estudos são os resultados da categoria ciclista que apresentou um aumento exarcebado ao longo dos anos. Estudo realizado no Distrito Federal mostrou que a taxa de mortalidade envolvendo bicicletas mostrou-se em 3º lugar, atrás apenas de ocupantes de automóveis e motociclistas e que as taxas de mortalidade apresentaram redução no ano de 2010, com os menores valores desde 2000. Neste mesmo estudo, há uma caracterização dos acidentes envolvendo ciclistas com vitimas fatais, o qual relata que a maioria dos acidentes com morte ocorre em rodovias distritais e federais (DETRAN, DF, 2011).
Tal resultado preocupante encontrado, diz respeito a taxa de mortalidade entre motociclistas, que quase triplicou em 2005, permanecendo com 1,8 por 100.000/hab. em 2009. Este evento também vem sido amplamente discutido e outros autores corroboram estes achados. Alguns autores discorrem sobre este evento e apontam o aumento da frota de motocicletas como fator determinante para elevação das taxas de mortalidade. No cenário atual, o aumento de número de motocicletas é decorrente da grande facilidade de adquiri-las, pela baixa fiscalização por parte de órgão competentes dos Departamentos de Trânsito, além da maior agilidade e mobilidade conferida por este meio de condução (REICHENHEIM et al, 2011).
No que se refere às taxas de mortalidade por acidentes de trânsito na Bahia, os resultados encontram-se abaixo da média nacional. Enquanto no ano de 2007, (período que o Estado apresentou a maior taxa ao longo dos anos estudados) a taxa calculada foi de 11,1 por 100.000 hab., no Brasil a taxa de mortalidade foi de 25,2 por 100.000/hab. Quando comparado a Região Nordeste, a Bahia a partir de 2002 sempre apresentou uma das taxas mais baixas de mortalidade da região.
Considerações finais
O estudo identificou um aumento nos coeficientes de mortalidade por acidentes de trânsito na década estudada, bem como diferenças significativas na análise estratificada por sexo e por tipos de vitimas. É imprescindível a ampliação das ações voltadas para
Há uma escassez de estudos na literatura que abordem a temática no Estado da Bahia nos anos avaliados, trazendo limitações para comparações na discussão. O presente artigo, não objetivou realizar uma análise sobre morbidade, nem a caracterização mais detalhada do perfil dos acidentes de trânsito, contudo os achados sugerem a realização de uma investigação mais minuciosa, principalmente para identificar fatores de riscos relacionadas a LORT.
Além disso, faz-se necessário avaliar a qualidade dos dados oferecidos pelos Sistemas de Informação, bem como sua fidedignidade e processos de alimentação, que podem interferir nos resultados deste trabalho.
Referências
BACHERI. G, BARROS. AJD. Acidentes de trânsito no Brasil de 1998 a 2010: muitas mudanças e poucos resultados. Rev. Saúde Pública 2011;45(5):949-63.
DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO, Distrito Federal (DETRAN-DF). Acidentes de trânsito envolvendo bicicletas, 2010. Disponível em: http://viasseguras.com/os_acidentes/acidentes_com_ciclistas/estatisticas_de_acidentes_envolvendo_bicicletas. Acesso em 27 Set. de 2012.
MALTA, D.C. et al. Análise das ocorrências das lesões no trânsito e fatores relacionados segundo resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Brasil, 2008. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2011, vol.16, n.9, pp. 3679-3687. ISSN 1413-8123.
MELLO, J; LATORRE, M.R.D.O. Acidentes de trânsito no Brasil: dados e tendências. Cad. Saúde Pública. 1994, vol.10, suppl.1, pp. S19-S44. ISSN 0102-311X.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Saúde Brasil 2009: uma análise de situação de saúde e da agenda nacional e internacional de prioridades em saúde. Brasília: Ministério da Saúde. 2010.
NETO, OLM et al. Mortalidade por Acidentes de Transporte Terrestre no Brasil na última década: tendência e aglomerados de risco. Rev. Ciência & Saúde Coletiva, 17(9):2223-2236, 2012.
REICHENHEIM, ME et al. Saúde no Brasil 5: Violência e lesões no Brasil: efeitos, avanços alcançados e desafios futuros Rev. The Lancet. 2011. Disponível em http://download.thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/brazil/brazilpor5.pdf. Acesso em 22 de fevereiro de 2014.
SOUZA ER, MYNAIO, MC, MALAQUIAS, JC: Violência no Trânsito: expressão da violência social. In: Ministério da Saúde: Impacto da Violência na saúde dos Brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde; 2005, p. 279-312
WAISELFISZ, JJ. Mapa da Violência 2011. Os Jovens do Brasil, 2011.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). World report on road traffic injury prevention. Geneva: World Health Organization; 2004.
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