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Permanente aprimoramento físico do árbitro de futebol.

Uma contribuição para o desempenho profissional eficiente

La mejora física permanente del árbitro de fútbol. Una contribución al rendimiento profesional eficiente

 

*Universidade Federal de Viçosa (UFV)

**CREF G/RJ 1604 - Fluminense Football Club

(Brasil)

Johel Abrahão Vieira Fonseca*

Márcio Assis Marques Barbosa**

johel_@msn.com

 

 

 

 

Resumo

          O artigo aqui apresentado trata do preparo físico do árbitro de futebol como fator preponderante no aprimoramento do desempenho de suas funções. O objetivo geral do estudo é identificar a necessidade e conveniência desse preparo ao longo de toda a carreira de um árbitro. A carreira desse personagem do futebol tem a duração de, no máximo, até quarenta e cinco anos de idade, o que representa pouco tempo para a realização pessoal, considerando que o árbitro deva alcançar prática e técnica avançadas antes de poder apresentar-se em jogos de elite nacionais e internacionais. Os árbitros, de forma geral, têm uma idade consideravelmente superior aos atletas sob sua supervisão. Nesse contexto, pode-se levantar a questão sobre a persistência do aprimoramento físico como recurso a contribuir para um desempenho eficiente até o final da carreira. A natureza teórica proposta para o estudo permitiu a opção por uma abordagem em base bibliográfica com a seleção de informações teóricas apresentadas em livros, revistas e artigos produzidos por especialistas e pesquisadores da área esportiva, material disposto em formato tradicional ou online. O estudo permitiu concluir que, ainda que não seja um profissional e nem sempre possa se dedicar unicamente às atividades de arbitragem, a preparação física do árbitro de futebol deve permear sistematicamente toda a sua carreira, a fim de aprimorar as características necessárias ao desempenho eficiente das funções requeridas por sua prática.

          Unitermos: Árbitro. Arbitragem. Desenvolvimento humano. Aprimoramento biomédico. Esforço físico.

 

Resumen

          El documento que aquí se presenta se ocupa de la preparación física del árbitro de fútbol como un factor importante en la mejora del desempeño de sus funciones. El objetivo general del estudio es identificar la necesidad y conveniencia de esta preparación a lo largo de la carrera de un árbitro. La carrera del árbitro de fútbol tiene una duración de un máximo de hasta los cuarenta y cinco años, lo cual es muy poco tiempo para la realización personal, teniendo en cuenta que el árbitro debe lograr la práctica y la técnica avanzada antes de que pueda presentarse a dirigir partidos de la élite nacional e internacional. Los árbitros, en general, tienen una edad considerablemente superior a la de los atletas bajo su supervisión. En este contexto, se puede plantear la cuestión de la persistencia de la mejora física como recurso para contribuir a un rendimiento eficiente hasta el final de su carrera. La naturaleza teórica propuesta para este estudio permitió la opción de un enfoque de base de datos bibliográfica con la selección de la información teórica presentada en libros, revistas y artículos elaborados por expertos e investigadores en el área de deportes, dispuesto en material tradicional u on line. El estudio concluyó que, aunque no sea un profesional y no siempre pueda dedicar exclusivamente a las actividades de arbitraje, la preparación física del árbitro de fútbol debería estar presente en forma sistemática a lo largo de su carrera con el fin de mejorar las características de rendimiento necesarias para la realización eficiente de la que se requieren para su práctica.

          Palabras clave: Árbitro. Arbitraje. Desarrollo humano. Superación biomédica. Esfuerzo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    O presente artigo analisa a conveniência do aperfeiçoamento físico, ao longo da carreira do árbitro de futebol, tendo em vista a sua estreita relação com atletas altamente preparados para um esporte que exige esforço contínuo. Pode-se observar também, ainda, que os árbitros prontos para atuarem em partidas de alto nível nacional e internacional têm, em geral, quinze anos a mais em relação aos jogadores que estão sob sua supervisão; a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) permite atuação até quarenta e cinco anos (FIFA, 2012).

    O desenvolvimento de técnicas e a forma de apresentação do futebol nos últimos anos exigem de seus praticantes um aperfeiçoamento físico cada vez mais apurado e, à medida que isso acontece em relação aos atletas, a mesma exigência se apresenta em relação aos árbitros, pois eles representam o elemento sem o qual não haverá a realização de uma partida (NUNES, 2006).

    A questão proposta no presente estudo relaciona-se à busca das recomendações de pesquisadores ligados ao estudo da conveniência do árbitro de futebol manter o preparo físico ao longo de toda carreira, a fim de conseguir um trabalho eficiente: Qual a posição assumida por pesquisadores de temas esportivos sobre o aprimoramento físico do árbitro de futebol, visando se manter aptos para o desempenho eficiente de sua função ao longo da carreira?

    O objetivo do estudo é identificar a necessidade e a conveniência de um bom preparo físico e aprimoramento ao longo da carreira dos árbitros de futebol, recomendadas pelos pesquisadores, como fator primordial no desempenho de suas funções. A natureza teórica do estudo permitiu a opção por uma abordagem bibliográfica demarcada pela reunião de estudos científicos com informações teóricas apresentadas em livros e artigos científicos da área baseados nos critérios subjetivos relacionados ao desempenho dos profissionais produzidos por especialistas e pesquisadores da área, dispostos nos formatos tradicional e on line.

    O presente estudo busca o trabalho desempenhado pelo árbitro de futebol e reconhece a carga de trabalho físico que lhe cabe em cada partida, procurando compreender as demandas fisiológicas para desempenhar seu papel no futebol.

    O documento da FIFA, Leis do Jogo, estabelece que uma partida de futebol seja disputada sob o controle de uma equipe de arbitragem com o comando e orientação de um árbitro principal nomeados. As decisões desse árbitro sobre os acontecimentos relacionados ao evento, inclusive sobre o fato máximo da partida, a validade ou não de um gol e o seu resultado final, não têm apelo. A revogação de uma atitude tomada só pode ser feita por ele mesmo se admitir alguma incorreção por indicação de um dos dois árbitros assistentes, que ajudam a velar pela aplicação das Leis ou do 4º árbitro “desde que o jogo ainda não tenha recomeçado ou terminado” (FIFA, 2012, Lei 5, p. 23).

    Nesse contexto, está o risco de uma decisão desencadear a incompreensão que gera a revolta de adeptos, jogadores e dirigentes de uma determinada equipe, que se sinta prejudicada. Mesmo sabendo que, apesar de todo o seu conhecimento e correção, jamais agradará a todos, as decisões do árbitro precisam estar conforme as regras, sendo definitivas e devem ser tomadas em tempo imediato aos fatos. Qualquer que seja o resultado do gesto do árbitro no humor do outro, o seu comportamento deve ser equilibrado, pautado em qualidades como “a calma, a honestidade, a integridade, a imparcialidade, o decoro, a retidão, a sobriedade, a modéstia, a firmeza, a coragem, a coerência, a concentração e a atenção” (REIS, 2006, p. 11).

    À medida que a preparação física dos atletas de futebol cresceu e se tornou mais científica, também apareceu, para o árbitro, a necessidade de se aperfeiçoar fisicamente, pois, no contexto do desempenho de suas funções, para estar seguro de que cada ocorrência tem amparo nas regras pelas quais é responsável e deve aplicar com competência e imparcialidade, a exigência desejável e natural é sua presença próxima aos lances acontecidos quase que simultaneamente, nos diferentes pontos dos mais de sete mil metros quadrados, percorridos velozmente por vinte atletas prontos para o embate (CERQUEIRA; SILVA; MARINS, 2011).

    Apesar do reconhecimento das exigências que cercam a carreira de um árbitro tornarem cada vez mais difíceis as oportunidades de acesso ao posto, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) refere-se à busca de ingresso nos quadros de arbitragem como um movimento incessante e muito disputado. Atualmente, não basta saber as regras do jogo e ser detentor de boas intenções. Exigências como estatura e boa disposição física são critérios eliminatórios na concorrência ao ingressar nos cursos, além “de idade, exames clínicos, oftalmológicos e eletrocardiograma de esforço, escolaridade e várias negativas sobre a vida pessoal do candidato, além de provas teóricas e de aptidão física” (GUTIÉRREZ; VOSER, 2012, p. 1).

    Uma vez aprovado nas propostas obrigatórias, o árbitro “passa a ter os seus passos seguidos e seu comportamento e atitudes, tanto dentro como fora do campo, levados em consideração pela Comissão Estadual de Arbitragem”. Além das exigências locais o árbitro deve realizar os testes físicos propostos pela FIFA a cada semestre, a fim de ser considerado apto a concorrer às escalas a que se candidate (GUTIÉRREZ; VOSER, 2012, p. 1).

Método

    A preocupação específica com a atividade do árbitro de futebol foi demarcada no final da década de 1980, quando a FIFA para acompanhar a evolução da carreira desse agente desportivo, implementou medidas voltadas para o conhecimento e melhoria do trabalho por ele realizado. Entre essas medidas encontravam-se a aplicação dos testes de avaliação física e a determinação de uma idade máxima, 45 anos (quarenta e cinco), menor, portanto, que a permitida até então – 50 anos – para que o profissional integrasse o seu quadro (CERQUEIRA; SILVA; MARINS, 2011).

    Os testes elaborados e aplicados pela FIFA, na década de 90, passaram por alterações, como por exemplo, em 1995, a abolição da medida de agilidade (4 x 10 m). Em 2001, a alteração ocorreu na ordem de realização dos testes, contudo, permaneceu a posição generalizada de considerá-los pobres como avaliadores do desempenho físico dos árbitros durante a partida. Em 2006, a Federação estabeleceu nova bateria de testes, visando melhorar a avaliação física do árbitro e dos assistentes e foram incluídos, seis tiros de 40 metros e vinte tiros de cento e cinqüenta metros entre as atividades a serem aplicadas. Uma discussão sempre presente é a conveniência da troca do teste de resistência aeróbica por atividade mais específica das funções de árbitro, o que significa um esforço em busca de ações motoras mais próximas daquelas executadas pelos árbitros durante o jogo propriamente (CERQUEIRA; SILVA; MARINS, 2011).

    Reproduzindo as tabelas com base nas designações da FIFA, Cerqueira, Silva e Marins (2011) apresentam comentários, que justificam a posição de considerar como pobre o nível de avaliação que o órgão oficial pretende com a Circular nº 1.013 de 10 de janeiro de 2006.

Tabela 1. Valores de referência dos testes físicos para os árbitros e árbitros assistentes de nível nacional e internacional

 

Tabela 2. Valores de referência dos testes físicos para as árbitras e árbitras assistentes de nível nacional e internacional

    A primeira prova, seis tiros de quarenta metros, tem como objetivo avaliar a velocidade média de corrida durante as jogadas rápidas e repetidas da partida. A segunda, vinte tiros de cento e cinqüenta metros, o objetivo é verificar a capacidade de rendimento aeróbico em situação de intensidade repetida. Nas duas provas são referidos árbitros e árbitros assistentes conforme o gênero. A expectativa geral é que os árbitros e arbitras fossem mais exigidos nos testes físicos, pois eles percorrem maior distância total, maior distância em alta intensidade e apresentam maior freqüência cardíaca média durante uma partida, mas as tabelas mostram que os assistentes é que estão nessa situação (CERQUEIRA; SILVA; MARINS, 2011).

    Os diferentes padrões de exigência física entre os gêneros é, também, um fator a ser discutido, uma vez que as árbitras podem atuar em partidas masculinas e as exigências que se lhes fazem são menores. A reflexão sobre o tema leva a ponderar que quando se estabelece um teste físico com nível de exigência menor para as árbitras é admitir que elas não estejam aptas a cumprir com eficiência as funções para as quais foram aprovadas diante desse questionamento a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com o Ofício Circular n°44/2007-CA/CBF, determinou que, para arbitrar jogos masculinos de nível nacional ou internacional, o desempenho requerido nos testes físicos é o mesmo para ambos os sexos (CERQUEIRA; SILVA; MARINS, 2011).

    Para trabalhar a recomendação sobre o aprimoramento físico do árbitro de futebol é necessário que se conheça sua movimentação em campo, o que significa identificar e descrever os gestos e os deslocamentos realizados pelos árbitros durante um jogo e partir para o treinamento em busca das condições ideais para o exercício da função de árbitro. Com esse conhecimento será possível, além de motivar o exercício físico, compreender, para selecionar, as melhores atividades a serem executadas como parte do treinamento cuidadoso que desenvolverá as condições necessárias ao enfrentamento de um jogo longo e cada vez mais movimentado, com a preservação da resistência física e da atenção focalizada nas jogadas. É esse posicionamento, adotado pelos profissionais encarregados do treinamento de jogadores, atletas e árbitros e da análise e teoria sobre o esporte, que sugere o conhecimento do padrão de exigência física feita ao árbitro de futebol (DA SILVA; RODRIGUEZ-AÑEZ, 2003). Atualmente a função do árbitro de futebol recebe destaque por toda parte e a mídia o observa nos eventos máximos como Olimpíadas e Copa do Mundo. É, sobretudo, essa visibilidade que sugere investimento em estudos e análises sobre as variáveis que interferem na sua performance no transcorrer das disputas futebolísticas. Ao lado dos muitos esforços em busca de conhecer a melhor capacitação física de um indivíduo, homem ou mulher, para o exercício da função de árbitro de futebol, permanece a certeza de que as atividades devam simular situações reais executadas no decorrer das partidas (DA SILVA; RODRIGUEZ-AÑEZ, 2003).

    Considerando a possibilidade de simular situações reais existentes nas partidas para que o árbitro exercite sua capacidade de observação e/ou decisão, é possível dizer que o treino real acontece no decorrer do próprio jogo, pois “muito dificilmente se consegue simular situação de jogo” (PIRES, 2006).

    Não há dúvida de que a função de árbitros de futebol exige um alto nível de demanda metabólica, pois o tempo e a intensidade da partida são grandes, isso significa que o executor dessa atividade deva possuir uma adequada aptidão física. Para considerar o significado dessa aptidão, estudos existentes na área comparam o dispêndio energético do árbitro principal com o mesmo fator nos jogadores, durante uma partida e encontram uma proximidade entre os dois atores: o árbitro principal e os jogadores gastam em média 740,42 kcal no transcorrer da partida de futebol. O árbitro, por sua vez, ainda executará ações motoras que corresponderão a até 18.4 METs – Metabolic Equivalents ou Equivalente Metabólico da Tarefa (FIDELIX, SILVA, 2010).

    Para estabelecer a movimentação do árbitro, determinando seu deslocamento total e o espaço percorrido durante a partida, é freqüente utilizar-se a filmagem de cada ação motora. As ações motoras do árbitro em campo são classificadas em: a) parado, situação que atualmente é bastante reduzida, tendo em vista movimentação das partidas; b) andando, modalidade na qual passa a maior parte do tempo; o árbitro brasileiro, por exemplo, passa 58% da partida dessa forma; c) trotando, a segunda modalidade mais utilizada, 15% do tempo; a modalidade de deslocamento de costas coloca-se entre as duas modalidades anteriores. Quando se soma o tempo dessas três ações motoras andando, trotando e deslocando-se de costas, mais o tempo que passa parado verifica-se que o árbitro permanece de 60 a 90% do tempo total do jogo distribuído entre elas, atividades de baixa intensidade (DA SILVA; RODRIGUEZ-AÑEZ, 2003).

    A seguir, aparecem as modalidades ligadas à corrida: d) correndo em baixa velocidade, de 3-13 km/h, entre 41,8 e 73,8% do tempo, um exercício de baixa intensidade; em moderada velocidade, maior que 13-18 km/h, por 11 a 46,3% do tempo total de jogo, esforço reconhecido como de média intensidade; em alta velocidade (sprint), maior que 18 km/h, por 4,1 a 17,7% do tempo, alta intensidade e deslocamento de costas. A cada quatro segundos há alteração, em relação ao modo do deslocamento totalizando, aproximadamente mil e trezentas mudanças no transcurso de um jogo e, desse total, 45% ocorrem em baixa intensidade e 12%, em alta intensidade (VIEIRA; COSTA; AOKI, 2010). O desempenho físico dos árbitros durante o jogo pode ser mensurado a partir da análise do aumento ou diminuição dos sprints durante a partida, uma vez que as outras capacidades motoras pouco se alteram quando o árbitro se encontra fisicamente melhor preparado (CERQUEIRA; SILVA; MARINS, 2011). No que concerne a distância percorrida pelo árbitro na partida, esta apresenta alguma diferença entre estudos, conforme o local considerado. A literatura sobre o assunto informa que os árbitros da série A, do campeonato italiano são os que percorrem maior distância durante os jogos, cerca de treze quilômetros e, nesse movimento, são seguidos pelos da Union of European Football Associations (UEFA), que chegam a onze quilômetros (VIEIRA; COSTA; AOKI, 2010).

    Ao considerar os gastos energéticos, de árbitros e jogadores, encontram-se estudos que atribuem aos jogadores, sobretudo os meio-campistas, o mesmo deslocamento em campo. “Essa semelhança entre o deslocamento total dos árbitros e dos jogadores reforça a idéia de que os árbitros de futebol devem se preparar fisicamente de forma mais profissional e específica” (FIDELIX, SILVA, 2010, p. 30).

    No artigo ‘Estudando a Morfologia do Árbitro do Futebol após 10 anos na Arbitragem’, Fidelix e Silva (2010, p. 31) destacam-se o aumento da porcentagem de gordura adquirida, que vai “se agravando com o passar dos anos que o indivíduo permanece atuando como árbitro de futebol”, ao lado de alguma redução da massa muscular. De fato, a diminuição da massa muscular e o aumento do tecido adiposo são fatores capazes de contribuir com a redução do desempenho físico do árbitro e podem acontecer devido a alterações na dieta alimentar, diminuição da prática de atividades físicas e questões hormonais (FIDELIX, SILVA, 2010).

    Considerando a realidade de que os árbitros, para alcançarem condições de participar de jogos de primeira linha de nível nacional e internacional, necessitam ter experiências que adquirem com anos de prática e passando por várias categorias, a recomendação seria um programa de exercícios, além de acompanhamento nutricional, o que evitaria o acúmulo de gordura com o passar dos anos e favoreceria a preservação da massa muscular (FIDELIX, SILVA, 2010).

    Caso siga um processo sistemático de treino, o árbitro levará de seis a oito anos para alcançar um nível de experiências técnico disciplinar. “Então, quanto mais jovem o árbitro iniciar, tanto melhor e mais tempo útil ele terá de ‘vida’”. O ideal será, portanto, que a opção pela carreira e o respectivo aprendizado de base aconteçam o mais cedo possível, garantindo chances reais de sucesso, pois o afastamento da posição acontecerá aos quarenta e cinco anos, independente da sua forma física e técnica (LOUREIRO, 2007, p. 49).

Resultados

    O árbitro de futebol ainda não é um profissional em sentido estrito. Isso significa que para se manter esse desportista deverá desempenhar uma atividade sistematicamente remunerada fora do campo e longe do apito. Independente do fato de não ter uma fonte de renda fixa na atividade de arbitrar jogos, ele deverá dedicar-se ao treino visível, planejado e desenvolvido de forma diferenciada, de duas a três vezes por semana e, além disso, precisará cuidar do treino invisível, ou seja, ter uma vida própria de atleta, controlada de modo a conseguir equilíbrio emocional. São essas medidas que vão garantir o aprimoramento físico do árbitro de futebol, deixando-o e preparando-o, para desempenhar suas funções ao longo dos anos (ALBUQUERQUE, 2003).

    A certeza da importância de uma preparação física aproxima o árbitro do condicionamento dos jogadores e lhe garante a possibilidade de chegar ao final de cada jogo com disponibilidade mental para ajuizar os lances, o que significa em linguagem corrente, tranqüilidade para pensar e fôlego para agir. Na verdade, árbitro é um atleta que decide sobre um jogo, que corre e acompanha os lances para ajuizar com justiça, essa posição significa que deverá gerir a sua atividade, durante toda uma carreira (ALBUQUERQUE, 2003).

    O sentido que se deseja atribuir à atividade de aprimoramento físico do árbitro de futebol, aqui em estudo, refere-se a um trabalho permanente de treinamento e se apóia na definição citada no Capítulo II - Conceituação de Treinamento, apresentada em documento da Escola de Arbitragem do Rio de Janeiro (EARJ). A referida conceituação considera o treinamento desportivo como processo de aperfeiçoamento do atleta m princípios científicos e pedagógicos o qual, através de um planejamento e atuação sistemática, age sobre a capacidade e a predisposição para conduzir o atleta à maior performance em um determinado esporte ou disciplina esportiva (LOUREIRO, 2010, p. 16).

    A proposta de treinamento do árbitro de futebol em qualquer período de sua careira segue as etapas do processo de planejamento. O primeiro passo é a elaboração de um Diagnóstico, nesse momento, são identificadas as qualidades físicas específicas e aplicado testes para conhecer quais devam ser aprimoradas. O treinador fica conhecendo o estágio físico, a composição corporal a capacidade aeróbica e anaeróbica, a força e a potência, sendo identificado, então, o estágio do condicionamento físico em que se encontra o árbitro (FERREIRA, 2003). Com tais dados em mãos, será possível a uma equipe de saúde, um treinador específico e o próprio árbitro elaborarem um Prognóstico propondo objetivos e metas a serem alcançados ao final de determinado tempo, conforme o estágio de desenvolvimento físico encontrado (LOUREIRO, 2010).

    O panorama apresentado por esses dois passos permite chegar a Decisões, que determinam estratégias de ação ou Formulação do programa para a preparação física geral em busca da melhoria na condição física ligada à força, resistência, flexibilidade e agilidade. Aqui será mais importante o volume do treinamento do que mesmo a sua intensidade. Ao longo dessa etapa realizam-se atividades de avaliação formativa (LOUREIRO, 2010).

    O primeiro momento do treinamento é voltado para a preparação geral com atenção à resistência aeróbia, que é a qualidade física que permite a um atleta sustentar, por um período longo de tempo, uma atividade física relativamente generalizada onde o oxigênio é fundamental para manutenção da produção. O volume do treinamento será mais importante que a intensidade nesta fase (FERREIRA, 2003).

    No momento seguinte à preparação geral, o treinamento volta-se para uma influência determinada, contribuindo para o desenvolvimento das funções vegetativas e motoras do árbitro, sempre dando prioridade às qualidades físicas específicas da atividade. Essas qualidades dependerão do preparador físico, que define e identifica aquelas que serão priorizadas em prol da performance desejada e das condições existentes (FERREIRA, 2003).

    Rabelo et al. (2002) justificam a sua posição pelo desenvolvimento de metodologias de treinamento específico do árbitro de futebol, além de “testes que permitam uma rigorosa avaliação de sua capacidade física” e condições de preparação permanente, tendo em vista a elevada taxa de trabalho físico a que estão submetidos. Essa referencia significa que os árbitros devam seguir uma preparação física adequada à dinâmica que lhes é específica, mesmo por que, sabe-se que a fadiga física contribui para aumentar a probabilidade de erro, provocando também a diminuição da capacidade de decisão (RABELO et al., 2002, p.25).

    A Avaliação final do individuo ligado à arbitragem de futebol é a etapa que julga, classifica e interpreta os resultados quantitativos e qualitativos em relação aos objetivos propostos, aos métodos utilizados, e aos recursos aplicados. Na verdade, esta avaliação revela resultados acima do diagnóstico inicial o que permite a tomada de decisões e de responsabilidades pela seqüência do treinamento. O feedback, apresentado pelas avaliações, fornece elementos que sugerem ajustes, análise da situação e suas conseqüências, visando replanejar o processo com novo diagnóstico por ele representado (LOUREIRO, 2010).

    Compreende-se que os treinamentos específicos são direcionados a um determinado campo de necessidade ou de conveniência da atividade a que se aplica e variam seus objetivos conforme a realidade ligada à idade, sexo, constituição, nível técnico, currículo desportivo, status, detalhes que o torna, além de específico, individual (LOUREIRO, 2010).

    A especialização e a individualização de um treinamento não limitam a programação de atividades, pois exercícios que “parecem opostos em seus efeitos, servem muitas vezes como compensação, complementação, relaxamento e até mesmo recreação, quando incluídos como partes de um processo de treinamento”. Exemplificando essa afirmativa estão os esportes coletivos ao exigirem velocidade, força e resistência de seus praticantes e, no caso do futebol, também de seu árbitro (LOUREIRO, 2010, p. 50).

    A Federação de Ribatejo do Norte (FRN), Portugal, apresenta e comenta a relação dos pontos em que se devem concentrar os treinamentos dos árbitros de futebol, considerando a qualidade de sua movimentação em campo. Assim, a Federação destaca que o árbitro necessita de resistência muscular localizada, pois é essa característica que garante a repetição dos movimentos com a mesma eficiência. Em relação à velocidade, a Federação destaca a sua necessidade em algumas ocasiões dentro de campo e como essa habilidade depende dos músculos e das coordenações neuromusculares, para a execução de uma sucessão rápida de gestos de intensidade máxima e duração breve ou muito breve ela deve ser trabalhada com atenção. Também, sendo a força, em regime de resistência explosiva, a qualidade que permite a um músculo ou um grupo de músculos produzirem uma tensão e vencer uma resistência na ação de empurrar, tracionar, a Federação de Ribatejo do Norte (FRN), Portugal, sugere a presença de exercícios responsáveis por ela. Como a flexibilidade, pode ser evidenciada pela amplitude dos movimentos das diferentes partes do corpo num determinado sentido e depende da mobilidade articular e da elasticidade muscular, exercícios que a favoreçam devem fazer parte do treinamento do árbitro; tais exercícios conduzem à coordenação motora que, no todo, favorece a integração dos movimentos de forma harmoniosa e favorável a resultados eficientes.

    Para atender a essas necessidades, pode-se registrar que os exercícios de natureza anaeróbia têm efeitos acentuados sobre a musculatura esquelética e desenvolvem principalmente força, velocidade e agilidade; por outro lado, estes exercícios têm efeitos acentuados sobre a capilarização muscular e órgãos internos, sendo indicados para desenvolver a resistência orgânica, que contribui para superar a fadiga e garantir clareza ao raciocínio, contribuindo para evitar erros. (LOUREIRO, 2010).

    Para chamar atenção a essa última condição pode-se destacar uma citação de Cooper, quando considera a importância e o valor da atividade física: “Se o exercício beneficia o corpo, pode fazer maravilhas à mente”; nesse pensamento encontra-se uma relação entre aptidão física, vivacidade mental e estabilidade emocional Loureiro (2010, p. 52).

    Considerando o tempo em que o árbitro está em campo, atuando, destacam-se os seguintes benefícios, resultantes da boa preparação física, independente da idade cronológica:

  1. Freqüência cardíaca baixa significa que o coração passa a bombear o sangue com menor número de batimentos, economizando energia, fortalecendo-se e podendo trabalhar por períodos mais longos antes da fadiga.

  2. Diminuição do nível de ácido lático no sangue, ocasionando a redução das dores musculares provenientes do atrito das fibras musculares e o ácido lático.

  3. Movimentação do fluxo sanguíneo, situação que representa o aumento da vascularização, diminuição da pressão arterial, aumento do número de hemácias, diminuição do colesterol, diminuição dos triglicerídeos.

  4. Aumento do VO2, favorecendo aos pulmões a oportunidade de absorverem maior quantidade de oxigênio, para distribuição ao organismo, gerando mais energia, diminuição da freqüência respiratória (FR), diminuição do consumo energético dos músculos respiratórios. Tem-se verificado que, com o envelhecimento, ocorre uma queda nos volumes de reserva expiratório e inspiratório e uma elevação no volume pulmonar residual, em função da redução nos componentes elásticos do tecido pulmonar, observado com o envelhecimento, situação que pode ser atenuada pelo treinamento aeróbio regular.

  5. Músculos mais fortes e resistentes com maior elasticidade e velocidade, evitando distensões musculares.

  6. Aumento da amplitude das articulações, proporcionando melhor desenvolvimento dos diversos segmentos do corpo, atuando sobre os tendões e ligamentos, com o aumento da espessura e da resistência à tração.

  7. Os Ossos têm a densidade aumenta, produzindo maior resistência aos impactos.

  8. Diminui e elimina as tensões mentais.

  9. Apura o “arco reflexo”, a mais básica das atividades nervosas integradas. (LOUREIRO, 2010, p. 41).

    Loureiro demonstra que, para usufruir dos benefícios do preparo físico no momento da atuação é indispensável à disposição ininterrupta para o treinamento ao longo de toda a carreira de um árbitro de futebol. Só o treino sistemático traz o aprimoramento necessário a uma atuação eficiente do árbitro em qualquer ocasião de sua carreira.

Conclusão

    Ainda que se tenha mostrado as movimentações dos árbitros sem estabelecer uma profunda discussão, compreende-se que o árbitro de futebol tem uma carreira curta e sempre ao lado de atletas mais novos. Os estudos realizados não afirmam que o árbitro de futebol perca sua capacidade de atuação com o passar dos anos, pelo contrário, consideram a participação ao longo do tempo como fator de aprendizagem e aquisição de experiência, para a construção da carreira. Mas as fontes consultadas e seus autores insistem no treino e no aprimoramento físico realizado de forma sistemática, independente da intensidade da participação solicitada pelas federações.

    Apesar das situações que podem se apresentar como desvantagens, o árbitro de futebol deve ser um estudioso do processo e do esporte a que se dedica. O bom preparo intelectual e mesmo emocional, entretanto, não bastam, a performance física conta em muito, pois a proximidade de cada lance favorece a atenção e a percepção do acontecido e garante decisões corretas.

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  • Silva AI, Rodriguez-Añez CR. Perfil antropométrico e da composição corporal do árbitro de futebol. EFDeportes.com, Rev. Dig. [artigo na internet] 2001 Dez [citado 2012 Jan 15] 7(43): 6p. http://www.efdeportes.com/efd43/arbit.htm

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 195 | Buenos Aires, Agosto de 2014  
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