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Atuação do enfermeiro na emergência e o uso da classificação de risco

Intervención del enfermero en emergencia y el uso de la clasificación de riesgo

 

*Enfermeira, Especialista em Emergência Hospitalar, Hospital das Clínicas, Salvador, Bahia

**Acadêmica de Enfermagem da FUNORTE, Montes Claros, Minas Gerais

***Fisioterapeuta, Professor Mestre da FUNORTE, Montes Claros, Minas Gerais

****Odontólogo, Professor Doutor da Universidade de Cartagena, Cartagena das Índias (Colômbia)

*****Odontólogo, Professor Doutor da FUNORTE, Montes Claros, Minas Gerais

******Enfermeira, Professora Doutora da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, (Brasil)

Lucivalda Barbosa Santos*

Ana Monique Gomes Brito**

Árlen Almeida Duarte de Sousa***

Antônio Diaz Caballero****

Daniel Antunes Freitas*****

Lia Cristina Galvão dos Santos******

danielmestradounincor@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Os serviços de emergência no Brasil tiveram, nestes últimos anos, um aumento considerável no número de pacientes que utilizam este serviço ocasionando uma superlotação dos postos de atendimento. A finalidade deste estudo é conhecer a importância das ações do enfermeiro na avaliação dos pacientes em unidade de emergência a partir do uso de protocolo para classificação de risco. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica exploratória. Conclui-se que, o profissional enfermeiro a frente de uma unidade de emergência, definindo prioridades e ordem de atendimento deve ser competente, responsável e habilidoso, pois estará lhe dando com situações delicadas desde o risco de morte do paciente quanto a exigência de um atendimento imediato por este.

          Unitermos: Triagem. Serviços de emergência. Avaliação de Risco.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A precária estrutura dos serviços de atendimento ambulatorial à população do Brasil repercutiu em um aumento na procura de atendimento rápido e eficiente nos serviços de pronto socorro, essa crescente demanda trouxe a superlotação deste tipo de unidade.

    A violência, o aumento no número de acidentes, o crescimento da população e o aumento nos índices das doenças crônico-degenerativas ocasionam o crescimento da demanda nas emergências (Brasil 2006 apud ULHÔA 2010). Além disso, muitos pacientes que procuram as unidades de emergências não tiveram nenhuma avaliação e atendimento anterior (atendimento primário), e muitas vezes quando procuravam atendimento eram necessárias medidas mais radicais como tratamentos invasivos, sendo que muitas vezes não tinha a solução adequada para o problema de base (IDE; COLS, apud PIRES 2010).

    Ao considerar a importância dos serviços de emergência e a crescente demanda de pacientes é necessário buscar novas estratégias que venham a favorecer um atendimento ágil, eficaz e de qualidade, dando prioridades aos quadros emergenciais, ou seja, graves. Atentando-se para isto, uma estratégia que vem sendo implementada por alguns serviços é o Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco (AACR).

    Sabendo-se que a unidade de emergência é uma área que requer conhecimento e habilidade do serviço, é fundamental que ocorra o Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco (AACR) a ser realizado pelo enfermeiro, sendo imprescindível que este possua aptidões específicas para tal papel. Uma vez sendo realizada essa classificação de maneira correta, visando o paciente como um todo e tendo uma visão holística da situação, o serviço de emergência torna-se fluente e os casos mais graves onde ocorre agravo à vida terão devida prioridade, pois será necessária a realização do cuidado individual.

    O serviço de AACR, realizado pelo enfermeiro, segundo Pires (2010, p. 37) “constitui uma nova área de atuação e permite melhorar o gerenciamento do serviço, pois contribui para garantir acesso do paciente, diminuir o tempo de espera, riscos e ocorrências iatrogênicas além de melhorar a qualidade do atendimento”.

    O objetivo desse estudo é analisar a importância das ações da enfermagem na avaliação dos pacientes em unidade de emergência a partir do uso de protocolo para classificação de risco.

Metodologia

    O presente estudo foi desenvolvido sob a forma de revisão bibliográfica científica de caráter exploratório. O tempo proposto para o estudo ficou compreendido entre o período de três a seis meses para a coletânea do acervo bibliográfico com objetivos para a leitura, a análise, a formulação de hipóteses e a redação acerca do tema. As categorias revisionais são apresentadas a seguir.

Revisão de literatura

    Quando é feita uma revisão histórica pode-se observar que o Brasil vem passando por diversas transformações em suas políticas de saúde principalmente com o processo desencadeado pela reforma sanitária na década de 70 onde com isto implementou-se o Sistema Único de Saúde (SUS).

    A reforma sanitária proporcionou “a construção de novos modelos de atenção e reorientação das práticas de saúde, possibilitando um maior impacto sanitário e a legitimação pela sociedade” (AVELLO; GRAU, 2004, p. 41).

    O atendimento integral é uma forma de assistência que objetiva a atenção do ser como um todo, não um ser dicotomizado referido por uma patologia ou pelo número de atendimento. Ainda que preconize a saúde e não a doença este atendimento visa a assistência às diversas situações de vida que provocam o adoecimento ou falecimento do indivíduo. A integralidade da assistência significa ainda o acesso deste indivíduo a todos os níveis de complexidade do sistema desde sua prevenção e promoção à saúde até a sua recuperação e reabilitação através dos níveis secundário e terciário de atendimento (AVELLO; GRAU, 2004).

    A cada ano os índices de acidentes e violência urbana vêm elevando, o que agregados à ineficiência da rede de saúde geram uma decisiva sobrecarga nas unidades de emergência (TOLEDO, 2009).

    Aos poucos, o AACR vem sendo implementado, lapidando a atividade anteriormente chamada de triagem, com o objetivo de ser mais abrangente e resolutiva (MAURER, 2010).

    Devido a sua subjetividade o termo “triagem” está sendo substituído pelo processo de Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco (AACR), algo mais completo e abrangente em conformidade com os princípios: universalidade, equidade e acessibilidade dos usuários aos serviços de saúde.

    “O AACR é uma tecnologia utilizada pelo Ministério da Saúde no sentido de reorientação da política assistencial nos serviços de emergência, articulando os valores de humanização e qualificação da assistência” (SHIROMA; PIRES, 2011, p. 14).

    É muito importante ressaltar que acolher é diferente de classificar quanto ao risco. Primeiramente é realizado o acolhimento para depois ocorrer à classificação de risco, ou então é realizado o acolhimento junto com a classificação de risco, mas nunca se classifica o risco para depois acolher. O acolhimento ocorre desde o primeiro contato do paciente na instituição fazendo com que ele se sinta bem recepcionado, protegido e munido de atenção, se concretizando na prática cotidiana. Na classificação de risco ocorrerá a priorização do atendimento, uma ordenação conforme a necessidade e gravidade do paciente, não excluindo ninguém, pois todos serão atendidos.

    O enfermeiro, por ser o profissional qualificado, deve classificar o risco de acordo com a percepção de sinais e sintomas que o paciente venha apresentar. “Pois ele é o profissional que irá ouvir a queixa principal, identificar os riscos e a vulnerabilidade (escuta qualificada) e se responsabilizar para dar uma resposta ao problema demandado” (Brasil, 2004 apud ULHÔA 2010, p. 42).

    Para que esse encaminhamento seja devidamente realizado de forma fidedigna, é imprescindível o preenchimento do cadastro corretamente. Essa é a ferramenta fundamental do enfermeiro, pois consta de todas as informações necessárias para embasá-lo em quais atitudes e cuidados que deverá fornecer ao paciente. São de grande importância os registros de enfermagem ser realizados pela equipe de enfermagem, pois esse documento comprova os serviços e os cuidados que são prestados ao paciente, e o direcionamento de cada atitude que são realizados por toda a equipe, validando a sua eficiência e eficácia (RIBEIRO, 1972 apud TOLEDO, 2009).

    Os registros de enfermagem são de grande importância pois são meios de comunicação escrita para todos os membros da equipe, são documentos legais perante a justiça e são relatos verídicos registrados sobre o paciente e como o mesmo se apresenta. Por isso que ao realizar os registros de enfermagem no acolhimento, o profissional deve fazê-lo de forma clara, legível, preenchendo com os dados corretos que o paciente apresenta, possuir data, hora e nome do profissional responsável pelo atendimento. É muito importante deixar de lado rasuras, palavras apagadas ou de difícil entendimento, abreviaturas e siglas que não são padronizadas (TOLEDO, 2009).

    No Brasil geralmente se aplica a escala CTAS (CANADIAN TRIAGE ACUITY SCALE) que é a validada em território nacional ou o PROTOCOLO DE MANCHESTER (MANCHESTER TRIAGE SYSTEM MTS). Os critérios para a utilização de cada escala vão de acordo com o protocolo estabelecido por cada instituição, que irá escolher qual das abordagens irá trabalhar.

    A escala CTAS classifica o paciente quanto ao nível (TOLEDO, 2009, p. 35):

  • Nível 1 – Ressuscitação

  • Nível 2 – Emergência

  • Nível 3 – Urgente

  • Nível 4 – Pouco urgente

  • Nível 5 – Não urgente

    Já o PROTOCOLO DE MANCHESTER classifica o usuário quanto às seguintes cores:

  1. VERMELHO = “Emergência (Será atendido imediatamente na sala de emergência”). (JÚNIOR; LIMA; ROCHA; ALMEIDA; OLIVEIRA; ANDRADE; GONÇALVES, 2005, p. 3). Onde deverão receber cuidados médicos e de enfermagem imediatos. Casos de ressuscitação o paciente será encaminhado para a sala destinada a ressuscitação. Os pacientes identificados pela cor vermelha são a primeira prioridade, desta maneira a equipe que atender esse paciente deve estar preparada e atenta.

  2. LARANJA = Atendimento urgente. (TOLEDO, 2009, p. 36). Será atendido com prioridade sobre os pacientes classificados como amarelo e aguardarão atendimento médico em sala de observação.

  3. AMARELO = Urgência (“Será atendido com prioridade sobre os pacientes classificados como VERDE, no consultório ou leito da sala de observação”). (JÚNIOR, et al., 2005, p.3). Aguardarão atendimento médico em sala priorizada para os mesmos onde irão estar sob observação contínua de toda equipe.

  4. VERDE, ”ou seja, sem risco de morte imediato, somente será atendido após todos os pacientes classificados como VERMELHO e AMARELO”. (JÚNIOR; et al., 2005, p. 3); Ocorrerá avaliação em caso de alteração do quadro clínico.

  5. AZUL, “ou seja, quadro crônico sem sofrimento agudo ou caso social (deverá ser preferencialmente encaminhado para atendimento em Unidade Básica de Saúde (UBS) ou atendido pelo Serviço Social”). (JÚNIOR; et al., 2005, p. 3).

    Muito importante ressaltar que todos pacientes classificados na cor Verde e Azul poderão aguardar atendimento na Unidade de Emergência, caso seja a sua vontade.

    É fundamental avaliar o paciente com ênfase na sua dor independente da cor que o mesmo seja classificado, pois esse dado é necessário e fundamental para classificar o paciente quanto ao risco. A avaliação da dor é realizada investigando quanto ao início, local, duração, intensidade e tipo.

    Após o Acolhimento com Avaliação e Classificação de risco (AACR) o enfermeiro providencia de forma ágil o atendimento adequado para cada caso, além de identificar as urgências e emergências, organizar o processo de trabalho que resulta na diminuição da superlotação e informa os pacientes e familiares o tempo de espera inclusive os dos pacientes classificados com a cor azul ou verde.

    O Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco (AACR) sendo realizado dessa forma vai priorizar o paciente de acordo com o seu estado clínico e não por ordem de chegada, diminuindo o risco de mortes que podem ser evitadas, além de encaminhar de forma segura o acesso aos pacientes à Unidade Básica de Saúde.

Considerações finais

    Este estudo vem associar-se aos já existentes com o intuito de trazer novas informações acerca do assunto bem como despertar maiores interesses após termos demonstrado a sua grande importância.

    O profissional enfermeiro a frente de uma unidade de emergência, definindo prioridades e ordem de atendimento, deve ser competente, responsável e habilidoso, pois estará lhe dando com situações delicadas desde o risco de morte do paciente quanto a exigência de um atendimento imediato por este. Sendo assim, o profissional deve estar preparado e saber separar o que é realmente necessário no momento e o que pode ser protelado.

    Desde o período de formação do enfermeiro, que são trabalhados não apenas fatores biológicos, mas também sociais e psicológicos que constituem o indivíduo. Fatores estes essenciais na prática de acolher e do cuidar. O que chamamos de acolhimento é algo que deve estar presente a qualquer cuidado prestado ao paciente seja em uma unidade emergencial ou não.

    A classificação de risco que concerne em determinar após uma “avaliação” criteriosa a prioridade de atendimento é uma atividade de extrema responsabilidade. Sendo assim quem o fizer deve estar capacitado técnico-cientificamente.

    Neste contexto não só o profissional deve atuar, mas também as instituições hospitalares, de ensino e o governo a fim de investir nestas áreas, capacitando os profissionais envolvidos, disponibilizando recursos humanos e materiais cada vez mais inovadores que venham a permitir uma maior agilidade do processo e resultados positivos bem como a realização de estudos não só para conhecer o assunto em si, mas também despertar novos interesses e pesquisadores com este intuito.

Referências

  • AVELLO, Isabel M. Sancho; GRAU, Carme Ferré. Enfermagem: Fundamentos do Processo de Cuidar. Revisão Técnica e Adaptação para a realidade brasileira: Ariadne da Silva Fonseca. São Paulo: DCL, 2004.

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção as Urgências. 3ª Edição ampliada, Série E. Legislação de saúde. Brasília: 2006.

  • CALIL, Ana Maria. Estrutura Organizacional de um Serviço de Emergência. In: SALLUM, A. M. C.; PARANHOS, W. Y (orgs.). O enfermeiro e as situações de emergência. 2ª edição Revista e atualizada, São Paulo: Ed: Atheneu, 2010.

  • FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda; Mini dicionário da língua portuguesa. Coordenação Marina Baird Ferreira, Margarida dos Anjos; equipe Elza Tavares Ferreira et al. 3ª Ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

  • GATTI, M.F.Z; LEÃO, E. R. Enfermeiro em Serviço de Emergência: a identificação de prioridades de atendimento. Revista Nursing, vol 73, n 7, p. 24-29. Brasil: Junho, 2004.

  • MAFRA AA; Belezia FB; Barbosa YR; Rates SMM; Noronha R; Rocha MOC. Protocolo de Acolhimento com Classificação de Risco nas portas de entrada de urgências e emergências do Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte, 27 de outubro 2005.

  • MATIAS-PEREIRA, José. Manual de Metodologia da Pesquisa Científica. São Paulo: Atlas, 2007, p. 71.

  • MAURER, Tiago Claro. Enfermeiro no Acolhimento com Classificação de Risco na Emergência Pediátrica. Trabalho de conclusão de curso, Porto Alegre, 2010: Universidade do Rio Grande do Sul.

  • PIRES, Patrícia da Silva. Tradução para o português e validação de instrumento para triagem em serviços de emergência: "Canadian Triage and Acuity Scale" (CTAS). 2003, 206 f. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

  • PIRES, Patrícia da Silva. A Triagem no Pronto-socorro. In: SALLUM, A. M. C.; PARANHOS, W. Y (orgs.), O enfermeiro e as situações de emergência. 2ª edição Revista e atualizada, São Paulo: Ed: Atheneu, 2010.

  • SHIROMA, Lícia Mara Brito; PIRES, Denise Elvira Pires de. Classificação de risco em emergência – um desafio para as/os enfermeiras/os. Enfermagem em Foco: Revista Oficial do Conselho Federal de Enfermagem, Brasilia, vol. 2, n. 1, p. 14-17, Fev. 2011.

  • TAVARES, Deborah Maria Alves Gertrudes. COREN – DF Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal, Nº 005/2010 Atribuição da enfermagem na triagem com classificação de risco em urgência. Brasília: 22 de março de 2010.

  • TOLEDO, Alexandre Duarte. Acurácia de Enfermeiros na Classificação de Risco em Unidade de Pronto Socorro de um Hospital Municipal de Belo Horizonte. 2009 140 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.

  • ULHÔA, Maria de Lourdes. A IMPLANTAÇÃO DE NOVA TECNOLOGIA: implicação na eficiência do trabalho na unidade de pronto atendimento de um hospital público de urgência e emergência. 2010, f. 141. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade Novos Horizontes, Belo Horizonte: 2010.

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