Nível de atividade física e equilíbrio em idosos da comunidade Nivel de actividad física y equilibrio en personas mayores de la comunidad Physical activity level and balance in the elderly |
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*Enfermeiro graduado pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo **Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Adventista de São Paulo ***Doutor em Ciências Médicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Docente do Curso de Mestrado em Promoção da Saúde e da Faculdade de Fisioterapia do Centro Universitário Adventista de São Paulo |
Rafael de Aquino Dias* William de Borba* Maristela Santini Martins** Fábio Marcon Alfieri*** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi o de comparar o equilíbrio em idosos com diferentes níveis de atividade física residentes na comunidade. Participaram deste estudo transversal observacional, indivíduos com idade igual ou mais que 60 anos com condições de chegar ao local da avaliação de forma independente, sem problemas de saúde que interferissem no equilíbrio. Os voluntários responderam o Questionário Internacional de Atividade Física IPAQ-Versão Curta e para avaliar o equilíbrio foi usada a Escala Funcional de Berg. Para comparação dos resultados entre os grupos foi utilizada a Análise de multivariância (ANOVA) com post-hoc de Tukey. O nível descritivo α estabelecido foi 5%. Noventa idosos participaram do estudo e estes foram classificados em segundo o nível de atividade física. O resultado da escala de Berg do grupo muito ativo (50.5 ± 4.9 pontos) foi significantemente superior aos grupos: insuficientemente ativo (45.9 ± 6.2 pontos) e ativo (47.2 ± 4.9 pontos), mostrando que idosos muito ativos possuem melhores condições de equilíbrio em relação ao considerados insuficientemente ativos e ativos quando avaliados pela escala de Berg. Unitermos: Atividade motora. Equilíbrio postural. Idoso.
Abstract The aim of this study was to compare the balance in elderly with different levels of physical activity in the community residents. Participated in this observational cross-sectional study, individuals aged more than 60 years to reach the site conditions assessment independently without health problems that interfere with balance. The volunteers answered the International Physical Activity Questionnaire-Short Version IPAQ and to assess the balance was used to Functional Scale Berg. To compare the results between groups was used multivariance analysis (ANOVA) with post-hoc Tukey test. The descriptive level α was set at 5%. Ninety elderly participated in the study and these were ranked according to the level of physical activity. The result of the scale of Berg's very active group (50.5 ± 4.9 points) was significantly different from groups: under-active (45.9 ± 6.2 points) and active (47.2 ± 4.9 points), showing that very active elderly have better balance in over the considered insufficiently active and active when assessed by the Berg scale Keywords: Motor activity. Postural balance. Aged.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As quedas são um problema de saúde pública em nível mundial atingindo cerca de 30% dos idosos e gerando morbidades e mortalidade nesta população que está crescendo em todo o mundo (LÁZARO DEL NOGAL et al, 2005; KARUKA et al, 2011). A etiologia das quedas é multifatorial e inclui fatores extrínsecos e intrínsecos (LÁZARO DEL NOGAL et al, 2005). Este último fator está relacionado às condições como força muscular, equilíbrio e flexibilidade que são capacidades relacionadas com atividade física (LÁZARO DEL Nogal et al, 2005; Silva et al, 2011).
A prática regular de atividade física ajuda na prevenção de quedas provavelmente devido aos estímulos musculoesqueléticos e sômato-sensoriais que contribuem para que o idoso consiga melhores condições de controle do equilíbrio (SKELTON, 2001). Por outro lado, o sedentarismo associado à senescência pode contribuir para a redução das capacidades físicas envolvidas no controle do equilíbrio e, portanto predispor os idosos a quedas (SILVA et al, 2001; SKELTON, 2001). Como são necessários estudos que investiguem a relação entre o nível de atividade física e condições de equilíbrio (SILVA, DUARTE e ARANTES, 2011) o objetivo deste estudo foi o de comparar o equilíbrio em idosos com diferentes níveis de atividade física residentes na comunidade.
Metodologia
Trata-se de um estudo de caráter transversal observacional no qual foram recrutados indivíduos com idade igual ou mais que 60 anos que participam de diferentes grupos pertencentes a uma instituição universitária, sendo eles: “Exercício para viver melhor”, “Grupo de inclusão digital”, “Pequeno grupo de oração da terceira idade e “Grupo de hidroterapia”. Para participarem do estudo os indivíduos deveriam ter condições de chegar ao local da avaliação de forma independente, capacidade de entender as avaliações e dar por escrito a sua autorização de participação mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Não participaram do estudo aqueles com queixas de tonturas, fraturas prévias e próteses nos membros inferiores, queixas de tonturas e com artropatias sintomáticas. Os indivíduos que contemplaram os critérios de inclusão e deram por escrito a sua autorização no estudo por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, foram avaliados por meio de dois instrumentos: Questionário Internacional de Atividade Física IPAQ-Versão Curta que os classificava segundo o nível de atividade física: muito ativo, ativo, insuficientemente ativo e sedentário (MATSUDO et al, 2001). A descrição de cada classificação é: 1) Sedentário: Não realiza nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos durante a semana; 2) Insuficiente ativo: Realiza 10 minutos contínuos de atividade física, com uma frequência de 5 dias/semana ou duração de ≥ 150 minutos /semana; 3) Ativo: Realiza atividade física vigorosa ≥ 3 dias /semana e ≥ 20 minutos/sessão, realiza atividade moderada ou caminhada por ≥ 5 dias/semana e ≥ 30 minutos/sessão ou somando : ≥ 5 dias/semana e ≥ 150 min/semana; 4) Muito Ativo: Cumpre atividades vigorosas ≥ 5 dias/semana e ≥ 30 min/sessão, realiza atividade vigorosa ≥ 3 dias/semana e ≥ 20 min/sessão + moderada e ou caminhada de 3 a 5 dias/semana e ≥ 30 min/sessão ou somando > que 500 minutos de atividade física (MATSUDO et al 2001).
Para avaliar o equilíbrio foi usada a Escala Funcional de Berg (MIYAMOTO et al 2004). Este teste é constituído por uma escala de 14 tarefas comuns que envolvem o equilíbrio estático e dinâmico tais como, alcançar, girar, permanecer em pé, levantar-se, e fazer transferências. A realização das tarefas é avaliada através de observação e a pontuação varia de 0-4, totalizando um máximo de 56 pontos. Estes pontos são subtraídos caso o tempo ou a distância não sejam atingidos, o sujeito necessite de supervisão para execução da tarefa ou se o sujeito apoia-se num suporte externo ou necessita da ajuda do examinador. Ou seja, quanto maior a pontuação obtida, melhor o equilíbrio. Tal instrumento já foi validado e apresenta confiabilidade para avaliação de idosos brasileiros (MIYAMOTO et al 2004).
Os dados foram analisados usando o pacote estatístico GraphPad InStat [DATAASET1.ISD]. Para comparação dos resultados entre os grupos foi utilizada a Análise de multivariância (ANOVA) com post-hoc de Tukey. O nível descritivo α estabelecido foi 5%.
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da instituição (CAAE: 01490912.8.0000.5377).
Resultados
Ao todo, 200 indivíduos fazem parte dos grupos da instituição, porém apenas 90 idosos participaram do estudo. Estes após a classificação quanto ao nível de atividade física, foram classificados nos grupos: insuficientemente ativo, ativo e muito ativo. A média de idade não foi estatisticamente diferente entre os grupos, conforme mostra a tabela 1. Em relação aos resultados da Escala de Berg, o resultado do grupo muito ativo foi significantemente superior aos demais grupos (tabela 1).
Tabela 1. Características gerais da amostra
M- mulheres, H- homens, GINS- grupo insuficiente ativo, GATI- grupo ativo, GMA- grupo muito ativo, a- GATI# GMA (p<0.05), b- GINS # GMA (p<0.01).
Discussão
No presente estudo optou-se por usar o teste clínico de Berg a fim de avaliar o equilíbrio dos idosos que vivem de forma independente na comunidade. Esta escolha foi devido ao fato do teste permitir a mensuração do equilíbrio e prever quedas em indivíduos idosos, além de ser validado e possuir boa confiabilidade (KARUKA et al 2001; MIYAMOTO et al 2004). Quanto aos resultados obtidos pela escala de Berg foi observado que indivíduos considerados muito ativos apresentam melhores condições de equilíbrio do que os outros grupos e, portanto apresentariam assim como o grupo considerado ativo, um baixo a moderado risco para quedas, já que pontuações abaixo de 46 pontos é que indicam alto risco para as quedas, como a vista no grupo insuficientemente ativo (KARUKA et al 2011; SHUMWAY-COOK E WOOLACOTT, 2003).
Estudos que usaram a escala de Berg conseguiram detectar diferenças significativas em idosos da comunidade considerados sedentários (47,7 pontos) (PIMENTEL e SCHEIDER 2009) ou não praticantes de atividade física (50,8 pontos) (SANTOS et al 2001) e ativos (53,6 ± 3,7 pontos) (PIMENTEL e SCHEIDER 2009) ou praticantes de atividade física (54,7 pontos) (SANTOS et al 2001). Porém, os autores destes estudos (PIMENTEL e SCHEIDER 2009; (SANTOS et al 2001) classificaram os grupos baseando-se na participação em programas de atividade física ao contrário do presente estudo que classificou baseando-se na atividade física geral dos participantes por meio de um instrumento específico de classificação sobre o nível de atividade física, o IPAQ.
Por meio de outros instrumentos de avaliação tanto do nível de atividade física quanto equilíbrio, um estudo também verificou que o sedentarismo predispõe idosas a um maior risco de quedas do que aquelas moderadamente ativas e ativas (SILVA et al, 2001). O fato de que quanto maior o nível de atividade física, maior o equilíbrio e menor a probabilidade de quedas entre os idosos, provavelmente se justifica frente aos estímulos musculoesqueléticos e sômato-sensoriais que a atividade física proporciona no sentido de fornecer maior controle postural (SKELTON, 2001). Embora este estudo tenha conseguido mostrar que indivíduos com maior nível de atividade física apresentam melhores condições de equilíbrio quando avaliado pela escala de Berg, em algumas situações esta escala pode apresentar efeito-teto. (ALFIERI et al, 2010). Desta forma pode ser que em alguns casos a escala possua baixa especificidade no que se refere aos idosos com melhor capacidade funcional como salienta Alfieri et al (2010) que analisaram idosos da comunidade semelhantes ao do presente estudo e encontraram que estes apresentaram 55 pontos da escala de Berg antes de programa de intervenção por meio de exercícios, ou seja, faltou apenas 1 ponto para os idosos alcançarem a pontuação máxima desta escala, dificultando assim, verificar se há influência dos exercícios sobre o equilíbrio quando este é analisado pela escala de Berg.
Considerações finais
Mesmo conseguindo identificar que idosos considerados muito ativos possuem melhores condições de equilíbrio em relação ao considerados insuficientemente ativos e ativos quando avaliados pela escala de Berg, acredita-se que outras formas de mensuração de equilíbrio como o teste Timed up and go ou até mesmo aqueles com medidas diretas como a estabilometria computadorizada possam ser usadas para confirmar e melhor estratificar a relação nível de atividade física versus equilíbrio em idosos da comunidade.
Referências
ALFIERI FM, RIBERTO M, GATZ LS, RIBEIRO CPC, BATTISTELLA LR. Uso de testes clínicos para verificação do controle postural em idosos saudáveis submetidos a programas de exercícios físicos. Acta Fisiatr, v.17, p.153-158, 2010.
KARUKA AH, SILVA JAMG, NAVEGA MT. Análise da concordância entre instrumentos de avaliação do equilíbrio corporal em idosos. Rev Bras Fisioter, v.15, n. 6, p. 460-466, 2011.
LÁZARO DEL NOGAL LM, GONZÁLEZ-RAMÍREZ A, PALOMO-LLORO A. Evaluación del riesgo de caídas. Protocolos de valoración clínica. Rev Esp Geriatr Gerontol, v.40, n. 2, p. 54-63, 2005.
MATSUDO SS, ARAÚJO T, MATSUDO V, ANDRADE D, ANDRADE E, OLIVEIRA LC, BRAGGION G. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Rev Bras Ativ Fís Saúde, v.6. n. 2, p. 5-18, 2001.
MIYAMOTO ST, LOMBARDI JUNIOR I, BERG KO, NATOUR J, RAMOS LR. Brazilian Version of Berg Balance scale. Braz J Med Biol Res, v.37, p.1411-1421, 2004.
PIMENTEL RM, SCHEICHER ME. Comparação do risco de queda em idosos sedentários e ativos por meio da escala de equilíbrio de Berg. Fisioter Pesqui, v.16, n. 1, p.6-10,2009.
SANTOS GM, SOUZA ACS, VIRTUOSO JF, TAVARES GMS, MAZO GZ. Valores preditivos para o risco de queda em idosos praticantes e não praticantes de atividade física por meio do uso da Escala de Equilíbrio de Berg. Rev Bras Fisioter , v.15, n. 2, p. 95-101, 2011.
SHUMWAY-COOK AS, WOOLACOTT MH. Controle Motor: teoria e aplicação práticas. 2ª Ed. Barueri: Manole; 2003.
SILVA EC, DUARTE NB, ARANTES PMM. Estudo da relação entre o nível de atividade física e o risco de quedas em idosas. Fisioter Pesqui, v.18, n. 1, p. 23-30, 2011.
SKELTON DA. Effects of physical activity on postural stability. Age Ageing, v. 30, n. 54, p. 33-39, 2001.
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