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Educação Física no ensino médio: o trabalho com o 

conteúdo jogo no campo de estágio supervisionado

La Educación Física en la escuela media: el trabajo con el contenido juego en el ámbito de la pasantía supervisada

 

Graduandos em Educação Física

UERN - CAMEAM
(Brasil)


Ehrika Shirley Jocas

kinhakarate@hotmail.com

Francisco Leosvaldo Arlindo Júnior

leosvaldojunior@yahoo.com.br


 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo consiste em um relato de experiência pedagógica a partir do estágio supervisionado na Educação Física escolar, contemplando o ensino médio, com o intuito de possibilitar a prática de jogos visando à formação e o desenvolvimento integral do aluno desencadeando um pensamento crítico e reflexivo. Para tanto, utilizamos como perspectiva metodológica a cultura corporal de movimento, onde trabalhamos com o jogo enquanto conteúdo nas dimensões cooperativa e competitiva.

          Unitermos: Educação Física escolar. Jogos cooperativos. Jogos competitivos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    No Ensino Médio, podemos dizer que boa parte dos alunos utiliza formas mais complexas de pensamento, o que possibilita uma ampliação de suas características abstratas e relacionais. Isso decorre do fato de serem impulsionados pelas rápidas transformações em seu cotidiano, considerando-se os avanços tecnológicos e as diferentes formas de comunicação e informação.

    Dentro desta perspectiva a Educação Física, enquanto disciplina curricular integrante da Escola tem uma colaboração bastante efetiva na construção do ser humano em desenvolvimento. O aluno do Ensino Médio necessita de uma formação personalizada própria, para uma participação mais ativa na sociedade em que convive. E para o alcance deste patamar se faz necessário de uma Educação Física de qualidade que possa através de seus conteúdos colaborar para este aspecto.

    Nesta perspectiva Brasil (2006), considera que a Educação Física no ensino médio tem por finalidade principal introduzir e integrar o aluno no universo da cultura corporal, para sua formação enquanto sujeito cidadão que vai produzir, reproduzir e também transformar essa cultura. Neste ponto de vista, o aluno deverá ter o instrumental necessário para usufruir de jogos, esportes, danças, lutas e ginásticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida.

    Corroborante com este pensamento Kunz (1994) nos fala que:

    O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para sua vida social, cultural e esportiva, o que significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida através da reflexão crítica (KUNZ, 1994, p.31).

    No entanto, o que percebemos ainda com base na fase de observação do estágio supervisionado I e através dos relatos de outros discentes que também participaram deste processo, é a certa desvalorização ainda da Educação Física no ensino médio, onde encontramos casos de má estrutura, que fazem com que muitas vezes acabe ocorrendo à predominância do ensino voltado principalmente ao esporte.

    O jogo enquanto conteúdo pedagógico da Educação Física escolar e objeto de estudo deste trabalho, assim como os outros demais conteúdos, de certa forma acaba sendo trabalhado de forma comprometedora, o que desestimula a participação dos alunos, surge o desagrado da disciplina, a falta de sentido e entre outros fatores.

    Nesta perspectiva sabemos que o jogo enquanto conteúdo pode ofertar no mínimo ao aluno à capacidade de se perceber e se posicionar na sociedade, identificando através do movimento seus limites. Fatores como estes poderá ajudá-lo na construção da sua personalidade, a entender a importância das regras, o convívio em sociedade, lidar com problemas relacionados à adolescência, na qual muitas vezes herdamos da nossa própria cultura.

    Sendo assim agora na fase de estagio supervisionado IV, colocamos em prática a nossa proposta pedagógica voltada ao ensino do conteúdo jogo que tem como objetivo possibilitar a prática de jogos visando à formação e o desenvolvimento integral do aluno desencadeando um pensamento crítico e reflexivo.

    Para tanto empregamos o ensino do jogo na perspectiva da cultura corporal de movimento, sendo que nosso campo de atuação foi o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), campus Pau dos Ferros/RN.

O jogo e a Cultura Corporal de Movimento

    Para Brasil (1998) a Educação Física escolar em uma perspectiva atual tem-se como objeto de estudo a cultura corporal de movimento que pode ser definida como toda forma de manifestação da referida cultura, ou seja, um conjunto de práticas corporais voltados para os jogos, esportes, ginástica, lutas, atividades rítmicas e expressivas e entre outros.

    Os autores salientam que a Educação Física uma vez composta por todos estes elementos possui como finalidade principal contribuir na formação do aluno enquanto sujeito cidadão, que seja capaz de compreender e vivenciar de forma critica a cultura corporal de movimento em prol de uma melhor qualidade de vida.

    Nesta perspectiva os jogos enquanto elemento da Educação Física é definido por Huizinga (2010) onde nos fala que, são atividades de caráter voluntário que obedece necessariamente a regras, limites de tempo e espaço, sendo exterior a vida real capaz de absorver de forma intensa o participante e ainda fortalece na formação de grupos sociais.

    O mesmo autor considera o jogo como um elemento forte aliado a cultura, uma vez que é o elemento mais natural e inato de nos seres humanos, que nos acompanha ao longo de todo nosso processo de vida em desenvolvimento independente das mais diversas civilizações.

    Tais considerações foram de grande importância para o seu reconhecimento enquanto ferramenta importante no processo educacional que estar mais devidamente presente no período infantil ate a fase adolescente do individuo.

    Nesta perspectiva Murcia (2005), afirma que o jogo ao longo dos anos se tornou um dos conteúdos mais universais vinculado ao currículo da Educação Física escolar, onde nos professores devemos ter conhecimento do seu real valor educativo uma vez que contribui de forma significativa na formação e desenvolvimento do aluno.

    Este pensamento fez com que o jogo se tornasse objeto de estudo de muitas áreas de conhecimento e conseqüentemente alvo de estudo vários estudiosos (Piaget, Vygotski, Chateau, Huizinga), sendo que a partir destas pesquisas muitas delas chegaram à conclusão que o jogo possui varias classificações como: jogo de exercício, de regras, de símbolo, tradicionais, cooperativos, competitivos, de construção e entre outros.

    A partir destas classificações optamos por trabalhar em nosso campo de estágio jogos que visam o caráter cooperativo e competitivo, onde buscaremos elencar conceitos, características, valores e aprendizagens de movimento que possam contribuir para a formação do aluno de forma critica e autônoma enquanto sujeito cidadão.

Jogos Cooperativos

    A origem dos jogos cooperativos ressalta a um passado distante, decorrente de membros das tribos que se reuniam, através de jogos de maneira cooperativa para marcar a vida em comunidade (MOREIRA, 2006).

    O mesmo autor relata que após o seu percurso de desenvolvimento o estudo dos jogos cooperativos, suas características e conceitos permitirá uma compreensão sobre o mesmo e seu papel na Educação Física escolar. Na sociedade de hoje em dia, torna-se difícil viver de uma forma isolada, pois conviver em sociedade é uma vitória vivenciada por meio da cooperação.

    Segundo Orlick (1978) apud Moreira (2006, p. 108) caracteriza os jogos cooperativos como:

    jogos nos quais todos os participantes cooperam, vencem e nenhum deles perde, sendo uma alternativa aos jogos competitivos. Certamente essa afirmação parece estranha e impossível perante aqueles que entendem o ato de jogar e um sinônimo de competição. Este senso comum estar fortemente enraizado em nossa cultura ocidental, e superá-lo e um grande desafio.

    Os jogos cooperativos proporcionam a vivencia de experiências nas quais a união e os desafios, demostram um conceito de vida em sociedade (Moreira, 2006). Neste sentido Orlick (1978) apud Moreira (2006) os jogos cooperativos caracteriza-se pela cooperação, aceitação, envolvimento, e divertimento. O mesmo autor, explica que a cooperação estar relacionada à comunicação, interação social e o trabalho de equipe. A aceitação estar voltada ao alto-estima. O envolvimento está relacionado com permanecer em grupo e o trabalho do mesmo. O divertimento está voltado ao divertir e a vivência do lúdico.

    Darido (2008) salienta ainda que nos jogos cooperativos os objetivos de todos se dá de forma única, não ha rivalidade, nem necessidade de uma aproximação brusca.

    Nesta mesma linha de pensamento Brown (1994) apud Moreira (2006, p. 109) apresenta ainda outras características que são de inteira importância tais como:

    há participação de todos na busca de uma meta comum, eliminando-se a preocupação com a vitória ou derrota; ocorre a inclusão de todos, ao invés da exclusão usualmente vista em jogos competitivos; há liberdade para criar e construir, pois as regras são flexíveis e o jogo pode ser modificado em função das necessidades dos participantes, desviando o centro das atenções do produto (resultado) para o processo; busca eliminar as estruturas típicas do confronto, que muitas vezes leva a agressão possibilitando a violência de relações respeitosas.

Jogos Competitivos

    Pelo fato dos jogos cooperativos apresentarem características como jogar contra o outro, estudiosos como Brotto (1995) e Cortez (1996), considerarem os jogos competitivos uma má proposta para o processo educativo da Educação Física escolar. Claro que existem outros que são a favor da competição desde que se tomem os devidos “cuidados”.

    Nesta perspectiva Moreira (2006), nos fala que com relação à interação social a competição e a cooperação não são rivais, pelo contrário, elas se complementam por apresentarem um intercambio de características semelhantes.

    Corroborante com este pensamento Orlick (1989) apud Moreira (2006, p. 110) nos fala que:

    os mesmos podem gerar relações cujas características sejam humanizadoras e desumanizadoras. [...] humanizadoras refletem qualidades como bondade, consideração, compaixão, compreensão, amizade e entre outros. [...] Desumanizadoras expressam brutalidade, desconsideração com o próximo e seu sofrimento, crueldade, desrespeito, com os valores humanos, etc.

    Desse modo Moreira (2006) aconselha-nos em enquanto profissionais que a competição e a cooperação sejam vistos como aspectos positivos, facilitadores e aliados para o processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim devemos esquecer-nos de tais pensamentos que a competição e a cooperatividade podem trazer construções ou desconstrução com relação às ações humanizadoras e desumanizadoras.

    Seguindo esta mesma perspectiva Orlick (1989) apud Moreira (2006, pag.110) reforça ainda mais o pensamento acima quando nos diz que: um comportamento pode apresentar meios cooperativos, mas fins destrutivos, não sendo humanizador. E o outro comportamento pode apresentar meios competitivos, mas fins direcionados a melhoria dos sujeitos em disputa, sendo humanizador.

    Nesta perspectiva Darido (2008, p. 168) nos lembra de que o papel do professor é mediar esses conflitos, no sentido de que eles sejam resolvidos por meio do dialogo, do respeito mútuo, e não da agressão moral ou física são estas atitudes que as atividades presentes nas aulas devem buscar.

Resultados e discussões

    Para trabalharmos com o conteúdo jogo enquanto cultura corporal de movimento seguimos a perspectiva das três dimensões de conteúdos. O conceitual, o procedimental e o atitudinal.

    Com relação à dimensão conceitual Sanches Neto (2007), ressalta que devemos levar em consideração três princípios básicos para a prática de jogos. A definição dos temas, características e classificações.

    Nas definições os alunos devem adquirir conhecimento sobre as principais características. Os objetivos estar direcionado ao propósito e a possibilidades de intervenção a cerca da realidade em que o aluno estar inserido. Já com as classificações deve ser estabelecidos os demais tipos de jogos.

    Com relação à dimensão procedimental Darido (2011, p. 163) “podem ser reproduzidas, transformadas ou modificadas todas as formas de jogos conhecidas, bem como ser realizadas pesquisas com pessoas da comunidade sobre as diferenças, formas de se jogar o mesmo jogo”.

    Ainda nesta mesma dimensão, Sanches Neto (2007) destaca que, pode ser trabalhadas as demais habilidades motoras, onde os alunos podem muito bem aprimorar movimentos que desejem desenvolver.

    Na dimensão atitudinal Darido (2011, p. 163), ligados a “valores normas e atitudes, podem ser vivenciadas e discutidas, entre outras: a cooperação, a solidariedade, a inclusão, a relação de gênero, a ética, a pluralidade cultural e a resolução de conflitos”.

    “A respeito da dimensão atitudinal, os alunos devem saber como brincar e como jogar no compartilhamento de valores, hábitos e condutas consensuais” (SANCHES NETO, 2007, p. 114). Dentro dessa mesma perspectiva a dimensão atitudinal se manifesta no jogo a partir das regras e do envolvimento participativo dos alunos ocorrendo assim um significado e compreensão pessoal de cada um dos alunos. Torna-se importante saber identificar as particularidades para melhor participação, reconhecer regras, para coordenar sua própria conduta e jogar respeitando as condições expostas (SANCHES NETO, 2007).

    Baseado nesses pressupostos em uma perspectiva conceitual trabalhamos em aula com os aspectos históricos dos jogos, falamos sobre suas principais características, as que diferem e as que se aproximam dos esportes, classificação e também sobre sua definição.

    Para uma melhor compreensão vivenciamos vários tipos de jogos em aulas de caráter prático, para que assim pudéssemos ofertar uma melhor aprendizagem das características e definições do próprio jogo.

    Ainda nessa mesma perspectiva trabalhamos com as demais classificações dos jogos dentre elas os jogos cooperativos e competitivos, onde discutimos sobre suas principais características, nas relações que as diferem e que se aproximam.

    Na perspectiva procedimental vários jogos foram aprendidos procurando a participação e envolvimento da turma dando oportunidade para que os mesmos se posicionar-se e desenvolver-se outros jogos a partir de outras variações. Dessa forma outras potencialidades de movimento foram surgindo a partir da criatividade de criar.

    Na dimensão atitudinal discutimos em aula sobre algumas das principais finalidades dos jogos direcionados a prática de valores e condutas como: cooperação, respeito, criatividade, interação a honestidade e entre outros.

    Destacamos que quando jogamos muitas dessas ações vão ocorrendo de forma simultânea. Sendo assim, houve a preocupação de despertar o pensamento critico do aluno sobre em quais momentos essas ações poderiam ser identificadas e de que forma poderíamos relacioná-las em nossa vida social.

    Outro ponto importante que procuramos dar ênfase em nossas aulas foi o fator da competitividade e cooperatividade. Neste sentido, repassamos para os alunos como competir e cooperar de forma “saudável” enquanto jogamos dentro das condutas humanizadoras e o que não fazer para não entrarmos nas condutas desumanizadoras apresentadas por Orlick (1989).

    Fortalecendo a idéia anterior Darido (2008), nos fala que a competição não pode ser compreendida apenas com elemento negativo. Ela pode ser bem administrada, discutida e contextualizada pelo professor.

Considerações finais

    Ao longo do processo de construção deste estudo vimos no jogo um conteúdo forte e importante para se trabalhar no ensino médio, uma vez que pode contribuir de forma significativa na formação e desenvolvimento do aluno enquanto sujeito em prol da cidadania.

    Vimos também que a prática de jogos, uma vez trabalhados nas três dimensões de conteúdos de forma simultânea surte um efeito mais eficaz na aprendizagem do aluno.

    De todo modo destacamos que a prática de jogos cooperativos e competitivos causou um impacto direto na aprendizagem critica e reflexiva dos alunos, haja vista que ficou de forma explicita a compreensão das condutas humanizadoras e desumanizadoras.

    A Educação Física enquanto disciplina curricular da escola pode contribuir de forma mais efetiva na integralização do aluno contribuindo assim para a construção de sua personalidade.

Referências bibliográficas

  • BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2006.

  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. 2. Brasília: MEC/SEF, 1998.

  • DARIDO, Suraya Cristina, RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação Física na escola: implicações para uma prática pedagógica. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2008.

  • DARIDO, Suraya Cristina, RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação Física na escola: implicações para uma prática pedagógica. 2. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2011.

  • HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.

  • KUNZ, Elenor. Transformação didática pedagógico do esporte. Rio Grande do Sul: Unijuí, 1994.

  • MOREIRA, Evandro Carlos. Educação Física escolar: propostas e desafios II. São Paulo: Fontoura Editora, 2006.

  • SCARPATO, Marta (org.). Educação Física – como planejar as aulas na educação básica. In: SANCHES NETO, Luís. A brincadeira e o jogo no contexto da Educação Física na escola. São Paulo: Avercamp, 2007.

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