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O conhecimento popular e o risco de intoxicação por ervas medicinais

El saber popular y el riesgo de intoxicación por medio de hierbas medicinales

The lore and the risk of poisoning by medicinal herbs

 

*Enfermeira, Pós-Graduada em Urgência e Emergência

**Biólogo. Mestre na área de Fitotecnia. Docente do Departamento

de Ciências Extas e Naturais da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Campus de Itapetinga-BA

Tatiane de Oliveira Costa*

Obertal da Silva Almeida**

oalmeida@uesb.edu.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O homem primitivo sempre buscou a natureza para alimentar-se, solucionar seus males de saúde. O uso irracional pode trazer riscos à saúde da população. Muitas plantas contem substancias capazes de exercer ação tóxica sobre organismos vivos. Essas substâncias seriam formadas com a função de defender a espécie de seus predadores. Por isso, não é de surpreender que muitas plantas acumulem substancias de elevada toxicidade Este estudo teve como objetivo abordar em aspectos gerais as práticas populares e o risco em potencial para as pessoas que usam essas práticas como alternativa na intenção de resolução de seus problemas ou prevenção em saúde. Trata-se de uma pesquisa exploratória quantos aos objetivos, qualitativa quanto a natureza. Quanto aos procedimentos técnicos trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Foram alisados 14 artigos, 01 dissertação de mestrado e 01 monografia, publicados entre os anos de 2001 e 2013. Foi observado que o uso de plantas medicinais perpassa gerações, e o uso indiscriminado pode oferecer risco de intoxicação. O atendimento ao paciente intoxicado na emergência deve ser otimizado e a rápida descontaminação é primordial.

          Unitermos: Cultura popular. Intoxicação. Plantas tóxicas.

 

Abstract

          The primitive man always sought the nature for food, solve its evils of health. The irrational use may bring risks to the health of the population. Many plants contain substances capable of exerting toxic action on living organisms. These substances would be formed with the function of defending the kind of their predators. For this reason, it is not surprising that many plants accumulate substances of high toxicity This study aimed to address in general aspects the popular practices and the potential risk to the people who use these practices as an alternative in the intention of solving their problems or health prevention. It is an exploratory research how to objective, qualitative about the nature. As regards the technical procedures it is a bibliographic search. Were smoothened 14 articles, 01 master's thesis and 01 monograph, published between the years of 2001 and 2013. It was observed that the use of medicinal plants transcends generations, and the indiscriminate use can offer risk of intoxication. The patient care intoxicated in emergencies should be optimized and the rapid decontamination is paramount.

          Keywords: Popular culture. Poisoning. toxic plants.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A utilização de produtos naturais como recurso terapêutico é tão antiga quanto a civilização humana e, por muito tempo, produtos minerais, vegetais e animais constituíram o arsenal terapêutico.

    As plantas medicinais foram os primeiros recursos terapêuticos utilizados para o cuidado da saúde dos seres humanos e de sua família, sendo, portanto, um conhecimento milenar que faz parte da evolução humana, pois antes mesmo do aparecimento da escrita as pessoas já faziam o uso de plantas, ora como remédio, ora como alimento. Historicamente construída na sabedoria do senso comum que articula cultura e saúde, uma vez que esses aspectos não ocorrem de maneira isolada, mas inseridos num contexto histórico determinado.

    O uso tradicional de plantas medicinais perpassa gerações, por sua vez permite ao usuário o direito da automedicação. O risco das práticas inadequadas desses recursos pelas comunidades justifica que os profissionais de saúde estejam atentos as práticas populares. O direito de escolha do paciente não pode retardar o tratamento adequado, interferir negativamente com o tratamento em andamento ou causar malefícios ao paciente. A falta de conhecimento cientifico pode trazer mais riscos do que benefícios.

    Acidentes com plantas tóxicas atingem principalmente crianças, anualmente uma quantidade significativa do orçamento de hospitais tem se destinado ao tratamento de intoxicações por vegetais de uso doméstico. O profissional de enfermagem exerce papel fundamental nesse contexto: são eles que, em virtude de seu trabalho, estão em contato direto e mais profundo com a população, seja em centros de saúde, hospitais, seja na comunidade, tendo a oportunidade de educar e esclarecer a população quanto ao uso nocivo ou benigno dessas técnicas. O aumento no número de reações adversas é possivelmente justificado pelo aumento do interesse populacional pelas terapias naturais.

    Intoxicação é definida como uma urgência médica, causada pela absorção de agentes que por suas características ou quantidade, produzem danos ao indivíduo pondo em risco sua saúde. Qualquer substancia química dependendo de sua dose, poderá ser tóxica. Os dados são pouco expressivos, evidenciando a subnotificação dos casos, principalmente daqueles que envolvem as toxicomanias. O desconhecimento das potencialidades toxicas das espécies vegetais e a sua utilização inadequada são as principais causas dos acidentes. As tentativas de aborto e suicídio também são frequentes.

    Sendo assim, o objetivo desse estudo é abordar em aspectos gerais, as práticas populares e o risco em potencial de intoxicação para as pessoas que usam as mesmas, como alternativa na intenção de resolução de seus problemas ou prevenção em saúde.

2.     Material e métodos

    Os critérios utilizados para a elaboração deste estudo de acordo com Gil (2002), se baseiam em analisar e investigar algo desconhecido, obter uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca do assunto, tratando-se de uma pesquisa descritiva e exploratória quanto aos seus objetivo. Quanto à natureza trata-se de uma pesquisa qualitativa, trabalhando com valores, crenças, hábitos, considerando a existência de uma relação dinâmica entre mundo real e sujeito, os dados são subjetivos de caráter interpretativo. Quanto aos procedimentos técnicos trata-se de uma pesquisa Bibliográfica. Foram alisados 15 artigos, 01 dissertação de mestrado e 01 monografia, publicados entre os anos de 2001 e 2013, publicados em revistas especializadas como: Revista latino-americana de enfermagem; Revista Espaço para a Saúde; Revista Química Nova; Revista Brasileira de Biociências; Revista Brasileira de Farmagnosia; Revista Medicina de Ribeirão Preto; Esc. Enfermagem USP; Revista Brasileira de Informações Científicas; Revista Gaúcha de Enfermagem e Revista Científica da UFPA. As principais palavras chaves utilizadas foram: plantas medicinais; conhecimento popular; toxidade; saúde; medicina popular; plantas tóxicas e intoxicação.

3.     Análise de literatura

3.1.     O conhecimento popular

    Desde os primórdios, o homem utilizava plantas medicinais para tratar doenças. Diversas civilizações antigas contribuíram com estudos sobre as ervas medicinais e propagaram seu conhecimento através de gerações. Disso decorre que o tratamento de doenças com plantas medicinais está presente em várias culturas ao redor do mundo. As mais antigas que se tem notícia foram achadas em túmulos pré-históricos datando de 60 mil anos atrás (NIÑO, 2007, p.4).

    A história do homem sempre foi ligada ao ambiente que o rodeia. As primitivas civilizações notaram que existiam vegetais que quando experimentados no combate às doenças revelaram seu potencial curativo. Todas essas informações foram transmitidas por gerações por meio da escrita (LIMA et al., 2007, p. 600).

    Vale ressaltar que o homem primitivo sempre buscou na natureza as soluções para os diversos males que o assolava, fossem esses de ordem espiritual ou física. Os feiticeiros, que eram considerados intermediários entre os homens e os deuses, cabiam-lhes a tarefa de curar os doentes, unindo desse modo, magia e religião ao saber empírico das práticas de saúde, ao exemplo do emprego das plantas medicinais (ALVIM et al., 2006).

    Em função disso as plantas medicinais foram os primeiros recursos terapêuticos utilizados para o cuidado da saúde dos seres humanos e de sua família, sendo, portanto, um conhecimento milenar que faz parte da evolução humana, pois antes mesmo do aparecimento da escrita as pessoas já faziam o uso de plantas, ora como remédio, ora como alimento (BADKE, 2008, p.20).

    A utilização de plantas medicinais para Silva, Barbosa e Albuquerque (2010) decorre das civilizações na pré-história, pois, os homens primitivos ingeriam as plantas para garantir a própria sobrevivência, a caça nem sempre era disponível. Com a ingestão dos vegetais, era possível identificar sem o conhecimento científico, o que era medicamento, veneno, alucinógeno e alimento. Com a observação dos seus efeitos geravam conhecimento e repassados por gerações. Com a evolução do homem no aspecto intelectual, deu-se início a cultura da “arte de curar” através das plantas, base para o surgimento da medicina.

    Contudo a Era Antiga, baseado no pensamento Hipocrático, que estabelecia relação entre o ambiente e o estilo de vida das pessoas, os processos de cura deixaram o caráter espiritual e místico (ALVIM et al., 2006). Atribuída ao fenômeno natural, a origem das doenças passou a ser estudada cientificamente Ao mesmo tempo, o sistema oriental desenvolve-se seguindo a lógica de que o organismo era parte integrante do universo (CAPRA, 1993, apud, ALVIM et al., 2006). Assim nos sistemas ocidental e oriental na Antiguidade, a saúde, apesar de se orientarem por contextos culturais diferentes, era baseada no holismo, ou seja, a terapêutica deveria atuar no organismo como um todo integrado ao Universo e não apenas na eliminação dos sintomas da doença manifestados localmente (ALVIM et al., 2006).

    De acordo com Badke (2008, p.22) diversos adventos históricos afetaram os estudos com plantas, como no período da Idade Média com a ascensão da Igreja Católica, o legado greco-romano restringiu-se aos mosteiros. Já com o Renascimento ocorreu a retomada destes estudos que abordaram o emprego de plantas medicinais como forma paliativa ou curativa de tratar doenças. Somente em 1906 iniciam-se estudos científicos sobre o poder curativo das plantas. Já na modernidade o uso das plantas medicinais sofreu alterações com o advento dos medicamentos industrializados, passando a ser negligenciada, sua utilização passou a representar como meio secular de tratamento.

    Pode-se inferir com Alvim et al. (2006) que na Idade Média, renasce o interesse pelo mundo material, passando o homem a ser visto como centro do universo, em contraposição ao divino e sobrenatural. Posteriormente, sucede a ‘revolução intelectual’, época de importantes conquistas no campo filosófico e da ciência. Os séculos XVI e XVII marcam o surgimento de um novo paradigma, iniciado com a Revolução Científica. A ciência foi reduzida a fenômenos matemáticos e quantificáveis, repercutindo na instalação de um modelo de saúde no qual se substituiu a concepção holística do Universo, pela noção de mundo máquina. Essa mudança de paradigma favoreceu o modo de produção capitalista na medida em que, após a Revolução Industrial no século XVIII, a ciência passou a ter grande responsabilidade por manter a força de trabalho ativa do homem, garantindo a produção das fábricas.

    Então a partir do século XIX, os medicamentos de origem vegetal começaram a ser estudados de forma científica. A primeira vez em que métodos químicos e analíticos foram usados para extrair o princípio ativo de uma planta medicinal foi para isolamento da morfina a partir do ópio (1803-1806). Com isso tornou-se possível realizar estudos farmacológicos e toxicológicos sobre os efeitos da morfina em animais e humanos (NIÑO, 2007, p. 4).

    Com a consolidação do positivismo nos fins do século XIX e início do século XX, houve uma ruptura com o conhecimento metafisico e uma ênfase no desenvolvimento da pesquisa experimental. A atenção dos cientistas se voltou para as partes do corpo humano, e assistência à saúde passou a seguir a orientação cartesiana e mecanicista que permaneceu na Idade Contemporânea, sendo a saúde considerada sob a óptica biológica como ausência de doenças. Assim instalou-se o modelo biomédico de saúde alicerçado no paradigma cartesiano, que atendia aos interesses do modo de produção capitalista (ALVIM et al., 2006). O conhecimento e as terapêuticas anteriormente empregados na saúde humana, a exemplo do uso das plantas medicinais, entre outras práticas de origem popular, foram marginalizados por não terem base cientifica (ALVIM et al., 2006).

    O conhecimento popular passado de geração a geração, surge da necessidade do homem em usar os recursos disponíveis na própria natureza para solucionar problemas que o afetavam. Com a evolução humana esse conhecimento foi utilizado para a construção de novos saberes e confecção de medicamentos sintéticos, mais elaborados e tendo seus efeitos comprovadamente testados. Apesar dos avanços a cultura não se afastou do homem, hoje ainda é comum se recorrer ao velho chá para o tratamento de doenças.

    Em se tratando de Brasil, as transformações no mundo da ciência e da economia ocorreram mais tardiamente, o que colaborou para que as práticas de saúde populares permanecessem hegemônicas até o início deste século, ocasião em que tal hegemonia passou a ser rompida com a institucionalização dos serviços de saúde e o advento da alopatia, considerados imprescindíveis para o modo de produção emergentes (SINGER; CAMPOS; OLIVEIRA, 1988, apud, ALVIM et al., 2006). Até então o uso de plantas medicinais pela população, associado a outros recursos naturais, era majoritário no processo de cura de muitos males que acometiam a saúde das pessoas. A economia do país, essencialmente rural, era favorável à utilização desses recursos, ao mesmo tempo em que a região era propícia ao seu desenvolvimento, também se configurava como a única alternativa de tratamento (ALVIM et al., 2006).

    Vários alertas têm surgido na literatura, seja cientifica ou leiga, com relação à necessidade dos médicos considerarem a utilização destes recursos como possibilidade real, ponderando efeitos benéficos, potenciais efeitos tóxicos ou interação medicamentosas. Porém com certeza, a plena aceitação dos fitoterápicos pela comunidade médica e a integração da Fitoterapia na medicina científicas somente ocorrerá se estes produtos atenderem aos critérios de eficácia, segurança e qualidade exigidos para os medicamentos convencionais. Para isso é necessário o uso racional (RATES, 2001, p. 61).

3.2.     Risco de acidentes com plantas tóxicas

    Os efeitos terapêuticos e tóxicos das plantas são conhecidos desde as épocas mais remotas, sendo um capítulo importante da Toxicologia. Atualmente muitas pesquisas são realizadas buscando conhecer os princípios ativos das plantas para fins terapêuticos. Muitas dessas plantas podem determinar quadros tóxicos a depender da quantidade, parte da planta utilizada, forma do contato, cutâneo ou ingestão, dentre outros fatores. No Estado da Bahia, foi registrado no período 1997-1999, 336 envenenamentos por plantas, representando apenas 2,35 % do total de casos, com 2 óbitos, causados por Nerium oleander (espirradeira), largamente encontrada nos jardins de residências, e Manihot utilíssima (mandioca-brava), também muito comum em nossa região. As crianças de até 9 anos foram as maiores vítimas - 54,43%. Em 2006 registrou 185 casos, representando 2,8% dos casos (RODRIGUÊS, et al.,2009, p. 42).

    As plantas que nos rodeiam, como qualquer ser vivo, produzem substâncias químicas, que podem atuar beneficamente sobre outros organismos ou agirem de forma tóxica. Portanto, para que o homem possa fazer uso medicinal de sua espécie, com segurança, é necessário que a mesma seja sob o ponto de vista químico, farmacológico e toxicológico (RITTER, 2002, p.51).

    Desta perspectiva, muitas plantas contem substancias capazes de exercer ação tóxica sobre organismos vivos. Essas substancias seriam formadas com a função de defender a espécie de seus predadores. Por isso, não é de surpreender que muitas plantas acumulem substancias de elevada toxicidade, como glicosídeos cianogênicos, presente na mandioca brava, proteínas tóxicas como a ricina, presente na mamona, muitos alcaloides como a coniina, presente na cicuta e a estricnina presente na noz-vômica. (MENGUE, 2001, p.21). A utilização inadequada de um produto, mesmo de baixa toxicidade, pode induzir problemas graves desde que existam outros fatores de risco tais como contraindicações ou uso concomitante de outros medicamentos (SILVEIRA; BANDEIRA; ARRAIS, 2008, p. 618).

    Assim sendo, as plantas tóxicas são assim denominadas por apresentarem substâncias biodisponíveis capazes de causar alterações metabólicas, tais alterações são reconhecidas como sintomas de intoxicação, que em alguns casos podem causar sérios transtornos e até mesmo levar a óbito. (VASCONCELOS; VIEIRA; VIEIRA, 2009, p. 1)

    A maioria dos efeitos colaterais conhecidos, registrados para plantas medicinais, são extrínsecos à preparação e estão relacionados a diversos problemas de processamento, tais como identificação incorreta das plantas, necessidade de padronização, prática deficiente de processamento, contaminação, substituição e adulteração de plantas, preparação e/ou dosagem incorretas. (AMOUS; SANTOS; BEINNER, 2005, p.1).

    Em função disso, a hipersensibilidade é um dos efeitos colaterais mais comuns causado pelo uso de plantas medicinais. Ela pode variar de uma dermatite temporária (comum, por exemplo, entre os fitoquímicos) até um choque anafilático. São muito comuns dermatites provocadas pelo contato com planta. Esse efeito tem sido provocado, em grande parte, por cosméticos que apresentam, na sua formulação, extratos de plantas ou substâncias isoladas de fonte vegetal. (JUNIOR; PINTO, 2005, p.519).

    A principal causa das intoxicações é a presença de alcalóides, cardiotônicos, glicosídios cianogenéticos, proteínas tóxicas, glicosídios e furanocumarinas, oriundos de algumas espécies de plantas ornamentais. Para evitar acidentes é necessário manter as crianças afastadas das plantas ornamentais, manipular os alimentos corretamente e não utilizar plantas medicinais sem o acompanhamento de profissionais habilitados (AMOUS; SANTOS; BEINNER, 2005, p.1).

    Deve-se levar em conta, também, que muitos medicamentos sintéticos ou semissintéticos têm origem em plantas medicinais e são metabolizados nas mesmas substâncias no organismo, como é o caso do ácido acetilsalicílico (aspirina) e a salicilina, extraída de Salix alba. Ambos são transformados no fígado em ácido salicílico. Logo, extratos dessa planta podem apresentar efeitos semelhantes aos da aspirina, aumentando o risco de hemorragia nos tratamentos utilizando warfarina. Ervas sedativas que atuam no sistema nervoso central, como o maracujá (Passiflora officinalis) e a valeriana (Valeriana officinalis), podem interagir com hipnóticos e ansiolíticos (JUNIOR; PINTO,2005, p.524).

    Pode-se caracterizar quatro diferentes formas de exposição na toxicologia das plantas: Intoxicação aguda: geralmente ocorre após contato único cutâneo, ocular ou por ingestão. Pode ser acidental, principalmente em crianças, ou intencional como nas tentativas de aborto e suicídio. São os casos que geralmente aparecem nas estatísticas; Intoxicação crônica: por contato continuado, em geral por ingestão acidental ou intencional de certas plantas, estão relacionadas muitas vezes a fatores culturais. Como exemplo, podemos citar o costume da ingestão de certas espécies de Crotalaria na Jamaica, levando a cirrose hepática; Exposição crônica: nos casos de exposição continua, em geral com manifestações cutâneas, em atividades industriais ou agrícolas; Abuso: utilização de certas espécies vegetais, sob variadas formas, visando principalmente efeitos alucinógenos ou entorpecentes (RODRIGUÊS, et al.,2009, p. 42).

    Na Bahia, de acordo com o CIAV (Centro de Informações antiveneno) as plantas responsáveis pela maioria dos casos são: Chapéu-de-napoleão, Cocó, Comigo-ninguém-pode, Coroa-de-cristo, Espirradeira, Graveto-do-cão, Mamona, Mandioca, Pinhão-roxo e Zabumba (RODRIGUÊS, et al., 2009, p. 41). Algumas características destas espécies são apresentadas a seguir: CHAPÉU-DE-NAPOLEÃO Nome Cientifico: Thevetia nerifolia Jussieu. Parte Toxica: Toda a planta. Sintomas: Náuseas, vômitos, cólicas, diarreia, alterações cardíacas (intoxicação digitálica) e neurológicas, podendo levar a morte; COCÓ, Nome Cientifico: Colocasia antiquorum Schott. Parte Toxica: Toda a planta. Sintomas: Irritação da mucosa, edema labial, salivação, cólicas, náuseas, vômitos e diarreia (RODRIGUÊS, et al.,2009, p. 42).

    As plantas conhecidas como: COMIGO-NINGUÉM-PODE, Nome Cientifico: Dieffenbachia picta Schott. Parte Toxica: Toda a planta. Sintomas: Irritação de pele e mucosas, dor, edema, salivação, dificuldade para engolir e asfixia. COROA-DE-CRISTO. Nome Cientifico: Euphorbia milii L. Parte Toxica: Látex e espinhos. Sintomas: A seiva leitosa (látex) e caustica. Se ingerida causa lesões de mucosa, salivação, dor abdominal, náuseas e vômitos; ESPIRRADEIRA. Nome Cientifico: Nerium oleander L. Parte Toxica: Toda a planta. Sintomas: Náuseas, vômitos, cólicas, diarreia, alterações cardíacas (intoxicação digitálica) e neurológicas, podendo levar a morte; GRAVETO-DO-CÃO. Nome Cientifico: Euphorbia tirucali. Parte Toxica: Toda a planta – látex. Sintomas: A seiva leitosa e caustica. Se ingerida causa lesões de mucosa, com salivação, dor abdominal, náuseas e vômitos (RODRIGUÊS, et al.,2009, p. 42).

    E ainda tem-se: MAMONA, nome Cientifico: Ricinus communis L. Parte Toxica: Toda a planta, principalmente sementes. Sintomas: Náuseas, vômitos intensos, cólicas abdominais, diarreia, convulsões, coma e morte; MANDIOCA-BRAVA. Nome Cientifico: Manihot utilissima Pohl. Parte Toxica: Toda a planta. Sintomas: irritação de mucosas e intoxicação cianídrica. Náuseas, vômitos, dispneia, taquicardia, cianose, agitação, convulsões e coma, podendo levar a morte em tempo relativamente curto; PINHÃO-ROXO / BRAVO. Nome Cientifico: Jatropha curcas L. Parte Toxica: Sementes, folhas, pelos e espinhos. Sintomas: Dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, distúrbios respiratórios e neurológicos, pode levar a morte; ZABUMBA ou SAIA-BRANCA. Nome Cientifico: Datura s.uaveolens. Parte Toxica: Toda a planta. Sintomas: Pele quente e seca, náuseas, vômitos, taquicardia, midríase, agitação, confusão mental, coma e morte. (RODRIGUÊS, et al., 2009, p. 42).

3.3.     Manejo do paciente intoxicado por ervas medicinais

    Acidentes com plantas tóxicas atingem principalmente crianças, anualmente uma quantidade significativa do orçamento de hospitais têm se destinado ao tratamento de intoxicações por vegetais usados no paisagismo doméstico. (SILVA et al., 2013, p.91). Vale ressaltar que a cultura e a desinformação da população, além da quantidade ingerida pelo acidentado são fatores que dificultam o diagnóstico e o tratamento em casos de envenenamento por plantas tóxicas. (VASCONCELOS; VIEIRA; VIEIRA, 2009, p.2).

    É importante lembrar que o paciente intoxicado difere, em alguns aspectos, daqueles assistidos no cotidiano de um atendimento de emergência. As diferenças estão nos aspectos clínicos, patológicos e farmacológicos, e, também, no relacionamento médico-paciente. Habitualmente, não se trata de pessoas doentes no sentido estrito da palavra. Na maioria dos casos, são pessoas saudáveis, que desenvolvem sintomas e sinais decorrentes do contato com substâncias externas e dos efeitos sistêmicos delas. As substâncias podem ser de uso industrial, doméstico, agrícola, automotivo, etc. Outras são de uso humano, médico, na maioria, resultando em efeitos tóxicos pelo mau uso ou pelo abuso. (OLIVEIRA; MENEZES, 2003, p.472)

    Podemos dizer que as intoxicações provocadas por plantas tem se constituído ao longo dos anos em grave problema para saúde da população e para economia do país. Acidentes com plantas tóxicas representam a quarta causa de intoxicações no Brasil com perdas de vidas humanas atingindo principalmente crianças; causando incalculáveis prejuízos financeiros ao estado com manutenção dos serviços de emergências em hospitais. Esses acidentes podem ocorrer de forma direta ou indireta. Direta quando provocados pela ingestão acidental de frutos tóxicos confundidos com alimentícios, pelo uso inadequado de chás de plantas medicinais ou abortivas. Indireta quando causados pelo consumo de produtos de bovinos ou caprinos que tenham ingerido plantas tóxicas cujos princípios possam estar acumulados no leite ou na carne (SILVA et al., 2013, p. 91).

    A farmacologia da intoxicação é outro ponto peculiar. Não se podem aplicar os conceitos de farmacodinâmica ou farmacocinética ao paciente intoxicado. Um produto, em doses tóxicas, passa a ter efeitos outros que os habituais, em doses terapêuticas, pois passa a atuar em mecanismos moleculares diversos, muitos dos quais ainda desconhecidos. Conhecer o quadro clínico e o manejo das principais intoxicações é essencial àqueles que prestam assistência médica de emergência (OLIVEIRA; MENEZES, 2003. p. 472).

    As medidas gerais no manejo com o paciente intoxicado implicam: Avaliar os sinais vitais e mantê-los em parâmetros adequados, devendo ser dispensado a todo paciente em um atendimento de emergência. Isso pode ser feito de modo a manter os mecanismos fisiológicos, ou auxiliando-os, como no caso da ventilação mecânica, e é valido para o paciente intoxicado. Devemos ainda, despender todo o esforço possível na tentativa de retirar do organismo a substância causadora da intoxicação. Para tal, dispomos de algumas medidas gerais, aplicáveis a quase todos os casos de intoxicação (OLIVEIRA; MENEZES, 2003, p. 473).

    Como a grande maioria das intoxicações por ervas são provocadas por ingestão. O emergencista deve obter o maior número de informações o mais rápido possível, buscar indícios de que substancia foi ingerida. A descontaminação deve ser iniciada o mais breve possível. Na maioria das vezes, não é necessário exame adicional. Porém, em algumas situações, pode-se pedir: hemograma, glicemia, eletrólitos, gasometria, função hepática, função, urina, etc. (PAULA, 2013, p.3).

Figura 1. Abordagem inicial das intoxicações

Fonte: Secretaria de estado de saúde do Distrito Federal – SES

    Lembrando que, com poucas exceções, todos os pacientes intoxicados devem ser submetidos a sondagem nasogástrica e lavagem do conteúdo gástrico. O controle das convulsões e a proteção das vias aéreas, nos pacientes comatosos, são as precauções necessárias antes de se proceder à lavagem do conteúdo gástrico. Na sequencia o uso do Carvão ativado também deve ser realizado em todos os intoxicados, sendo as exceções as mesmas para a lavagem gástrica. Seu efeito é melhor dentro da primeira hora após a intoxicação. Dificilmente se consegue estabelecer a relação temporal entre a exposição e a chegada do paciente ao hospital, sendo assim, tal medida deve ser tomada em todos os casos de intoxicação. Uso de laxativos também está indicado, o principal é o Manitol em solução a 20%. A dose utilizada é de 100 a 200 ml, até de 8 em 8 h, nas primeiras 24 h. Sua utilização tem importância em associação ao carvão ativado, nos casos de compostos de elevada toxicidade, diminuindo a chance de absorção por reduzir o tempo de contato com o trato gastrointestinal (OLIVEIRA; MENEZES, 2003, p. 473).

    Os cuidados gerais a serem tomados para evitar intoxicação por plantas incluem: evitar o cultivo de plantas toxicas ou desconhecidas nas residências; manter as plantas toxicas fora do alcance de crianças e animais domésticos. Conhecer as plantas toxicas existentes em sua região pelo nome e características. Ensinar as crianças, o mais cedo possível, a não colocar plantas na boca, assim como a não utiliza-las como brinquedos (fazer comidinhas, tirar leite, etc.), alertando sobre os perigos em potencial; Não comer folhas, frutos e raízes desconhecidas, não há regras ou testes seguros para distinguir as plantas comestíveis das venenosas. Nem sempre o cozimento elimina a toxicidade da planta; Não preparar remédios e chás caseiros com plantas, sem orientação profissional adequada; Tomar cuidado ao podar plantas que liberam látex, o qual pode provocar irritação na pele e principalmente nos olhos, podendo levar a cegueira. Evitar deixar os galhos em qualquer local onde possam vir a ser manuseados; Usar sempre luvas e lave bem as mãos quando lidar com plantas. (RODRIGUÊS, et al., 2009, p. 41).

4.     Considerações finais

    A população encontrou na natureza a forma mais barata de tratar os males que afetam sua saúde ou lhe causam mal estar. O fato de não exigir conhecimento cientifico. Sendo baseado no senso comum e passado por gerações. As plantas medicinais fazem parte da história do homem e de sua relação com a natureza. Portanto é preciso prevenir os possíveis danos. Muitas vezes a contaminação de espécies vegetais é de caráter acidental.

    Grande parte das pessoas consumem plantas medicinais sentem-se encorajados por acreditarem que esses remédios, por serem naturais, são seguros. A maioria destes não avisam seu médico sobre o uso concomitante com medicações alopáticas, o que pode gerar interações perigosas. As plantas medicinais tem o seu valor reconhecido, mas espira cuidados para evitar problemas que podem se tornar graves.

    É importante que os profissionais compreendam a importância de se realizar estudos mais específicos na área, pois o consumo de ervas e sua comercialização aumenta a cada década, aumentando o uso indiscriminado, possibilitando o surgimento de efeitos adversos. Cabe aos pesquisadores e à mídia divulgarem os riscos que estão expostos os consumidores que se automedicam com ervas medicinais ou fitoterápicos, sem o conhecimento necessário. E aos emergencistas é importante prestar o atendimento inicial em tempo oportuno, minimizando o risco de agravos. A prevenção começa na Atenção Primária dos serviços de saúde, com orientação e esclarecimento da população, e principalmente que os profissionais conheçam os hábitos e a cultura local para assim intervir de forma mais eficiente.

    Saber diferenciar o tipo de intoxicação e a substancia causadora é fundamental no atendimento inicial à vítima. Limitar o uso de plantas medicinais não será possível pelo seu custo-benefício já comprovados em trabalhos anteriores. O mais importante é evitar acidentes e mesmo na sua ocorrência, prestar um atendimento de qualidade em tempo oportuno.

Referências

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