Satisfação corporal entre adolescentes do sexo feminino Satisfacción corporal en adolescentes de sexo femenino |
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*Universidade Feevale; Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Diversidade e Inclusão. Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa **Educadora Física pela Universidade Feevale ***Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Diversidade e Inclusão
Universidade Feevale em Diversidade e Inclusão Universidade Feevale (Brasil) |
Gustavo Roese Sanfelice* Caroline da Costa Viegas** Eliana Perez Gonçalves de Moura*** Dinora Tereza Zucchetti*** Denise Bolzan Berlese**** |
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Resumo Tomando como pressuposto a possibilidade da mídia exercer influência sobre a imagem corporal de adolescentes do sexo feminino, este estudo teve por objetivo analisar a satisfação da imagem corporal de adolescentes do sexo feminino, de uma escola municipal de ensino fundamental de classe média baixa, do município de Campo Bom/RS. O grupo pesquisado estava constituído de um total de vinte e uma adolescentes de duas turmas do último ano do Ensino Fundamental. A pesquisa, um estudo de caso de abordagem qualitativa, utilizou como instrumentos a observação e a entrevista semiestruturada. A partir da coleta de dados foram elaborados três eixos de análise: imagem corporal, expressão corporal, disciplina dos corpos. Concluímos que as adolescentes, por estarem em uma fase de muitas mudanças, necessitam de mais orientação para compreender as diferenças que ocorrem em seu corpo, e que o culto a magreza não é mais uma regra a ser seguida, mas um “assombro” na vida daquelas que seguem este padrão de beleza. Impõe-se uma abordagem mais aprofundada do assunto dentro da escola, sendo que cabe aos docentes, atualizarem-se da mídia como instrumento facilitador de ensino dentro das aulas, podendo assim trabalhar temas relacionados à imagem corporal e tantos outros assuntos polêmicos na vida dos adolescentes. Unitermos: Adolescentes. Imagem corporal. Mídia.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
De acordo com as teorias do desenvolvimento humano, a adolescência constitui um período de transição, no qual o indivíduo procura se afastar das características da fase pueril e busca estabelecer sua identidade pessoal para posteriormente ingressar no mundo adulto. É no período da adolescência que o indivíduo sofre mudanças corporais, tenta se desprender dos laços parentais e, em fase de construção da personalidade, busca demonstrar independência. Não obstante, mais do que em qualquer outra fase da vida, na adolescência o termo mudança traz consigo receios, inseguranças e dúvidas que poderão estar na base de importantes repercussões para vida dos indivíduos. Ao analisar as mutações que ocorrem nos corpos das adolescentes do sexo feminino, Campagna (2006, s/p) comenta que:
As mudanças corporais que ocorrem nas garotas, nessa fase do desenvolvimento, são consideráveis. Desencadeadas pela produção dos hormônios, a partir dos oito ou nove anos, promovem mudanças no tamanho do corpo, nas suas proporções, e o desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias. O surto de crescimento da puberdade começa um ano ou dois antes que os órgãos sexuais amadureçam, e depois disso, dura de seis meses a um ano. Nas meninas começa entre 8,5 e 11,5 anos, com um pico de rapidez que ocorre em média aos 12,5 anos, declinando depois disso até parar por volta de 15 a 16 anos. O crescimento em altura segue um padrão regular e geralmente precede o aumento de peso. Em cerca de três anos, até um ano depois da puberdade, a menina ganha, em média, 17 quilos.
Santos (2009) corrobora com essa ideia quando afirma que nessa fase o adolescente busca novas referências que o auxiliem no processo de afirmação de sua identidade. Nesse sentido, na medida em que nessa fase o seu corpo se desenvolve biologicamente com grande velocidade, o adolescente tende a ter uma preocupação com sua imagem, buscando referências no padrão de estética corporal veiculado na mídia.
Para construção da imagem corporal, a adolescente que desde o principio fazia uso apenas da figura materna como inspiração de feminilidade, agora se volta à observação de outras referências. Nesse sentido, o fácil acesso à mídia acaba por ditar a estética dos corpos. Historicamente a estética corporal já foi ditada por diversos modelos de silhuetas. Hoje se preconiza o culto à magreza. Branco et al, (2006) ressalta a ideia que existe uma intensa tendência cultural e social em que a situação ideal de aceitação e êxito é a magreza. Ao lembrarmos a figura feminina em relação aos antepassados e fatos históricos, podemos destacar a obesidade valorizada e expressada através de quadros na história da arte, ao contrário dos parâmetros atuais.
Maldonado (2006) apresenta a ideia de que os adolescentes têm extrema preocupação com a imagem corporal nos dias de hoje, principalmente, as meninas. Mesmo nesta fase da vida em que o corpo ainda está em processo de formação, as meninas desesperam-se ao não conseguir alcançar o padrão de beleza que a mídia divulga.
Nesta idade, a maior dificuldade é descobri-se, construir sua identidade e firmar a personalidade. Muitas adolescentes ficam fixadas à preocupação do corpo ideal e restringem seus objetivos a definir como devem parecer. Ante a isto, deve-se fazer com que essas adolescentes discutam no ambiente escolar, sobre o modelo de imagem corporal lançado pela mídia, fazendo uma reflexão crítica a partir da própria imagem corporal e de seus significados.
A imagem corporal exerce papel fundamental na vida das adolescente, influenciando sobre todas as dimensões de suas vidas, desde a escolha de vestimentas, passando por preferências estéticas, até a habilidade emocional de interagir dos outros. Enfim, dentre as diversas maneiras que o indivíduo possui para pensar a respeito de si mesmo, nenhuma é tão essencialmente imediata e central como a imagem de seu próprio corpo, em especial, na fase da adolescência.
Para Betti (2003) a mídia escrita, radiofônica, televisiva ou digital, se tornou um grande fenômeno cultural de extrema importância na vida das pessoas, influenciando diretamente o seu dia-a-dia, tornando-se uma problemática para a Educação e, em especial, para o contexto escolar. Por ser de tão grande importância, torna-se evidente sua influência no âmbito da cultura corporal de movimento, sugerindo diversas práticas corporais, reproduzindo-as, transformando-as e constituindo novos modelos de consumo.
Segundo Santos et al (2009), na medida em que a sociedade atual vem valorizando apenas o modelo do corpo feminino esbelto e esguio, tornando-o padrão e objeto de desejo entre os jovens, as adolescentes obesas frustram-se porque não se encaixam nos padrões de beleza estabelecidos pela mídia e se dispõem a fazer qualquer coisa para se sentirem aceitas na sociedade. Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo analisar e interpretar a satisfação da imagem corporal em adolescentes do sexo feminino no cotidiano escolar, identificando a possibilidade da influência da mídia na imagem corporal das mesmas.
2. Método
A presente pesquisa de abordagem qualitativa foi desenvolvida a partir do método do estudo de caso que, segundo Yin (2010), representa:
...em muitas situações, uma contribuição ao conhecimento dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos e relacionados (...) o estudo de caso permite que os investigadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos da vida real- como os ciclos individuais da vida, o comportamento dos pequenos grupos, os processos organizacionais e administrativos, a mudança de vizinhança, o desempenho escolar, as relações internacionais e a maturação das indústrias (p.24).
Nesta perspectiva foi investigada uma escola pertence à Rede Municipal de Ensino situada num bairro de classe média “baixa” do município de Campo Bom/RS/Brasil. A referida escola atende alunos dos grupos Educação de Jovens e Adultos, no turno da noite, e Ensino Fundamental durante os turnos de manhã e tarde.
Participaram dessa pesquisa, jovens que cumpriam com os seguintes requisitos: adolescentes do sexo feminino com idade entre 13 e 18 anos que estavam cursando o último ano do Ensino Fundamental de duas turmas do 9º ano, sendo que as turmas A e B tinham um total de 12 meninas cada. Todas as adolescentes foram convidadas a participar do estudo, entretanto 3 delas, da turma B se recusaram.
Como procedimento de coleta de dados, foram realizadas 21 entrevistas semidirigidas as quais foram associadas a técnica da observação. Com cada uma das meninas entrevistadas, foram expostos os objetivos da pesquisa e o compromisso com seu sigilo. Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. Todas as participantes assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) atendendo, desta forma, as normas e diretrizes da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde (CNS/MS), bem como foi certificado o sigilo das informações pessoais, através do uso de pseudônimos assegurando a privacidade e o anonimato das mesmas.
De acordo com Fontanella et al (2006: 815), a entrevista semidirigida constitui um guia temático, que serve como roteiro para um encontro. Sendo que "algumas questões-tópico já são suficientemente conhecidas para serem propostas; porém o todo da entrevista não está predeterminado nem as respostas estão preditas".
3. Análise e interpretação dos dados
A técnica da entrevista constitui um tipo especial de encontro interpessoal para a obtenção de informações verbais e/ou escritas, configurando um instrumento de pesquisa científica que gera conhecimentos novos sobre vivências humanas. No âmbito deste estudo, as informações coletadas nas entrevistas semidirigidas foram transcritas e submetidas a leituras flutuantes para que as pesquisadoras se familiarizassem com o material. No procedimento da leitura flutuante o pesquisador não pode privilegiar, de início, qualquer elemento do discurso, mas deixar sua própria percepção trabalhar da forma mais simples possível, suspendendo as motivações que dirigem habitualmente a atenção.
Após a leitura flutuante do material coletado, realizou-se a categorização do conteúdo do material por meio do critério da repetição ou relevância. No que tange ao critério de repetição, analisamos os discursos, buscando o que havia em comum, ou seja, as colocações reincidentes. Desse modo, daquilo que se mostrou rico em seu conteúdo destacou-se três eixos de análise: imagem corporal; expressão corporal e disciplina dos corpos.
3.1. Imagem corporal
Para Campagna (2006), as mudanças corporais das adolescentes de sexo feminino ocorrem entre 8,5 e 11,5 anos sendo que há um pico de rapidez por volta dos 12,5 anos. Essas mudanças tendem a parar entre os 15 e 16 anos. Algumas destas mudanças podem fazer com que a adolescente acredite estar desproporcional com o seu corpo, o que é normal. O autor ainda coloca:
A cabeça cresce lentamente em relação ao resto do corpo, a testa se torna mais alta e larga, o nariz cresce rapidamente, a boca se alarga, os lábios tornam-se mais cheios e o queixo passa a ser mais pronunciado; desenvolve-se a linha da cintura, ombros e quadris se alargam, os braços e as pernas se alongam e tornam-se mais moldados, em consequência dos depósitos de gordura; além disso, há o desenvolvimento dos seios, o aparecimento dos pelos púbicos, axilares, faciais e nos membros. Também ocorrem alterações na voz e na cor e textura da pele. Mudanças também acontecem nos órgãos internos, nos sistemas digestivo, circulatório, endócrino e respiratório; os ovários e o útero crescem e amadurecem rapidamente. Acompanhando essas transformações, vem o sangramento menstrual cíclico ou menstruação” (s/p).
Como as meninas pesquisadas nessa faixa etária, entre 13 e 15 anos de idade, seus corpos estão com mudanças frequentes e isto acaba “assustando” um pouco, como podemos perceber na observação 01:
“Todas as meninas da turma participaram da aula, correram, porém algumas mesmo com o calor e suando não tiraram os casacos mais pesados. Algumas deixam as roupas ou amarram pelo corpo para esconder determinada parte do corpo e estão sempre preocupadas com isto. Uma delas acabou atrapalhando a atividade por conta destas amarrações que preferiu arrumar a continuar o exercício.” (OBS.01).
Como o autor coloca as mudanças geralmente acontecem nessa faixa etária. Como não existe uma idade determinada e definida como certa para acontecer a menarca, em algumas meninas, as mudanças começam mais cedo em relação às outras. Para a adolescente isso fica mais difícil de entender. Como podemos observar quando perguntado sobre os corpos e se já haviam se sentido rejeitadas obteve-se como resposta:
“Já, é que, tipo quando eu era mais nova, quando eu tinha uns onze anos, assim eu era muito magra, sabe, muito magra. Aí tipo, minhas amigas eram tudo encorpada. Sabe aí tipo elas viviam sempre andando com só guri. Sabe aí tipo, sempre os guri brincavam com elas chamavam elas de bonita sabe, e tipo, sempre eu ficava de fora porque eu era magrinha, feinha, sabe! (E.7)”
Oliveira (2007) acredita que as adolescentes são influenciadas por um culto à magreza e acabam distorcendo sua imagem corporal, e que a sociedade acaba influenciando este modelo de corpo. Ao observar as respostas, não se encaixam com a teoria. Elas não colocam o “ser magra”, como característica boa, muito pelo contrário, ao perguntar se já se sentiram discriminadas em relação ao seu corpo, as entrevistadas relatam:
“Já, na escola, porque ano passado, principalmente eu era muito, mais magra. Porque eu era. Todo mundo dizia que eu sou feia, ou por eu gostar de alguém ai todo mundo dizia que a pessoa é toda errada porque gostaria de mim. Um dia, sabe, por causa disso, muitos, muita gente fala que eu sou feia. Até ano passado tinha uma época que eu não tinha mais vontade de vir pra escola por causa disso.” (E.18).
“Sim, na escola, nas outras escolas assim, eu sou magra sabe daí ficavam falando, chalalá a Renata aquela magricela.” (E. 6)
Através do levantamento de dados da pesquisa, destacamos que muitas meninas reclamam por serem muito magras e apresentam insatisfação em relação a sua imagem corporal, como podemos observar pelas repostas citadas anteriormente. Para elas, o corpo ideal não é o mais magro, o estilo manequim, e sim um estilo que represente a mulher com uma protuberância em algumas regiões do corpo. Observamos algumas respostas ao perguntarmos sobre qual pessoa da televisão elas acreditavam ser a imagem de corpo ideal, ou quem elas gostariam de parecer, como resposta obteve-se:
“Sei lá acho que o da Juju Panicat porque ela tem um corpo bem bonito.” (E. 7)
“Sim, o corpo da Dani Bolina” (E. 3)
As mulheres citadas nestas respostas são símbolos sexuais na televisão brasileira. Nenhuma apresenta corpo de manequim ou de modelo, ao contrário, são malhadas, torneadas e com o corpo bem definido.
Outras usaram da mídia como exemplo para as mudanças e satisfação da imagem corporal, como a entrevistada Caroline quando indagada se teria alguém da televisão que ela gostaria de se parecer:
“Deixa eu ver, não me vem nada na cabeça. Tem uma que tava na malhação que ela era gordinha. Daí, em uma outra novela que ela fez ela tava mais magra, não me lembro o nome dela, Carolina alguma coisa.”(E. 11)
A atriz citada nesta colocação chama-se Caroline Figueiredo. A atriz vivia, na novela Malhação, o papel da “gordinha” Domingas que era símbolo de “chacota” na escola, porém havia conquistado espaço no ambiente escolar e se mostrado muito capaz e inteligente. A mesma atriz voltou a atuar depois de um tempo na novela da mesma emissora com um visual moderno, e mais magra.
Ao perguntar se a entrevistada Milena gostaria de ter o corpo de alguém da televisão, a resposta foi a seguinte:
“Da que está na novela nova, Ísis Valverde, eu acho ela bem bonita.” (E. 21).
Outra entrevistada que se mostrou influenciada e colocou como o corpo ideal, a personagem de um programa de muito sucesso para o grupo dos adolescentes foi a entrevistada Tais:
“Eu assisto bastante série tipo Rebelde, eu gosto da Sophia Abraão da Alice do Rebelde, eu gosto do jeito, do corpo não tanto mas gosto dos olhos dela.” (E. 3).
Esta atriz está em alta numa novela com muito Ibope no momento. Apresenta ter um corpo bem definido e chama a atenção de homens e mulheres. Na citação, a seguir, veremos outra influência da mídia ao pensar em corpos ideais.
“Sim, porque eu a pessoa no caso tem muita atitude eu acho bonito o cabelo, é a Roberta do Rebelde.” (E. 8).
As atrizes da novela Rebelde são magras e encorpadas e são citadas pelas meninas pesquisadas ao perguntar qual atriz da mídia tem um corpo bonito e que elas gostariam de parecer.
Como Paixão apud Santos (2009) relatam as mudanças que ocorrem entre os 14 e os 17 anos, além de mudanças após a menarca, e no corpo também há um amadurecimento de ideias, e a criação, com determinadas características da personalidade, que também vai se desenvolver por esse período.
No acompanhamento do comportamento das meninas, destacamos aqui algo que chama atenção. Como além das mudanças do corpo, as ideias de estarem se tornando mulheres também começam a surgir. Notamos, nas observações, uma grande diferença entre as duas turmas pesquisadas. Para explicar melhor destacamos a observação 5:
“outro dia conversando no recreio pude notar certa rivalidade na aula, neste dia esta rivalidade foi grande, em uma turma as meninas são mais infantis ainda gostam de brincar não dão tanta bola para aparência e meninos como a outra turma, o que irrita os dois grupos, na turma das mais “evoluídas” também existem as mais infantis porém elas ficam bem excluída de todas as atividades que acontecem na turma, nunca conseguem fechar grupo de trabalho ou de jogos, nem na sala, nem no ginásio” (OBS.05)
Através das observações e colocações dos autores percebemos que mesmo tendo a mesma faixa etária algumas acreditam serem mais maduras que as outras, por terem desenvolvido o corpo mais rápido. Às vezes por questões genéticas, estilo de vida, enfim, por características particulares de cada corpo, uma turma se sentiu mais “evoluída” em comparação com a outra.
Ao ser questionada sobre sua satisfação com o corpo no momento atual, a entrevistada Ana Paula nos retorna com uma resposta que condiz com o que o Paixão nos traz durante sua explicação de mudanças que parecem ser estranhas para as adolescentes. Logo, em relação à pergunta se está feliz com seu corpo, a entrevistada coloca:
“Ai eu to assim, mas eu queria que ele fosse um pouquinho diferente assim, eu acho que tem partes que são maior e outras que são mais menor ai fica sei la desproporcional. “ (E. 9).
Outro ponto que destacamos é que de uma maneira geral, das vinte e uma meninas entrevistadas a grande maioria respondeu que gosta de se ver no espelho. E melhor, que gostam do que vêem. Numa turbulenta fase de doenças como bulimia e anorexia que apareceram em grandes estudos, até mesmo colocadas na televisão, dentro do grupo, entrevistado, não foi obtida nenhuma resposta com distorção da imagem que elas realmente vêem no espelho.
Para Maldonado (2006), os meios de comunicação apresentam em suas figuras e reportagens as mesmas imagens, um padrão de beleza corporal que deve ser seguido pelas mulheres que pretendem ser aceitas na sociedade. Esta influência de padrão de corpo estaria criando aumento nos casos de transtornos alimentares. Mas, ao compararmos as entrevistas e as observações, notamos que as meninas possuem a sua imagem corporal real, não se iludem com uma figura que não existe. É importante frisar que dentro do grupo pesquisado, nenhuma apresentou distúrbios alimentares ou doenças semelhantes.
As reclamações partiram das meninas que eram magras, que realmente eram magras, das meninas mais gordinhas, que realmente eram gordinhas. As mais “encorpadas” tinham consciência de que seu corpo tinha se desenvolvido de forma rápida em algum aspecto. Em relação ao que elas pensam sobre as características dos seus corpos, se sentem vergonha, ou se orgulham, se estão felizes com eles, destaco as seguintes respostas:
“Não eu acho que meu corpo tá bom pro jeito que eu sou que meu corpo pra minha idade tá bom” (E. 2).
“Tô. Porque eu não tenho nenhuma imperfeição eu acho, não é perfeito mas acho que ta bom.” (E. 6).
A entrevistada relata que não gosta muito de determinada parte do seu corpo, mas, reconhece que outra é bonita e gosta disso, o que mostra que as meninas não estão totalmente insatisfeitas com sua imagem corporal. Reconhecem algumas características de que não gostam, mas sabem valorizar o que acham bonito em seu corpo. Seguem as respostas da entrevistada quando pergunto sobre o que gosta e o que não gosta no seu corpo:
“que eu não gosto, da minha barriga, porque eu sou meio gordinha assim e tal.” (E. 19).
E ao perguntar se ela está feliz com seu corpo:
“sim, porque eu gosto dele.” (E. 19).
E do que mais gosta:
“a eu gosto da minha bunda.” (E. 19).
Para Campagna (2006), o excesso de peso, a insatisfação corporal e a preocupação com a aparência são grandes nesta fase da vida das meninas. A entrevistada acima que respondeu questões sobre o seu corpo mostra que sabe valorizar o que tem de bonito e o que se destaca. Ao colocar que gosta do seu corpo porque simplesmente gosta, não condiz com o que foi observado durante a coleta de dados. Pelo lado positivo, ela não se acha totalmente feia, ou diferente, por ser mais gordinha. Ao observar suas respostas, e avaliar, o comportamento desta aluna nas aulas práticas ou no recreio, nota-se que ela sente muita vergonha. Está sempre se cobrindo. Quando as colegas brincam sobre características como a barriga dela, ela ri, mas pude ver como estava incomodando aquela situação, como relato na seguinte observação:
“por ser mais cheinha e morar junto com o namorado as colegas ficam brincando que ela está grávida, que vai cuidar do filho em janeiro e parar de estudar. Ela ri com a amigas, porém é visível a irritação dela e que no fundo ela está muito incomodada com a conversa, pede para as amigas pararem, pois fica preocupada com o que eu vou pensar dela” (OBS.02)
De modo geral ao analisarmos a satisfação da imagem corporal das adolescentes, obtivemos muitas respostas positivas às inquietações relatadas neste trabalho.
3.2. Expressão corporal
Para Daolio apud Granzioli (2011) em sua tendência histórica, as aulas de Educação Física contribuem para a transformação de meninas em “antas”, na medida em que os professores, mesmo os progressistas, ainda não se liberaram da dicotomia criada culturalmente entre os gêneros, limitando os indivíduos aos seus desenvolvimentos motores.
A autora acredita que uma das fases mais importantes para a formação da personalidade seja a adolescência momento em que os estímulos à aprendizagem podem determinar futuros comportamentos. Acredita também que o espaço que deve ser mais privilegiado para se superar dificuldades seja a escola, onde o aluno pode desenvolver suas capacidades e estimular a compreensão do indivíduo em sua totalidade.
Granzioli (2011) relata que além dos atributos físicos, o corpo feminino está repleto de conceitos e preconceitos sociais, apontando assim, comportamentos, práticas e gestos que devem ser seguidas e socialmente reproduzidas.
Para entender como as adolescentes estão expressando seus corpos dentro da escola, perguntamos no questionário se elas se arrumam para vir à escola, e se conseguem se vestir da maneira que realmente gostariam de estar vestidas.
Ao perguntar às meninas entrevistadas se elas se arrumavam para vir à escola, a maioria respondeu que leva em torno de vinte minutos ou meia hora. Porém destaco aqui a resposta de uma das entrevistadas quando pergunto se ela se arruma para vir à escola e quanto tempo leva, em média:
“Não muito, mas me arrumo, eu venho pra estuda e não pra ta se arrumando, levo uns dez quinze minutos.” (E. 17).
A escola, mesmo sendo municipal, obriga os alunos a usarem no mínimo uma peça do uniforme. Como não é uma escola particular, nem só de alunos de classe média alta, aqueles que não têm condições de comprar, inscrevem-se na secretaria da escola e ganham, no mínimo, uma peça para usarem durante a semana. O aluno que frequenta a escola sem uniforme mais de três vezes, recebe advertência que precisa ser assinada pelos pais ou responsáveis e essa advertência serve como “passaporte” para entrar na escola novamente.
Com essa norma, a escola também evita as vestimentas inadequadas, e isso afeta as meninas adolescentes, pois quando questionadas se estão usando as roupas que gostariam de estar vestindo, vejamos algumas respostas:
“sim, eu compro as roupas que eu gosto de usar no caso, então eu sempre acabo usando o que eu gosto, de uniforme eu não gosto muito de usar.” (E. 20).
“As vezes, porque as roupas que eu gosto de usar não pode usa na escola tipo vestido, saia, roupa curta.” (E. 8)
“Sim, nem todas porque eu gostaria de usar shorts, mas não pode.” ( E. 7)
“Não, porque na escola tem que usar sempre calça, se eu pudesse eu usaria mais shorts essas coisas. Mas não pode usar roupa curta.” (E. 6)
“Visto, que nem uniforme, tem roupas que a gente gostaria de vim mas não pode porque é obrigado uma parte do uniforme.” (E. 4)
“Uniforme não é muito legal, eu gosto mais de usar regata, camiseta eu não gosto muito.” (E. 3)
“Sim eu uso o uniforme que agora é obrigatório e a calça, porque não pode vim com muita bermuda curta que eu gosto de usar.” (E. 1)
Notamos aqui, que as primeiras meninas entrevistadas, que são da turma que acreditam serem mais evoluídas que a outra, preocupam-se mais com a aparência e falam muito de roupas curtas e o desejo de usá-las na escola. Esse grupo, através de observações das aulas, intervalos e conversas, através da entrevista e do comportamento, apresentou mais preocupação com o modo como se vestem na escola. Comparando com a outra turma, que são meninas que mesmo sendo da mesma faixa etária, vivem realmente ainda uma pré-adolescência com características da infância bem presentes.
Através de um estudo realizado numa escola do estado de Florianópolis por Barros e Ribeiro (2008), evidenciamos algumas características que se sobressaltaram em relação ao comportamento dos adolescentes frente a alguns assuntos, dentre eles a imagem ideal dos alunos dentro da escola. Durante a atividade, as adolescentes construíram modelos: magras, de cabelos loiros, olhos claros, utilizando roupas curtas como saias e tops. Nesse sentido, Andrade apud Barros e Ribeiro (2008, p.5) destaca:
Desse modo, é possível pensar as revistas para o público feminino, tanto infantil como adulto, como um artefato pedagógico que exerce poder sobre as mulheres e meninas, ensinando técnicas de como lidar com o corpo. Isso porque os discursos das revistas para mulheres e meninas me parece que se equivalem, de alguma forma, repetindo receitas e dicas para atingirem aquele corpo que é representado na mídia como “ideal”.
Em relação ao papel da escola, Granzioli (2011) afirma que a mesma pode transformar a sociedade ou colaborar para mantê-la tal como está. Logo, acreditamos que a escola influencia muito o comportamento destas adolescentes através da falta de liberdade. Observando as respostas das entrevistadas, muitas se sentem reprimidas por não utilizarem roupas curtas, pois elas acreditam serem as vestimentas ideais para aquele local e momento. Já a escola, proíbe e pune o uso desse tipo de roupa, na fase em que os adolescentes acreditam já estarem maduros o suficiente para saberem a roupa que podem usar.
Neste momento de conflito sobre o que querem e quais são as suas responsabilidades, a escola pesquisada, em Campo Bom, usa a obrigatoriedade do uniforme, contrariando os desejos das jovens pesquisadas.
3.3. Disciplina dos corpos
Santos et al (2009) nos apresentam como a televisão e a internet têm presença forte na vida dos adolescentes. Relatam o abuso de cenas que contém sexualidade exposta, contribuindo para um aumento no número de adolescentes tendo relações sexuais precoces A sexualidade está aberta nos programas e novelas, consideradas como cenas normais. Entre as influências está o corpo “perfeito” e malhado.
Para o autor, a persuasão causa grande problema na vida dos adolescentes, pois apresenta e coloca o mundo nas mãos deste jovem. Muitos não estão preparados para as consequências de seus atos. A mídia faz com que o adolescente se transforme em objeto de consumo, onde a televisão é capaz de modular atitudes e transmitir informações.
Para Nicolino (2007), na sociedade e nos meios de comunicação, a imagem corporal tem sido valorizada de forma considerável na vida das pessoas, principalmente na das mulheres. Tendo duas versões, as preocupações com a imagem corporal traz implicações à saúde e faz com que estas mulheres busquem intervenções cirúrgicas, ou por outro lado, na maioria das vezes, o grupo feminino sofre uma pressão maior do que se refere à valorização corporal, e assim, consequentemente a dá uma atenção maior ao seu corpo.
Ao perguntar às adolescentes da pesquisa, se elas acreditam que os corpos expostos na mídia podem influenciar na imagem corporal das pessoas, acompanhemos as respostas obtidas:
“Eu acho que sim, porque tem mulheres que botam silicone como se tivessem precisando, e na verdade não precisam e isso pra mim é influenciar” (E. 4).
“Pra algumas pessoas sim, porque elas influenciam por causa que quando elas são menor assim e tão acima do peso, elas olham elas, acham bonito assim e querem fazer ginástica outras coisas pra ficar com aquele corpo, ou até plástica também. “ (E.1).
“Com certeza, porque elas acham que aquilo é o ideal e vão em busca daquilo.“ (E.21).
“Sim por que nem assim as gurias dizem assim eu quero ter meu corpo igual o daquela modelo, ou como daquela cantora da moda.” (E. 2).
Na percepção de algumas meninas, observou-se através das respostas, que a mídia age como vilã, influenciando as pessoas de forma errada, onde vislumbram na televisão imagens de corpos perfeitos e ficam tentando ser o que não são.
“Por um lado sim, porque tu vai olha e tu vai te espelhar naquilo pra ter aquele corpo mais eu acho que sim.” (E.3).
“sim porque todo mundo, quase ninguém é satisfeito com seu corpo então olha assim ai que lindo como eu queria ter um corpo assim.” (E. 21).
“As pessoas em geral sim porque tem muita gente querendo ser o que não é, querendo ser outra pessoa.” (E. 15).
“a maioria sim, porque a maioria das pessoas botam silicone eu vo por isso eu vo por aquilo eu vo faze plástica” (E. 11).
“Acho que sim, por causa que tem gente que bota silicone assim que nem a mulher melancia, só pra ficar bonita, eu não acho isso muito legal e nem muito bonito” (E. 9).
“Sim porque tipo tu olha sim daí tu vê bastante mulher com corpo bonito e tu quer ter igual né e elas são famosas por ser daquele jeito aí tu quer ter igual.” (E.7).
Muitas meninas entendem que a mídia é a grande influenciadora na construção do corpo ideal e da imagem corporal. Ao perguntar se isso influencia as pessoas, elas mesmo colocam que a mídia as influencia também, como notamos na resposta anterior onde a menina usa o termo “tu quer ter igual”, se referindo a ela.
De maneira geral, todas as 21 entrevistadas possuem acesso à televisão e internet, tanto em casa como até mesmo na escola. E quando questionadas quais os sites e programas mais frequentados e assistidos, a grande maioria respondeu como sites mais visitados as redes sociais, e programas mais assistidos as novelas da Rede Globo e o programa Pânico, da Rede Bandeirantes de televisão.
As novelas tentam abordar diversos assuntos a serem trabalhados fora da televisão, muitas vezes até para criar um impacto e para a população se conscientizar das mudanças que estão acontecendo no mundo, como uma entrevistada colocou:
“(...) eles não botam nenhuma feia na TV, só as bonita e tal” (E.19).
Para Santos et al (2009), a mídia consegue destruir a capacidade de julgamento e análise crítica das pessoas, através do seu poder de inferência, persuasão, conhecimento seja de uma comunicação positiva ou negativa, com ou sem responsabilidade social, podendo assim, interferir sobre culturas, hábitos, costumes, direta ou indiretamente.
É mais fácil criticar algo do que conviver e dominá-lo transformando-o num aliado. Para Sanfelice e Araújo (2006), a mídia pode ser sim ponto positivo para se trabalhar, por exemplo, dentro da escola. Cabe ao professor saber abordar um assunto dentro da sua aula e utilizar a mídia e os meios de comunicação como material de estudo de maneira positiva.
Da mesma maneira que a mídia pode sugerir a violência, o uso de drogas, a sexualidade e a imagem corporal, também se pode usar esta mesma mídia para ensinar aos adolescentes lições, como cuidar do meio ambiente, respeitar os pais, as diferenças raciais e étnicas. (Strasburger apud Santos et al, 2009).
Mesmo sendo apenas adolescentes, algumas já conseguem identificar a diferença de achar bonito e querer ser igual. Observa-se, assim, que temas transversais podem entrar na sala de aula através dos próprios alunos adolescentes, com assuntos polêmicos e que está sendo evidenciados no momento e com eles transmitir bons costumes e educação.
Considerações finais
A partir dos dados desta pesquisa observou-se uma preocupação das meninas com a imagem corporal dentro do ambiente escolar. Mesmo sendo meninas da mesma faixa etária, a pesquisa foi elaborada com duas turmas diferentes onde uma forte característica apresentou-se. Algumas meninas nomeavam-se mais maduras em relação às outras meninas da outra turma, uma vez que a maioria já tinha namorado. Acreditavam ter um cuidado maior com o corpo e vestiam-se melhor comparadas às outras. Com isso, evidenciou-se que um grupo de meninas teve a sexualidade despertada primeiro que as outras.
Na pesquisa sobre adolescentes podemos constatar que esta fase varia muito de pessoa para pessoa. As meninas caracterizadas como infantis, realmente estavam vivendo a infância e a pré-adolescência, sem haver uma preocupação com as roupas que frequentavam a escola e sem deixar o corpo exposto para os meninos. Utilizavam roupas onde as partes mais desenvolvidas do corpo não pudessem ser observadas e demonstravam timidez ao falar sobre o assunto.
A escola torna-se importante para se trabalhar temas relativos ao corpo, pois muitas vezes os adolescentes passam mais tempo com os professores do que com os próprios pais. A construção da imagem corporal envolve o contexto educacional do adolescente e com isso, observa-se que a mídia pode, através de notícias e imagens modificar o estilo de vida das adolescentes gerando conflitos. Entretanto, se houver espaço para debater o assunto dentro de locais como o ambiente escolar a resultados positivos poderão ser obtidos nesse processo de mudanças e novas descobertas. É necessário que seja respeitado o tempo de cada um em fazer as descobertas dos seus corpos e vivenciar suas mudanças, mas também seria válida uma orientação para que saibam lidar com estes assuntos.
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 194 | Buenos Aires,
Julio de 2014 |