Reflexões acerca da formação e competências do gestor esportivo Reflexiones acerca de la formación de competencias del gestor deportivo Reflections on the training and competence manager sports |
|||
*Graduada em Educação Física – Centro Universitário Cesumar (UNICESUMAR) ** Graduado em Educação Física e fisioterapia. Mestre em Promoção da Saúde – Centro Universitário Cesumar (UNICESUMAR) *** Graduado em Educação física. Mestre em Ciências da Saúde Centro Universitário Cesumar (UNICESUMAR) |
Katiely Molina Calicckio* Daniel Vicentini de Oliveira** Humberto Garcia de Oliveira*** (Brasil) |
|
|
Resumo O artigo tem como objetivo analisar acerca da formação e competências do gestor esportivo e entender a sua atuação no mercado de trabalho. Para essa finalidade, utilizamos como metodologia a revisão bibliográfica realizada por meio de pesquisas em livros (1985 a 2010) e artigos (1993 a 2008). Constata–se que com o aumento da realização de eventos esportivos, a procura por gestores especializados também obteve crescimento, o que torna imprescindível aos profissionais de educação física procurarem uma formação cada vez mais especializada na área de gestão esportiva, com vistas a ingressar nesse mercado de trabalho tão promissor que desponta em nosso país. Os cursos de graduação e especialização dão a base inicial que é necessária a esses profissionais. Concluímos que tão importantes quantas as competências acadêmicas, são as competências adquiridas no ambiente de trabalho e convívio social. Partindo desta premissa, exploramos as principais competências de um gestor, embasados nas ferramentas teóricas sobre a gestão e também nos processos administrativos. Unitermos: Gestor Esportivo. Competências. Formação. Educação Física.
Abstract The article aims to analyze about the training and skills of the manager sports and understand their role in the labor market. For this purpose, we used the methodology literature review through research in books (1985-2010) and articles (1993-2008). It appears that with increasing realization of sporting events, the demand for specialized managers also achieved growth, which makes it essential to physical education professionals seek training increasingly specialized in the field of sports management, with a view to entering this market work so promising that emerges in our country. The undergraduate and expertise give the initial basis which is necessary for these professionals. We conclude that so many important academic skills are the skills acquired in the workplace and social life. On this assumption, we explore the key skills of a manager, based on theoretical tools for the management and also in administrative processes. Keywords: Sports Manager. Skill. Training. Physical Education.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com |
1 / 1
1. Introdução
Desde a antiguidade que o planejamento, a organização e a necessidade de gerir organizações se faz necessária para a realização de eventos de sucesso e para o bom desenvolvimento institucional. Foi a partir do século XIX que a gestão se tornou mais complexa e evoluiu (OLIVEIRA, 2008).
No entanto, a Gestão Esportiva surgiu para sistematizar a forma de organizar e administrar um evento esportivo e/ou uma unidade esportiva. A utilização desta sistematização do modelo de gestão vem tornando-se um fator importante para o bom desenvolvimento do esporte e dos eventos esportivos em geral (NOLASCO, 2005).
A administração é fundamental para avançar de um modo geral no esporte, e pode ser definida como uma tarefa que possibilita alcançar os objetivos propostos com maior eficiência, ou seja, com menor dificuldade e maior rapidez. (CAPINUSSÚ, 1992)
Desta forma para organizar e administrar eventos esportivos, é necessário que existam profissionais capacitados para desenvolver as ações necessárias, sendo estes, indispensáveis para alcançar tal meta. A organização é a alma para uma boa impressão a aqueles que participam de eventos esportivos: dirigentes, técnicos, atletas, coordenadores, presidentes, etc. (REZENDE, 2000)
Neste ponto, para compreender melhor, Poit (2006) conceitua administração como uma forma harmoniosa entre os processos: planejamento, organização, liderança e controle, que vão ordenadamente ao encontro dos objetivos propostos.
A fim de atender aos objetivos propostos neste trabalho, foi realizada uma de revisão bibliográfica, que segundo Martins Junior (2010) caracteriza como sendo estudo bibliográfico, quando este é elaborado por meio de material já publicado. Esta pesquisa foi constituída principalmente de livros (1996 a 2010), artigos de periódicos (2004 a 2008), documentos mimeografados ou fotocopiados, manuscritos e atualmente com material disponibilizado na internet referente a trabalhos que indiquem a área de gestão esportiva. A inclusão de dados de monografias, dissertações e teses fizeram-se necessária posto que forneceram elementos importantes para a pesquisa. Todo material estudo foi submetido a uma separação, a partir da qual foi possível estabelecer um plano de leitura. Foi feita uma leitura atenta e sistemática que se fez acompanhar de anotações conhecendo as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre este tema. Os descritores utilizados na busca foram: Gestor Esportivo, competências, formação e Educação Física.
Partindo então dessa premissa, esse trabalho tem como objetivo analisar acerca da formação e competências do Gestor Esportivo e entender a sua atuação no mercado de trabalho.
2. Revisão de literatura
2.1. Funções do profissional de Educação Física
Para Bastos (2004) as possíveis áreas de atuação do profissional de Educação Física e Esporte como administrador esportivo possuem seis segmentos: Negócios de Esportes, Lazer e Recreação são organizações ou empresas com alguma finalidade econômica, de gestão privada que se divide em categorias conforme sua afinidade ou relação com a atividade esportiva. Entre elas destaca-se as academias esportivas, Escolas de Iniciação Esportiva, investidores em esporte como meio de agenciamento de sua atividade principal, marketing esportivo, assessoria em negócios de esportivos, de lazer e recreação, organização de eventos esportivos. (Böhme 1998); Administração e Prática do Esporte são organizações e prática de atividade esportiva não lucrativa. Rezende (2000) destaca as associações, ligas, confederações, clubes sociais, entidades representativas de classe (SESI, SESC, sindicatos); Terceiro Setor são Organizações sem fins lucrativos, com finalidade social, utilizando a atividade esportiva para dar suporte ou como atividade principal, conforme seus estatutos e missões: Fundações, Institutos, Associações comunitárias, e demais Organizações Não Governamentais (ONG’s). (Brunoro 1997); Educação são organizações com finalidade tanto social como econômica, através de gestão publica ou privada. São as instituições de ensino (fundamental, médio e superior): Escolas, Faculdades e Universidade (BRUNORO, 1997, apud BASTOS, F. 2004); Administração Pública: Com finalidade administrativa e social, de gestão pública, sem finalidade lucrativa tendo a atividade esportiva como característica principal ou de suporte. Segundo Libardi (2004) realizada através das secretarias de governo municipais e estaduais de esportes, recreação e lazer, e outras áreas como a cultura, juventude, bem-estar social, etc., nas praças, parques, logradouros e centros comunitários; Saúde e Estética: Com finalidade econômica ou social e com gestão pública ou privada, orientadas para atividades de suporte sendo: Clínicas, Hospitais, Centros de Reabilitação, SPAs, academias e setores voltados para atividade física (Rezende 2000).
Brunoro (1997) complementa como áreas de administração esportiva a atuação do profissional em supervisão de equipes, chefia de delegações, supervisor de projetos e gerenciamento esportivo geral tanto nas entidades públicas como nas privadas.
2.2. Competências do gestor
Com as mudanças constantes o perfil exigido das pessoas para o mercado de trabalho sofreu alterações. Assim adaptar-se a novas situações, ser flexível e ter capacidade de relacionamentos, assumirem desafios, entre outras, parecem ser requisitos imprescindíveis ao gestor. Segundo Lima et al. (2003) o gestor deve ser capaz de tomar decisões de conceber estratégias, identificar alternativas, resolver problemas, projetar cenários futuros, avaliar as possíveis conseqüências.
O Gestor quando desempenhando suas funções à frente da organização esportiva que pertence, poderá encontrar menores dificuldades se possuir um claro entendimento e dominar os processos administrativos, servindo-lhes de base para realizar e desenvolver suas atividades diárias.
Segundo Areias (2009, p. 7), “gestão é a administração de recursos humanos, materiais e financeiros, orientada a atingir objetivos planejados por uma organização ou indivíduo”.
Para Poit (2006) fazem parte dos processos administrativos: planejamento, organização, liderança e controle. Portanto, para melhor entendimento do exposto, vamos delinear alguns tópicos referentes a processos administrativos.
2.2.1. Planejamento
Planejar é prever e se preparar para realizar o que se pretende fazer, evitando e diminuindo possíveis riscos que acarretarão na má ou até mesmo do cancelamento do trabalho proposto. É pensar em tudo o que é necessário para o alcance do objetivo esperado, tendo assim um ótimo resultado (REZENDE, 2000).
O planejamento na opinião de Bateman & Snell (1998, p.122) “proporciona aos indivíduos e unidades de trabalho um mapa claro a ser seguido em suas atividades futuras, ao mesmo tempo em que esse mapa pode levar em consideração circunstâncias únicas e mutantes.
Portanto, Poit (2006 p.35) defende que um bom planejamento Institucional e de evento deve ter como estrutura, a seguinte divisão básica:
‘’Pesquisa é a verificação, análise e avaliação das condições e possibilidades em geral; Programação: é a elaboração do planejamento, sendo o seu conteúdo determinado em função das informações conseguidas na pesquisa; Execução: é o cumprimento do planejamento e do programa passo a passo, e Avaliação: é uma atividade permanente. Antes, durante e após o evento. ’’
O planejamento é uma ferramenta administrativa que se distinguem em três tipos: planejamento estratégico, planejamento tático e planejamento operacional. O Planejamento Estratégico relaciona-se com objetivos de longo prazo e com estratégias e ações para alcançá-los é de fácil adequação ao ambiente e nos encaminha para onde iremos, é um processo contínuo, organizado e sistemático com visão de futuro capaz de prever possíveis erros, sendo assim através dele ameniza-se os risco; Planejamento Tático tem por objetivo otimizar determinada área e não a organização como um todo, produz planos mais bem direcionados às atividades organizacionais, relaciona-se com objetivos de médio prazo e define o que faremos, geralmente tem duração semanal ou mensal; Planejamento Operacional é de curta duração (horas ou dias) formaliza os objetivos e procedimentos a seguir, consiste basicamente em estabelecer o que fazer, quando fazer, como fazer, quem fazer e em que seqüência fazer ou seja nos aponta como devemos fazer (POIT, 2006).
O planejamento é uma ação que apontará caminhos significativos para o alcance das metas, por isso destacamos mais um autor que considera o planejamento como um dos mais importantes itens do processo administrativo, estando ligado diretamente ao processo de direção. Com isso o Gestor Esportivo deverá dar prioridade para o processo administrativo, tendo em vista que o mesmo é o ponto de partida para se administrar uma organização esportiva. Sem conhecer e aplicar o planejamento, o gestor poderá encontrar maiores dificuldades, podendo assim, não alcançar êxito total em suas funções. (PARIS, 2002).
2.2.2. Organização
É uma estrutura organizacional, que necessita de duas ou mais pessoas trabalhando sistematicamente para o alcance de objetivo específico ou conjunto de objetivos, visando o eficiente funcionamento de uma organização (PAOLI, 2000). Dessa forma, reter as informações ou até mesmo centralizar divisões, não seria interessante na organização de qualquer evento.
Poit (2006) acredita que em uma organização, de forma geral é estabelecida com uma estrutura formal de autoridade, que é responsável pela coordenação e definição dos métodos de trabalho para alocar os recursos disponíveis de forma otimizada, e alcançar os objetivos propostos.
Por isso entende-se que é a função organizacional que divide o trabalho entre as equipes especializadas, distribuindo as responsabilidades e racionalidades e coordenação do trabalho entre todas as atividades (POIT, 2006).
Rezende (2000) especificamente às Organizações Esportivas apresenta a organização como unidade social e subdivide-a em Organizações que Existem em Função da Atividade Física, Esportiva e de Lazer e Organizações que Possuem Setores Voltados para a Atividade Física, Desportiva e Lazer. Tais organizações definem-se: Organizações que Existem em Função da Atividade Física, Esportiva e de Lazer são as academias, clubes, associações exclusivamente esportivas, centros de treinamentos e escolinhas, consultorias, assessorias, ligas, federações e confederações, fundações, instituições e comitês, entre outros; Organizações com Setores Voltados para a Atividade Física, Desportiva e Lazer são as prefeituras, governos estaduais, governo federal, clubes sociais, entidades representativas (SESI, SENAC), hotéis, academias, etc. Isso nos mostra que quando se trata em organizações esportivas, temos um número considerável de locais que poderão ser administrados por um Gestor Esportivo capacitado.
Percebe-se que a diferença entre a organização em função da atividade física, esporte e de lazer em relação à organização com setores voltados para a atividade física, desportiva e lazer, é que a primeira é especificamente voltada para o desenvolvimento destas atividades como fim único, e a segunda desenvolve tais atividades, porém, abrange outras ações não se especificando em atividades físicas, desportivas e de lazer.
Ainda falando de organizações Rezende (2000) mostra que podemos encontrar organizações que se dividem em: Organizações Desportivas Públicas, de caráter público a fim de desenvolver o esporte (unidades administrativas, entidades, órgãos ou sociedades) e construção e gestão de complexos esportivos; Organizações Desportivas Privadas sem fins Lucrativos que surgem de grupos de pessoas que se associam para criar uma entidade jurídica própria, objetivando a prática ou promoção da atividade desportiva (clubes desportivos), ou também de associações que se unem á entidade como, por exemplo, federações, que incorporam pessoas físicas, com finalidade de desenvolver programas desportivos; As Empresas de Serviços Desportivos, que são organizações frutos da mercantilizarão e comercialização, e que objetivam obtenção de benefícios seguindo os princípios da gestão e mercado, próprios da empresa privada, oferecendo atividades de prática esportiva organizada como, eventos, atividades ou complexos esportivos (PAOLI, 2000).
2.2.3. Liderança
O Profissional responsável pela organização de um evento ou gestão de uma entidade esportiva de acordo com as suas funções do processo administrativo, deve assumir um papel de líder, tendo assim liderança em suas atitudes, motivando constantemente sua equipe de trabalho, e sempre a conduzindo coerentemente. Ter uma boa relação com seus subordinados, e de maneira positiva, influenciá-los. Deixando–os cientes de suas respectivas utilidades para o contexto de organização, e, com isso deixá-los cada vez mais comprometidos com o trabalho que realizam (PAOLI, 2000).
De acordo Maximiano (2007, p. 277) "Liderança é o processo de conduzir as ações ou influenciar o comportamento e a mentalidade de outras pessoas.
O líder deve ser capaz de dirigir a atenção dos envolvidos com ideais comuns. Para isso deve se empenhar em ajustar os interesses individuais e grupais, o líder deve rearticular para conseguir uma aliança grupal em relação a objetivos comuns. Sendo assim, a liderança é a expressão de apoio e confiança é a ampliação de um real sentido de interdependência entre os integrantes, sempre respeito às individualidades (MOTTA, 1991).
Neste contexto a essência da liderança é a capacidade de se comunicar, pois está tem suma importância para o exercício da influencia para a coordenação de atividades grupais. O seu êxito esta na capacidade de comunicação.
De acordo com Trewatha & Newport (1979) a comunicação é definida como o processo de transmitir e entender informação entre pessoas.
Portanto o líder deve ter autoridade sem ser autoritário, sobre o grupo que está gerenciando, pois cabe a ele ser o responsável pelo comprometimento e envolvimento dessas pessoas a fim de obter êxito nos resultados traçados.
Segundo Poit (2006) liderar é estimular iniciativas inovadoras, é realizar a manutenção das rotinas específicas, sustentar um alto grau de motivação e interatividade entre os objetivos propostos pela entidade pode ser dividido em autoritário, democrático e liberal. O líder Autoritário somente ele toma as providências para a execução das tarefas e como deve ser executada por cada um, “preocupado essencialmente com a tarefa” (BANDEIRA, MARQUES e SANTOS, 2005 apud ARAÚJO, 2006); Democrático, quando o líder aconselha, porém todas as diretrizes são debatidas e as decisões tomadas pelo grupo, sendo eles que identificam todas as necessidades e providências para atingir os objetivos; Liberal, determinada tanto por decisões do grupo, quanto decisões individuais, tendo uma pequena porcentagem de decisões do líder, havendo uma considerável falta de participação do mesmo.
Pode-se entender que liderar é ter posicionamento adequado em relação às pessoas que o cercam e as circunstâncias que surgem. É ter bom senso, saber dosar atitudes autocráticas ou liberais com atitudes democráticas para saber conduzir da melhor forma o grupo de trabalho, controlando ansiedades e inseguranças, sendo democrático sem perder a autoridade, e liberal sem ser indiferente. (REZENDE, 2000).
2.2.4. Controle
O termo controle, assim como organização, tem mais que uma interpretação quando se trata de administração, com isso encontram-se controle no sentido de restrição, controle no sentido de regulação e controle no sentido de função administrativa. Brevemente descrevemos o Controle no Sentido de Restrição: também é conhecido como Controle Social e caracteriza-se pela forma de impor comportamento pessoal, restringindo limites e tendo caráter negativo por tais delimitações; Controle no Sentido de Regulação: caracteriza-se por apontar irregularidades no funcionamento de máquinas, atividades ou sistemas ditando os graus de normalidade dos mesmos (REZENDE, 2000).
Neste trabalho usaremos o Controle no sentido de Função administrativa, pois este é um dos itens que o Gestor Esportivo deve dominar para evitar possíveis imprevistos. Rezende (2000) indica que este controle faz parte do processo administrativo, juntamente com o planejamento, organização e liderança/direção. Com o intuito de verificar se o plano está indo de encontro com o objetivo proposto, este tipo de controle, proporciona a chance de mudança de rumo em tempo hábil, caso seja necessário, para possíveis correções.
Controle então é a verificação de maneira permanente e contínua de possíveis problemas internos e externos das fases do processo, atentando-se para verificar se o objetivo não está sendo prejudicado. (POIT, 2006)
2.3. Formação e competências do gestor esportivo
A formação profissional em Educação Física tem sido objeto de diversos estudos e publicações a maioria das publicações sobre esta temática mostra o profissional de educação física atuando tanto no meio escolar como no não escolar. Na busca pela definição da palavra Formação no dicionário on line Michaelis nos apontou, entre outras, as seguintes definições: “modo pelo qual uma coisa se forma e modo como se constitui um caráter ou uma mentalidade”. Partindo dessa definição fica evidente a necessidade de formação para atuar em determinada área. Taffarel (1993) mostra a precisão da formação profissional e diz que a formação constitui um dos estágios do desenvolvimento de uma profissão, considerando a formação acadêmica como determinante na estruturação da profissão em Educação Física.
A palavra competência vem do inglês competence, segundo Fleury e Fleury (2001, p. 184), como “qualidade ou estado de ser funcionalmente adequado ou ter suficiente conhecimento, julgamento, habilidades ou força para uma determinada tarefa”. Perrenoud (1999, p. 7) define competência “como sendo uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”.
Para alguns autores a competência esta vinculada ao desenvolvimento das pessoas e significa o conjunto de qualificações que a pessoa tem para executar um trabalho com nível superior de performance (DUTRA, J. 2006).
Em 1985 o governo brasileiro se viu preocupado com a formação do gestor esportivo, com isso o Conselho Regional de Desportos montou uma comissão de reformulação do Desporto aliada às áreas ligadas a Educação Física e ao Desporto. Entre outros assuntos, o documento apontava que para haver desenvolvimento no esporte, era necessário recursos humanos capacitados, para estimular e coordenar programas esportivos (CAPINUSSU, 1992). Foi com iniciativas como estas que a formação do gestor esportivo começou a progredir, havendo ainda mais cobranças em ter profissionais qualificados e capacitados para desempenharem tal função.
É indiscutível que a gestão esportiva necessita de capacitação e de uma formação coerente e específica, além disso, para Bastos (2004) a gestão esportiva envolve a aplicação dos conceitos e teorias gerais da Administração ao Esporte e aos diferentes papéis que ele exerce na sociedade contemporânea. Seu estudo engloba conhecimentos multidisciplinares, que a partir dos anos sessenta do século passado passou a ser ainda mais divulgado.
Com esse aumento na divulgação, segundo Parkhouse (1996) apud Zouain e Pimenta (2003), a formação do gestor esportivo tem sido fundamentada em cursos de graduação e especialização, e seus principais pilares são: Educação Física e Administração.
Mesmo com o aumento da divulgação e diversos cursos de especialização dando ênfase a essa área, a maioria dos cursos superiores de Educação Física em nosso país está direcionada mais para a formação de professores. (REZENDE, 2000)
Atualmente delineia-se um outro quadro em nossa realidade brasileira, pois a partir de 2008 as Instituições de Ensino Superior (IES) devem ofertar o curso de Educação Física nas habilitações de Formação Básica para Professores – Licenciatura e Educação Física – Bacharelado. (MEC, 2012)
Um dos apontamentos feitos pelo Ministério da Educação (MEC) em relação a essas divisões das habilitações se deve que a formação nos cursos de graduação não possibilitavam conhecimento adequado para atender as exigências do mercado de trabalho, por ser este muito amplo e diversificado.
Ainda Zouain e Pimenta (2003) apontam o seguinte quadro defendendo-o como perfil ideal para um gestor esportivo:
Quadro 1. Perfil do Gestor Esportivo
Perfil do Profissional Genérico (Mundial) |
Perfil do Profissional em Atividade no Brasil |
Perfil do Profissional esperado no Brasil |
Marketing e Vendas Planejamento Estratégico |
Conhecimento de Esportes Habilidades em Negociação |
Conhecimentos de Esportes Planejamento Estratégico |
Programação de Eventos Comunicação |
Processo Decisório Lidar com reclamações |
Processo Decisório Lidar com reclamações |
Conhecimento Fiscal e Legal Gestão de Pessoas |
Conhecimento Legal Supervisão de Recursos Humanos |
Captação de Recursos Motivação dos Funcionários |
Fonte: Adaptado de Zouain, Pimenta (2003, p.22)
Podemos perceber que o perfil esperado para o profissional brasileiro está bem próximo ao perfil já em atividade no Brasil, tendo as competências descritas muito parecidas. Portanto, para competências do Gestor Esportivo teremos como referências conhecimento de esportes, habilidades em negociação, planejamento estratégico, processo decisório, lidar com reclamações, conhecimento legal, captação de recursos, motivação dos funcionários e supervisão de recursos humanos.
Se tratando de competências de um gestor, para atender a demanda do mercado com profissionalismo, Fleury (2002) inspirado por Le Boterf aponta no quadro abaixo as qualificações necessárias que tais profissionais necessitam ter.
Quadro 2. Qualificações do Gestor Esportivo
Fonte: Fleury, (2002, p. 56)
O quadro acima aponta as principais características que um Gestor Esportivo deve ter para alcançar e ser qualificado, e com isso obter sucesso na profissão. Profissão esta de grande amplitude e importância para o desenvolvimento do esporte.
Pode-se notar que tão importante como o conhecimento acadêmico, habilidades específicas e experiências profissionais, é a capacidade de interação com a organização, é isso que vai definir a competência de um gestor.
Para esclarecer e compreender melhor o tipo de competência citado acima, Fleury (2002, p.22) explica que “competência é a inteligência prática de situações que se apóia nos conhecimentos adquiridos e os transforma com tanto mais força quanto maior for a complexidade das situações”.
Numa perspectiva parecida, Le Boterf (1994) aponta que a competência é criada pela interação da dimensão da pessoa, de sua formação e a sua experiência profissional. Sendo assim, a união da formação com o conjunto de todos estes requisitos é que poderá tornar o Gestor Esportivo um profissional competente.
Diante dos conceitos apresentados nos tópicos anteriores fica evidente que Já se foi o tempo em que se podia admitir a condução de profissionais ao exercício da função de gestor apenas por supor que apresentavam intuição para desenvolver tal cargo. (LOBATO e VITORINO, 1997; BASTOS, 2004).
Considerações finais
Diante da literatura apresentada, pode-se perceber a importância da gestão esportiva, não somente para as organizações esportivas, mas também para o esporte como um todo, tendo em vista que o desenvolvimento do esporte está ligado diretamente com o gestor esportivo.
Em relação à formação do gestor esportivo, os conteúdos dessa área são contemplados em vários cursos de graduação e de pós-graduação, favorecendo o conhecimento exigido pelo mercado de trabalho, ainda assim a quantidade de profissionais não atende a demanda dessa área.
Com o advento dos grandes eventos esportivos que o nosso País sediará e organizará é imprescindível aos profissionais de educação física se especializarem cada vez mais, pois eventos deste porte visam uma estrutura física e humana enorme, necessitando de gestores qualificados.
Analisando o perfil do Gestor Esportivo, acredita-se que o mesmo deve abarcar as competências almejadas, como, saber agir, captar recursos, saber se comunicar, comprometer-se, ter responsabilidade e visão estratégica, além de dominar os processos administrativos, sabendo planejar, organizar, liderar e controlar para alcançar as metas desejadas.
Fica então a reflexão que para alçar vôos significativos em busca de reconhecimento profissional na área de gestão, temos que continuar incentivando e pesquisando esta área, tornando–nos exemplos e servindo de espelho para outros países.
Referências
ARAÚJO, L. C. G. Gestão de Pessoas: estratégia e integração organizacional. São Paulo, Atlas, 2006.
AREIAS, J. H. Apostila do curso de introdução: gestão e marketing esportivo, 2009.
BASTOS, F. C. Campos de Atuação do Administrador Esportivo – Proposta de um modelo para o Brasil. Artigo apresentado nos 19 Congresso Científico da FIEP. Foz do Iguaçu, janeiro de 2004.
BASTOS, F. C. Administração esportiva: Área De Estudo, Pesquisa E Perspectivas No Brasil. Motrivivência, n.20-21, 2003.
BATEMAN T. S. & SNEL S. A. Administração: construindo vantagem competitiva. Atlas, 2 ed. São Paulo: 1998.
BÖHME, M. T. S. Administração Esportiva. PETeleco, São Paulo, PET-EEFEUSP, novembro, 1998.
BRASIL, Conselho Nacional de Educação Física (CONFEF), 2000.
BRASIL, Ministério da Educação (MEC), 2012.
BRUNORO, J.C. & AFIF, A. Futebol. 100% Profissional. São Paulo, Editora Gente, 1997.
CAPINUSSÚ, J. M. Planejamento Macro em Educação Física e Desportos. São Paulo, IBRASA, 1985, 162 p.
CAPINUSSÚ, J. M. E assim nasceu o Movimento Olímpico. Revista Olímpica, v. 1, n. 1, Jul. 1992.
DUTRA, J. Gestão de Pessoas: Modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2006.
FLEURY, M. T. A gestão de competência e a estratégia organizacional. As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002.
FLEURY, Maria Tereza Leme; FLEURY, Afonso. Construindo o Conceito de Competência. Revista da Administração Contemporânea, Curitiba, ed. esp., p. 183-196, 2001.
LIMA, Miguel et al. Gestão de marketing. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
LOBATO, Paulo Lanes; VITORINO, Everton Castro. O perfil administrativo adequado a uma instituição desportiva em relação aos princípios teóricos da administração. Motriz, Rio Claro, v. 3, n. 2, p. 95-103, 1997.
LIBARDI, R. Organização e funcionamento de áreas esportivas. São Paulo, Universidade Sindi-Clube, 2004.
MAXIMIANO, Antônio C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 6 Ed. São Paulo: Atlas, 2007.
MARTINS JUNIOR. Joaquim. Como escrever trabalhos de conclusão de curso: instruções para planejar e montar, desenvolver, concluir, redigir e apresentar trabalhos monográficos e artigos. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
NOLASCO, V. P. et. al., Administração/Gestão Esportiva. In: COSTA, L. P. da (Org.). Atlas do Esporte no Brasil: atlas do esporte, educação física e atividades físicas de saúde e lazer no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005.
OLIVEIRA, R. J. S. GESTÃO DESPORTIVA: Um Estudo de Caso nas Instituições de Ensino Superior dos Cursos de Educação Física no Estado do Espírito. Revista do Porto, 2008.
PAOLI. P. B. Material didático da Disciplina de Administração e Organização do Esporte. Mestrado em Treinamento Esportivo. UFMG, Belo Horizonte, 2000.
PARIS, F.R. Gestão Desportiva: Planejamento Estratégico nas Organizações Esportivas. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed,1999.
POIT, D. R. Organização de eventos esportivos. São Paulo: Phorte, 2006.
REZENDE, J.R. Organização e administração no esporte. Rio de Janeiro, Sprint, 2000.
REZENDE, J.R. Organização e administração no esporte. Rio de Janeiro, Sprint, 2000.
TAFFAREL, C. N. Z. A formação do profissional da educação: o processo de trabalho pedagógico e o trato com o conhecimento no curso de Educação Física. Tese de doutoramento, Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1993.
TREWATHA, R.L.; NEWPORT, M.G. Administração: funções e comportamento. Trad. Auriphebo B. Simões. São Paulo: Saraiva, 1979.
WIESZFLOG, W. (org.) Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, São Paulo: Melhoramentos, 1998 acesso em 15 maio. 2013
ZOUAIN, D. M., PIMENTA, R. C. Perfil dos profissionais de administração esportiva no Brasil. In: World Sport Congress. Barcelona, 2003. Disponível em: http://www.ebade.fgv.br/academico/asp/dsp_rap_sobe.asp. Acessado em: Maio de 2013.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires,
Agosto de 2014 |