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Nível de atividade física e relação cintura-quadril de servidores 

estaduais da secretaria de cidadania e trabalho de Goiás

Nivel de actividad física y relación cintura-cadera de servidores estatales de la secretaría de ciudadanía y trabajo de Goiás

 

*Discentes do Curso de Educação Física da Universidade Salgado de Oliveira

**Orientador. Docente do curso de Educação Física da Universidade

Salgado de Oliveira, Mestre e Doutor em Educação Física

(Brasil)

Dyego Ferreira Facundes*

Pablo Lucio Reis*

Renata Fonseca Melo*

Selma Barbosa Batista*

Thales Agostinho de Oliveira*

Ademir Schmidt**

selmbb@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A modernização tecnológica e os hábitos alimentares inadequados têm contribuído para o agravamento da obesidade e do sedentarismo. Desse modo, trabalhadores que possuem atividades meramente administrativas e, portanto de natureza hipocinética, estão ainda mais suscetíveis ao desenvolvimento de uma vida sedentária, bem como adiposidade excessiva resultando no aparecimento de doenças coronarianas, diabetes, hipertensão. Isso acaba refletindo em perda de rendimento, produtividade e aumento do estresse no ambiente laboral, contribuindo para o aumento de licenças e atestados médicos, afastamento por motivos de doença, ocasionando assim, altos gastos para empresas e órgãos públicos. A partir disso, objetivou-se mensurar o nível de atividade física de funcionários públicos estaduais da Secretaria de Estado de Cidadania e Trabalho de Goiás através do Questionário Internacional de Atividades Físicas (IPAQ), associando-o aos valores de relação cintura-quadril (RCQ) como forma de estimar o risco coronariano dos sujeitos. Foram avaliados 42 servidores técnico-administrativos com idade entre 20 e 63 anos. Quanto ao nível de atividade física geral, 50% da amostra foi classificada como ativa, bem como 42,86% dos homens e 53,57% das mulheres. Em contrapartida, 28,57% e 14,29% dos homens e mulheres respectivamente foram avaliados como sedentários. 40,48% dessa população geral e 64,29% dos sujeitos masculinos apresentaram risco coronariano moderado, enquanto que 39,29% da amostra feminina obtiveram alto risco. A amostra analisada demonstrou valores de atividade física admissíveis pela literatura. No entanto, quanto ao risco coronariano, tanto o público feminino quanto masculino deveria preocupar-se com seus índices, pois os mesmos representam risco à saúde.

          Unitermos: Atividade física. Risco coronariano. Servidor público.

 

          Trabalho de Conclusão do Curso de Educação Física - Bacharelado.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    Atualmente tem-se discutido e atribuído muita notoriedade aos altos índices de obesidade e sobrepeso tanto em países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento (MONTEIRO, MONDINI e SOUZA et al, 1995; POPKIN e DOAK, 1998). Tais epidemias mundiais têm contribuído satisfatoriamente para o desenvolvimento desenfreado de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão arterial, câncer, diabetes melitus (MARIATH, GRILLO e SILVA et al., 2007), distúrbios esses que, associados, corroboram para elevar consideravelmente as doenças cardiovasculares, principalmente o risco coronariano (ZAMAI, RODRIGUES e BANKOFF et al, 2008).

    Concomitantemente aos fatores de risco biológico acima descritos, os elementos ambientais tais como a modernização tecnológica, a alegação da falta de tempo, os hábitos alimentares inadequados, bem como a inatividade física também são tidos como fatores de risco para o aumento da obesidade, do sobrepeso (ULBRICHT, STADNIK e MASCARENHAS et al, 2009; SCHNEIDER, CARVALHO e PEREIRA et al, 2011; LERARIO, GIMENO e FRANCO et al, 2002) e conseqüentemente das doenças coronarianas. Esses fatores ambientais são bastante observados em funcionários técnico-administrativos, tanto de empresas privadas quanto de órgãos públicos, uma vez que a atividade laboral destes indivíduos é essencialmente hipocinética, ou seja, executam a maior parte de suas funções sentadas ou com o mínimo de esforço possível (OLIVEIRA, MOREIRA e LOPES et al, 2013), associadas é claro, a uma dieta possivelmente desequilibrada focada em alimentos de grande aporte energético (SCHNEIDER, CARVALHO e PEREIRA et al, 2011; ZAMAI, RODRIGUES e BANKOFF et al, 2008).,

    As principais problemáticas que nortearam o desenvolvimento deste artigo foram: Será que funcionários públicos daquela secretaria de estado possuem níveis satisfatórios de atividade física? Será que o RCQ apresentará valores preocupantes no que tange ao risco coronariano dos servidores, tendo em vista que os mesmos executam suas funções predominantemente sentados e possuem uma jornada diária de trabalho de 8 horas? E ainda: quais as conseqüências para a saúde dos estatutários que expressarem índices divergentes do que é destacado como saudável pela literatura?

    Diante da atual conjuntura, as áreas relacionadas à saúde, principalmente a Educação Física, têm intensificado a utilização dos indicadores antropométricos e dos questionários para avaliar as medidas corporais e os níveis de prática de atividade física respectivamente, para posteriormente compará-los a valores designados como salutares, bem como estimar quais os riscos para a saúde do avaliado.

    Sendo assim, este estudo objetivou mensurar o nível de atividade física de funcionários públicos estaduais da Secretaria de Estado de Cidadania e Trabalho de Goiás através do Questionário Internacional de Atividades Físicas (IPAQ) associando-o aos valores de relação cintura-quadril (RCQ) como forma de estimar o risco coronariano de todos os sujeitos envolvidos na pesquisa.

2.     Investigando o assunto

    De acordo com a World Health Organization

    (...) a obesidade é uma doença crônica, que envolve fatores sociais, comportamentais, ambientais, culturais, psicológicos, metabólicos e genéticos. Caracteriza-se pelo acúmulo de gordura corporal resultante do desequilíbrio energético prolongado, que pode ser causado pelo excesso de consumo de calorias e/ou inatividade física (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE [OMS], 2000, p. 4).

    Constantemente, os meios de comunicação têm debatido acerca dos índices ascendentes de obesidade e sobrepeso. Estudos atualizados têm mostrado que o sobrepeso e a obesidade relacionam-se a inúmeras doenças cardiovasculares (POWERS e HOWLEY, 2000) como, por exemplo, o infarto e o acidente vascular cerebral.

    Está bem definido na literatura, inclusive nacional, que alta proporção de GC (obesidade) potencializa o aumento na concentração plasmática de lipoproteínas de baixa densidade (LDL-C low density lipoprotein cholesterol), com concomitante redução na concentração sanguínea nas lipoproteínas de alta densidade (HDL-C high density lipoprotein cholesterol). Estas frações alteradas proporcionam a formação da placa de ateroma nos vasos sanguíneos, para culminar em infarto ou acidente vascular cerebral (CEZAR, 2000, p. 5).

    A Sociedade Brasileira de Cardiologia apud Mariath, Grillo e Silva et al. (2007) aponta que 80% da população adulta é sedentária, sendo que 11% dos adultos brasileiros estão obesos, o que corrobora para o aumento da morbidade e mortalidade, já que a obesidade é fator de risco para várias doenças crônicas não transmissíveis. No entanto, dados do Ministério da Saúde (2013) através da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) realizada entre julho de 2012 a fevereiro de 2013 comprovam que os percentuais estão mais alarmantes. Segundo a pesquisa, os índices de obesidade aumentaram para 17% e o sobrepeso atinge 51% dos indivíduos acima de 18 anos.

    Entretanto, deve-se ponderar que “além do excesso de gordura, sua distribuição pelo corpo também interfere, sendo que a gordura abdominal é a que representa maior risco para a saúde do indivíduo” (WORLD HEALTH ORGANIZATION apud BRASIL, 2006, p. 22). Guedes e Guedes (2006, p. 37) ainda consideram que “principalmente a gordura abdominal oferece riscos à saúde, independente da idade e inclusive da quantidade total de gordura corporal”. Ou seja, tais autores concordam que o excesso de adiposidade abdominal influencia diretamente no risco à saúde de um indivíduo, de modo que segundo Domingues Filho (2012, p. 1)

    (...) essa gordura contribui para o aumento na taxa de triglicérides e de LDL, criando um desequilíbrio lipídico, o que pode elevar a pressão arterial e desenvolver diabetes, além de contribuir para o risco de infarto do miocárdio e de um acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, nas mulheres há o risco de desenvolver câncer nas mamas, no útero e no cólon.

    Sendo assim, podemos inferir que o risco coronariano dos indivíduos, obesos e com sobrepeso, participantes das pesquisas está se acentuando. Mas afinal, o que é fator de risco? E mais, o que é risco coronariano?

    De acordo com Loures-Vale e Martinez (2001, p. 7) fator de risco “é qualquer traço ou característica que possa predizer a probabilidade de um indivíduo vir a manifestar determinada doença [...]”. Petroski (2005, p. 31) ainda ressalta que “um fator de risco, contudo, não é uma causa necessária, nem suficiente para o surgimento de uma doença”. Isto quer dizer que uma pessoa pode ou não manifestar uma doença, neste caso uma doença coronariana, pois estar com um risco elevado não quer dizer que um sujeito será acometido por uma enfermidade, mas sim que há um aumento nas probabilidades de desenvolvê-la.

    Destarte, embasando-se na definição de Loures-Vale e Martinez, o risco coronariano é um traço ou característica que pode predizer a probabilidade de um sujeito desenvolver uma doença arterial coronariana.

    Concomitante a esta epidemia mundial que se constitui como um fator de risco para diversos tipos de doenças crônicas não transmissíveis já citadas, os altos índices de indivíduos sedentários também têm corroborado para o desenvolvimento de tais distúrbios. Mas para aprofundar neste assunto é imprescindível destacar a definição desse termo.

    Barros Neto apud Ghamoum (2009, p. 21) destaca que o sedentarismo é definido “como a falta ou grande diminuição da atividade física[1]”. Ainda segundo Ghamoum (2009, p.21) “do ponto de vista da medicina moderna, o sedentário é o indivíduo que gasta poucas calorias por semana com atividades ocupacionais”, ou seja, o sedentarismo está intrinsecamente associado à inatividade física (INGLÊS, 2008) e tem se agravado diariamente devido a diversos outros fatores. Ulbricht, Stadnik e Mascarenhas et al (2009, p. 46) ressaltam que “os crescentes níveis de urbanização, a falta de espaços públicos adequados para o lazer, o aumento da criminalidade, a alegada falta de tempo” associados é claro, à intensa evolução tecnológica são fatores que incentivam essa postura hipocinética das pessoas. Nahas (2001, p.15) complementa que

    (...) nas civilizações modernas as novas tecnologias têm poupado o ser humano de exercícios físicos mais intensos no trabalho e as raras horas de descanso e lazer, transformaram-se em horas sentado no sofá, assistindo televisão ou na frente do computador.

    O resultado dessa falta de atividade física, juntamente com as mudanças nos hábitos alimentares, estabelece uma relação viciosa e muito íntima entre sedentarismo e obesidade (LESSA, 1998), haja vista que a inatividade física atrelada a uma provável má alimentação resulta em um consumo energético maior do que o gasto calórico, culminando no armazenamento da energia restante em forma de gordura influenciando diretamente o aumento da massa corporal (BRASIL, 2006).

    Contudo, é necessário salientar e destacar que o sedentarismo também afeta diretamente no desenvolvimento das atividades de trabalho, principalmente devido à mecanização do mesmo e pelo fato de passarmos a maior parte do tempo na atmosfera laboral, o que favoreceu o comportamento hipocinético nesse ambiente, aumentando a exposição às doenças cardiovasculares (ROCHA, PIE e CARDOSO et al., 2011) especialmente de funcionários técnico-administrativos que passam a maior parte do tempo sentados. No estudo de Alvarez (1996) com servidores da Universidade Federal de Santa Catarina, ele constatou que maioria dos trabalhadores podia ser considerado sedentário, passando grande parte do tempo sentada, além de não praticar atividades aeróbicas ou esporte, nenhuma vez por semana. Segundo a pesquisa, os servidores reclamaram muito de dor na coluna, dor de cabeça e obesidade, sendo que 15% dos trabalhadores apresentaram hipertensão arterial. Distúrbios que são confirmados por Pereira apud Ghamoum (2009, p. 21), pois segundo ele “a falta de exercícios físicos está associada à obesidade, doença arterial coronariana e a problemas na coluna vertebral”.

    Esse panorama de hipocinesia de servidores técnico-administrativos requer atenção especial das empresas e principalmente dos órgãos públicos, haja vista que um maior número de funcionários portadores de doenças crônicas não transmissíveis resulta em maiores índices de absenteísmo (afastamento), aposentadorias precoces, perda de produtividade, gastos com serviços de saúde (SANTOS, CAMARGO e PINTO et al., 2007) o que conseqüentemente aumenta os gastos do governo com auxílio-doença, licença médica dentre outros.

    De acordo com a explanação de Vasconcelos (2001, p. 28)

    a adoção de programas de qualidade de vida e promoção da saúde proporcionariam ao indivíduo maior resistência ao estresse, maior estabilidade emocional, maior motivação, maior eficiência no trabalho, melhor auto-imagem e melhor relacionamento. Por outro lado, as empresas seriam beneficiadas com uma força de trabalho mais saudável, menor absenteísmo/rotatividade, menor número de acidentes, menor custo de saúde assistencial, maior produtividade, melhor imagem e, por último, um melhor ambiente de trabalho.

    Por isso, mesmo que a empresa ou um órgão público tenha gastos com o financiamento de programas de promoção á saúde por meio de exercícios físicos, tais despesas não se comparam àqueles despendidos em licenças médicas, auxílio-doença, uma vez que o investimento estará sendo na manutenção de sujeitos saudáveis que integram a força de trabalho de uma instituição, o que resultaria no aumento de produtividade individual e coletivo. “As organizações devem olhar mais para o custo da manutenção de empregados saudáveis, e não somente para o custo de não mantê-los saudáveis; devem envolver na gestão tanto as pessoas saudáveis, quanto àquelas que têm um ou mais fatores de risco ou mais condições crônicas” (SANTOS, CAMARGO e PINTO et al. 2007, p. 4).

    Portanto, a prática regular de atividades físicas acarreta diversos benefícios, principalmente no que tange à diminuição dos fatores de risco de doenças crônicas não transmissíveis.

    (...) a atividade física, tanto previne quanto auxilia no tratamento de muitos fatores de risco ateroscleróticos estabelecidos, incluindo a pressão sanguínea elevada, resistência à insulina e intolerância à glicose, altas concentrações de triglicerídeos, baixas concentrações de HDL-C, e obesidade (PETROSKI, 2005, p. 41).

    Além disso, tal prática auxilia também nos aspectos psicossociais, pois “proporciona efeitos fisiológicos e psicológicos positivos, entre eles a melhoria da auto-estima, diminuição do estresse e da ansiedade, melhoria das funções cognitivas e da socialização e maior sensação de bem-estar (ROCHA, PIE e CARDOSO et al., 2011, p.18). Para tanto, todos os estudos nessa área são unânimes em destacar todos os melhoramentos originados por um programa de exercícios físicos.

    Em contrapartida a esses dados alarmantes, as áreas da saúde e notadamente a Educação Física tem pesquisado acerca de diversas variáveis antropométricas que possam estimar o risco coronariano e assim, permitir a prescrição mais consistente de um programa de exercícios físicos com vistas a reduzir tal risco. Os indicadores mais utilizados para estimar a distribuição de adiposidade abdominal são: a Circunferência de Cintura (CC) e a Razão Cintura-Quadril (RCQ) e, mais recentemente, o Índice de Conicidade (Índice C) e a Razão Cintura/Estatura (RCEst). Segundo Almeida (2008, p. 31) tais indicadores são confiáveis, porém não há uma consonância literária sobre qual deles é o melhor indicador.

    Esses indicadores apresentam, por vezes, altas correlações com os resultados obtidos mediante métodos de mensuração mais fidedignos. É controverso qual desses indicadores apresenta o melhor desempenho para avaliar risco coronariano. Também, não há consenso na literatura sobre quais os pontos de corte para cada indicador que melhor representem a obesidade abdominal e seus conseqüentes riscos à saúde.

    Diante disso, optou-se por utilizar o índice de relação cintura-quadril (RCQ) para estimar aquele risco. O American College Sports of Medicine (2006, p. 48) ressalta que

    A relação cintura-para-quadril é uma comparação entre a circunferência da cintura para circunferência do quadril. Esta relação representa melhor a distribuição do peso corporal e, talvez, da gordura corporal em um indivíduo. O padrão de distribuição do peso corporal é reconhecido como um prognosticador importante dos riscos da obesidade para saúde.

    Domingues Filho (2012, p. 1) também reitera que a relação cintura-quadril (RCQ) é “uma forma bastante comum de estimar e perceber a distribuição da gordura dos segmentos superiores em relação aos segmentos inferiores e foi desenvolvida para prognosticar o risco de doença crônica”. Tal medida é definida através da relação (divisão) entre o perímetro da cintura (corresponde à menor circunferência da cintura, habitualmente 2,5cm acima do umbigo, após uma expiração normal) e o perímetro do quadril, que é a maior circunferência ao redor das nádegas, acima da prega glútea (ACSM, 2006). Após efetuar tal relação, os resultados são submetidos a tabelas de referência a fim de estimar o risco coronariano (baixo, moderado, alto e muito alto) de um indivíduo. Neste trabalho foi utilizada a classificação proposta Heyward e Stolarczyk (1996) que categoriza esse risco para homens e mulheres com faixas etárias entre 20 e 69 anos.

    Além disso, torna-se relevante definir o nível de atividade física de um sujeito para se conhecer o quão ativo ele está. Para tanto, existem diversos métodos utilizados para mensurar esse nível sendo que, um dos mais utilizados é o Questionário Internacional de Atividade Física (International Physical Activity Questionnaire – IPAQ). De acordo com Benedetti, Mazo e Barros (2004) esse questionário foi desenvolvido por pesquisadores da Organização Mundial de Saúde, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e do Instituto Karolinska da Suécia e testado em mais 12 países, inclusive no Brasil. No Brasil, ele foi examinado e testado pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS) sob a coordenação do Doutor Victor Matsudo. O IPAQ foi desenvolvido em duas versões, longa e curta. A versão curta mostrou-se mais satisfatória para o presente estudo, haja vista que

    as versões longas podem demandar um tempo prolongado redundando, às vezes, em respostas equivocadas. Por essa razão, as versões curtas são mais favoráveis, pois além de produzir resultados similares não são tediosas ao se responder. Nos questionários contendo questões relativas ao passado, as respostas dependem da memória do entrevistado, aspecto que pode levar a uma superestimação ou subestimação de alguns dados (RIBEIRO, 2010, p. 10).

    No presente instrumento são realizadas perguntas acerca da freqüência e duração de atividades físicas efetuadas na semana anterior. As perguntas referem-se a atividades leves, moderadas e vigorosas praticadas durante o trabalho, lazer, tarefas domésticas e deslocamento/ transporte (ROCHA, PIE e CARDOSO et al., 2011) e depois submetidas à própria classificação do IPAQ.

    Destarte, tanto a RCQ quanto o IPAQ fundamentam-se como métodos baratos, acessíveis, de fácil interpretação e aplicabilidade, pois permitem identificar os fatores de risco de diversas doenças, possibilitando e direcionando um programa de atividades físicas, uma vez que, medidas profiláticas são mais interessantes e menos dispendiosas do que ações corretivas medicamentosas.

3.     Metodologia

    A pesquisa se classifica como descritiva, que segundo Cervo e Bervian (2002) caracteriza-se por observar, registrar, analisar e correlacionar variáveis sem manipulá-las, procurando descobrir, com a precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características.

    Participaram da pesquisa 42 sujeitos (sendo 28 mulheres e 14 homens) com faixa etária entre 20 e 68 anos (média de 49,21± 12,32) da Secretaria de Estado de Cidadania e Trabalho de Goiás, com carga horária diária de 08 horas de segunda a sexta-feira. Todos os envolvidos na pesquisa desempenham suas atividades laborais predominantemente sentados.

    Os sujeitos foram submetidos à determinação da relação da circunferência da Cintura-para-Quadril (RCQ) e à classificação do nível de atividade física através do questionário Internacional de Atividades Físicas (IPAQ), versão curta. A RCQ foi determinada de acordo com o protocolo do ACSM (2006) utilizando uma fita métrica flexível retrátil de 150 cm. da marca Macrosul.

    Depois da aplicação do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e determinada a RCQ, os dados foram tratados com base na estatística descritiva utilizando o software Microsoft Excel (versão 2010) e comparados aos padrões de referência disponíveis na literatura pertinente.

4.     Resultados e discussão

    A partir da determinação e verificação dos dados obtidos foram construídos gráficos representativos de cada parcela estudada em conformidade ao todo. Como demonstrado no gráfico 01, 19,05% dos servidores que responderam aos questionários não realizavam nenhum tipo de atividade física, ou seja, eram indivíduos classificados como sendo sedentários. Do restante observado, 9,52% eram insuficientemente ativos tipo A; 19,05% eram insuficientemente ativos tipo B; 50,00% eram considerados ativos na realização de atividade física e apenas 2,38% foram muito ativos do ponto de vista do nível de atividade física.

Gráfico 01. Nível de Atividade Física – Geral

    A população mundial, ainda que de forma discreta, procura de alguma forma desempenhar algum tipo de atividade relacionada à pratica física. Entretanto, a concretização de uma rotina de exercícios que definitivamente impactaria de forma positiva é algo que definitivamente poderia influenciar nestes resultados observados. A atividade física associada a reeducação alimentar são medidas de ordem primária que modificam de forma convincente a qualidade de vida das pessoas. Muito já foi feito, entretanto medidas resolutivas ainda precisam ser incrementadas.

    Nessa perspectiva, há a necessidade de iniciativas voltadas à disponibilização de modalidades esportivas com a oferta de áreas que possuam quadras de esporte, campos gramados e também de areia, locais para a prática de atividades físicas atendendo as necessidades intrínsecas de cada modalidade, tais quais: futebol, futsal, voleibol, basquetebol; quadras para jogos de petecas, ciclovias e tantas outras formas de atividades possíveis, que se configuram como atitudes necessárias e de caráter urgente para melhoria da qualidade de vida da população.

    Este investimento de recursos mostra-se altamente requisitado, o que com certeza despertaria um maior interesse pelos indivíduos levando, conseqüentemente, a um aumento na execução das atividades físicas. Isto proporcionaria mais qualidade à saúde de todos e concretizaria a realização de exercícios físicos, quando o próprio indivíduo se tornaria motivado à execução dos mesmos. Alguns projetos e investimentos já estão modificando esse cenário, entretanto, muito mais precisa ser feito (MINELLI, NASCIMENTO e VIEIRA et al., 2010).

Gráfico 02. Nível de Atividade Física – Homem/Mulher

    No gráfico 02 é apresentada a classificação do Nível de Atividade Física – Homem/Mulher, de acordo com o questionário Internacional de Atividades Físicas (IPAQ). Verificou-se que 28,57% dos homens e 14,29% das mulheres eram indivíduos sedentários; 7,14% dos homens e 10,71% das mulheres eram insuficientemente ativo tipo A; 14,29% dos homens e 21,43% das mulheres eram insuficientemente ativo tipo B; 42,86% dos homens e 53,57 das mulheres eram considerados ativos e exclusivamente 7,14% dos homens eram muito ativo.

    Os resultados obtidos em relação aos níveis de atividade física apresentados no segundo gráfico revelam que as mulheres podem ser consideradas mais ativas que os homens, entretanto, somente os homens apresentaram um nível de atividade física muito alto. Mais indivíduos do sexo masculino foram classificados como sedentários, apesar de que os riscos coronarianos foram mais preocupantes entre a população feminina (gráfico 04). A determinação destes fatores são paradoxais, já que mais mulheres se exercitam e mais mulheres também apresentam riscos suscetíveis ao aparecimentos de problemas cardíacos.

    Segundo Nahas (2006) as práticas regulares de atividade física proporcionam aos indivíduos praticantes efeitos fisiológicos e psicológicos positivos, a saber, melhoria da autoestima, diminuição do estresse e da ansiedade, melhoria das funções cognitivas e da socialização, e maior sensação de bem-estar (ACSM, 2003).

    Neste estudo os níveis de atividades físicas gerais estão mais elevados, entretanto, na estratificação por sexo os homens dessa amostra se mostraram menos ativos do que os estudados no Hospital Universitário De Londrina, por Porto, Paulo Filho e Fernandes (2011) e próximos dos percentuais gerais encontrados por Rocha, Pie e Cardoso et al (2011).

    Como observado no gráfico 03, 14,29% do universo amostral utilizado pela pesquisa apresentou riscos coronarianos de baixo índice; 40,48% dos indivíduos foram estimados com riscos coronarianos de índices moderados; 33,33% destes indivíduos apresentaram riscos coronarianos de altos índices e apenas 11,90% dos indivíduos foram classificados com riscos coronarianos muito altos.

Gráfico 03. Risco Coronariano Geral

    Portanto, a população estudada apresenta um índice significativo de incidências de riscos coronarianos, já que, 85,71% dos indivíduos analisados sofriam com riscos consideráveis para desenvolvimentos de doenças cardiovasculares, bem como coronarianos, associadas a fatores como infarto agudo do miocárdio e aparecimento de quadros de derrames. Em contrapartida, apenas 14,29% destes indivíduos apresentaram níveis baixos para desenvolvimento destes problemas cardíacos. Sabe-se que manter a saúde aliada à rotina de execução de atividades profissionais cotidianas, não é algo fácil. O desgaste a que os servidores são submetidos em seu ambiente de trabalho, bem como nas relações interpessoais, são fatores bem significativos para o desenvolvimento de doenças (PETROSKI, 2005). Conforme Queiroga (2005) o ser humano estará sempre exposto às diversas alterações que ocorrem em suas condições ambientais e em seu estilo de vida o que, por sua vez, os sujeitará a modificações orgânicas que determinam sua própria qualidade de vida, desde a fecundação até a morte. Como exemplo, pode-se citar os efeitos da evolução tecnológica diminuindo os gastos energéticos, tornando os sujeitos mais sedentários e mais expostos ao desenvolvimento de doenças de um modo geral. Para Petroski (2005) esses servidores são candidatos potenciais ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Gráfico 04. Risco Coronariano – Homem/Mulher

    No gráfico 04 é apresentada a classificação do risco coronariano com segregação dos resultados entre os sexos masculino e feminino, levando-se em consideração a relação da circunferência da Cintura-para-Quadril (RCQ). Desse modo, encontrou-se em um nível de baixo risco coronariano 14,29% dos homens e mulheres; em uma situação de risco moderado 64,29% dos homens e 28,57% das mulheres; em índices de alto risco 21,43% dos homens e 39,29% das mulheres; e em risco muito alto 17,86% das mulheres, exclusivamente. Considerando os valores referentes à gordura abdominal dos dois grupos e sua disposição para doenças cardiovasculares, observa-se que as mulheres estão mais sujeitas a tais doenças, haja vista que apresentam índices maiores de desenvolvimento de doenças coronarianas. Em contrapartida, os homens apresentaram um número menor em comparação ao das mulheres, tanto no risco alto quanto no muito alto. Portanto, a população feminina, desempenha fator determinante para esta pesquisa já que os resultados apontam para a ocorrência de problemas coronarianos voltados a este público. Pode-se inferir que problemas de ordens hormonais, tabagismo, alcoolismo (CHAIEB e CASTELLARIN, 1998) bem como utilização de contraceptivos orais e injetáveis (DURANTE, ALCÂNTARA e ZAGONEL, 2012), além da constituição corporal feminina que por característica própria apresenta uma maior composição de gordura, poderiam ser fatores que determinariam esta maior probabilidade. Desta forma, medidas voltadas a esta conscientização e investimentos voltados à linguagem feminina poderiam diminuir estes riscos associados a esta população em específico, o que acarretaria em reduções na incidência de doenças associadas ao coração. Ademais, pode-se sugerir que as práticas de atividades físicas desempenhadas pelas mulheres e avaliadas pelo IPAQ poderiam não ser aquelas que realmente influenciariam em reduções voltadas ao incremento de fatores que realmente determinariam em reduções de tais índices. O depósito de gordura do tecido adiposo visceral é o que mais implica em riscos para a saúde, principalmente no que diz respeito ao risco coronariano. Os dados apontam que existe um número maior de mulheres com risco muito alto. Entretanto há também um número maior de homens com risco moderado e de alto risco. Portanto ambos têm demonstrado valores preocupantes na relação cintura/quadril, o que indica também risco cardiovascular aumentado. Sabe-se que o tecido adiposo libera adipocinas, sendo estas substâncias as causadoras de doenças tais como a aterosclerose, hipertensão arterial, resistência insulínica, diabetes tipo 2 e dislipidemias. Na obesidade esses processos são também potencializados (HERMSDORFF e MONTEIRO, 2004). Sedentarismo e a obesidade são fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas não transmissíveis. Diante desses dados torna-se vital a promoção de mudanças no estilo de vida dos funcionários, visto que os índices demonstram alta prevalência de obesidade central de acordo com o perímetro abdominal, sendo tal quadro mais predominante entre as mulheres, em consonância com os estudos de Schneider, Carvalho e Pereira et al. (2011) e Gharakhanlou, Farzad e Agha-Alinejad et al. (2012). Portanto, este estudo apresentou prevalência de fatores de risco para doenças crônico-degenerativas entre os funcionários, com destaque para a gordura abdominal das mulheres, além do baixo índice de inatividade física dos homens.

5.     Conclusão

    Constatou-se que, na média, os níveis de atividade física geral e específico dos indivíduos estão em patamares tidos como saudáveis pela literatura. Isso decorreu do fato de que a maioria dos indivíduos relatou o desenvolvimento de atividades físicas fora do ambiente laboral. Concomitantemente, a maioria das mulheres realiza atividades domésticas por pelo menos 3 vezes por semana. Tais relatos contribuíram para a obtenção de mais indivíduos ativos, segundo a classificação do IPAQ.

    Entretanto, paradoxalmente aos resultados obtidos com o questionário de atividade física e ao contrário do que é preconizado cientificamente, a maioria dos indivíduos (inclusive a amostra masculina) apresentou riscos coronarianos moderados, ao passo que as mulheres foram classificadas com alto risco. Tal paradoxo pode ser explicado pelo fato de que as atividades desenvolvidas, principalmente pelo público feminino, não são suficientes para gerar um gasto calórico que resulte em perda de adiposidade abdominal, ou seja, as atividades efetuadas podem não ser as mais adequadas para esse objetivo, o que acaba influenciando na elevação do risco e conseqüentemente no desenvolvimento de doenças coronarianas, diabetes, obesidade, hipertensão, aterosclerose dentre outros.

    Por conseguinte, para reverter esse panorama, é recomendável que todos os sujeitos procurem assistência antes de iniciar um programa de exercícios físicos além das atividades laborais. Aliado a isso, é necessário que os órgãos públicos se atentem para essa oportunidade. Desse modo, seria interessante que tais repartições se mobilizassem na realização de convênios com clubes, academias ou até mesmo no financiamento para a construção de espaços propícios para a prática de exercícios físicos. Além disso, esses locais devem ser acessíveis aos servidores para não prejudicar as atividades profissionais. Vários são os estudos que comprovam que um corpo saudável permite um aumento na produtividade, no rendimento, maior resistência ao estresse, o que indicaria uma economia aos cofres públicos, visto que são altos os gastos com auxílio-saúde, licenças-médicas, afastamento e aposentadoria por motivo de doença.

    Para tanto, é válido recomendar a realização de estudos mais abrangentes, isto é, com outras secretarias e agências estaduais, para se obter uma visão geral de como estão os índices de atividade física e de risco coronariano dos servidores públicos estaduais para, posteriormente efetuar uma intervenção de curto prazo a fim de obter resultados que possibilitem maior capacidade de convencimento às autoridades no que tange aos benefícios resultantes da implantação dessa política de saúde no serviço público, acarretando em efeitos recíprocos, tanto para o funcionário quanto para a administração estatal.

Nota

  1. Segundo Guedes e Guedes (2002) atividade física é compreendida como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta em dispêndio energético acima dos níveis de repouso.

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