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Processo de envelhecimento, Direitos Humanos e fragilidade

Proceso de envejecimiento, Derechos Humanos y fragilidad

 

*Psicólogo. Mestrando em Diversidade Cultural

e Inclusão Social. Universidade Feevale

**Universidade Feevale

(Brasil)

Diego da Silva Souza*

diegossouza@hotmail.com

Profa. Dra. Geraldine Alves dos Santos**

geraldinesantos@feevale.br

 

 

 

 

Resumo

          O processo de envelhecimento ocorre de forma lenta e multifatorial, sendo, atualmente, muito difícil a análise das causas que levam a este fenômeno natural no curso vital de todos os seres vivos. Portanto o objetivo do presente estudo é realizar uma discussão crítica sobre o impacto dos direitos humanos e da síndrome da fragilidade durante o processo de envelhecimento. A síndrome da fragilidade acomete grande parcela da população idosa, causando desde comorbidades, passando por quedas e até a morte. Frente a isto, o entendimento de que os direitos humanos são ligados à alteridade e à ética, e são construídos historicamente, pode-se desenhar uma nova luta da população idosa frente a melhores atendimentos e atendimentos mais especializados para a fragilidade, prevenindo o que pode ser uma grande perda da qualidade de vida desta população.

          Unitermos: Processo de envelhecimento. Direitos Humanos. Síndrome da fragilidade.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Processo de envelhecimento

    O indivíduo durante o processo de envelhecimento, tanto em uma esfera psicológica, quanto em uma esfera biológica e social, vai apresentar o seu percurso de vida particular. Mas independente das causas que levam ao envelhecimento e à individualidade do fenômeno no que se refere às variações individuais, o ser humano que se encontra em uma idade mais avançada vai apresentar algumas características marcantes.

    Neri (2001) afirma que se deve observar o envelhecimento em aspectos distintos, introduzindo os conceitos de idade biológica, idade social e idade psicológica. A idade biológica refere-se ao tempo que ainda resta ao organismo para viver, representando um potencial de cada indivíduo continuar vivo. A idade social se refere ao grau de adequação do indivíduo ao desempenho dos papéis esperados para as pessoas de sua mesma faixa etária. Este envelhecimento pode implicar em distanciamento e também leva em conta a expectativa das pessoas mais jovens em relação às atitudes que deveriam ser cumpridas pelas pessoas de idade avançada. Já a idade psicológica apresenta relação com a forma que cada indivíduo avalia em si os marcadores biológicos, sociais e psicológicos do envelhecimento, baseados em comparações sociais.

    Considerando os aspectos físicos do processo de envelhecimento, é inegável que o mesmo vai ocasionar perdas no desempenho das realizações das atividades de vida diária, na medida em que ocorrem reduções no metabolismo. Segundo McArdle, Katch e Katch (1985) o peso corporal diminui a partir dos 60 anos, devido à diminuição da massa muscular e óssea e o aumento do percentual de gordura corporal. Os autores afirmam, também, que a capacidade cardiopulmonar de fornecer sangue aos músculos pode diminuir cerca de 1% a cada ano de vida após os vinte anos em indivíduos sedentários. Com isto diminui a capacidade dos músculos de utilizarem o oxigênio. Spirduso (1995) confirma estes dados colaborando com a afirmação de que o declínio da capacidade aeróbica se mostra duas vezes maior em indivíduos sedentários quando comparados com os ativos, influenciando em sua capacidade de equilíbrio, agilidade e tempo de reação.

    A grande maioria dos estudiosos sobre o envelhecimento físico considera relevante, e isto parece muito evidente, as perdas naturais de qualquer organismo vivo decorrente de uma longa vida, que biologicamente falando, se constitui e um grande caminho no decorrer do qual o organismo sofre um estresse contínuo para manter-se vivo. Mesmo tendo em vista este número de perdas quando se refere aos aspectos físicos, o processo de envelhecimento pode atingir, também, o acúmulo de conhecimentos físicos, que podem ser atingidos com a prática de atividades físicas. Estes tendem a melhorar o potencial individual e se mostram benéficas às pessoas. O grau de independência da vida está, então, fortemente ligado à menor ou maior atividade física, sendo que os investimentos na saúde física podem produzir grandes resultados na saúde da população idosa, com reflexo sobre a redução da morbidade e mortalidade (LEÃO, 2003).

    As características psicológicas são, assim como as físicas, influenciadas pela hereditariedade, história e atitude de cada indivíduo. As pessoas mais saudáveis e otimistas têm mais chance de se adaptarem às transformações causadas pelo envelhecimento.

    A estimulação psicológica é considerada de suma importância para um envelhecimento bem-sucedido, e é vista em atividades que proporcionam afeto, auto-estima, sentimento de identidade, conduta, pensamento, juízo crítico, memória, atenção, percepção, discernimento, capacidade de tomar decisões e a capacidade de adaptação a novas situações. Em relação aos aspectos psicológicos como inteligência e memória em idosos, Yassuda (2002) afirma existirem perdas nas memórias operacional, episódica e explícita, mas que, embora com o passar dos anos, as pessoas podem aprender a lidar melhor com estas situações.

    Quando se refere aos aspectos psicológicos do processo de envelhecimento, logo são referenciadas as perdas já esperadas que chegam com a idade. Porém, deve-se sempre levar em consideração, como de acordo com as teorias psicológicas sobre o envelhecer, como a teoria do lifespan, que o mais importante é como o idoso consegue lidar com as perdas relacionadas à idade avançada. Este aspecto é fortemente ligado á forma como o indivíduo idoso percebe sua vida e com as características subjetivas referentes a um envelhecimento com qualidade de vida, sendo que, dentro destas, considera-se como elementos-chave, a satisfação com a vida e o bem-estar subjetivo (LEÃO, 2005).

    No que cabe aos aspectos sociais, os idosos sofrem modificação no status e no relacionamento com outras pessoas, sendo que a forma de se minimizar estas perdas seria um trabalho para que sejam ajustadas as relações sociais dos idosos com filhos, netos, colegas e amigos. Portanto, identifica-se que os grupos de terceira idade podem ser usados como forma de se atingir estes objetivos. Para Zimerman (2000) a estimulação social para uma um melhor envelhecimento, deve ter como base a comunicação, intercâmbio afetivo, convivência e o sentimento de pertencer em seus grupos. A autora também da grande valor ao trabalho com os grupos sócio-terápicos como uma forma de trabalhar a estimulação de todas estas variáveis envolvidas.

    Para Neri (1995) na sociedade brasileira, o conceito de envelhecimento sofre grande influência devido às visões estereotipadas, que se baseiam em generalizações inadequadas da competência de comportamento dos idosos, da saúde e do envolvimento social. Frente a este fato, a partir dos 40 e 50 anos, os adultos são discriminados e relegados ao afastamento social precoce, ao desprestígio e à perda de poder e de posição pessoal, em muitos contextos de trabalho.

    Saad (1991), em importante pesquisa sobre o intercambio entre as gerações, percebe que quanto mais rico o idoso, maior a ajuda material oferecida aos filhos e, quanto mais pobre o idoso, menor a ajuda aos filhos, sendo que as mulheres idosas ajudam mais os filhos do que os homens. O autor também observou que o idoso mais velho tende a receber mais ajuda quando comparado com o idoso mais novo. Considerou, também, que quanto menor o nível educacional do idoso, mais baixo é o apoio instrumental por ele recebido e que a co-residência está associada ao aumento da probabilidade de receber ajuda para um eventual manejo de incapacidades funcionais.

    Neri (2001) também se refere ao suporte social como um importante apoio para se evitar o estresse causador da diminuição do bem-estar da pessoa idosa. Afirma que redes de suporte social se caracterizam por uma rede de pessoas que mantêm entre si laços típicos das relações de dar e receber.

Síndrome da fragilidade

    Fragilidade é um termo cada vez mais freqüente entre os profissionais que tratam do envelhecimento, no sentido de indicar uma síndrome clínica que torna os idosos vulneráveis às perdas na capacidade funcional, às comorbidades, às quedas e à redução da expectativa de vida. Porém, devido à diversidade de definições sobre o tema na literatura científica, existe uma dificuldade sobre a demarcação de um consenso para a definição e o uso do termo (TEIXEIRA, 2010).

    Para Fried et al (2001) estabelecer um conceito de fragilidade tem sido uma dificuldade para estudos específicos sobre esta doença, embora a síndrome seja altamente prevalente nas idades avançadas e possa conferir altos riscos de quedas, incapacidade, hospitalização e mortalidade nos indivíduos idosos. Esta síndrome tem sido considerada sinônimo de incapacidade, comorbidade, entre outros, mas pode ter uma base biológica específica e ser uma síndrome clínica distinta, embora uma definição padronizada ainda não tenha sido estabelecida na literatura. Nash et al. (2005) afirmam que a fragilidade surge como um conceito cada vez mais importante na compreensão e cuidado ao idoso, embora não exista ainda um consenso na literatura referenciando um quadro teórico ou definição operacional.

    Importante salientar que, embora a definição da síndrome da fragilidade não seja clara e organizada, esta doença está presente na população mundial e afeta diretamente a qualidade de vida e a saúde do idoso. Fried et al. (2001) encontraram uma prevalência da fragilidade em 6,9% dos idosos que vivem em comunidade nos Estados Unidos e, no Brasil, estudos estão em andamento para se estabelecer esta incidência em território nacional. Então, por se tratar de uma síndrome multifatorial, a fragilidade vai influenciar negativamente tanto os aspectos psicológicos, como físicos e socais da vida da pessoa idosa.

    Hekman (2006) entende que, embora ainda existam dificuldades em se estabelecer uma definição específica, a fragilidade tem sido descrita como uma síndrome biológica onde ocorre a diminuição da capacidade homeostática do organismo, acarretando em perda na capacidade de resistência aos estressores ambientais, que, por sua vez, causam declínio em diversos sistemas fisiológicos, possibilitando aumento na vulnerabilidade a diversas doenças. Como a maioria destes sinais ocorre de forma natural com o envelhecimento, existe uma dificuldade em se estabelecer uma diferenciação segura entre o idoso frágil e o idoso que segue seu curso normal de envelhecimento. A despeito disto, o autor ainda indica que com o envelhecer ocorrem alguns declínios físicos relevantes como na depuração de creatinina, volume expiratório forçado, massa muscular, força, volume de oxigênio máximo e velocidade de condução dos nervos. Todos estes fatores atuando juntos poderiam indicar a síndrome, porém, a doença em si estaria mais relacionada em como o organismo pode responder e se adaptar a estas perdas, em conjunto com os estressores, como extremos de temperatura e doenças agudas, por exemplo, do que com os declínios em si.

    Rockwood e colaboradores (1994) propuseram um modelo dinâmico da fragilidade e a definiram como uma complexa interação de problemas médicos e sociais, resultando na diminuição da capacidade de responder ao estresse associado ao declínio no desempenho funcional. Este modelo leva em conta fatores positivos como saúde, práticas saudáveis, recursos financeiros, suporte familiar e fatores negativos como doenças, incapacidades físicas e mentais, dependências de terceiros e sobrecarga dos cuidadores. Uma vez que os aspectos positivos excedessem os aspectos negativos, os idosos seriam saudáveis. Se os aspectos negativos sobrepusessem aos positivos, os idosos seriam classificados como frágeis.

    Para Fried e colaboradores (2001) os sintomas que se manifestam com a síndrome da fragilidade são: perda de peso, fraqueza, fadiga, inatividade e diminuição na ingestão alimentar. Já os sinais mais comuns seriam anormalidades no equilíbrio e na marcha, sarcopenia, diminuição da massa óssea e perda do condicionamento físico. Com base nisto, esta autora propôs, juntamente com seu grupo de pesquisa, um fenótipo da fragilidade, onde o idoso deveria apresentar ao menos três entre os seguintes componentes para ser considerado como frágil: perda de peso não intencional; diminuição da força de preensão manual da mão dominante de acordo com o sexo e o índice de massa corporal; exaustão avaliada por autorrelato de fadiga através de duas questões da Center for Epidemiological Studies – Depression (CES -D); lentidão ao percorrer uma distância de 4,6 metros de acordo com sexo e altura; e baixo índice de atividade física tendo por base o Minnesota Leisure Time Activities Questionnarie. Além disto, a autora reforça a importância em se estabelecer condições explícitas para a caracterização da fragilidade por parte dos profissionais da saúde possibilitando organizar as intervenções necessárias para se minimizar os efeitos da síndrome sobre a saúde do idoso. Estes critérios estão hoje largamente difundidos, sendo referência para muitos estudos sobre o idoso frágil e tem se demonstrado como um importante ponto de partida no sentido de unificar os conceitos desta síndrome de valor tão relevante.

    Fabrício e Rodrigues (2008) realizaram um estudo teórico com o objetivo de discorrer sobre o envelhecimento e sua relação com a fragilidade, por meio de uma revisão bibliográfica, buscando estabelecer a trajetória histórica do conceito de fragilidade e as suas implicações sobre o indivíduo que envelhece. Constatam que o termo fragilidade, atualmente, se afasta do conceito de velhice e passa a ser tratado como um fator que, quando tratado precocemente, pode garantir autonomia e independência da pessoa que envelhece, evitando incapacidades, deficiências e desvantagens, muitas vezes associadas e/ou causadas pelo grau de fragilidade que o idoso possa apresentar. Os autores alertam para a importância de mais estudos sobre instrumentos de medida para detectar a fragilidade em idosos, de maneira a possibilitar a identificação precoce de um idoso frágil ou suscetível a estar nesta condição, proporcionando a elaboração de estratégias de intervenções preventivas.

    Ainda nesta linha, Rockwood et al. (2011), afirmam que a prevalência da fragilidade aumenta com a idade em adultos mais velhos, porém, a mesma associação é pouco relatada em relação aos adultos mais jovens, onde o risco associado não é tão claro. Além disso, pouco se sabe sobre como a fragilidade muda ao longo do tempo sobre os adultos mais jovens. Os autores então estimaram a fragilidade de acordo com o acúmulo de déficits ao longo da vida do indivíduo. Os mesmos autores, ao analisar o banco de dados do estudo National Population Health Survey com uma amostra de 14713 indivíduos com idades entre 15 e 102 anos constataram que o uso mais freqüente de serviços de saúde, mudança no estado de saúde e morte se mostraram bom preditores da fragilidade nesta amostra, sendo que em todas as idades, um maior índice de fragilidade foi associado com a mortalidade e maior uso de serviços de saúde. Em idades mais jovens, a recuperação do estado de saúde era relativamente mais comum, mas a chance de recuperação completa diminuiu com a idade.

    Atualmente, então, a fragilidade é vista como um continuum multidimensional do curso de vida, sendo referida como um processo de interação complexa de fatores de cunho biológicos, psicológicos e sociais durante o curso de vida. Sendo assim, a Fragilidade pode gerar efeitos irreversíveis para o envelhecimento através de uma seqüência que envolve o declínio da capacidade funcional, dependência com as atividades de vida diária e óbito (TEIXEIRA, 2010). Para Bergman et al. (2004) a história de vida influencia a ocorrência da fragilidade na velhice e esta trajetória pode ser modificada por fatores biológicos, psicológicos e sociais. A síndrome evoluiria de uma fase subclínica, denominada pré fragilidade, para manifestações clínicas em um período de tempo imprevisível, sendo que a ocorrência da síndrome dependeria de múltiplos fatores. Durante a fase de pré fragilidade, a possibilidade de prevenção da síndrome seria maior, enquanto que nas fases subseqüentes, o foco do tratamento seria minimizar os riscos e efeitos. Os autores ainda salientam que as múltiplas definições do conceito de fragilidade podem ser classificadas nas seguintes categorias: bases fisiológicas, síndrome complexa, modelo de equilíbrio com elementos sociais e síndrome geriátrica.

    Rockwood et al. (1994) quanto às aplicações práticas do conceitos e modelos para a síndrome da fragilidade, afirmam que uma boa diferenciação entre idosos saudáveis e idosos frágeis pode ajudar na elaboração de políticas públicas voltadas para o idoso, uma vez que tal política poderia reconhecer e, até certo ponto legitimar as necessidades específicas das pessoas idosas frágeis e promover melhor atendimento visando atender a essas necessidades. Nash et al. (2005) discorrem ainda sobre a importância em se utilizar uma terminologia comum entre os diferentes profissionais da saúde e entre estes e seus pacientes para uma melhor comunicação, além de se poder facilitar a organização para o atendimento de idosos nos programas de saúde, criando-se indicadores de fragilidade.

Envelhecimento populacional brasileiro

    A combinação de menores taxas de mortalidade e elevadas taxas de fecundidade determinou o aumento do crescimento vegetativo e a população brasileira saltou de 41 para 93 milhões de pessoas entre 1940 e 1970, crescendo em média 2,8% ao ano. A estrutura etária da população, no entanto, não se alterou, pois a redução da mortalidade deveu-se, principalmente, à queda das taxas de mortalidade específicas da infância. Sendo "preservadas" mais crianças, o efeito sobre a distribuição etária foi semelhante ao aumento da fecundidade, levando a um "rejuvenescimento" da população. Somente a partir de 1960, com o declínio da fecundidade em algumas regiões mais desenvolvidas do Brasil, iniciou-se o processo de envelhecimento populacional. As PNAD's da década de 70 passaram a demonstrar que o fenômeno se estendia paulatinamente às demais regiões brasileiras, tanto nas áreas urbanas quanto rurais, e a todas as classes sociais (CARVALHO, 1993).

    Segundo dados censitários do IBGE (2010), a proporção de idosos do Brasil, entre 1998 e 2010, aumentou de 8,8% para 12,32%. O Rio Grande do Sul (15,53 %) e Rio de Janeiro (14,92%) são os estados com maior proporção de idosos. Em 1998, eram, junto com a Paraíba, os únicos estados onde os idosos representavam mais de 10,0% da população. Atualmente, todos os estados do Sudeste e Sul, assim como a maioria do Nordeste, já alcançaram esta proporção.

    Em países industrializados a queda das taxas de mortalidade e fecundidade iniciadas no século passado, acompanhou a ampliação da cobertura dos sistemas de proteção social e melhorias das condições de habitação, alimentação, trabalho e do saneamento básico. No Brasil, por outro lado, o declínio da mortalidade que deu início à transição demográfica foi determinado mais pela ação médico-sanitária do Estado que por transformações estruturais que pudessem se traduzir em melhoria da qualidade de vida da população: nas primeiras décadas do século XX, através de políticas urbanas de saúde pública como a vacinação, higiene pública e outras campanhas sanitárias, e a partir da década de 40 pela ampliação e desenvolvimento tecnológico da atenção médica na rede pública. A desigualdade com que se processa a queda da mortalidade em diferentes regiões e classes sociais no Brasil comprova a importância desta dinâmica de intervenção do Estado, em detrimento da real conquista de direitos sociais pela população (CHAIMOWICZ, 1997).

    Para Carstensen e Hartel (2006) a maior expectativa de vida da população pode ser algo positivo ou negativo para a sociedade, dependendo da natureza do envelhecimento dos indivíduos. Na medida em que as pessoas atingem a velhice bem adaptadas física e psicologicamente e podem vir a desempenhar um papel integral em suas famílias e comundade, a sociedade será reforçada. Mas no momento em que as pessoas mais velhas apresentarem-se enfermas, isoladas, ou dependentes, este número crescente de pessoas idosas tende a aumentar a carga sobre uma população mais jovem. Então, à medida que as pessoas mais velhas são saudáveis e envolvidas, eles provavelmente irão contribuir muito mais à sociedade. No entanto, Fried et al (2001) encontraram em seus estudos um crescente número de idosos em fragilidade, o que indica para uma parcela populacional do escopo mais envelhecido, com um processo comprometido, o que pode a vir prejudicar a participação deste escopo populacional de forma positiva na sociedade.

Participação dos idosos nos movimentos sociais, alteridade ética e Direitos Humanos

    Paz (2004) faz uma leitura sobre as origens e conquistas da participação dos idosos nos movimentos sociais desde a década de 60 até a criação do estatuto do idoso, nos anos 2000. Para ele, a luta pelos direitos das pessoas idosas tem início nos anos 60 com a luta dos trabalhadores aposentados buscando seus benefícios junto das chamadas Caixa de Pecúlios (CAPs) e dos Institutos de Previdência Social (IAPs). A capacidade de organização e mobilização destes trabalhadores foi surpreendente em tamanho e força, sendo que hoje são inúmeras as associações de trabalhadores aposentados em todo o país, decorrentes deste movimento. Nos anos 80 o já instituído Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) passou a ser o alvo das ações deste grupo. A participação dos idosos nos movimentos sociais, a partir da década de 80 contribuiu muito para o desenvolvimento de políticas nacionais voltadas para esta parcela da população no Brasil. Especialmente nos anos 90, quando aparecem ressaltados dados demográficos que indicam um grande número de velhos é que surgem as primeiras matérias e manchetes sobre a velhice expostas pela mídia. A partir de então tanto a velhice começa a ser caracterizada como os idosos começam a ficar mais presentes e mais visíveis. Os anos 90 foram também um período de maior organização social dos idosos, com maiores mobilizações que culminaram na criação dos Fóruns da Política Nacional do Idoso e nos Conselhos dos Idosos. Foi também na década de 90 que se observa uma maior presença dos idosos, com a criação dos espaços de debates ou/e de definição de políticas (fóruns e conselhos). No entanto, isto não garantiu aos idosos uma participação social real para este grupo. As conquistas destes movimentos somente começam a se concretizar a partir do ano de 1999, quando são criadas medidas governamentais através do Ministério da Previdência e Assistência social, pelo Ministério da Educação e pelo ministério da Saúde. Também em outubro de 2003, surge como decorrência da participação efetiva das representações do movimento social do idoso o estatuto do idoso. Por fim, o autor indica que a força do movimento do idoso faz acreditar que o mesmo depende de sua maior presença como ator social, de sua organização social, de um fortalecimento do segmento organizado para uma maior amplitude das articulações e alianças para a defesa de seus direitos e de novas conquistas sociais.

    O estatuto do idoso menciona que são assegurados os direitos e deveres da pessoa com mais de 60 anos. Devendo ser o estado garantir aos idosos proteção à saúde e à vida, através de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável (BRASIL, 2003). Segundo o Ministério da Saúde (2006) o idoso tem direito à promoção do envelhecimento saudável e ativo; a atenção integral e integrada à saúde; implantação de serviços de atenção domiciliar e acolhimento nas instituições; recursos que sejam capazes de assegurar qualidade no atendimento à saúde; participação social, formação e educação permanente para profissionais da saúde gestores e usuários do SUS; Promoção da cooperação nacional e internacional de experiência de atenção à saúde e o desenvolvimento de pesquisa.

    Segato (2006), buscando um entendimento entre lei, moral e ética, passa por questões históricas importantes no que dizem respeito à lista de direitos das pessoas em determinada época. Neste sentido, a moral de uma determinada época ou de um determinado povo e a lei são sistemas que interagem e cruzam influências, sendo que as leis vão representar um sistema moral que se torna vigente ou legítimo e que vão representar uma lista de mandamentos estabelecidos tanto pela tradição e pelos costumes, quanto pelo contrato moderno em si. Porém, para se superar o aspecto estanque que sempre viria a sobrepor uma moral dominante à outra deve-se inserir um terceiro elemento que pode vir a mudar no tempo os direitos humanos, que seria a ética. O impulso ético vai permitir abordar criticamente a lei e a moral. A pulsão ética pode possibilitar contestar e modificar as leis que regulam o contrato impositivo da lei, além de possibilitar um distanciamento do meio cultural local e um posicionamento que vise a transformá-lo no tempo. É este fator, segundo a autora, que vai fazer com que os direitos humanos possam ser uma entidade mutante no tempo, portanto dinâmica e ao mesmo tempo universal.

    Porém, conforme Sottili e Zylbersztajn (2013) os direitos humanos são construídos historicamente e fazem parte de um processo em constante desenvolvimento, agregando conceitos conforme o desenvolvimento social das comunidades, bastando ser pessoa para ser portador destes direitos. Mas, mesmo sendo os direitos humanos devidos à todos, é necessário esforço positivo para a sua garantia e realização.

Considerações finais

    O envelhecimento populacional brasileiro registrado nas ultimas décadas vem sendo desencadeado por uma série de fatores datados do inicio dos anos 60, que marcaram o aparecimento da parcela idosa e, conseqüentemente, pelo inicio da luta desta população por direitos à dignidade. Esta população apresenta características especificas e passa por grandes dificuldades, pois, estando no final da vida, o envelhecimento biológico se caracteriza por grande número de perdas. Somado a isto, estudos indicam que a síndrome da fragilidade acomete grande parcela desta população envelhecida, causando desde comorbidades, passando por quedas e até a morte. Frente a isto, o entendimento de que os direitos humanos são ligados à alteridade e à ética, e são construídos historicamente, pode-se desenhar uma nova luta da população idosa frente a melhores atendimentos e atendimentos mais especializados para a fragilidade, prevenindo o que pode ser uma grande perda da qualidade de vida desta população.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 194 | Buenos Aires, Julio de 2014  
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