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A saúde humana sob um olhar transdisciplinar

The human health under a transdisciplinary look

 

*Licenciada em Letras – Português/Espanhol e Literaturas

Mestre em Educação Agrícola – PPGEA/UFRRJ

Instituto Federal Farroupilha Campus São Vicente do Sul

**Licenciado em Educação Física, Mestre em Educação Agrícola – PPGEA/UFRRJ

Instituto Federal Farroupilha Campus São Vicente do Sul

***Licenciado em Educação Física, Doutor em Educação em Ciências - PPGECQV/UFSM

Instituto Federal Farroupilha Campus São Vicente do Sul

Nadia Maria Covaleski Perlin*

Nelci José Donadel**

Renato Xavier Coutinho***

renatocoutinho@msn.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho objetiva registrar considerações sobre o tema: a saúde humana sob um olhar transdisciplinar, construídas a partir de um trabalho realizado no Campus São Vicente do Sul do Instituto Federal Farroupilha, RS, através da abordagem dos temas transversais na educação. O trabalho realizado baseou-se na percepção de que a saúde humana é considerada um campo transdisciplinar, sobretudo em sua dimensão coletiva. Este fato é ideal para uma abordagem na educação profissional, tendo em vista questões importantes, como uso de agrotóxicos, trabalho com animais e assuntos que envolvem as relações humanas no trabalho, prevenção de enfermidades e atitudes comportamentais em geral. Em tempos nos quais as doenças epidemiológicas se instalam no cotidiano das pessoas do mundo todo, a temática da saúde humana surge como matéria básica a ser tratada nos contextos escolares. Assim, o presente trabalho foi desenvolvido através de um projeto que envolveu a comunidade escolar e regional, em ações diversas de abordagem à temática da Saúde Humana: atividades artístico-culturais, com teatro educativo e danças; oferta de serviços básicos gratuitos, relacionados à saúde integral do ser humano. Os professores interagiram, levando a conhecimento público as formas de abordagem da temática em suas respectivas disciplinas, de forma articulada com os demais elementos curriculares.

          Unitermos: Saúde humana. Escola. Transdisciplinaridade.

 

Abstract

          This paper aims to register considerations on the subject: The human health under a transdisciplinary look, constructed from a work carried out through in the Campus São Vicente do Sul of the Federal Institute Farroupilha, RS, through of an approach of the transversal subjects in the education. The work was based on the perception that the human health is considered a transdisciplinary field, particularly in its collective dimension. It is ideal for an approach in the professional education, in a view of important questions as use of agrotoxic, work with animals and subjects that involve the human relations in the work, disease prevention and behavioral attitudes in general. In times in which the epidemic diseases install in daily lives of the people around the world, health human thematic appears as basic subject to be treated in the school contexts. The work was developed through a project that involved the school and regional community in several actions that approached the human health thematic such as: artistic and cultural activities, theater education, dances, and the offer of free basic services, related to the integral health of the human being. Teachers interacted, carrying the public knowledge the forms of approaching of the thematic in theirs respective disciplines, of an articulated form with all others curriculum elements.

          Keywords: Health human. School. Transdisciplinarity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Tradicionalmente considerado como um campo multi, trans e interdisciplinar, a saúde humana, sobretudo em sua dimensão coletiva, é o campo ideal para uma abordagem na educação profissional, tendo em vista, principalmente, questões importantes como o uso de agrotóxicos, o contato direto com máquinas e equipamentos, trabalho com animais e, além disso, questões que envolvem as relações humanas no trabalho e atitudes comportamentais em geral.

    Em tempos nos quais as doenças epidemiológicas se transformam, às vezes, em pandemias e se instalam no cotidiano das pessoas do mundo todo, a temática da saúde humana surge como matéria básica a ser tratada, nos contextos escolares, em nível de transdisciplinaridade (abordagem científica que visa à unidade do conhecimento, cujos conceitos serão explorados neste trabalho). Não apenas o surgimento das doenças “modernas”, aqui entendidas as manifestações recentes como a gripe A - H1N1, a gripe aviária, entre outras, que faz da saúde humana um tema transdisciplinar, mas também a sua grande relevância em qualquer contexto, pelas possibilidades que a mesma representa como resposta ao desenvolvimento das atividades dos indivíduos e pelos limites que sua deficiência pode ocasionar.

    Diante da amplitude com que o tema pode ser tratado, o presente estudo se configura em um convite para que as pessoas, especialmente os profissionais da educação, encontrem motivação para uma empreitada conjunta, no sentido de repensar as práticas em saúde a partir de um novo olhar, um olhar transdisciplinar.

    Desta forma, foi realizado no Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul, RS, com a participação de docentes, técnicos, a direção geral e pessoas da comunidade escolar, um projeto direcionado à comunidade regional, denominado “Comunidade Saudável”. Através do mesmo, foram executadas ações diversas de abordagem à temática da Saúde Humana, desde atividades artístico-culturais, com teatro educativo e danças tradicionalistas, até a oferta, à comunidade, de alguns serviços básicos de forma gratuita e através de parcerias, relacionados à saúde integral do ser humano, como atendimento médico para fins de verificação da acuidade visual com aplicação da Tabela de Snellen, atendimento odontológico preventivo e ambulatorial em primeiros socorros, orientações sobre pediculose, métodos contraceptivos, DST, amamentação, autoexame de mamas, hipertensão e serviços de verificação da pressão arterial, atividades estas realizadas por acadêmicos do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada de Santiago, também parceira no evento. Também foram prestadas orientações sobre nutrição, fisioterapia, saúde bucal e verificação de tipagem sanguínea, com o apoio e participação de acadêmicos do Curso de Odontologia da UNIFRA, da cidade de Santa Maria, RS.

    Como atividades complementares ao evento programado, foram realizadas entrevistas com os docentes do Campus, através das quais os mesmos manifestaram-se a respeito da abordagem do tema “Saúde Humana” em suas diferentes disciplinas e das formas como inserem o assunto, caracterizando a concretização da transdisciplinaridade.

    A opção por realizar um evento dessa natureza nas dependências de uma instituição de ensino, especialmente de Educação Profissional e Tecnológica, foi uma forma encontrada para inserir a temática da Saúde Humana no rol de disciplinas formativas dos cursos ministrados. Por essa razão, os professores, de uma maneira geral, atuaram diretamente no evento, manifestando as possibilidades de desenvolver, em suas respectivas disciplinas, um trabalho transdisciplinar.

    Os chamados “temas transversais” no contexto da educação permitem uma abordagem de conhecimentos, análises, reflexões sobre conceitos e valores fundamentais, que envolvem interesse humano. Correspondem, normalmente, a questões importantes e urgentes para a sociedade moderna, presentes sob várias formas na vida cotidiana. São temas amplos, que traduzem preocupações e anseios, possibilitam ações, estudos, formação de opiniões e envolvem a sociedade de forma dinâmica e efetiva1.

Transdisciplinaridade: concepções e objetivos

    O pensamento de Morin trata a transdisciplinaridade como sendo a prática do que une e não separa o múltiplo e o diverso no processo de construção do conhecimento. Trata-se de uma abordagem que passa entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade2.

    Na sua essência, a transdisciplinaridade é uma pedagogia de educação recente, com vinculação à complexidade, ao pensamento complexo e epistêmico, tema tratado com propriedade pelo autor, onde as relações vão além da mera integração de distintas disciplinas, mas sugere uma nova elaboração do ensino e aprendizagem. Objetiva estabelecer relações entre as disciplinas, permitindo, ao aluno, articular, religar, contextualizar, reunir os conhecimentos adquiridos no decorrer de sua vida e aplicá-los. “A finalidade a ser atingida é comum a todas as disciplinas e interdisciplinas”3.

    A transdisciplinaridade insere-se na busca atual de um novo paradigma para as ciências da educação, buscando como referenciais teóricos a teoria da complexidade, com a ideia de rede, ou de comunicação entre os diferentes campos disciplinares.

    Na abordagem em questão, a transdisciplinaridade surge como uma exigência epistemológica para lidar com a complexidade da interação dos vários componentes educacionais e sociais, sobretudo porque não se pretendeu apenas diagnosticar problemas e vislumbrar soluções, mas sim promover ações concretas relacionadas à saúde humana. Ela não deve ser considerada uma ciência ou mera disciplina. O que se entende por transdisciplinaridade volta-se para uma postura, da qual resulta um repensar e uma atitude a ser sustentada nos caminhos do conhecimento.

    Por isso a transdisciplinaridade, além de ser uma nova forma de olhar e uma perspectiva dialógica, é também uma construção teórico-prática voltada para o desenvolvimento de ações com a participação ativa dos investigadores e dos membros da comunidade na produção de conhecimentos e na busca de alternativas, no papel de agentes da mudança. O saber partilhado, fundado numa busca comum e no respeito entre todos os envolvidos, conduz a uma visão da realidade impossível de conseguir no espaço de disciplinas isoladas.

    O Congresso “Ciência e Tradição: Perspectivas Transdisciplinares para o Século XXI”4, patrocinado pela UNESCO e realizado em Paris, em dezembro de 1991, registrou algumas definições importantes sobre transdisciplinaridade, a seguir transcritas, que retratam a transição existente entre a construção intelectual humana e seu apoio na realidade vivenciada.

a) Uma das revoluções conceituais desse século veio, paradoxalmente, da ciência, mais particularmente da física quântica, que fez com que a antiga visão da realidade, com seus conceitos clássicos de continuidade, de localidade e de determinismo, que ainda predominam no pensamento político e econômico, fosse explodida. Ela deu à luz a uma nova lógica, correspondente, em muitos aspectos, a antigas lógicas esquecidas. Um diálogo capital, cada vez mais rigoroso e profundo, entre a ciência e a tradição pode então ser estabelecido a fim de construir uma nova abordagem científica e cultural: a transdisciplinaridade.

b) A transdisciplinaridade não procura construir sincretismo algum entre a ciência e a tradição: a metodologia da ciência moderna é radicalmente diferente das práticas da tradição. A transdisciplinaridade procura pontos de vista a partir dos quais seja possível torná-las interativas, procura espaços de pensamento as que façam sair de sua unidade, respeitando as diferenças, apoiando-se especialmente numa nova concepção da natureza.

c) Uma especialização sempre crescente levou a uma separação entre a ciência e cultura, separação que é a própria característica do que podemos chamar de “modernidade” e que só fez concretizar a separação sujeito-objeto que se encontra na origem da ciência moderna.

d) Reconhecendo o valor da especialização, a transdisciplinaridade procura ultrapassá-la recompondo a unidade da cultura e encontrando o sentido inerente à vida.

e) Por definição, não pode haver especialistas transdisciplinares, mas pesquisadores animados por uma atitude transdisciplinar. Os pesquisadores transdisciplinares imbuídos desse espírito só podem se apoiar nas diversas atividades da arte, da poesia, da filosofia, do pensamento simbólico, da ciência e da tradição, elas próprias inseridas em sua própria multiplicidade e diversidade. Eles podem desaguar em novas liberdades do espírito graças a estudos transhistóricos ou transreligiosos, graças a novos conceitos como transnacionalidade ou novas práticas transpolíticas, inaugurando uma educação e uma ecologia transdisciplinares.

f) O desafio da transdisciplinaridade é gerar uma civilização, em escala planetária, que por força do diálogo intercultural, se abra para a singularidade de cada um e para a inteireza do ser.

Educação e Saúde: a temática da saúde humana no contexto escolar

    Educação e Saúde são dimensões da vida humana, normalmente separadas, mas que precisam permanecer sempre juntas. Para possibilitar uma abordagem da temática “Saúde Humana” no âmbito da educação profissional, é fundamental a promoção de ações capazes de reafirmar a interrelação existente entre a promoção da saúde humana e o contexto escolar, numa perspectiva transdisciplinar.

    Existem, atualmente, muitas abordagens integradas sobre saúde e ambiente, decorrentes da necessidade de articular melhor teoria e ação, baseadas no princípio de que a qualidade de vida dos seres humanos depende do equilíbrio do ecossistema, para garantir um futuro tranquilo às gerações vindouras. Entretanto, já não é suficiente reconhecer e compreender os impactos causados pela atividade humana sobre o meio ambiente. É preciso compreender também que estes mesmos impactos têm força imperiosa sobre a saúde humana, o que torna necessária a criação de ações e estratégias específicas, a partir de conhecimentos disciplinares e práticas setoriais que conduzam a uma abordagem transdisciplinar da temática.

    É nesse sentido que devem ser maximizadas, no âmbito escolar, as formas de abordagem das relações entre saúde e educação, dando maior enfoque para a questão do papel social das instituições escolares junto às comunidades em que estão inseridas.

    Projetos pedagógicos não se restringem ao âmbito profissional, eles atingem, sobretudo, as relações humanas, o acolhimento e a própria qualidade de vida dos trabalhadores, pois se refletem em seu prazer, sua saúde, sua auto-estima, seu caráter, seu humor, seus hábitos; indo além do ambiente de trabalho ou da sala de aula, extrapolando para o mundo da vida. O ensino e a assistência deveriam se voltar às várias instâncias de produção da vida, pois o que produz a existência é a busca de cada vez mais saúde no processo de viver5.

    A combinação de educação e saúde pode tornar o processo ensino-aprendizagem muito mais eficaz, pois levará as pessoas a aprender a cuidar de si e dos outros, aumentando, com isso, o rigor nos cuidados com a saúde, através da orientação prestada pela escola, relativa aos procedimentos mínimos de higiene, boa alimentação, prevenção de doenças, entre outros. Visto sob o aspecto social, integrar o papel educacional das escolas com ações simples de orientação e prevenção, esta integração pode colaborar para diminuir o número de enfermos que congestionam os corredores de hospitais e postos de saúde, com enfermidades que podem ser evitadas através de medidas simples.

O trabalho docente no Instituto Federal Farroupilha: aspectos transdisciplinares voltados para as questões da saúde humana

    Propor-se à realização de um trabalho didático em nível de transdisciplinaridade é uma questão de atitude. “Constitui-se em uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida diante de um problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para unitária do ser humano”6.

    Um professor que assume a função de realizar esse tipo de trabalho nas escolas, certamente é detentor de certos traços de personalidade, tais como: flexibilidade, confiança, paciência, intuição, capacidade de adaptação, sensibilidade em relação às demais pessoas, aceitação de riscos, aprender a agir na diversidade, aceitar novos papéis. Uma das condições básicas para se efetivar a transdisciplinaridade é o desenvolvimento da sensibilidade, do entendimento de que, na verdade, não se ensina, nem se aprende, mas sim se vive uma determinada situação que permite questionamentos sobre o sentido e a pertinência das colaborações entre as disciplinas, visando à construção do conhecimento. Não se trata de postular uma nova síntese do saber, mas sim de constatar um esforço por aproximar, comparar, relacionar e integrar os conhecimentos.

    A metodologia transdisciplinar se revela produtiva e eficiente na medida em que os métodos são conjugados e utilizados sistematicamente como formas indispensáveis de admissão e integração dos conhecimentos, em todas as ciências, disciplinas e campos do saber.

    Nesse sentido, as entrevistas realizadas com professores de distintas disciplinas do Curso Técnico em Agropecuária da Modalidade Integrada ao Ensino Médio do Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul, RS, assim como com recursos humanos da área técnica, demonstraram a aplicação de princípios transdisciplinares voltados para a questão da saúde humana.

    As colocações feitas por profissionais da área de saúde trouxeram, em comum, a questão de que a saúde humana é um tema transdisciplinar de fato e que não existe a necessidade de ser trabalhado unicamente em sala de aula, mas sim em todos os momentos do convívio escolar. O fato de ser possível promover a orientação ou informação imediata, no momento em que um tema relacionado à saúde é abordado, como por exemplo, as DST, assunto que faz parte do cotidiano das pessoas, envolve o professor que, independentemente de sua disciplina específica, deve estar preparado para promover uma discussão, de forma construtiva.

    Surge, então, a questão da capacitação profissional. Os professores devem estar devidamente preparados para uma nova postura diante do conhecimento, que induz a uma mudança de atitude em busca do contexto desse conhecimento. Ele deve ver o aluno como pessoa integral, que necessita construir conhecimentos e ser também preparado para a vida, ou seja, trata-se da construção de um aprendizado globalizante, que rompe com os limites das disciplinas.

    É fundamental que exista uma atitude de busca, de inclusão e de sintonia diante do conhecimento. Assim, os alunos aprendem a trabalhar em grupo, a discutir e posicionar-se, habituam-se a interagir com os colegas, professores e outras pessoas do seu convívio escolar. Passam, ainda, a usufruir da condição de estabelecer um relacionamento de colaboração e parceria com a comunidade onde está inserida a escola, pois receberá uma formação cidadã.

    Porém, em se tratando de transdisciplinaridade, alguns relatos dos professores do Instituto Federal Farroupilha foram bastante enriquecedores. A educação Física, por exemplo, viabiliza a possibilidade de abordar aspectos relacionados à alimentação, à atividade física e à qualidade de vida. As disciplinas técnicas das áreas de agricultura e zootecnia, da mesma forma permitem a abordagem da alimentação saudável, da produção de alimentos de qualidade, dos cuidados com o manejo de produtos agrícola (fertilizantes, defensivos, entre outros) e muitos outros aspectos que podem interferir na saúde humana e na qualidade de vida, na escola e fora dela.

    Nas áreas de artes e letras, aqui compreendidas as disciplinas de língua portuguesa e língua estrangeira, apontaram inúmeras possibilidades de abordagem da temática da saúde humana. Atividades de leitura, produção textual, diálogos em classe, peças teatrais, palestras, enfim, uma infinidade de ações que vem sendo desenvolvidas nesta área e que trazem resultados bastante positivos, como a produção de um mini curta-metragem produzido na disciplina de inglês, cujo tema central foi o tabagismo e suas interferências na qualidade de vida dos cidadãos fumantes, a partir de experiências conhecidas e/ou vivenciadas pelos próprios alunos envolvidos no projeto.

    Outro ponto interessante que vale ora destacar, foi a colaboração do professor da disciplina de física, que trouxe a questão do eletromagnetismo, da radiação eletromagnética, tem atual que é muito debatido nos meios de comunicação de massa, onde se pode debater, orientar e posicionar-se de forma atitudinal diante dos riscos que a radiação ultravioleta, causada pela excessiva ou inadequada exposição ao sol, podem ocasionar.

    Outros exemplos importantes foram apresentados por professores das disciplinas de matemática e geografia, que tratam do conhecimento e análise de dados estatísticos relacionados às taxas de natalidade, mortalidade, saúde das populações por faixa etária e renda, localização geográfica, entre outros dados igualmente relevantes que denotam as realidades locais, regionais e mundiais da saúde humana.

    Assim, no processo de ensino e aprendizagem, percebe-se o professor como sendo o norte que ajuda o aluno a descobrir e reconstruir conhecimentos, incentivando-o a adotar posicionamentos frente a esses conhecimentos. O aluno não é um ser isolado de seu contexto. Ninguém o é. A construção do conhecimento é feita continuamente com as outras pessoas, de forma interativa e as práticas pedagógicas em sala aula não podem e não devem ser fragmentadas e descontextualizadas, pois a aprendizagem, para ser efetiva, necessita ser significativa.

Considerações finais

    A iniciativa da realização de um evento com características de complexidade no âmbito escolar superou as expectativas de público, de envolvimento das entidades parceiras e de participação efetiva da comunidade escolar e comunidade regional. Com um público estimado de mil e quinhentas pessoas, o evento traduziu as expectativas comunitárias sobre as questões da saúde, buscando orientações e participando ativamente das ações programadas.

    O resultado alcançado resume-se na concretização de saberes sobre o tema e adequada compreensão de questões atuais relacionadas à saúde humana. Foi um momento de cooperação, integração e troca de experiências, um legítimo promover de ações saudáveis, orientando novas práticas profissionais sustentadas pela abordagem transdisciplinar da temática.

    A escolha de um campo de estudos contemporâneo como tema transdisciplinar representa um alto grau de complexidade. A saúde humana é um assunto não-linear por natureza, é múltiplo, plural, emergente e multifacetado, e que exige um tratamento especial nos contextos escolares.

    É preciso pensar e repensar o saber, não sobre a base de uma pequena quantidade de conhecimentos, mas considerando o estado atual de dispersão, proliferação e parcelamento dos mesmos. Há necessidade de constante reflexão sobre o saber. Então, é preciso buscar formas renovadas de produção do conhecimento, formas científicas, sociais, político-institucionais, dentre outras. Enfim, a “a ciência nunca teria sido ciência se não tivesse sido transdisciplinar”7.

    A integração saúde-educação destaca a escola como o melhor espaço para a disseminação de informações e orientações voltadas especialmente para adolescentes e jovens, especialmente pelo fato de que os sujeitos desse processo possibilitam a interação de estudantes, famílias, profissionais da educação e da saúde.

    Ainda que se entenda, comumente, que o objetivo central da abordagem do tema saúde nos estabelecimentos de ensino seja a promoção da saúde sexual e da saúde reprodutiva, com vistas à redução da vulnerabilidade de adolescentes e jovens às DST, à infecção pelo HIV, à AIDS e à gravidez não-planejada, o tema pode ser abordado de forma muito mais significativa. Não são apenas doenças ou gravidez que se constituem em temas relevantes, mas também a qualidade de vida, o bem-estar emocional, as relações humanas. A escola passa a ser vista como um espaço para a troca de experiências, conduzidas pela realização de conferências, fórum, painéis, oficinas e atividades culturais e artísticas nos eixos temáticos relacionados à saúde humana.

    Assim, a Saúde Humana é considerada uma área eminentemente transdisciplinar e a integração de disciplinas, no âmbito dos cursos, certamente poderá levar à formação de profissionais mais comprometidos com a realidade do contexto saúde-educação e com a sua transformação.

Referências

  1. Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. 146.

  2. Morin, E. Da necessidade de um pensamento complexo. In: MARTINS, Francisco M; SILVA, J.M. (orgs.). Para navegar no século XXI - tecnologias do imaginário e cibercultura. Sulina, 1999.

  3. NOGUEIRA, N.R. Pedagogia dos projetos: uma jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo. Érica, 2001.

  4. Carta de Transdisciplinaridade – CIRET – UNESCO – 1994. Disponível em http://www.unipazrj.org.br/transdisciplinaridade.htm - Acesso em 22 de setembro de 2009.

  5. CECCIM, R. B. Saúde e doença: reflexão para a educação em saúde. In: MEYER, D. (Org.). Saúde e sexualidade na escola. Porto Alegre: Mediação, 1998.

  6. FAZENDA, I. Interdisciplinaridade: Um projeto em parceria. Campinas: Papirus, 1994.

  7. Morin, E. Educação e Complexidade: Os setes saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez, 2002.

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