Impacto da cervicalgia na qualidade de vida dos odontólogos da cidade de Vitória da Conquista, BA Impacto de la cervicalgia em la calidad de vida de los odontólogos de la ciudad de Vitoria da Conquista, BA |
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*Fisioterapeuta, Pós-Graduada em Saúde Coletiva com Ênfase em PSF e em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Reumatologica. Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR) **Fisioterapeuta, Mestre em Enfermagem e Saúde Professora Assistente da Universidade Federal da Bahia ***Biólogo, Mestre na área de Fitotecnia, Docente do Departamento de Ciências Exatas e Naturais da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/Campus de Itapetinga-BA |
Karla Cavalcante Silva de Morais* Micheli Bernadone Saquetto** Obertal da Silva Almeida*** (Brasil) |
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Resumo A odontologia é uma profissão que impõe ao seu praticante uma série de fatores capazes de alterar as condições de trabalho do ponto de vista socio-psico-fisiológico e organizacional, gerando algias na coluna cervical. Este estudo tem como objetivo contribuir para o entendimento das questões relacionadas ao impacto da cervicalgia na qualidade de vida do odontólogo. Devido à queixa de dor cervical referida pelos odontólogos tornou-se importante a intervenção da fisioterapia sob forma de avaliar à qualidade de vida desses profissionais através de questionário (SF-36). A metodologia empregada baseou na aplicação de um formulário de coleta de dados e questionário sobre qualidade de vida (SF-36). Foi assinado pelos participantes o termo de consentimento de acordo com a resolução 466/12 do CNS. A seleção obedeceu aos seguintes critérios: de inclusão, queixa de dor cervical em todos os profissionais da cidade de Vitória da Conquista e está em pleno vigor de suas atividades e de exclusão profissionais que exerciam suas atividades em outras cidades, odontólogos que relataram algias na coluna vertebral exceto na região cervical, odontólogo que não respondeu o questionário SF-36 adequadamente. Trata-se de estudo quantitativo e analítico, com corte transversal para seleção dos 111 odontólogos. Os achados indicaram que o sexo feminino prevaleceu, em relação ao tempo de queixa de dor cervical, à jornada de trabalho predominou o tempo de 40 horas/semanais, com relação a especialidades as mais acometidas foram cirurgiões dentistas e ortodontistas. Os participantes do estudo apresentaram comprometimento da qualidade de vida nos domínios: vitalidade 59,1% ±16,9%, e dor 65,9% ±21,6%, no entanto os outros domínios apresentaram pontuação satisfatória. Conclui-se que a dor cervical interferiu consideravelmente na qualidade de vida dos odontólogos da cidade de Vitória da Conquista/BA. Unitermos: Cervicalgia. Odontólogos. Qualidade de vida.
Abstract Dentistry is a profession that imposes to its practitioner a series of factors capable to modify the work conditions in a socio-psico-physiological and organizational point of view, causing algias in the cervical column. This study has as objective to contribute for the agreement of the questions related to the impact of cervical pain in the dentist’s life quality. The applied methodology was based on directed interviews, in which a form of data collection and a questionnaire on life quality had been applied (SF-36). This is about a quantitative and analytical study, using a transversal cut for election of the 111 dentists. The findings had indicated that the feminine sex prevailed on the masculine sex in relation to the time of complaint of cervical pain, to the hours of working predominated the time of 40 weekly hours, regarding to specialties the attacks had been more common in surgeons dentists and ortodontists. The participants of the study had presented impacts of life quality of domains: vitality 59.1 DP16.9%, pain 62.9 DP21,6%, however this others domains had presented satisfactory punctuation. We concluded that cervical pain did intervene significantly on the life quality of the dentists of Vitoria da Conquista/BA. Keywords: Life quality. Cervical pain. Dentist.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
A rotina dos odontólogos os inclui no amplo grupo de trabalhadores que atualmente sofre com problemas na coluna vertebral, mas precisamente na cervical. Os quadros de dor localizados precisamente na região da coluna cervical são caracterizados como cervicalgia.
Os problemas posturais dos odontólogos sempre foram motivos de queixas álgicas por parte da classe. A preocupação com o bem-estar do odontólogo durante e após o dia-a-dia profissional já vem sendo estudada há muito tempo (COUTO et al., 1987). Os odontólogos não adotam o melhor posicionamento (uso do encosto do mocho, coxas totalmente apoiadas e flexão de quadril 90º), por não se adaptarem ao posto de trabalho e por não possuírem musculatura preparada para realizar suas tarefas laborativas mais freqüentes. No entanto, se permanecerem em posturas estáticas inadequadas por tempo prolongado, desenvolverá desequilíbrios de força e flexibilidade (SAQUY et al., 1996).
A incidência de dor cervical nessa classe profissional relaciona-se com sua tendência para um padrão de atividade especializado e repetitivo. Assim se faz necessário relacionar os efeitos do mau posicionamento do odontólogo no ambiente de trabalho que interferem na sua qualidade de vida prejudicando-a.
A expressão qualidade de vida se reflete na percepção individual de um bem estar físico, mental e social, podendo ser influenciada pelo aparecimento de várias condições de saúde. Entre elas destaca-se a cervicalgia, devido ao elevado número de casos encontrados na população de dentistas, com seu padrão característico de alterações neurológicas e biomecânicas (CICONELLI et al., 1999; ALVES, 2003; MARTINEZ et al., 1999).
Portanto, este trabalho terá como objetivo geral analisar o impacto da cervicalgia na qualidade de vida dos odontólogos da cidade de Vitória da Conquista/BA. Este será atingido a partir dos seguintes objetivos específicos:
Avaliar o nível de dor relacionado às disfunções cervicais dos odontólogos;
Avaliar a qualidade de vida dos odontólogos;
Relacionar a questão da dor com a qualidade de vida dos odontólogos;
2. Metodologia
2.1. Tipo de estudo
Essa pesquisa se classifica quanto aos objetivos como descritiva1 pois envolve técnicas padronizadas de coleta de dados, como questionários; e também explicativa pois, explica o porquê do fato, fenômeno, processo (identificação dos fatores que determinam), coisas, visando identificar os fatores que determinam ou a forma que ocorrem. Quantos aos procedimentos técnicos se caracteriza por ser uma pesquisa de exploratória2, de levantamento de dados. Foi realizado um estudo de natureza quantitativa3 e qualitativa, analítico, com corte transversal para seleção dos voluntários. O trabalho de campo, em síntese, é fruto de um momento relacional e prático: as inquietações que nos levam ao desenvolvimento de uma pesquisa nascem no universo do cotidiano (MINAYO, 2002).
2.2. Local do estudo e sujeitos da pesquisa
Quanto ao local do estudo, foi entregue o requerimento de pedido de dados e informações com o consentimento da Coordenação do curso de Fisioterapia da Faculdade de Tecnologias e Ciências (FTC) para a realização da pesquisa, ao Conselho Regional de Odontologia da Bahia (CRO/BA) de Vitória da Conquista onde foi solicitado o número total de odontólogos em atuação nesta cidade, seus nomes e endereço de trabalho. Posteriormente foram encaminhados cinco e-mails para o CRO/BA na cidade de Salvador/BA, onde não foi obtido resposta.
Devido à demora para disponibilização dos dados, foi enviado por Sedex, uma carta contendo uma cópia de um e-mail enviado ao CRO explicando a intenção e objetivos da pesquisa e a necessidade da liberação dos dados. Uma semana depois o sedex foi devolvido, contendo o mesmo que se foi enviado anteriormente acrescentado somente, do número do protocolo, indicando que foi recebido. Assim sendo, foi dado um telefonema para o CRO da cidade de Salvador/BA, onde foi fornecido o número total de odontólogos da cidade de Vitória da Conquista.
O universo da pesquisa é composto por uma população de n = 245 profissionais da odontologia, dispostos em 147 do gênero feminino, representando 60% e 98 do gênero masculino ocupando 40%, segundo informações do CRO/BA. O universo constituiu a amostra probabilística simples causal4 que fora calculada através da fórmula de Barbetta (1998), para o cálculo de amostras de populações finitas: n=n◦=1/E² onde 1/0,0049=204,08 e n=Nxn◦/n+n◦ onde n = 245.204,08/245+204,08 = 49999,6/449,08 = 111 odontólogos, com margem de erro de 7%.
Assim, foi entregue o instrumento de coleta de dados aos odontólogos selecionados pela amostra, em seu próprio local de trabalho, ou seja, nos consultórios dos mesmos. Os questionários5 foram acompanhados pelo termo de consentimento livre e esclarecido, onde foram devidamente assinados. Esse termo autoriza o uso das informações para fins de redação e de publicação de artigos científicos estando o sujeito da pesquisa ciente da idoneidade do trabalho científico e dos dados que serão tratados de forma confidencial, sem que seja submetido(a) a qualquer penalização, onde garante o anonimato, bem como a imagem e identidade protegidas.
2.3. Instrumento de coleta de dados
A pesquisa baseará na aplicação de dois questionários como instrumento de coleta de dados: um desses elaborado pelo pesquisador de caráter semi-estruturado contendo dados pessoais, tempo de profissão, jornada de trabalho, prática de atividade física, membro dominante no trabalho, queixa de dor cervical, dor de cabeça, dor em membro superior, especialidade profissional e sobre a prática de um tratamento fisioterapêutico e o outro foi um questionário validado sobre QV, o SF-36.
O SF-36 foi criado a partir de uma revisão dos instrumentos ligados a qualidade de vida já existentes na literatura nos últimos 20 anos. Ele apresenta oito domínios como: capacidade funcional (10 itens), aspectos físicos (4 itens), dor (2 itens), estado geral de saúde (5 itens), vitalidade (4 itens), saúde mental (5 itens), aspectos sociais (2 itens) e emocionais (3 itens). Os itens são avaliados, dando-se um resultado para cada questão, que são posteriormente transformados numa escala de 0 a 100, em que zero é considerado o pior estado geral de saúde e cem o melhor estado de saúde (CICONELLI et al., 1999; ALVES, 2003; MARTINEZ et al., 1999). Este questionário validado será utilizado como forma de avaliar a QV destes profissionais que sofrem com a cervicalgia. A seleção dos voluntários da amostra obedecerá aos seguintes critérios: de inclusão (profissionais odontólogos da cidade de Vitória da Conquista/BA, queixa de dor cervical em todos os profissionais e está em pleno vigor de suas atividades) e de exclusão (profissionais que exerciam suas atividades em outras cidades, odontólogos que relataram algias na coluna vertebral exceto na região cervical, odontólogo que não respondeu o questionário SF-36 adequadamente).
2.4. Vantagens e limitações
O estudo possibilitará reunir os fatores que levam à predisposição do odontólogo à cervicalgia, e como esta pode interferir na qualidade de vida dos mesmos. Sendo que o conhecimento destes mecanismos será útil para futuros estudos que correlacionem a manifestações clínicas secundária aos efeitos do posicionamento, ergonomia do odontólogo no ambiente de trabalho. Para elaboração do estudo, dificuldades são sendo encontradas no que diz respeito à obtenção de referências que constem maiores informações sobre o tema cervicalgia.
2.5. Aspectos éticos
Todos os sujeitos da pesquisa participaram em caráter voluntário, sendo utilizados os questionários que foram respondidos individualmente por cada odontólogo. Foi assinado pelos participantes o termo de consentimento livre e esclarecido de acordo com a resolução 466/12 do CNS. Foi realizado um estudo de campo onde foram respeitadas as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
3. Resultados e discussão
Este trabalho compreendeu o estudo de uma classe com queixa de dor cervical composta de 64 odontólogos analisando o impacto da cervicalgia na qualidade de vida dos mesmos, sendo 35 (55,55%) do sexo feminino (Figura 1) e 29 (44.44%) do sexo masculino (Figura 2). Com relação entre sexo e o tempo de queixa da dor cervical verificou-se a prevalência dessa algia no sexo feminino, como pode ser visualizado no gráfico abaixo:
Figura 1. Gráfico relacionando o sexo feminino com o tempo de dor cervical
Figura 2. Gráfico relacionando o sexo masculino com o tempo de dor cervical
Pode-se constatar no estudo que o sexo feminino apresentou maior incidência de dor cervical, este resultado pode ser tendencioso já que a amostra consta em sua maior parte de mulheres. Isso leva a crer que a profissão é praticada principalmente por mulheres. A maior prevalência de dor cervical ocorreu de 6 m – 1 ano anos no sexo feminino e de 1 a 6 meses no sexo masculino.
Segundo Marshal et al. (1997), as mulheres apresentaram probabilidade superior aos homens para dor cervical. Porém o achado é plausível, uma vez que as mulheres apresentam características anátomo-funcionais (menor estatura, menor massa muscular, menor massa óssea, articulações mais frágeis e menos adaptadas ao esforço físico pesado, maior percentual de gordura) que podem colaborar para o surgimento das dores lombares crônicas.
De acordo com os dados coletados a idade média dos odontólogos que apresentam dor cervical foi de 36,49 anos (±8,83) no qual 33 indivíduos apresentavam idade de 20 a 30 anos, 49 com idade entre 31 a 40 anos, 16 com idade entre 41 a 50 anos e 13 com idade entre 51 a 60 anos (Quadro 1).
Quadro 1. Média de idade dos odontólogos que referem dor na cervical
A idade para surgirem os sintomas osteomusculares varia de 35 a 55 anos (MARRAS, 2000). A idade média encontrada dos odontólogos com queixa de dor cervical permite afirmar que a população estudada se encontra dentro da faixa de risco.
Comparando com outra classe profissional, em um trabalho realizado por Célia (2003), com os profissionais de enfermagem, observou-se que a idade média dos participantes foi de 41 anos, enquadrando-se na mesma zona de risco. Ressaltando que a idade média e o tempo médio de trabalho dos participantes são relativamente altos. Deve lembrar que esses trabalhadores exercem atividades que demandam elevadas exigências físicas e tem como garantia a estabilidade no emprego. Dessa forma, poderão agravar os problemas de saúde se nenhuma medida for adotada.
Barbosa et al. (2004) em seu estudo contendo 358 odontólogos verificou a duração da dor, sendo a grande maioria caracterizada como de evolução crônica, com 77% dos casos durando acima de seis meses.
Figura 3. Gráfico que mostra as especialidades mais acometidas pela dor cervical
Analisando as especialidades (Figura 3), observou-se que as mais acometidas pela dor cervical foram: cirurgião dentistas (38%) e a ortodontia (16%) seguida da endodontia (14%). Este resultado pode não representar a realidade, em relação à especialidade mais acometida, devido os cirurgiões dentistas estarem em maior quantidade na amostra.
Por ter sido a classe mais acometida na pesquisa atual, os cirurgiões dentistas podem estar exercendo suas atividades de maneira inadequada, com inclinação, rotação e flexão de tronco. O uso abusivo destas posturas tende a sobrecarregar a coluna cervical, acarretando em algias.
Corroborando com a pesquisa, deve-se ressaltar que as posturas incorretas são de extrema importância. A ocorrência de más posturas corporais estaria sendo causada pela inadequação operador/equipamento/instrumento. Por conseguinte na execução da tarefa, ocorre micro traumatismo, cuja somatória pode originar dor cervical (BARBOSA et al., 2004).
Estudo realizado com 150 odontólogos no estado de Santa Catarina constatou que a doença profissional de maior incidência foi à dor lombar e os desvios na coluna vertebral em geral, com 46,6% observada nos cirurgiões dentistas (GURGUEIRA; ALEXANDRE, 2002).
Ao ser a segunda especialidade mais acometida no estudo presente, a ortodontia enquadra dentro do perfil que expõem o profissional a adotar postura estática prolongada estando propenso a desenvolver dor cervical pela tensão muscular constante.
Contribuindo com o trabalho atual, a ortodontia é uma das especialidades dentro da odontologia que causa fadiga e algias aos profissionais, seja pela impossibilidade de visualização da região trabalhada, seja pelo grau de dificuldade de cada caso específico, ou seja, pelo tempo despendido no procedimento (PAFARO, 2002).
Como não existem pesquisas sobre a qualidade de vida dos odontólogos com queixa de dor cervical, tivemos como objetivo analisar a QV desses profissionais, assim como identificar possíveis fatores que possam comprometer a QV destes indivíduos.
Nessa pesquisa utilizamos o questionário SF-36, para confirmar ou retificar a afirmação feita que a dor cervical gera impactos negativos na QV dos odontólogos, a qual acomete várias dimensões abordadas no questionário.
Os escores médios dos domínios avaliados pelo SF-36 (Quadro 2) foram: capacidade funcional 88,1 ±13, 4%, limitação por aspectos físicos 83,5 ±29,8%, dor 65,9 ±21,6%, estado geral de saúde 76,2 ±14,8%, vitalidade 59,1 ±16,9%, aspectos sociais 75,9 ± 20,5%, aspectos emocionais 88,4 ±23,5% e saúde mental 67,2 ±17,2% sendo que as dimensões com os menores valores obtidos foram vitalidade e dor, e os maiores valores obtidos foram capacidade funcional e aspectos emocionais.
Quadro 2. Domínios do Questionário SF-36
A pesquisa atual teve como resultado, pontuação satisfatória em alguns dos domínios, no entanto outros estão próximo do valor limite (50%) como, vitalidade 59,1% e dor 65,9%. Esse resultado mostra que a dor faz parte da rotina de trabalho dos odontólogos, e a mesma interfere na qualidade de vida. Outros domínios como capacidade funcional 88,1% e aspectos emocionais 88,4%. obtiveram resultados expressivos, o que mostra que os odontólogos apresentam boa capacidade de realizar as atividades de vida diária com autonomia mesmo apresentando dor na região cervical por exemplo.
Em uma pesquisa realizada nos profissionais de enfermagem foi observada a média dos domínios obtidos: capacidade funcional 84,6%, limitação por aspectos físicos 79%, dor 37,4%, estado geral de saúde 51,1%, vitalidade 49,1%, aspectos sociais 48%, limitação por aspectos emocionais 74,1% e saúde mental 58,6%. (GURGUEIRA; ALEXANDRE, 2002). Ao comparar com a QV dos odontólogos observou resultados similares, sendo os domínios com menores valores dor e vitalidade; já os maiores valores foram capacidade funcional, aspectos físicos e aspectos emocionais.
Primeiramente analisamos a capacidade funcional, esta dimensão buscou avaliar o desempenho das atividades diárias, como capacidade de cuidar de si, vestir-se, tomar banho e subir escada sem auxílio de um cuidador.
A dimensão capacidade funcional obteve uma ótima média de 88,1 ±13,4% ao comparar a média obtida com o valor previsto (escore de 100) percebe-se uma boa satisfação por parte dos odontólogos em relação a este domínio do questionário, o que demonstra profissionais em plena capacidade de exercer suas atividades de vida diária.
Este domínio dificilmente apresentaria valores baixos, visto que os odontólogos possuem média de idade de 36,49 anos (± 8,83%), estando dentro da faixa etária considerada produtiva no trabalho.
A dor cervical presente em todos odontólogos é um fator determinante no presente estudo. Este busca analisar a QV do odontólogo através do questionário SF-36 e verificar possíveis transtornos causados por ela. Nesta pesquisa o domínio dor do questionário obteve escore de 65,9 ±21,6%, mesmo sendo o segundo mais baixo, este domínio pode gerar alterações consideráveis na QV do profissional.
Este resultado mostra que os profissionais trabalham com dor na jornada diária, que se não tratada, poderá levar a uma cronicidade no quadro de dor, aumentando a intensidade e interferindo na QV do profissional.
Santos et al. (2001) propôs em determinado estudo que metade dos odontólogos relata que a dor costuma levar à interrupção da sua atividade no trabalho, com alguma freqüência (45% às vezes, e 3% sempre). Além disso, em 57% dos casos a dor levou as modificações nas rotinas de trabalho e lazer, somando-se ao o resultado atual.
As dores tendem a aparecer no final do turno de trabalho dos odontólogos, ou seja, próximo ao horário de almoço e no final da tarde, a maioria sente dor com freqüência em região dorsal, continuamente em região lombar e em cervical, ombros, punhos, mãos, dedos e membros inferiores. Os sintomas iniciam-se sob forma de cansaço e formigamento evoluindo para algias na região lombar (SILVA et al., 2004).
No atual estudo a saúde mental apresentou-se uma pontuação média de 67,2 ±17,2% classificada dentre os menores domínios. O resultado indica uma relação pouco satisfatória com bem estar psico-emocional interferindo na rotina diária de trabalho, demonstrando que a dor cervical interfere diretamente no emocional dos profissionais.
Contribuindo com o resultado do estudo atual, os fatores psicossociais ligados à organização do trabalho e fatores psicológicos individuais podem estar presentes e imersos entre condições especiais de exposição, neste caso relacionado às exigências do processo de trabalhos dos dentistas (STUTTS; KASDAN, 1998). Esses fatores são apontados como indicadores de estresse, o que reforça a idéia da odontologia como uma profissão física e mentalmente estressante e sua associação com problemas músculos-esqueléticos (MURTOMAA et al., 1990).
Quanto à dimensão saúde mental, que inclui questões sobre, ansiedade, depressão, alterações de comportamento ou descontrole emocional e bem estar psicológico, parece mostrar que a insegurança, pode influenciar na saúde mental, gerando todos estes sintomas (NOGUEIRA, 1994).
O estado geral de saúde avalia como o profissional se sente em relação a sua saúde global, portanto o sentimento em relação ao estado geral de saúde percebido pelos próprios trabalhadores mostra o grau de incomodo imposto pela própria sintomatologia.
O estado geral de saúde obteve média de 76,2 ±14,8% considerada satisfatória. Verificou que o odontólogo mantém boa relação entre saúde e ambiente de trabalho, interferindo pouco na sintomatologia da dor.
A dimensão denominada aspectos sociais analisa a integração do indivíduo em atividades sociais. Os profissionais desta pesquisa, não estão tão comprometidos em relação a este fator, obtendo uma média de 75,9 ±20,5%. Observou que o odontólogo mantém um bom nível de relacionamento entre família, amigos e pacientes, isso mostra boa interação do profissional com as pessoas ao seu redor, dessa forma o odontólogo estabelece vínculo de harmonia entre todos.
Ao avaliar a QV dos trabalhadores da saúde, ressaltou a importância dos aspectos sociais como forma de satisfação pessoal e reconhecimento profissional (MESSOMO, 2002).
Contrapondo ao estudo atual, 61 auxiliares de enfermagem da prefeitura do interior de São Paulo apresentaram dores osteomusculares limitando a realizar tarefas mais exaustivas, sendo observado em aspectos físicos um escore baixo 45% (CÉLIA, 2003).
O domínio aspecto físico obteve uma boa pontuação no SF-36 com média de 83,55 ±29,8%, esta variável analisa o desempenho do profissional em exercer suas funções dentro e fora do trabalho.
De acordo com o resultado verificou-se que os profissionais não estão limitados em exercer atividades na clínica, ou em qualquer outra fora do ambiente de trabalho.
Os aspectos emocionais obtiveram a maior pontuação entre os demais domínios 88,4 ±23,5% demonstrando que o indivíduo desta classe profissional apresenta boa capacidade de realizar as atividades de vida diária com autonomia.
Ao analisar o escore final verificou-se que os profissionais apresentavam pleno equilíbrio do seu estado emocional, não demonstrando nenhum comprometimento, desta forma não estarão propícios aos quadros de depressão e ansiedade.
Contrapondo ao estudo atual, os fatores emocionais ligados à organização do trabalho e fatores psicológicos individuais podem estar presentes e imersos entre condições especiais de exposição, nesse caso relacionadas às exigências do processo de trabalho dos dentistas. Esses fatores são apontados como indicadores de estresse, o que reforça a idéia da odontologia como uma profissão física e mentalmente estressante e sua associação com problemas músculo-esqueléticos acarretando em algias cervicais por exemplo. (MURTOMAA et al., 1990; LETHO et al., 1991).
A vitalidade foi apontada no trabalho em questão sendo a mais influente na QV dos participantes desta pesquisa. Esta dimensão obteve média de 59,1 ±16,9% sendo a pontuação mais baixa deste questionário. Foi observado desconforto na realização das atividades, devido à falta de vigor, cansaço e energia ocasionados pela falta de ânimo e coragem.
O domínio vitalidade obteve índice considerado satisfatório, no entanto o valor está dentro do patamar considerado limite (escore de 50), o que pode influenciar na QV do profissional.
Contribuindo com o resultado do estudo atual, Bernard (2000) em um estudo contendo 30 gestantes buscou correlacionar a sobrecarga imposta na coluna devido à mudança do centro gravitacional e musculatura abdominal com possíveis alterações na QV. Foi constatado que o domínio vitalidade obteve menor escore 48,00% decorrente das alterações hormonais e físicas.
4. Considerações finais
Conclui-se que a dor cervical interfere na qualidade de vida dos odontólogos da cidade de Vitória da Conquista/BA. Faz-se necessário a informação e aplicação de melhores posturas na prática clínica destes profissionais, aprimorando assim as condições de trabalho repercutindo em melhor desempenho na qualidade de vida. Os resultados deste estudo podem contribuir para que outros sejam desenvolvidos, focando especificamente a QV, tema ainda pouco estudado nessa classe profissional.
Notas
Onde o pesquisador estuda os fenômenos do mundo físico e humano, mas não os manipula (GIL, 1999).
Uma pesquisa que serve para proporcionar uma nova visão do problema, aproxima a pesquisa descritiva das pesquisas exploratórias que visa: desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias (GIL, 1999)
Estudo caracterizado pela objetividade.
Onde os indivíduos da pesquisa tem características e percentagem próximas na população com uma causa (LAKATOS; MARCONI, 2001)
Técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito, às pessoas, com o objetivo de conhecer as opiniões, crenças, interesses, situações vivenciadas, etc. (GIL, 1999).
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