O ensino do atletismo nas aulas de Educação Física no ensino fundamental II: a visão de alunos praticantes da modalidade La enseñanza del atletismo en las clases de Educación Física en el segundo nivel de la escuela primaria: la visión de los alumnos que practican la modalidad |
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*Discente do curso de Educação Física da U. P. Mackenzie **Técnica em Educação Física do LACEM (Laboratórios de Ciências do Movimento) da U. P. Mackenzie. Mestranda em Educação Física da USJT ***Docente do curso de Ed. Física da U. P. Mackenzie, Doutorando em Desenvolvimento Humano e Tecnologias e membro do GEPPA (Grupo de Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo) da Unesp – Rio Claro. ****Professora Dra. do Depto. de Educação Física e Coordenadora do GEPPA (Grupo de Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo) da Unesp – Rio Claro |
Cínthia do Nascimento Sales de Lima* Ana Paula Xavier Ladeira** Eduardo Vinicius Mota e Silva*** Sara Quenzer Matthiesen**** (Brasil) |
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Resumo Verificar como vem sendo desenvolvido o atletismo nas aulas de Educação Física no ensino fundamental II, na opinião de alunos praticantes da modalidade é o objetivo deste estudo. Os dados foram coletados por meio de um questionário aplicado a 20 atletas praticantes de atletismo, matriculados nos anos finais do ensino fundamental. Os principais resultados obtidos demonstraram que a maior parte da amostra tem o atletismo como conteúdo em suas aulas, afirmando que estas se desenvolvem, prioritariamente, em quadras, com a utilização de materiais como cordas, bolas, cones, colchões e enfocam o ensino de corridas. Acreditam que a disponibilização de mais recursos materiais pode melhorar este ensino. Estes resultados demonstram que, apesar de o ensino da modalidade não estar completamente disseminado nestas escolas, os professores que o ensinam apresentam a capacidade de perceber que o ensino escolar do atletismo é possível por meio de adaptações. Unitermos: Atletismo. Educação Física escolar. Opinião discente.
Abstract The aim of this study is to show how athletics has been taught in physical education classes in elementary school, in the opinion of athletics student practitioners. Data were collected through a questionnaire, applied to 20 athletics practitioners enrolled in the final years of elementary school. The main results showed that the majority of the sample has athletics as content in their classes and affirms that they develop primarily in courts, with the use of equipment such as ropes, balls, cones and mattresses and teaching focus on running. They believe that the provision of more material resources can improve this teaching. These results demonstrate that, although the teaching of this sports are not totally scattered in their schools, teachers who teach them have the ability to realize that athletics scholar teaching is possible through adaptations. Keywords: Athletics. Physical Education. Student opinion.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
O atletismo, modalidade esportiva clássica, não tem encontrado, na realidade brasileira, o adequado espaço nas aulas da Educação Física. Vários estudos comprovam o seu preterimento em relação a outros conteúdos, notadamente às modalidades esportivas coletivas (NOLL, SUNÉ e OPPERMANN, 2008). A principal justificativa, apresentada pelos professores, para o não trabalho com a modalidade é a ausência de infraestrutura (LENCINA, ROCHA JÚNIOR, 2001; LIMÃO et al., 2004; MATTHIESEN, 2005; MATTHIESEN, 2007; MARQUES, IORA (2009), MEURER, SCHAEFER, MIOTTI, 2008).
Isto ocorre apesar de o atletismo ser um conteúdo fundamental da cultura corporal de movimento, objeto de estudo da Educação Física, e ter um grande potencial para gerar bons conteúdos para suas aulas. Por meio desta modalidade se podem programar diversas atividades motoras para crianças e jovens, por meio de sua diversidade de movimentos (MATTHIESEN, 2005).
Para Matthiesen (2005), o atletismo é uma modalidade esportiva em que poucos se tornam campeões e, desta forma, sua aplicação nas aulas de Educação Física, não pode se pautar pela lógica do esporte de competição. Em suas práticas, a criança deve vivenciar todas as provas, por meio da utilização de suas regras básicas e do desenvolvimento de atividades que gerem satisfação aos participantes, permitindo, assim, uma visão mais ampla da modalidade. Neste mesmo sentido, outros autores, como Marques e Iora (2009) e Pich (2011), defendem que se supere a lógica do esporte de competição, adotando estratégias de ensino que busquem esta superação.
Para Kunz (1998), o atletismo nas aulas de Educação Física, é desenvolvido de forma tradicional e carece de transformações didáticas e pedagógicas para que os alunos se interessarem pela aprendizagem do correr, saltar e arremessar.
Enfim, compreender como se desenvolve o ensino do atletismo nas aulas de Educação Física na Educação Básica tem sido uma preocupação constante nos últimos tempos. Entretanto, são pouco freqüentes os estudos que consideram esta situação sob a perspectiva discente tanto no campo da Educação Física, em geral, quanto relacionado a esta temática exclusivamente. Segundo Betti e Liz (2003), este tipo de estudo deveria ser mais explorado ao levarem em consideração o princípio da alteridade (BETTI e LIZ, 2003).
Neste sentido, ouvir a opinião de alunos praticantes de atletismo sobre a presença e as possibilidades de ensino da modalidade nas aulas de Educação Física escolar, pode ampliar a compreensão sobre esta situação, pois, espera-se que por conhecerem a modalidade estes tenham condições de identificar e indicar as possibilidades para o seu melhor desenvolvimento na escola. Desta forma, o objetivo deste trabalho é: verificar a visão de alunos praticantes de atletismo sobre o ensino da modalidade em suas aulas de Educação Física, nos anos finais do ensino fundamental.
2. Metodologia
Para que se fizesse este levantamento desenvolveu-se uma pesquisa de caráter descritivo, aquela que busca observar fatos sem manipulá-los (CERVO e BERVIAN, 2002). A amostra foi constituída por 20 atletas de um projeto esportivo da cidade de São Paulo, matriculados nos últimos anos (7º, 8º e 9º) do Ensino Fundamental. Destes, 70% estão matriculados em escolas públicas. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário, elaborado pelos próprios pesquisadores, composto por questões fechadas e abertas.
A coleta de dados foi realizada no próprio local de treinamento dos atletas, após consentimento da instituição e dos responsáveis legais pelos atletas. As respostas foram tabuladas quantitativamente, apresentadas em porcentagem e demonstradas em gráficos. As questões abertas foram categorizadas e, posteriormente, quantificadas.
3. Apresentação e discussão dos resultados
A primeira questão respondida pelos sujeitos foi a respeito da presença ou não do atletismo em aulas de Educação Física. Conforme pode ser verificado na figura 1, a maior parte (55%) afirmou ter vivenciado a modalidade na escola. Este resultado contraria os obtidos por outros estudos, como os de Lencina e Rocha Júnior (2001); Limão et al. (2004); Matthiesen (2005); Matthiesen (2007); Meurer, Schaefer e Miotti (2008), Marques e Iora (2009), nos quais uma minoria de professores relatava ensinar a modalidade. Por outro lado apresenta concordância com os estudos de Rabelo e Fernandes (2010), Silva e Sedorko (2011), Frassan, Machado e Huber (2013) e Xavier e Maciel (2013) realizados em diferentes cidades. A discrepância existente entre estes estudos pode se justificar tanto pelas diferentes metodologias empregadas quanto pela diversidade de cidades pesquisadas, pois se sabe que as culturas locais acabam influenciando nas escolhas curriculares. Há de se ressaltar, entretanto, que os estudos em que há maior presença do ensino do atletismo em escolas são mais recentes o que poderia indicar uma tendência em se incluir esta modalidade como conteúdo, o que merece novas investigações.
Figura 1. Aulas de atletismo na escola
Em relação ao local utilizado para o desenvolvimento das aulas de atletismo (figura 2), 73% dos alunos apontam a quadra como o principal ambiente utilizado para o seu ensino. Interessante notar que a possível inexistência de pista de atletismo, não tenha sido empregada como justificativa para o não ensino da modalidade, contrariamente ao percebido nos estudo de Lencina e Rocha Júnior (2001) e Marques e Iora (2009), nos quais os professores pesquisados a apontam como principal dificuldade. A inexistência de pista de atletismo não deve ser considerada impedimento para o ensino da modalidade, principalmente dentro da realidade escolar. Esta característica, talvez, já reflita a percepção de Silva e Darido (2011) de que, cada vez mais, os cursos de formação de professores de Educação Física busquem mostrar as possibilidades de ensino em espaços e com materiais adaptados. A pesquisa elaborada por Silva e Sedorko (2011) também destaca a adaptação tanto de materias quanto de espaços como uma estratégia utilizada pela maior parte dos professores investigados no ensino do atletismo.
Figura 2. Espaços utilizados para o ensino do atletismo
Dentre os materiais utilizados para as aulas de atletismo na escola, os atletas apontam que há uma grande diversidade, conforme pode ser verificado na figura 3. Estes variam desde específicos à modalidade como pesos e colchões, passando por materiais técnicos não específicos como bolas, bolas medicinais, cordas e cones, até matériais adaptados, como cabo de vassoura. Matthiesen (2005) relata que o professor de Educação Física, em sua atuação, pode utilizar materiais alternativos, como cordas, arcos e garrafas como vários materiais dentro da sua modalidade, podendo não focar nos materiais específicos utilizados nas competições de alto rendimento, usando a sua criatividade.
Figura 3. Materiais utilizados para o ensino do atletismo
Em relação às provas mais vivenciadas nas aulas de Educação Física, destacam-se as corridas 67%, como podemos verificar na figura 4. Este resultado encontra semelhança com os identificados por Tsuneta, Nascimento Junior e Watanabe (2010) e Silva e Sedorko (2011), sendo que na opinião destes últimos as corridas são enfatizadas, justamente por trabalharem com o gesto motor mais natural do atletismo, o que facilita o seu ensino. O grande problema é quando esta característica impede que os alunos conheçam provas de outros grupos descaracterizando, então, a globalidade da modalidade, confome já exposto, há tempos por Oro (1983).
Figura 4. Grupo de provas do atletismo ensinadas nas aulas de Educação Física
Quando questionados sobre sugestões para o melhor ensino do atletismo na escola vários foram os aspectos apontados, conforme pode ser verificado na Figura 5, destacando-se, principalmente, a necessidade de mais materiais (21%). Vários estudos, aliás, apontam a carência de materiais como um dos fatores dificultadores do ensino de atletismo na escola (PEDROSA, 2006; RABELO e FERNANDES, 2010; MELO et al, 2011; FRASSAN, MACHADO e HUBER, 2013). É importante, entretanto, que se entenda que a necessidade de materiais específicos da modalidade não deva ser a meta prioritária, quando se sabe, que por meio da utilização de outros tipos de materiais, também, é possível que se ensine a modalidade de forma adequada, conforme já exposto, anteriormente. Talvez, os alunos entrevistados tenham esta impressão em virtude de realizarem seus treinamentos em locais específicos da modalidade e não consigam perceber a diferença entre as necessidades de um treinamento das de um processo de ensino-aprendizagem escolar.
Figura 5. Sugestões para a melhoria do ensino do atletismo na escola
4. Considerações finais
De acordo com os dados obtidos neste estudo, percebeu-se que a maior parte dos alunos participantes desta pesquisa afirmam ter o atletismo como conteúdo de suas aulas, ainda que com grande ênfase nas corridas, mas, sentem que com mais materiais este ensino poderia ser melhorado. Percebeu-se, entretanto, que os professores que ensinam a modalidade o fazem se utilizando de materiais e espaços nem sempre específicos do atletismo, o que, de certa forma, retrata uma grande capacidade de perceber que o ensino escolar desta modalidade é possível por meio de adaptações.
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