Introdução
A implantação de programas de Ginástica Laboral na empresa vem se
constituindo como de grande importância, pois investir no trabalhador visando
à melhoria de sua qualidade de vida para a saúde em sentido mais amplo promove
espaços mais humanizados no processo laboral, incidindo em benefícios tanto
para o trabalhador como para a empresa. Essa necessidade se tornou um fator
fundamental no mundo atual e surge como de forma indispensável, que deve em
nosso entender, integrar a cultura das empresas.
Nossas investigações sobre os benefícios da Ginástica Laboral caminham na
direção de alargar estudos e divulgar os benefícios que podem trazer a seus
praticantes em programas contextualizados aos ambientes em que o trabalhador
está inserido. Queremos também salientar que a falta da qualidade de vida no
trabalho pode gerar transtornos, tanto na vida profissional quanto pessoal.
O presente estudo tem como objetivo apresentar avaliação do nível de
flexibilidade como componente de aptidão física para saúde, identificar
benefícios da prática da Ginástica Laboral e verificar sintomas dolorosos em
colaboradores de uma empresa cartorária do Município de Sorriso-MT.
Ginástica
Laboral: objetivos e conceitos
Os programas de Ginástica laboral visam à promoção da saúde e melhoria das
condições de trabalho, contribuindo direta ou indiretamente para melhoria de
relacionamento interpessoal, além de reduzir os acidentes de trabalho
proporcionando um aumento da produtividade ao trabalhador, e aumenta a
disposição para as atividades diárias (OLIVEIRA, 2003). Para Neto (2007) é
um conjunto de exercícios físicos prescritos por profissionais habilitados, de
acordo com a função exercida e a necessidade do trabalhador, visando combater
o sedentarismo e doenças ocupacionais.
O programa de Ginástica Laboral visa diminuir acidentes de trabalho,
proporcionando ao colaborador uma melhor disponibilidade de desenvolver suas
atividades e desempenhar suas funções diárias, aumenta sua flexibilidade,
proporciona bem-estar, melhora a relação entre os funcionários, e diminui os
casos de LER/DORT. Krabenhoft (2007) complementa que seu principal papel é
prevenir o aparecimento de lesões musculoesqueléticas e ligamentares, assim
como neurológicas devido a situações de estresse.
A GL tem sido classificada por diversos autores de formas diferenciadas. Em
suma, destacamos quatro tipos, que resumidamente podem ser definidas como: Ginástica
Preparatória, realizada antes ou logo nas primeiras horas do inicio do
trabalho e constituída de aquecimento ou alongamentos específicos para
determinar as estruturas exigidas, possui o objetivo de aumentar a circulação
sanguínea, lubrifica e aumenta a viscosidade das articulações e tendões, tem
duração de 5 a 10 minutos (CONFEF, 2004). Segundo Oliveira (2003) possui o
objetivo de preparar o trabalhador para o início das atividades diárias,
melhorando o nível de concentração e disposição, aquecendo os grupos
musculares que são requeridos durante as tarefas diárias; Ginástica
Compensatória, atividade no meio do expediente do trabalho tem como
objetivo compensar as tensões musculares, melhorar a postura, relaxamento
muscular e mental (OLIVEIRA, 2003); Ginástica de Relaxamento, geralmente
e praticada no fim do expediente, tem como objetivo relaxar o corpo e extravasar
tensões das regiões que acumulam mais tensão. Para Neto (2007) possui como
base exercícios respiratório de alongamento, flexibilidade e meditação,
além de automassagens, possuindo a função de reduzir o estresse, alívio das
tensões, diminui desavenças no trabalho e em casa e melhorar a função
social; Ginástica Corretiva, tem como objetivo trabalhar os grupos
musculares específicos, em conjuntos com a medicina do trabalho, enfermagem e
da fisioterapia, possuindo a finalidade de recuperação em casos graves de
lesões e limitações de ergonomia (OLIVEIRA, 2007).
Saúde
e qualidade de vida no trabalho
A competitividade na produtividade é essencial para se manter no topo e tem
como destaque, a eficiência, velocidade e a realização de atividades dentro
da empresa. Esta modificação implica em adequação da produção na realidade
e flexibilidade bem como no atendimento aos clientes. Os indivíduos que
trabalham são submetidos à tensão que somada às exigências de suas
atividades podem provocar doenças relacionadas ao trabalho (POLETTO, 2002).
Segundo Belchior (2011) os novos processos de produção trouxeram mudanças
consideráveis ao ambiente de trabalho tendo como auxilio a competitividade
entre as empresas. Como consequência, a busca pela agilidade e rapidez no
desempenho das funções, acelerando o ritmo de cada um, pode fazer com que o
trabalhador desenvolva as doenças ocupacionais.
Segundo Montelo (2007) a qualidade de vida esta de certa forma interligada a
saúde, pois para estar em um estado de qualidade de vida depende de vários
fatores, como social, intelectual e ambiental e biológico. Não obstante,
investir no bem-estar física do trabalhador, por meio de implementação de
atividades físicas na empresa deve também englobar ações de melhoria nos
aspectos ergonômicos e segurança, assim como nos aspectos motivacionais, como
a participação nas decisões, auto desenvolvimento, treinamento, avaliação
de desempenho com ferramentas de feedback e a implementação de planos
de carreira no interior da empresa (OLIVA, 2008).
Materiais
e métodos
Este estudo se caracteriza por um método descritivo, de campo e de corte
transversal com amostragem de tipo conveniência, com a finalidade de verificar
e avaliar a ginástica laboral como estratégia de melhoria da qualidade de vida
dos trabalhadores cartorários do Município de Sorriso – MT.
Foi realizado programa de Ginástica Laboral com vinte e três funcionárias
cartorárias de Sorriso - MT, o programa iniciou-se em maio de 2012, teve a
duração de seis meses, com a finalidade de proporcionar aos colaboradores uma
melhora na qualidade de vida e diminuir os riscos de doenças ocupacionais. As
avaliações e coleta de dados foram realizadas antes e depois do programa. As
aulas tinham inicio as 08h00min às 08h15min da manhã, sendo realizadas três
vezes por semana, nas segundas, quartas e sextas-feiras. As participantes
estavam na faixa etária entre 17 e 48 anos, os quais para participar da
pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Foram
utilizados como parâmetros para coleta de dados os seguintes procedimentos:
Teste de Sentar e Alcançar (Banco de Wells) conforme o Canadian Standardized
Teste of Fitness (CSTF), na metodologia sugerida por Guedes e Guedes (2006);
Ficha de Anamnese constituída de oito questões que busca identificar o perfil
da amostra quanto ao sexo e idade, buscando informações relacionadas à
prática da atividade física entre outros, adaptada de Leite (1990);
Avaliação do Programa de Ginástica Laboral (OLIVEIRA, 2006).
Os dados foram tabulados através de uma planilha de Excel, sendo que para
análise dos dados foram utilizados procedimentos da estatística descritiva
para caracterização da amostra (percentagem).
Resultados
e discussões
Análise
da ficha de anamnese
O estudo levantou dados de que 59% das colaboradoras não praticam atividade
física e 37% praticam exercício físico dos quais foram citados a
musculação, caminhada e futsal, sendo que 4% não responderam. Em relação ao
uso de bebida alcoólico 59% relataram não fazer uso, 37% fazem a ingestão de
bebida alcoólica, 4% não responderam. O estudo constatou que 89% não possuem
nenhum tipo de lesão muscular óssea e 11% disseram possuir algum tipo de
lesão como: protrusão discal no nível da C2 – C6, tendinite e bursite.
Os colaboradores relataram que já se submeteram a alguma cirurgia, sendo 59%
assinalaram: plástica, cesariana, hérnia, tireoidectômica total, cirurgia no
cotovelo e fraturas. 63% das funcionárias relataram não possui nem tipo de
problema ou doença na família, já 37% indicaram ter casos de doença como:
diabete, hipertensão, tireoide, osteoporose, hepatite B, problemas cardíacos,
bronquite e problema na coluna.
Sobre o uso de medicamentos, 74% assinalaram que não utilizam nenhum
medicamento e 22% fazem uso de algum tipo. Sobre sintomatologias 78% relataram
não possuir nenhum tipo e 22% apontaram algumas sintomatologias como: dor no
joelho, desidratação discal na T2, falta de força no braço e na mão. A
figura 01 permite-nos visualizar os resultados do questionário no início do
programa de ginástica laboral.
Figura
1. Resultado da Ficha de Anamnese adaptada (LEITE, 1990)
Fonte:
Dados coletados pelos autores, 2012
No questionário foram atribuídas sete doenças, sendo que apenas três foram
citadas. As funcionarias relatam ter dores de cabeça frequentes 19%, dores na
coluna frequentes 37% e 26% relataram ter outras doenças: colesterol,
fibromialgia, sinusite, dores nas pernas e braços, problema de visão, tireoide
e problemas renais.
Figura
2. Resultado da Ficha de Anamnese adaptada (LEITE, 1990)
Fonte:
Dados coletados pelos autores, 2012.
Considerando os dados coletados acima, um programa de Ginástica Laboral pode
diminuir os sintomas e melhorar os resultados, trazendo uma melhora na saúde e
na auto-estima das funcionárias, aliviando a tensão do dia a dia e promovendo
uma melhor qualidade de vida, com maior disposição tanto para as atividades
diárias. Entretanto, surge a necessidade de desenvolver estratégia para
diminuição do sedentarismo visto que um número significativo não realiza
exercício físico sistematizado fora do ambiente de trabalho. Para Aranha et
al. (2007) os fatores de risco compreendem alterações que podem causar
prejuízos de várias ordens à saúde de um indivíduo como: física,
psicológica e social, os hábitos alimentares errados, sedentarismo,
situações de estresse, uso indiscriminado de álcool e tabaco, falta de
compreensão sobre as transformações no mundo do trabalho atual.
Avaliação
do desconforto postural
Como se observa na figura 03 foi avaliado o nível de desconforto postural onde
registramos uma maior incidência de dores na região do ombro direito e
esquerdo, punho direito e esquerdo, joelho direito e esquerdo, cervical, costal
média e lombar. Através do estudo, observou-se que as avaliadas possuem um
desconforto na região do ombro direito 33%, 37% no ombro esquerdo, 30%
relataram sentir dor no punho direito e esquerdo 19% possuem dor no joelho
direito e esquerdo.
Tendo como parâmetro esses resultados, é importante destacar como um
diagnóstico importante para o planejamento do programa de ginástica laboral e
direcionamento dos exercícios para as áreas mais afetadas no sentido de
promover uma melhor qualidade de vida.
Figura
3. Desconforto postura – Vista anterior, adaptado (LEITE, 1990)
Fonte:
Dados coletados pelos autores, 2012
A figura 04 mostra que as funcionarias possuem um alto índice de dor na região
das costas medial em 59%. Essas podem ocorrer em consequência da má postura,
pois permanecem muitas horas sentadas na mesma posição. Na região cervical,
52% relataram sentirem dor relatadas em consequência do tempo que passam
olhando para baixo para realizar as tarefas diárias. Outros sintomas foram
indicados na região lombar inferior 52%, panturrilha 11%, joelho direito 7% e
no tornozelo lateral esquerdo com 4%.
Figura
4. Desconforto postura – Vista posterior, adaptado (LEITE, 1990)
Fonte:
Dados coletados pelos autores, 2012
A má postura sentada pode causar lesões e dores, sendo caracterizada pela
parte superior das costas curvada ou corcunda, cabeça direcionada para frente e
região lombar curvada, sendo um hábito ruim, que pode ser mudado com um pouco
e esforço e dedicação (LIMA e CRUZ, 2011).
A ginástica laboral previne contra as doenças ocupacionais, doenças estas que
são desencadeadas através de movimentos repetitivos e posicionamentos
inadequados. Os equipamentos de trabalho devem ser adaptados para uma melhor
postura do individuo, ou seja, mobiliário, dispositivos eletrônicos e postura
corporal adequada previnem lesões juntamente com a ginástica laboral que
proporciona uma melhor qualidade de vida ao trabalhador.
Teste
de sentar e alcançar
Após a finalização da coleta de dados, os indivíduos foram separados em
grupos de acordo com idade, para analisar individualmente cada colaborador de
acordo com os protocolos de flexibilidade para o estudo. O protocolo utilizado
foi o do ‘teste de sentar e alcançar’ com banco de Wells conforme a tabela
Canadian Standardized Teste of Fitness (GUEDES E GUEDES, 2006).
Figura
5. Sentar e Alcançar – sexo feminino - com banco Wells
Fonte:
Guedes e Guedes (2006)
No pré-teste, 5% foram classificados com resultados excelente, 10% acima da
média, 7% na média, 14% abaixo da média e 21% ruim. O baixo nível de
flexibilidade na região lombar e da musculatura da região posterior da coxa
podem desencadear dores lombares. Esse componente da aptidão física para a
saúde é importante para garantir bem-estar, com menos dores, principalmente
lombares, diminuindo o risco de lesões nas atividades físicas da vida diária
(GLANER, 2007).
Figura
6. Teste de Sentar e Alcançar - Banco de Wells (Guedes e Guedes, 2006)
Fonte:
Dados coletados pelos autores (2012)
Após seis meses de Ginástica Laboral foi realizado o pós teste e os
resultados apontam que a melhoria na qualidade de vida foi significativa, houve
uma melhora na média de flexibilidade em relação ao inicio do programa. Com o
aumento da flexibilidade as tarefas diárias se tornam mais fáceis de serem
administradas. Segundo Reis (2003) durante a aplicação da ginástica laboral,
mesmo no trabalho, com alongamentos, consegue-se melhorar o nível de
flexibilidade e consequentemente contribui para uma melhor qualidade de vida do
trabalhador, principalmente o que executa suas tarefas na postura
sentada.
Avaliação
do programa de Ginástica Laboral (GL)
O programa de Ginástica Laboral nos mostrou resultados positivos em direção a
uma melhor qualidade de vida. Como apontam as funcionárias houve 95% no alivio
das dores corporais, 90% disseram que o relacionamento com os colegas de
trabalho melhorou, 95% sentem-se mais dispostas para as atividades diárias, 95%
citam que houve uma melhora no bem-estar em geral e 67% das funcionárias
indicam uma melhora significativa citando a prática da Ginástica Laboral como
fator desencadeante, como aponta a figura 08.
Figura
8. Avaliação do Programa de Ginástica Laboral (GL)
Fonte:
Dados coletados pelos autores (2012)
Segundo Neto (2007) com o programa de Ginástica Laboral os benefícios para
empresa são a diminuição dos problemas de saúde do trabalhador e aumento da
produtividade, ou seja, há uma diminuição de reclamações por dores
musculares, queda no número de afastamento ou faltas ao trabalho por motivos
médicos e também diminuição dos acidentes e lesões de trabalho com
consequente redução dos gastos com afastamento e substituição dos
trabalhadores. Para os funcionários proporciona modificações em seu estilo de
vida em busca de hábitos mais saudáveis e melhorando a qualidade de vida,
auxilia no desempenho em outros exercícios físicos, aumenta à consciência
corporal, melhora a autoestima e o bem-estar, a relação interpessoal entre os
funcionários.
Conclusão
A análise dos dados do programa de Ginástica Laboral nos evidencia um
resultado satisfatório que proporcionou vários benefícios para a qualidade de
vida das colaboradoras. Inicialmente houve um grande índice de dores
relacionadas ao movimento repetitivo, porém obteve uma diminuição com a
prática regular das atividades orientadas, aliviando os sintomas das dores.
Dentre os principais benefícios, apontamos para a melhor utilização das
estruturas osteoarticulares, a prevenção de lesões e doenças por traumas
cumulativos, como as LER/DORT, melhora na flexibilidade, redução da fadiga no
final da jornada, maior autoestima, melhor consciência corporal e melhoria das
relações interpessoais.
É importante ressaltar que a Ginástica Laboral é um dos atributos que
contribui para melhoria da saúde do trabalhador. Entretanto, não é
recomendado utilizá-la de forma isolada, mas em conjunto com conjunto com
outras áreas da saúde ocupacional como: medicina do trabalho, ergonomia,
fisioterapia, segurança do trabalho e apoio do departamento recursos humanos.
Cabe lembrar a necessidade de mais estudos referentes a essa população para
que novos resultados sejam observados, assim como o incremento de outras
variáveis de avaliação e a continuidade da prática da Ginástica Laboral no
ambiente de trabalho citado, no sentido de manter e melhorar os resultados
apresentados.
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires,
Agosto de 2014
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