efdeportes.com

Efeitos de um programa de exercícios físicos sobre 

a saúde de pacientes com insuficiência renal crônica

Efectos de un programa de ejercicios físicos sobre la salud de pacientes con insuficiencia renal crónica

 

*Professora do curso de Educação Física da Unoesc, São Miguel do Oeste

Mestre em Educação Física. Laboratório de Fisiologia do Exercício – LAFE

**Acadêmica do Curso de Educação Física da Unoesc, Campus São Miguel do Oeste
Laboratório de Fisiologia do Exercício – LAFE

***Médica/o da Clínica Renal do Extremo Oeste, São Miguel do Oeste

****Enfermeira da Clínica Renal do Extremo Oeste, São Miguel do Oeste

*****Nutricionista da Clínica Renal do Extremo Oeste, São Miguel do Oeste

(Brasil)

Sandra Fachineto*

Karina Fernades Schleder**

Gelson Antônio Dos Santos***

Katia Rosane Teixeira Bugs***

Carmelita Maria Schneider****

Edinara Nericke de Carli****

Juline Wenzel Corá*****

sandra.fachineto@unoesc.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          Objetivou-se analisar os efeitos de um programa de seis meses de exercícios físicos sobre indicadores de saúde, qualidade de vida e marcadores bioquímicos em pacientes com insuficiência renal crônica da Clínica Renal do Extremo Oeste. Participaram 13 pacientes, sendo 6 homens e 7 mulheres. Os pacientes foram submetidos a um pré-teste para avaliação dos indicadores de saúde (força isométrica de mãos, flexibilidade, capacidade aeróbia, IMC, CC, PAS e PAD), da qualidade de vida e de marcadores bioquímicos (uréia, fósforo e creatinina). O programa de exercícios físicos foi realizado três vezes por semana. As sessões duraram em torno de 20 minutos e aconteceram na fase pré-dialítica. Após o término do programa, os pacientes foram reavaliados (pós-testes). Para análise dos dados utilizou-se o teste t pareado para comparar os dados. Foi observada diferença significativa (P≤0,05) para os valores de uréia e creatinina, os quais aumentaram levando a crer que isto se deve a um aumento na massa corporal magra dos pacientes. Não se observaram diferenças estatisticamente significativas (P≤0,05) para as demais variáveis. Conclui-se que embora a maioria das variáveis avaliadas não tivesse uma diferença significativa, os valores médios evidenciaram melhorias na saúde física e na qualidade de vida destes pacientes, o que denota que a atividade física como coadjuvante no tratamento é essencial.

          Unitermos: Insuficiência renal crônica. Atividade física. Hemodiálise. Saúde. Qualidade de vida.

 

Abstract

          This study aimed to analyze the effects of a six-month program of physical exercise on health indicators, quality of life and biochemical markers in patients with Chronic Renal Failure of the Clínica Renal do Extremo Oeste. 13 patients participated, with 6 men and 7 women. The patients underwent a pre-test to evaluate health indicators (isometric strength of hands, flexibility, aerobic capacity, BMI, WC, SBP and DB), quality of life and biochemical markers (urea, creatinine and phosphorus). The physical exercise program was performed three times per week. The sessions lasted about 20 minutes and took place in pre dialyses phase. After completion of the program, patients (post- test) were reevaluated. Data analysis was used to compare the paired data t test. Significant difference (P≤0.05) for the values ​​of urea and creatinine, which increased leading to believe that this is due to an increase in lean body mass of the patients was observed. No statistically significant differences (P≤0.05) for the other variables were observed. It is concluded that although most of the variables had no significant difference, the mean values ​​showed improvements in physical health and quality of life of these patients, which indicates that physical activity as an adjuvant treatment is essential.

          Keywords: Chronic renal failure. Physical activity. Hemodialysis. Health quality of life.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

1 / 1

Introdução

    Pessoas que sofrem de Insuficiência Renal Crônica (IRC) apresentam menor capacidade física e funcional, pois apresentam anormalidades cardiovasculares como o aumento da pressão arterial além de musculares manifestando atrofia e fraqueza muscular (LOPES et al., 2008).

    Dessa forma, a qualidade de vida (QV) tem se tornado importante critério na avaliação da efetividade de tratamentos e intervenções na área da saúde. Esses parâmetros têm sido utilizados para analisar o impacto das doenças crônicas no cotidiano das pessoas e para isso, é necessário avaliar indicadores de funcionamento físico, aspectos sociais, estado emocional e mental, da repercussão de sintomas e da percepção individual de bem-estar (MARTINS; CEZARINO, 2005).

    Motta e Emuno (2004) também salientam sobre a importância de atividades que envolvam os pacientes durante a hospitalização visando auxiliar na QV dos mesmos dizendo que relatos de experiências de intervenção têm mostrado também que a oportunidade de participar de alguma atividade física no hospital tem efeitos positivos amenizando o sofrimento hospitalar, favorecendo a comunicação e a expressão dos sentimentos dos pacientes.

    Diante do exposto, a Clínica Renal do Extremo Oeste, situado em São Miguel do Oeste, surgiu pela grande carência e necessidade de realizar o tratamento de hemodiálise nos pacientes da região. O trabalho realizado na Clinica é multidisciplinar, visando intervir na realidade social dos pacientes e família, tendo como premissa básica a resolução dos casos.

    Sabe-se que um programa de atividade física regular além de contribuir no controle da pressão arterial, manutenção do peso, aumento da força muscular e melhoria da qualidade de vida, também tem repercussão positiva sobre a capacidade aeróbia (sistema cardiorrespiratório) e marcadores bioquímicos (como uréia e creatinina) (LOPES et al., 2008).

    Diante do exposto, objetivou-se analisar os efeitos de um programa de seis meses de exercícios físicos sobre indicadores de saúde, qualidade de vida e marcadores bioquímicos em pacientes com IRC da Clínica Renal do Extremo Oeste.

Metodologia

    Esta pesquisa caracterizou-se como quantitativa do tipo descritiva quase-experimental e foi submetida à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa de Joaçaba obtendo parecer favorável sob n. 428.065 e CAAE: 16690513.2.0000.5367.

    A amostra foi composta por 13 pacientes com IRC tratados na Clínica Renal do Extremo Oeste, no município de São Miguel do Oeste – SC, sendo 6 homens (idade=49,67±19,53) e 7 mulheres (idade=62±9,18), selecionados de forma intencional e com participação voluntária. Como critério de inclusão foi adotado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    Para coleta dos dados referente a força isométrica de mãos foi utilizado um dinamômetro digital. Para as variáveis de composição corporal (Índice de massa corporal - IMC, % de gordura corporal, peso de gordura, % de massa magra, peso da massa magra) utilizou-se um aparelho de Bioimpedância Elétrica Maltron BF 906 sendo esta realizada pela nutricionista da Clínica. Os valores de pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) foram determinados por meio de um aparelho aneróide pelas enfermeiras da Clínica e a medida seguiu as recomendações das VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010). A flexibilidade do quadril, dorso e músculos posteriores dos membros inferiores foi avaliada usando o banco de Wells e Dillon. A capacidade aeróbia (distância percorrida em metros) foi verificada através do teste de caminhada de 6 minutos. Para a coleta das informações referentes à qualidade de vida foi utilizado o questionário “The Medical Outcomes Study36-item Short-Form Healthy Survey” (SF-36), desenvolvido por Ware e Sherbourne (1992), traduzido e validado para a realidade brasileira por Ciconelli (1999). A coleta sanguínea e dosagem da uréia, creatinina e fósforo foram feitas pela equipe de enfermeiras e médico da Clínica Renal do Extremo Oeste. A técnica de dosagem laboratorial foi através de método cinético com aparelho BIOPLUS 2000.

    O programa de exercícios foi realizado três vezes por semana e as sessões tiveram duração de 20 minutos e aconteceram durante a fase pré-dialítica. As atividades envolveram: exercícios de alongamento, massagem, atividades recreativas, exercícios de fortalecimento muscular e caminhada. Salienta-se que não houve alteração no tratamento normal dos pacientes nem tampouco controle sobre uso de medicamentos e alimentação. Apenas foi incluída a atividade física como coadjuvante no tratamento.

    Para a análise dos dados utilizou-se o programa estatístico computacional SPSS versão 13.0. Os procedimentos estatísticos usados foram: estatística descritiva (média e desvio padrão) para caracterizar a amostra e o teste t pareado para analisar os dados de pré e pós-testes de um mesmo grupo. Para todas as inferências estatísticas foi adotado P≤0,05.

Apresentação e discussão dos resultados

    Na tabela 1 é mostrada a comparação dos efeitos de um programa de exercícios físicos sobre a composição corporal dos pacientes. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas (P≤0,05) para todas as variáveis analisadas.

Tabela 1. Comparação dos efeitos de um programa de exercícios físicos sobre a composição corporal de pacientes com IRC

    Apesar dos benefícios obtidos com a prática da atividade física realizada em pacientes com doença renal crônica, estudos mostram que não ocorre uma alteração na composição corporal, comprovado no estudo realizado por Fachineto et al. (2013) que não obtiveram diferença significativa em ambos os sexos nos indicadores de gordura corporal após um programa orientado de atividade física durante a hemodiálise.

    Não ocorre uma mudança na composição corporal dos pacientes, pois esses precisam manter, por exemplo, o seu peso e massa corporal para não prejudicar o andamento de seu tratamento de hemodiálise (FACHINETO et al., 2013).

    Na tabela 2 mostra-se a comparação dos efeitos de um programa de exercícios físicos sobre a pressão arterial de repouso e marcadores bioquímicos. Houveram diferenças estatisticamente significativas (P≤0,05) para a creatinina e a uréia.

Tabela 2. Comparação dos efeitos de um programa de exercícios físicos sobre a pressão arterial de repouso e marcadores bioquímicos de pacientes com IRC

    Um dos efeitos fisiológicos esperados com a prática da atividade física por pacientes com IRC é a diminuição da uréia acumulada no organismo do paciente, em especial aquela que se encontra no compartimento muscular. A atividade física é um fator importante que contribui na melhora do fluxo sanguíneo muscular, otimizando a depuração deste soluto. Quando o organismo está em repouso, faz com que a circulação fique em estado de inércia, principalmente nos membros inferiores, o que contribui com o atraso do reequilíbrio da uréia durante o tratamento da diálise. Por isso, da importância da realização de atividade física durante o tratamento (LOPES et al., 2008).

    No entanto, este estudo não observou uma diminuição na quantidade de uréia e sim um aumento significativo no pós-teste, indicando que em longo prazo o exercício pode aumentar a massa corporal magra (MCM). Embora não foram observadas diferenças significativas na MCM (ver tabela 1), houve uma leve elevação dos valores médios. Se aumenta a MCM, isso poderá induzir, após seis meses de treino, um aumento da uréia também, uma vez esta é derivada da amônia (produto do metabolismo celular no músculo) e convertida em uréia para ser eliminada. Para a creatinina, ocorreu uma esperada elevação, sendo interpretada como o aumento da massa muscular do paciente. A creatinina é um produto da degradação da fosfocreatina (CP) no músculo. Durante o exercício o músculo usa esta molécula para produzir energia (ATP).

    Semelhante aos dados deste estudo, Ribeiro et al. (2013) mostraram que o exercício resistido realizado durante o tratamento de diálise e por 8 semanas por pacientes com doença renal crônica do Instituto de Nefrologia de Taubaté-SP, contribuiu para aumentar significativamente os valores de uréia e creatinina. Os autores devem este fato ao aumento da MCM.

    Quanto a pressão arterial sistólica e diastólica, os valores médios aumentaram em relação ao pré-teste. Este fato pode ser justificado usando o estudo de Moslted et al. (2004 apud NASCIMENTO et al., 2012) onde observaram o efeito de 1 h de exercícios aeróbicos e de força, realizados duas vezes por semana, com intensidade de 4-17 na escala de Borg e concluíram não haver melhora da pressão arterial de pacientes com IRC. Esse resultado pode ser explicado, de acordo com os autores, pelo curto período de intervenção e poucas sessões de exercício por semana.

    Na tabela 3 apresenta-se a comparação dos efeitos de um programa de exercícios físicos sobre a capacidade aeróbia, flexibilidade e força de mãos dos pacientes. Não se observaram diferenças estatisticamente significativas (P≤0,05). Porém, chama-se a atenção para o fato de que os valores médios da capacidade aeróbia diminuíram levando a acreditar que as atividades aeróbias não foram efetivas para promover melhorias. Ainda, a flexibilidade aumentou assim como a força de mãos, embora de forma não tão expressiva, contribuindo para manter a saúde muscular e articular.

Tabela 3. Comparação dos efeitos de um programa de exercícios físicos sobre a capacidade aeróbia, flexibilidade e força de mãos de pacientes com IRC

    Diferentemente desta pesquisa, Böhm, Monteiro e Thomé (2012) em conclusão ao estudo de revisão realizada demonstram que a prática de exercícios físicos aeróbicos em pacientes com IRC tem a sua capacidade funcional muito melhorada, proporcionando inúmeros benefícios cardiorrespiratórios e musculares, o qual promove também uma melhora na capacidade aeróbica e um melhor condicionamento físico, combate a fadiga e a ansiedade, entre outros benefícios importantes para uma QV.

    A tabela 4 indica os efeitos do programa de exercícios físicos sobre a qualidade de vida (QV) dos pacientes. Não se notaram diferenças estatisticamente significativas (P≤0,05). No entanto, com exceção dos domínios “estado geral de saúde” e “aspecto emocional”, todos os demais domínios tiveram seus valores médios aumentados o que indica que a QV foi beneficiada pela prática de atividade física, contribuindo para melhorar aspectos da saúde física e mental dos pacientes.

Tabela 4. Comparação dos efeitos de um programa de atividade física sobre qualidade de vida (QV) de pacientes com IRC

    Em contrapartida aos resultados observados nesta pesquisa, a maioria dos estudos traz diferenças significativas na QV após um programa de atividade física para pacientes com IRC. Ribeiro et al. (2013) avaliaram 60 pacientes do Instituto de Nefrologia de Taubaté-SP antes e após um programa de exercícios resistidos e observaram melhoras significativas em todos os domínios da qualidade de vida, medidos pelo questionário SF-36.

    No estudo de Krug et al. (2008) os resultados também foram positivos. Analisados 26 pacientes com insuficiência renal crônica antes e após a prática da atividade física, os autores observaram uma contribuição significativa nas dimensões da capacidade funcional, estado geral de saúde e vitalidade, indicando melhora na QV destes pacientes.

Conclusões

    Em relação ao programa de exercícios físicos implementado e seus efeitos, conclui-se que houveram diferenças estatisticamente significativas (P≤0,05) para as variáveis bioquímicas uréia e creatinina. É importante destacar que embora a maioria das variáveis avaliadas não tivesse uma diferença significativa, os valores médios evidenciaram melhorias na saúde física e na qualidade de vida destes pacientes, o que denota que a atividade física como coadjuvante no tratamento é essencial.

Agradecimentos

    Ao programa de Bolsas de Iniciação Científica da Unoesc/FAPE/art. 170 pelo auxílio financeiro.

    À todos os pacientes que participaram das avaliações e programa de exercício físico.

    À equipe de profissionais da Clínica Renal do Extremo Oeste pela parceria, profissionalismo e dedicação para com a pesquisa e com os pacientes.

    À equipe do Laboratório de Fisiologia do Exercício - LAFE pelo apoio na realização das avaliações físicas.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires, Agosto de 2014  
© 1997-2014 Derechos reservados