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A fisioterapia na preparação para o trabalho de parto:
uma revisão integrativa

Physical therapy in preparation for labor: an integrative review

 

*Acadêmica do Curso de Fisioterapia das Faculdades INTA

**Professora do Curso de Fisioterapia das Faculdades INTA

(Brasil)

Dâmaris Parente Freitas de Sousa*

Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha**

aleudineliamonte@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Apesar de todo desenvolvimento técnico-científico, o momento do parto ainda caracteriza-se por sentimentos de medo, angústia e fantasias por parte das futuras mães, mesmo quando todos os fatores aferentes ao parto estejam normais, ele geralmente é acompanhado de sensações dolorosas. A fisioterapia no trabalho de parto proporciona à gestante em todas as fases da gestação, uma melhor qualidade de vida. Isto é possível através da utilização adequada de intervenções obstétricas à parturiente. O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa de literatura, cujo objetivo foi analisar o conhecimento produzido e divulgado nas bases de dados Scielo sobre a participação do fisioterapeuta no trabalho de parto no período de 2000 a 2012, utilizando como descritores: Gestação, Fisioterapia e Avaliação. A busca de literatura sobre o tema originou em 156 artigos, que, observados os critérios de inclusão e exclusão, resultou em sete artigos completos. A análise dos dados evidenciou as técnicas utilizadas pela fisioterapia na gestação e no parto, torna o processo de parturição mais ativo, natural e satisfatório, proporcionando à gestante redução das percepções dolorosas, do medo e da ansiedade, aumento da confiança, bem-estar físico no processo parturitivo. O estudo torna-se relevante a partir da conscientização de que a utilização dos recursos fisioterapêuticos durante o trabalho de parto proporcionam maior conforto e alívio da dor à gestante durante o parto. 

          Unitermos: Gestação. Fisioterapia. Avaliação.

 

Abstract

          Despite all technical and scientific development, the moment of the childbirth is still characterized by feelings of fear, anguish and fantasies by future mothers, even when all the factors relating to childbirth are normal; it is usually accompanied by painful sensations. During labor, physiotherapy provides a better quality of life to pregnant women at all stages of pregnancy. This is possible through proper use of obstetric interventions for women during childbirth. The study deals with an integrative literature review which aimed to analyze the knowledge produced and disclosed at Scielo databases on the participation of the physiotherapist in labor between 2000-2012 using as descriptors: Pregnancy, Physical Therapy and Evaluation. Literature search on the subject originated 156 articles which resulted in seven full articles after been subjected to the inclusion and exclusion criteria. Data analysis showed the techniques used by physiotherapy during pregnancy and childbirth, making the process of parturition more active, natural and satisfactory, providing reduction on painful perceptions, fear and anxiety, increased confidence and physical well-being in the parturition process of the pregnant. The study is relevant from the awareness that the use of physiotherapeutic resources during labor provides greater comfort and pain relief to pregnant women during childbirth.

          Keywords: Pregnancy. Physiotherapy. Evaluation.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 195, Agosto de 2014. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Segundo Faúndes et al. (2008) a gravidez e o parto são acontecimentos que se distanciam de atos meramente biológicos, por serem imersos em aspectos políticos, econômicos e sociais que se refletem nos valores culturais de uma sociedade.

    Castilho et al. (2010) ressalta ainda a possibilidade da dor no parto fazer com que algumas mulheres optem por uma cirurgia, talvez porque a ênfase cultural da dor do parto natural é maior e mais difundida do que a dor da cesárea. O medo da dor ganha força e legitimidade através da medicalização, pois a cesárea nos é apresentada como segura, inócua e desvinculada da dor.

    Nesse contexto vê-se que a participação do fisioterapeuta no trabalho de parto é de suma importância, pois este pode auxiliar com as técnicas fisioterápicas no alívio da dor, aumento da dilatação do colo uterino, facilitar o nascimento do bebê; orientar quanto à respiração, à força adequada a ser utilizada, enfim o posicionamento durante o parto propriamente dito.

    Bio et al. (2007) observou em seu presente estudo que a intervenção fisioterapêutica na assistência ao trabalho de parto auxilia na ação da estrutura osteomuscular facilitando a progressão do trabalho de parto, melhora a mobilidade pélvica promovendo a evolução da dilatação, além de que o uso consciente do corpo, estimulado pelo auxilio do fisioterapeuta, favorece o parto vaginal.

    A temática fisioterapia no trabalho de parto sempre despertou meu interesse, o qual se intensificou a partir do estágio de gineco obstetrícia como acadêmica de fisioterapia em um hospital regional de referência onde pude acompanhar partos vaginais. Nesse período, pode-se vivenciar o medo que as gestantes tinham na hora do parto, mesmo que durante o pré-natal, as mesmas já tivessem tido todas as orientações em relação ao procedimento do parto normal ou vaginal. A curiosidade e a preocupação com a preparação fisioterápica durante o trabalho de parto foram os sentimentos mais persistentes quando se decidiu produzir um estudo integrativo sobre o tema.

    O estudo teve como relevância a importância da atuação do fisioterapeuta durante o período gestacional, o parto e o puerpério. Relevante ainda para os profissionais e estudantes de Fisioterapia para que seja esclarecida a eficácia da fisioterapia nas gestantes.

    O objetivo desse estudo foi analisar o conhecimento produzido e divulgado nas bases de dados Scielo da atuação do fisioterapeuta no trabalho de parto no período de 2000 a 2012.

2.     Metodologia

    Tratou-se de uma revisão integrativa. A revisão integrativa da literatura é um método de pesquisa que permite a incorporação das evidências na prática clínica com a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre determinado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada (MENDES, 2008).

    Definiu-se como fonte de busca o Scientific Eletronic Library Online (SCiELO), que é de grande referência na produção de estudos na área da saúde. Nesta, utilizaram-se os descritores: fisioterapia, fisioterapia na gestação, parto normal.

    De início, os estudos para compor esta revisão integrativa foram selecionados e definidos os critérios de inclusão: artigos publicados em idioma português, com ano de publicação entre 2005 a 2013, convergentes com a proposta do estudo de fisioterapia no trabalho de parto. Foram excluídos os estudos na língua inglesa, artigos com ano de publicação inferior a 2005, sem resumo e as duplicidades. A busca pelas produções foi conduzida no período de março de 2012 a outubro de 2013.

    Para análise e posterior síntese dos artigos, foi construído um quadro sinóptico, que contemplou os aspectos considerados pertinentes: nome do artigo, objetivos, resultados e recomendações/conclusões. Para apresentação dos resultados o quadro foi dividido, para facilitar a leitura e discussão dos achados científicos. Foram encontrados 156 estudos na base de dados SCiELO. Após uma análise minuciosa, observou-se que sete artigos atendiam aos critérios estabelecidos. Estes, sete artigos então, constituíram no número desta revisão integrativa.

    Os dados utilizados neste estudo foram referenciados, respeitando os aspectos éticos quanto à propriedade intelectual dos textos científicos, identificando seus autores e demais fontes de pesquisa, que foram pesquisados. A partir desse contexto foi criada a categoria sobre técnicas utilizadas pela fisioterapia na gestação.

3.     Resultados e discussões

    Os artigos incluídos foram os publicados em periódicos nacionais em português, sendo dois de 2008, um de 2009, um de 2010, dois de 2011 e um em 2012 demonstrando que não houve lacunas de publicações na sequência de anos pesquisados. Quanto aos tipos de estudos, foram assim classificados: revisão integrativa, estudos de naturezas qualitativas e quantitativas.

Quadro 1. Artigos selecionados sobre fatores associados aos benefícios da fisioterapia no período gestacional segundo autores, ano de publicação, título, tipo e objetivo do estudo

Autores

Ano

Título

Tipo de estudo

Objetivo

1

Pitangui e Ferreira

2008

Avaliação fisioterapêutica e tratamento

da lombalgia gestacional

Revisão Integrativa

Revisar a literatura

científica sobre a avaliação clínica, classificação, prevenção e tratamento da lombalgia gestacional.

2

Souza e Brugiolo

2012

Os benefícios da fisioterapia na lombalgia gestacional

Revisão Integrativa

Descrever, através de revisão da literatura científica os benefícios da fisioterapia para o tratamento da dor lombar durante o período gestacional.

3

Quinto e Mejia

2011

Fisioterapia no trabalho de parto: uma revisão literária

Revisão de Literatura

Informar aos fisioterapeutas e profissionais da área da saúde sobre os benefícios do tratamento realizado pela fisioterapia durante o trabalho de parto.

4

Baveresco et al

2009

O fisioterapeuta como profissional de suporte à parturiente

 

Referência Bibliográfica

Trabalhar para garantir à mulher um parto

seguro e satisfatório.

5

Ronconi et al

2010

Dor e satisfação durante o trabalho de parto em primigestas: visão da parturiente e do obstetra

Referência Bibliográfica

Correlacionar a dor sentida pela parturiente e sua satisfação quanto ao trabalho de parto, ambas correlacionadas com a visão do obstetra.

6

Andrade; Rocha e Martins

2011

A importância da atuação do fisioterapeuta durante o trabalho de parto vaginal: revisão de literatura

Revisão de Literatura

Realizar uma revisão de literatura sobre a atuação da fisioterapia no trabalho de parto vaginal e analisar o que os estudos relatam sobre os efeitos do TENS, da cinesioterapia e dos exercícios respiratórios durante esse período.

7

Beleza e Carvalho

2008

Atuação fisioterapêutica no puerpério

Revisão Bibliográfica

Descrever a atuação da fisioterapia no puerpério

Técnicas utilizadas pela fisioterapia na gestação e no parto

    De acordo com Baracho (2007), durante o trabalho de parto, é de suma importância que o fisioterapeuta tenha atuação durante o parto, e essa prática só ocorrem em hospitais escolas. A valorização do fisioterapeuta de seu trabalho na assistência à gestante em trabalho de parto cada dia aumenta e vem tornando-se de grande importância no alívio da dor durante o parto, aumento da dilatação progressiva do colo uterino, que irá facilitar a saída do bebê; orientações quanto à respiração e à força adequada a ser utilizada; e o posicionamento durante o parto propriamente dito.

    O fisioterapeuta que atua dentro da equipe obstétrica possui como objetivos primordiais auxiliar a amenizar as dores da parturiente e diminuir o tempo do processo de parto. Desta maneira, ele colabora para um nascer harmônico e um registro mais saudável e confiante da vivência do feminino (FERREIRA, 2004). 

    Segundo Mamede (2007), a dor que a parturiente sente durante o trabalho de parto e parto é influenciada por diversos fatores e é única para cada mulher. Estes fatores incluem ansiedade e medo, experiência anterior de parto, preparação para o parto e suporte oferecido durante este processo.

    Conforme Ferreira (2011), o acompanhamento fisioterapêutico durante uma abordagem de uma grávida durante o período da gestação é diferente de outra em que o primeiro contato com a fisioterapia ocorre durante o parto. Sendo assim, é importante que o fisioterapeuta e a gestante estabeleçam um vínculo para que possa ter uma maior segurança e confiança, para que durante o parto diminua as reações de defesa em relação ao estresse desse momento e que estimule a parturiente a tentar novas posturas e movimentos durante o primeiro período de parto.

    Alguns estudos descrevem métodos fisioterapêuticas que podem ser realizadas nas gestantes de baixo risco para que possa diminuir as dores, proporcionar conforto, aumentar relaxamento e principalmente a confiança em relação ao próprio corpo. É importante o estímulo de algumas técnicas como a deambulação a gestante, adoção de posturas verticais, exercícios respiratórios, analgesia através da neuroeletroestimulação transcutânea (TENS), massagens, banhos quentes, crioterapia e relaxamento, são métodos importantes para o alivio da gestante (BIO, 2007).

    Acredita-se que a fisioterapia tem muito conhecimento de métodos e técnicas, eficiente e segura, onde está diminuindo as dores e os desconfortos durante o trabalho de parto, que são chamados não-farmacológicos.

    Com este estudo ficou constatado que o fisioterapeuta é muito importante no acompanhamento da gestante durante o processo de parto, ajudando essas gestantes na redução da percepção dolorosa durante o trabalho de parto e na diminuição do tempo de trabalho de parto.

    O estudo de Andrade, Rocha e Martins (2011) tratam da atuação da fisioterapia no trabalho de parto vaginal e analisa o que os estudos relatam sobre os efeitos do TENS, da cinesioterapia e dos exercícios respiratórios que irão contribuir no parto natural.

    De acordo com Mendonza (2002); Orange et al (2003) o TENS, promove uma analgesia local, sendo utilizado na gestante durante o trabalho de parto vaginal, beneficiando assim a gestante diante do incômodo que as mulheres sentem durante a dor do parto. Este método demonstra atrasar o uso de remédios para analgesia utilizada no durante o processo do parto.

    Entretanto, o estudo de Orange et al. (2003), mostrou que a aplicação de TENS torna-se efetiva em retardar a instalação da anestesia combinada para manter analgesia satisfatória durante o trabalho de parto, porém não apresentou efeito significativo sobre a intensidade da dor e a duração do trabalho de parto.

    Quanto ao uso da cinesioterapia este recurso ainda é relativamente polêmico durante as diferentes fases do trabalho de parto. Muitos autores acreditam que utilização da fisioterapia durante o trabalho de parto pode favorecer o tempo total do parto; e que existem estudos que comprovam que não existem diferenças entre eles. Por isso, não tem como definir técnicas para que se possa favorecer o trabalho de parto (CANESIN, 2010).

    Mas acredita-se que os exercícios respiratórios podem estimular a parturiente a manter uma respiração longa e suave associada às contrações uterinas, evitando o cansaço, hipotensão e hiperoxigenação (NOGARETTI, 2006).

    O artigo escrito por Beleza e Carvalho (2008) também trata sobre a atuação da fisioterapia no puerpério citando como forma de reeducar a função respiratória, reeducar a musculatura abdominal, restabelecer a função gastrintestinal, estimular o sistema circulatório e prevenir tromboses, promover analgesia da região perineal e da incisão da cesariana, retomar o condicionamento cardiovascular, e oferecer orientações sobre posturas corretas ao amamentar e nos cuidados com o bebê. Diversos são os recursos existentes na área da fisioterapia como: técnicas de cinesioterapia e eletroterapia.

    Ainda o mesmo autor diz que o fisioterapeuta deve orientar as puérperas quanto a uma postura ideal no leito, como, por exemplo, o decúbito lateral para que possa facilitar a eliminação dos flatus, incentivar as puérperas a deambulação precoce e evitar posturas antiálgicas, para aliviar as tensões musculares e evitando dores, promovendo analgesia, estimulando sempre uma postura correta (SOUZA, 2004).

    Já Stephenson e O’Connor (2008) aduz que o atendimento fisioterápico deve ser iniciado com a reeducação diafragmática, através de métodos da propriocepção em posições em decúbito dorsal ou sentado, a gestante, durante os exercícios, deverá colocar as mãos sobre o tórax e sobre o abdome enquanto respira profundamente. Os exercícios respiratórios, em caso de pós-cesariana são de grande importância, pois com o uso da anestesia geral durante a cirurgia, o muco pode se acumular nos pulmões, e a respiração ficam mais difícil, para conseguir um padrão respiratório diafragmático a puérpera poderá fazer exercício que ajudará nesse processo, como no caso, imobilizar a incisão com as mãos ou com uma almofada, e fazer os exercícios respiratórios.

    No estudo ficou evidenciado que a fisioterapia no puerpério é muito importante, pois um programa de exercícios variado como: alongamento, exercícios respiratórios, agachamento com apoio, drenagem linfática, bola suíça, Reeducação Postural Global (RPG), massagem relaxante, os exercícios ajudam no retorno rápido a condições pré-gravídicas e evita problemas futuros, como: mobilidade gastrointestinal reduzida, incontinência urinária, pouca força abdominal, má postura, tendinites. Infelizmente a fisioterapia ainda não faz parte de alguns hospitais, ainda não é comum em todas as maternidades e a maioria das mulheres ainda não tem o conhecimento da importância da fisioterapia no pré-pós-parto, esse método proporcionará alivio, confiança e relaxamento para as gestantes durante o parto (PEDROSO, 2012).

4.     Considerações finais

    Os dados de interesse para esse estudo de revisão foram os que referenciavam os principais tratamentos fisioterapêuticos utilizados na gestação e no trabalho de parto. A seleção desse material foi concretizada por meio da leitura dos resumos dos artigos que tratam sobre as informações contidas no título.

    A assistência fisioterapêutica torna o processo de parturição mais ativo, natural e satisfatório, proporcionando à gestante redução das percepções dolorosas, redução do medo e da ansiedade aumento da confiança, bem-estar físico, e maior consciência do processo parturitivo. 

    O conhecimento de diversas condutas não farmacológico para o alívio da dor proporciona ao fisioterapeuta o suporte necessário para atuar com eficácia e segurança durante esse período de total insegurança e “sofrimento” para a mulher, que é o trabalho de parto. 

    Embora a Fisioterapia Obstétrica seja uma área de atuação que se encontra em expansão, a grande maioria dos hospitais e maternidades ainda não oferecem às suas gestantes um atendimento obstétrico acolhedor e humanizado, que realmente supra suas necessidades, respeite sua individualidade e garanta satisfação para a família que acaba de aumentar. 

    Apesar da existência de diversos estudos científicos sobre o tema lido, muitas questões encontram-se indefinidas, necessitando serem aprofundadas a fim de que haja um consenso sobre qual terapia não medicamentosa devemos seguir em determinados casos. 

    Em face do acima exposto, podemos concluir que, o fisioterapeuta que atua neste ramo deve possuir uma rica gama de conhecimento a respeito das inúmeras condutas que pode fazer uso, para que no momento em que tenha que atuar, saiba fazê-lo em prol da parturiente, a fim de minimizar a sua dor e fazer com que este momento divino possa chegar com tranquilidade e segurança.

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