Um olhar sobre a formação em educação inclusiva na matriz curricular do curso de Licenciatura em Educação Física Una mirada sobre la formación en educación inclusiva en la matriz curricular del curso de Licenciatura en Educación Física |
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Curso de Educação Física em Licenciatura / UNESC (Brasil) |
Filipe
Serafim Gilon |
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Resumo A pesquisa teve como tema a Formação em educação inclusiva na matriz curricular do curso de licenciatura em Educação Física. Analisar como constitui-se a matriz curricular do Curso de Educação Física em Licenciatura / UNESC em relação a formação para a educação inclusiva na educação básica. Nesse sentido optamos por uma pesquisa de campo em que foi realizado a analise documental de todos os planos de ensino do Curso de Educação Física em Licenciatura pertencentes a Matriz nove (09). Concluímos que é de suma importância que não tratemos a educação inclusiva de maneira isolada das demais disciplinas, ou seja deve haver uma interdisciplinaridade entre as disciplinas da matriz analisada, para que a discussão da educação inclusiva seja abordada de maneira ampliada. Percebemos ainda que na área de conhecimentos técnicos-pedagógicos onde estão as disciplinas de cunho esportivo é necessário (re) pensar o lugar da educação inclusiva, pois não encontramos o debate da educação inclusiva nos planos de ensino desta área de conhecimento. Unitermos: Educação Física. Inclusão. Matriz curricular. Curso de Licenciatura.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A presente pesquisa teve como tema a Formação em educação inclusiva na matriz curricular do curso de licenciatura em Educação Física. A partir desta temática foi elaborada a seguinte pergunta de partida: como se constitui a matriz curricular do curso de licenciatura em Educação Física em relação a formação para a educação inclusiva na educação básica?
Durante o tempo de formação acadêmica e nas realizações dos estágios pude observar as dificuldades e limitações de compreender e trabalhar com a educação inclusiva na educação básica. Em que medida professores e acadêmicos que estão em curso de formação de professores tem compreensão de como atuar com alunos deficientes conhecendo os diversos tipos de deficiência e as implicações em relação ao acesso ao conhecimento curricular. Durante a formação no curso de Educação Física percebi que a educação inclusiva tem sido tratada de forma insipiente ao longo das disciplinas. Estamos diante de uma discussão em que não temos muitas repostas, pois está sendo atendida a lei que garante o acesso do deficiente na educação básica, porém a formação de professores ainda esta em descompasso com a legislação. Portanto a presente discussão é de suma importância na formação de professores e atuação profissional justificando assim a presente pesquisa.
A pesquisa teve como objetivo: Analisar como constitui-se a matriz curricular do Curso de Educação Física em Licenciatura / UNESC em relação a formação para a educação inclusiva na educação básica. Partiu das seguintes norteadoras: Quais disciplinas do curso abordam a educação inclusiva? E como aparece o conteúdo da educação inclusiva no plano de ensino?
Nesse sentido optamos por uma pesquisa de campo em que foi realizado a analise documental de todos os planos de ensino do Curso de Educação Física em Licenciatura pertencentes a Matriz nove (09), para investigar o lugar da educação inclusiva no planejamento de ensino.
Abordamos no estudo teórico a formação docente, um breve histórico da educação especial e sua construção histórica iniciando pela Grécia e Roma antiga até os dias atuais com o debate contemporâneo da educação inclusiva.
2. Educação Especial
As pessoas portadoras de necessidades especiais, na antiguidade sempre foram excluídas do convívio social, sendo taxadas de seres imperfeitos, podendo em séculos passados, mais precisamente na antiga Grécia e Roma, serem descartados, mortos ou abandonados, por não serem um ser perfeito. Durante muitos anos se pregou isso, sendo que até mesmo o cristianismo, afirmava que pessoas que nasciam com alguma deficiência era devido há algum pecado cometido pelos pais. Vemos aqui que a tudo que é desconhecido, acaba causando uma certa barreira e a falta de conhecimento sobre as deficiências contribuiu muito para que essas pessoas fossem marginalizadas e ignoradas na sociedade em que vivem (MAZZOTA, 2005).
Com o passar do tempo e a evolução do conhecimento, começa a se organizar principalmente na Europa, um movimento sobre os portadores de necessidades especiais, aparecendo vários líderes que defendiam um estudo mais profundo sobre essas pessoas que apresentavam tais imperfeições. Esses estudos levaram a medidas educacionais implantadas para o atendimento a pessoas que apresentavam alguma deficiência, se expandido pelo mundo todo e no final do século XIX diversas expressões eram utilizadas para se referir ao atendimento educacional prestado aos portadores de deficiência.
[...] Pedagogia de Anormais, Pedagogia Teratológica, Pedagogia Curativa ou Terapêutica, Pedagogia da Assistência Social, Pedagogia Emendativa. Algumas dessas expressões, ainda hoje, são utilizadas, a despeito de sua impropriedade[...]. (MAZZOTA, 2005, p.17).
Muitos anos se passaram e com eles foram surgindo vários estudiosos em diferentes partes do mundo, com o intuito de tentar de alguma forma educar e atender essas pessoas com deficiência. Em algumas décadas atrás ainda havia um preconceito muito grande em relação às pessoas que possuíam deficiência mental, eram rotulados como retardados, loucos e algumas outras descrições. Com um estudo mais aprofundado e um trabalho muito bem desenvolvido pela APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), é que se começou um belo trabalho de atender os alunos com as mais diversas deficiências. Atualmente quase todos os municípios possuem esse atendimento especializado e que com muita destreza conseguem atender a todas as pessoas, das mais diferentes personalidades (GUEBERT, 2007).
2.1. Aspectos legais da educação inclusiva no ensino regular
No Brasil atualmente temos algumas Leis que regem a educação nacional, porém há algumas que são básicas para que se possa entender e discutir a educação brasileira: a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional nº 9.394/96, a Lei da Corde nº 7853/89 e a Lei de Acessibilidade nº 10098/00.
Quando tratamos sobre educação no Brasil notamos que a mesma acaba sendo prejudicada pela demora na aprovação de alguns projetos de lei, pois podemos ter como exemplo a Lei nº 4024/61, que demorou em torno de 13 anos até que fosse aprovada no congresso. Depois de muitos anos é que volta a pauta uma nova discussão sobre a educação no Brasil, sendo que na Constituição de 1988, promovem-se várias mudanças para atender as necessidades sociais, trazendo no artigo 205 o seguinte texto:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (GUEBERT, 2007 apud BRASIL, p. 44)
A Constituição trata a educação como um direito de todo o cidadão, sendo que a mesma é dever do Estado e da família, tendo o direito de receber o conhecimento e qualificação para o trabalho, fazendo com que seja um agente atuante na sociedade.
No artigo seguinte, duzentos e seis (206), que regulamenta os princípios do ensino e coloca que todos devem ter igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; valorização dos profissionais de ensino, garantidos, na forma da lei; gestão democrática do ensino público e garantia de padrão de qualidade. (BRASIL, 1988).
Porém o que vemos nos dias atuais é uma grande contradição neste documento, pois ao mesmo tempo em que afirma que devemos ter liberdade de aprender e ensinar, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) traz alguns conteúdos que devem haver na grade curricular, junto às respectivas disciplinas, impondo que deve haver um currículo educacional em nível Nacional.
A mesma Lei traz no seu artigo 4º que o ensino fundamental é obrigatório e gratuito, deixando claro que todos tem acesso a este ensino, inclusive crianças, adolescentes e até mesmo adultos com deficiência, pois o mesmo artigo afirma que: “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”, ou seja, garante que estes estudantes estejam contemplados na rede regular de ensino, mas não deixa evidente que seja na escola regular, podendo então os alunos portadores de necessidades especiais, serem atendidos em salas especializadas.
A lei nº9394/96 no seu capítulo V que trata da educação especial, entende por educação especial, a educação que é oferecida, preferencialmente no ensino regular, a alunos portadores de necessidade especiais. Afirma ainda que é dever do Estado a educação especial de zero a seis anos, ou seja, desde a educação infantil, bem como ter serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. E deixa bem claro no artigo 59:
Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;
II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Analisando as leis e artigos acima citados, vemos que é constitucional que todos tenham acesso a educação, independente das condições físicas, intelectuais, emocionais, sensoriais ou sociais, e que seja de fato de qualidade. Através delas é que se favorece o acesso e permanência de todos na sociedade, respeitando as diferenças e possibilitando às pessoas autonomia, independência e igualdade.
Mas devemos entrar em um debate um pouco mais amplo sobre a inclusão do aluno com deficiência na escola. O processo inclusivo vem sendo tratado desde o século XX, sendo discutido em um primeiro momento na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Através deste documento famílias e algumas pessoas da sociedade civil, iniciaram conversas e debates e a partir disso começa um movimento em prol da inclusão. Nos anos 80, que ficou conhecido como a década dos tratados, se origina os primeiros tratados e declarações que apoiam e defendem o processo inclusivo (GUEBERT, 2007).
Em 1994 na cidade de Salamanca, na Espanha, houve um encontro internacional, que foi discutido o tema Direito de Igualdade das Pessoas Deficientes, onde nesse encontro elaborou-se um documento de compromisso, para garantir os direitos educacionais as pessoas com necessidades especiais.
Guebert (2007, p. 35) ressalta que:
A Declaração de Salamanca constitui-se no suporte pedagógico utilizado atualmente, pois apresenta linhas de ação para garantir a igualdade de oportunidades e, desse modo, efetivar o processo inclusivo, que, por vezes, está sendo confundido com a integração.
Se analisarmos os objetivos gerais da educação, é importante destacar que não estaremos realizando um processo de inclusão, pois os mesmos destacam que:
[...] respeito a dignidade; direito a formação integral, direito a igualdade de oportunidades, direito a auto-realização; direito a liberdade de aprender, direito a qualificação para o trabalho e direito ao exercício da cidadania. (GEUBERT, 2007, p. 36).
Quando tratamos da educação especial os objetivos específicos são: respeito a dignidade da pessoa; direito a igualdades de oportunidades; direito a liberdade de aprender e ser diferente e por fim direito a felicidade. Partindo destes quatro objetivos o processo de inclusão deve ser bilateral, pelo qual não há diferenças entre as pessoas, mas sim a equiparação de oportunidades. Sendo essa equiparação a valorização do direito ao desenvolvimento do individuo como um todo, respeitando suas diferenças, seus desejos e anseios (GUEBERT, 2007).
2.2. Formação docente
A Educação Superior tem uma grande preocupação na formação de professores que tenham uma definição clara dos conteúdos que tenha significado social, flexibilidade e respeito a diversidade cultural do aluno. Está cada dia mais difícil de construir um processo educativo de mudanças sociais. A crise educacional que estamos vivenciando em nosso país se torna evidente no seu cotidiano. Segundo David (2002, p. 01) ele afirma que:
Ao se avaliar as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da educação básica e/ou de profissionais em geral, obrigatoriamente se deve levar em conta várias questões, dentre as quais as características do Estado, uma vez que a ele compete a decisão política de planejar, promover e executar ações de interesse público e a formação de recursos humanos para o sistema educacional que estejam em sintonia com os princípios do bem-estar coletivo.
David (2002), trata a formação profissional em várias realidades, dividindo em dois mundos: o mundo real e o mundo oficial, onde de um lado encontra-se o mundo do sistema aportado em políticas neoliberais, uma política excludente que consiste em afirmar que através desta exclusão é que acontece o progresso e do outro lado vemos um mundo constituído em lutas que são travadas desde a década de 80 que propõe uma política de formação e profissionalização docente.
A formação docente tem como princípio norteador, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior, Curso de Licenciatura, de graduação plena, a competência, sendo a parte essencial para a orientação na formação, deixando de lado os saberes docentes. Segundo Colombo (2009, p. 24):
A idéia de competência, vinculada à construção e a socialização do conhecimento, desconsidera a realidade na qual o aluno está inserido, assim como das pessoas que estão á sua volta (pais e professores). Dessa forma resumi-se a formação do aluno, numa série de recomendações (receituário) a ser seguido. Sendo assim, torna-se viável e mais barato o treinamento de professores para esse receituário, não precisando investir em cursos que proporcione a esses professores a articulação do ensino com a análise e pesquisa da realidade.
Estamos formando professores para que trabalhem dentro da perspectiva de capacitação ampliada, sendo voltada para as necessidades do mercado de trabalho. A competência acaba assumindo um papel importante, pois acaba tendo a finalidade de preparar o individuo para este mercado. Assim posta ela relaciona-se com a capacidade de mobilizar conhecimento e saberes para a qualificação junto aos postos de trabalho que a sociedade capitalista está precisando.
3. Apresentação e analise dos dados
Apresentaremos a analise dos planos de ensino de todas as disciplinas do curso de Educação Física que constituem a Matriz nove (09)1 que pudesse acessar os planos de ensino, foi solicitado a Coordenação do Curso que encaminhasse por e-mail ou então que fosse disponibilizado todos os planos impressos. A coordenadora do curso pediu um ofício para que ficasse registrada a solicitação. Após entregue o ofício todos os planos de aula foram disponibilizados e iniciou-se a análise dos mesmos.
Tivemos acesso a todos os planos de ensino totalizando quarenta e sete (47) planos de ensino, constituintes da Matriz 09 dos anos de 2012 e 2013.
Com base nas disciplinas e créditos que compõem a matriz curricular do curso de educação no que tange a temática da educação inclusiva encontramos duas (2) disciplinas obrigatórias sendo uma denominada metodologia e fundamentos da educação especial com dois (2) créditos na terceira fase, e a outra disciplina de libras com dois (2) créditos na quinta fase e uma (1) disciplina optativa que pode ser ofertada na sétima ou oitava fase denominada de Educação Física na Educação Especial com dois (2) créditos.
As disciplinas na matriz curricular do curso de Educação Física em Licenciatura são organizadas em cinco (5) áreas temáticas. Optamos em analisar os planos de ensino situados na mesma área temática para que possamos ter um recorte da formação em educação inclusiva nas grandes áreas.
A área temática um (1) concentra os Conhecimento Gerais e Fundamentos Pedagógicos. Essa área abrange as disciplinas de Introdução a Educação Física, Educação Física e Mídia, Produção e Interpretação de Texto, Psicologia da Aprendizagem, Metodologia Científica I e II, Sociologia e o Trabalho de Conclusão de Curso, totalizando 8 disciplinas. Porém foi retirado a disciplina de TCC, e foram analisados 7 planos de ensino. A partir da analise percebemos que apenas um plano de ensino traz um tema denominado: Perspectivas pedagógicas para Educação do corpo em Populações/Grupos Marginalizados, Sem-Terra, Indígenas, pessoas portadoras de necessidades especiais, Meninas e Meninos de Rua, entre outros. No entanto não apresenta referencial teórico sobre o tema apresentado.
As disciplinas que fazem parte da Área dois (2) dos Conhecimentos Biológicos para a Atividade Física/Movimento Humano são as seguintes: Atendimentos Primários de Urgência, Anatomofisiologia, Educação Física e Saúde e Cinesiologia. Essas disciplinas em seus planos de ensino não se remete em nenhuma parte da estrutura do plano algum conhecimento acerca da educação inclusiva ou educação especial.
A área três (3) denominada de Conhecimentos Técnico-pedagógicos do Esporte. É composto por Metodologia do Basquetebol, Metodologia do Futebol e Futsal, Metodologia do Voleibol, Metodologia do Handebol, Metodologia dos Esportes Individuais, Metodologia dos Esportes de Raquete, Metodologia dos Esportes Alternativos, Metodologia das Atividades Aquáticas, Organização e Administração Desportiva e Metodologia das Lutas. Há um total de 10 planos de ensino que foram analisados e nenhum deles apresentou algum tema, referência ou conteúdo que tratasse do conhecimento da educação inclusiva. Nessa área do conhecimento é tratado em sua maioria o conteúdo do esporte, um dos conteúdos que compõem o currículo da educação básica e é um dos temas da cultura corporal. Para o Coletivo de Autores (1992):
Esses conteúdos surgem de grandes temas da cultura corporal e podem ser vistos quase como uma grande e abrangente classificação, suscetível de ser sistematizada em nível escolar, em todos os graus do ensino fundamental e médio.São eles, numa ordem arbitraria: Jogo; Esporte; Capoeira; Ginástica e Dança. Cada um deles deve ser estudado profundamente pelo(s) professor(es), desde sua origem histórica ao seu valor educativo para os propósitos e fins do currículo. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 64).
Entre estes conteúdos o esporte tem sido historicamente um conteúdo hegemônico nas aulas da educação física na educação básica. No entanto percebemos a partir da analise dos planos de ensino que a formação para o ensino do esporte esta deixando uma lacuna, pois não estão sendo abordado a questão da educação inclusiva. Constatamos a partir da analise dos planos de ensino que as disciplinas que estão inseridas nesta área de conhecimento fazem uma interlocução com a escola. Porém a realidade de algumas escolas traz consigo alunos que são deficientes e que consequentemente é necessário pensar como acessar o conhecimento da cultura corporal, tratar das dificuldades de inseri-lo em uma atividade sem que seja excluído ou sem que se exclua os demais alunos.
Ao analisar os planos de ensino de cada disciplina da área do conhecimento três (3), pôde-se perceber que durante as aulas não há nenhum conteúdo, tema ou referencia bibliográfica que possa contribuir para o processo de ensino aprendizagem do acadêmico em relação a questão da educação inclusiva, dessa maneira percebe-se uma lacuna na articulação do ensino dos esportes e a problemática da educação inclusiva.
A Constituição de 1988 traz no seu artigo 208 que o ensino fundamental é obrigatório e gratuito, deixando claro que todos tem acesso a este ensino, inclusive crianças, adolescentes e até mesmo adultos com deficiência, pois o mesmo artigo afirma que: “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”, ou seja garante que estes estudantes estejam contemplados na rede regular de ensino, mas não deixa evidente que seja na escola regular, podendo então os alunos portadores de necessidades especiais, serem atendidos em salas separadas.
A Área quatro (4) é relativa aos Conhecimentos da Cultura do Movimento Humano. Nessa área as disciplinas são as seguintes: Fundamento e Metodologia da Educação Especial, Libras, Metodologia da Dança e das Atividades Rítmicas I e II, Recreação e Lazer, Aprendizagem e Desenvolvimento Motor, Habilidades e Capacidade Motoras, Metodologia da Ginástica, Metodologia dos Jogos de Mesa, Práticas Corporais Alternativas, Jogos, Brincadeiras e Brinquedos, Capoeira e Educação Física e Meio Ambiente. Essa área do conhecimento apresenta doze (12) disciplinas. Encontramos quatro (4) planos de ensino de disciplinas que apresentam nas ações, ou no tema ou na referência alguma menção a problemática da educação inclusiva totalizando dez (10) créditos. Dentre estas disciplinas há duas(02) que são específicas da educação inclusiva e que abordam no plano de ensino aspectos do conhecimento da educação inclusiva e educação especial, totalizando quatro (04) créditos.
Na área cinco (5) que atrela disciplinas associadas aos Conhecimentos Referentes a Parte Pedagógica: Disciplinas pedagógicas, estágio curricular supervisionado, atividades acadêmicas-científico-culturais que complementam a formação acadêmica e disciplinas optativas. As disciplinas que compõem essa área são: Avaliação na Educação Física, Políticas, Normas e Organização da Educação Básica, Políticas Públicas Relacionadas à Educação Física, Didática, Didática na Educação Física, Educação Física e Infância, Educação Física, Currículo e Ensino Médio, Estágio Supervisionado I, II, III e IV, Disciplinas Optativas I e II. A partir da analise dos 13 planos de ensino desta área destacamos sete (7) que tratam em seis conteúdos ou atividades, temas ou referências a educação inclusiva ou especial. Na disciplina de Educação física e infância apresenta em sua bibliografia complementar um artigo intitulado de Itinerários da inclusão de pessoas com histórico de deficiência: um estudo sobre uma menina surda em aulas regulares de educação física. Outros dois planos de ensino que apresentam conteúdo relacionado a educação inclusiva são: Didática da Educação Física que trata das pessoas com deficiência, obesos, habilidosos, dentro do terceiro tema que se intitula Planejamento de Ensino. Vivencias teórico-práticas e a realidade escolar. Já o segundo plano que seria Políticas, Normas e Organização da Educação Básica, cita dois conteúdos em dois temas. O primeiro conteúdo encontra-se no Tema um (1), Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/90: A idéia de inclusão/exclusão presente no ECA. O segundo conteúdo está colocado no Tema três (3) com o seguinte titulo: Características da organização curricular da educação básica: Níveis e modalidades: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio. Educação Especial e Indígena. Educação de Jovens e Adultos. Educação a distancia.
A disciplina de Avaliação na Educação Física aponta em seu plano de ensino o quarto tema como uma prática como componente curricular, onde nesse tema seria uma atividade integrada entre esta disciplina, Didática e Estágio Supervisionado I, sendo que seria um processo avaliativo do acadêmico, pois estaria apresentando o relatório de Estágio I, sendo que nesta disciplina procura-se envolver o acadêmico em uma visita as unidades escolares entre elas a de educação especial. Porém não há tempo para que todos possam visitar unidades escolares municipais, estaduais, particulares e de educação especial, então dividi-se a sala em grupos que visitam diferentes unidades e apresentam em um seminário integrado o relato da análise de conjuntura de cada unidade.
As demais disciplinas são os estágios supervisionados. Acima citamos como se desenvolve o Estágio I e o Estágio III e IV se diferenciam, pois no estágio III o acadêmico apenas observa um aluno com deficiência que esteja estudando no ensino regular, não havendo a necessidade de atuar durante o período da disciplina com este aluno. Porém no Estágio IV há uma interação maior do futuro professor com alunos com deficiência, pois ele fará uma co-atuação na área da educação especial, ou seja, ele estará auxiliando o professor titular durante suas aulas, com o objetivo de ter uma vivencia com alunos deficientes, mas esta disciplina acontece somente em escolas especiais, não havendo o contato com alunos deficientes que estejam inclusos no ensino regular.
O estágio é o período em que o acadêmico vivencia a realidade da escola, onde começa a conhecer o processo de ensino aprendizagem. Durante os estágios se constrói a formação docente, pois é nele que se tem a possibilidade de unir a teoria e prática, vivenciando junto o que lhe foi ensinado durante o período de formação e colocando em prática este ensinamento.
Pimenta (2004) p. 45, afirma que:
[...]o estágio, ao contrário do que se propugnava, não é atividade prática, mas teórica, instrumentalizadora da práxis docente, entendida esta como atividade de transformação da realidade. Nesse sentido, o estágio curricular é atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta, sim, objeto da práxis. Ou seja, é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá.
Através do contato com a realidade é que o então aluno e futuro professor irá compreender o que aprendeu, procurando da melhor maneira, após observar todo o contexto social em que se está inserida a escola, que irá realizar a práxis docente.
Dentro das quarenta e sete (47) disciplinas que foram analisadas durante a presente pesquisa pode-se observar que apenas doze (12) apresentam em seus planos de ensino algum conteúdo, tema ou referencial teórico sobre a educação inclusiva. A grade curricular da Matriz nove (09) possui um total de Cento e setenta e um (171) créditos, destes Quarenta e um (41), que estão distribuídos entre os doze (12) planos de ensino, tratam sobre a educação inclusiva. Nas áreas do conhecimento que foram apresentadas acima há duas áreas que não apresentam em seus planos de ensino nenhum tema, conteúdo ou referencial teórico sobre a educação inclusiva, são elas: área dois (2) que trata dos conhecimentos biológicos para a atividade física/movimento humano e a área três (3) de conhecimentos técnicos-pedagógicos do esporte. Na área de conhecimento um que seria dos conhecimentos gerais e fundamentos pedagógicos há um plano de ensino tratando sobre educação inclusiva com quatro (4) créditos. Já nas áreas de conhecimento quatro (4) e cinco (5) há respectivamente quatro (4) planos de ensino com um total de dez (10) créditos e sete (7) planos de ensino totalizando vinte e sete créditos (27), porém ainda na quinta área de conhecimento há as disciplinas optativas e que podemos acrescentar mais dois créditos, levando em consideração a disciplina de educação física na educação especial finalizando então com vinte e nove (29) créditos. Pode-se observar que a área do conhecimento cinco (5) possui a maior quantidade de créditos e disciplinas que tratam sobre a educação inclusiva e educação especial dentro da matriz curricular nove (9).
A Constituição de 1988 e a lei nº9394/96 esclarecem que é constitucional que todos tenham acesso a educação, independente das condições físicas, intelectuais, emocionais, sensoriais ou sociais, e que seja de fato de qualidade. Através delas é que se favorece o acesso e permanência de todos na sociedade, respeitando as diferenças e possibilitando às pessoas autonomia, independência e igualdade.
Porém percebemos um descompasso entre o aspecto legal que garante a inclusão do aluno com deficiência na escola e as disciplinas da Matriz curricular do Ensino Superior que irão preparar o acadêmico para atuar com tais alunos. Faz-se necessário repensar nos planos de ensino que estão atualmente em vigor no Curso de Licenciatura em Educação Física, para que o acadêmico possa sair com um conhecimento maior sobre as possibilidades de se trabalhar com o aluno deficiente.
Conclusão
Esta pesquisa objetivou a analise dos planos de ensino, ao qual foi constatado a lacuna existente em relação a formação e a questão da educação inclusiva.
A educação inclusiva no âmbito escolar está inserida de certa maneira, que vem para atender a uma Lei estabelecida pelo governo federal, porém a estrutura necessária e o debate que deveria ser realizado para procurar fazer com que o aluno com deficiência fosse incluído no ensino básico e que tivesse uma educação de qualidade acabou tornando-se oculto. Mas além deste debate algumas questões deveriam ser revistas e esclarecidas, como por exemplo, qual aluno deficiente teria condições de freqüentar o ensino básico, pois se o objetivo da escola é o conhecimento, como trabalhar com este aluno de maneira que aprenda o conteúdo proposto. Um debate muito recente e que acaba sendo pouco tratado no período de formação.
A matriz curricular analisada propõe três disciplinas específicas para que se trabalhe a educação especial e inclusiva. Se somarmos a quantidade de créditos delas teremos apenas seis créditos, porém uma delas é optativa, então há garantida para o aluno de apenas quatro créditos sobre um tema que traz muitos questionamentos e insegurança. As demais disciplinas que abordam o conteúdo da educação inclusiva abordam de uma maneira não muito aprofundada e os estágios aos quais há um contato com a educação especial ou inclusiva, são momentos de vivencia do que foi estudado e tratado de maneira inicial, pois não há uma atuação do estagiário com os alunos deficientes.
Sendo a formação acadêmica composta de um processo que trata a teoria e prática com caminhar paralelo, devemos pensar como o curso poderia ampliar essa relação da teoria e prática articulando a educação inclusiva, pois se pouco sabemos, pouco poderemos contribuir para a evolução dessa discussão presente nas unidades escolares. Contudo é de suma importância que não tratemos a educação inclusiva de maneira isolada das demais disciplinas, que possa ser um debate amplo para a construção de uma nova proposta dentro da Universidade e que se enraíze para os demais órgãos competentes. Deve haver uma interdisciplinaridade para a discussão da educação inclusiva e especial, que aborde de maneira ampla a práxis pedagógica.
A área de conhecimentos técnicos-pedagógicos a predominante do contexto escolar, onde os esportes se sobressaem nas aulas de educação física, não há uma disciplina que se proponha a debater sobre a educação inclusiva. Como tratar o tema esporte em turmas que tem aluno deficiente, se no processo de formação docente não houve orientação de como trabalhar com a educação inclusiva dentro dos esportes. O fato de colocá-lo na escola é diferente de incluí-lo no processo educacional. As unidades escolares devem estar preparadas para atenderem os alunos com necessidades educacionais, adaptando ou construindo salas que atendam de maneira especializada turmas ou alunos que necessitem deste atendimento. Pois uma maneira de fazer com que haja a inclusão no âmbito educacional é garantir que o aluno tenha acesso ao processo de ensino aprendizagem e que concretamente estará sendo oferecido uma educação de qualidade, com professores especializados que possam atender as necessidades individuais ou coletivas. Porém vemos hoje as crianças deficientes em turmas regulares em que o “atendimento especializado” se caracteriza no acompanhamento desta crianças por estagiários, nos fazendo refletir em que medida elas estão de fato sendo integradas a turma e sendo garantido o acesso ao conhecimento.
Por fim devemos considerar com base no estudo da matriz e planos de ensino que o curso procura fazer com que os futuros profissionais estejam formados para atuarem como novos professores, que tratam a educação com uma nova proposta, onde durante quatro anos de formação foram discutidos e refletidos. Mas entende-se que a formação inicial é apenas o começo, a vivência no cotidiano também trará conhecimentos necessários a formação e, além disso, é de suma importância a formação continuada. O curso procura fazer o seu papel e inovar a medida que os debates vão sendo construídos, atualmente na matriz dez (10) do curso de educação física já podemos contar com a disciplina de Metodologia e Fundamentos da Educação Inclusiva, que substitui a Metodologia e Fundamentos da Educação Especial. Se há alunos para serem incluídos, há discussões a serem realizadas e propostas a serem debatidas, para que a educação seja o pilar central do desenvolvimento humano.
Notas
A Matriz Curricular Nove (09), iniciou no segundo semestre de 2009 estendendo-se até o segundo semestre do ano de 2012.
Referencias
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasil, DF, 1996.
COLOMBO, Bruno Dandolini. Formação Inicial em Educação Física e Atuação na Escola: A Hora da Verdade. 2009. 70 p. TCC (Graduado em Licenciatura em Educação Física).Universidade do Extremo Sul Catarinense. Criciúma.
DAVID, Nivaldo Antonio Nogueira. A formação de professores para a educação básica: dilemas atuais para a educação física. Revista brasileira de ciências do esporte, Campinas, v. 23, n. 2, p. 119 - 133, jan. 2002.
GEUBERT, Mirian Célia Castellain. Inclusão: Uma realidade em Discussão. Curitiba: Editora Ibpex, 2º Ed. 2007.
MAZZOTTA, Marcos J.S. Educação Especial no Brasil: História e Políticas Públicas. São Paulo: Cortez, 2005.
PIMENTA, Selma Garrido; Lima, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Editora Cortez, 2004.
SANTOS, Mônica Pereira dos. O Papel Do Ensino Superior Na Proposta De Uma Educação Inclusiva. Revista Movimento – Revista da Faculdade de Educação da UFF – no. 7, Maio de 2003 – pp. 78 – 91.
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