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Cárie na gestação: relato de experiência de educação em saúde bucal

Caries en el embarazo: relato de una experiencia de educación en salud bucal

 

*Acadêmicas do quinto período do curso de Odontologia da Universidade

Estadual de Montes Claros – Unimontes, Montes Claros, MG

**Doutoranda em Odontologia Restauradora - Faculdade de Odontologia

de Ribeirão Preto. Professora da Unimontes

***Doutorando em Odontologia Restauradora

Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto

(Brasil)

Michelle Bomfim da Silva Fernandes*

michellebomfimsilva@hotmail.com

Eliene de Oliveira*

lyibl2007@hotmail.com

Cássia Pérola Braga Pires**

peroladab@gmail.com

José Mendes da Silva***

josemendesdasilva@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo: 

          A doença cárie pode exibir uma incidência aumentada no período gestacional. Esse aumento da incidência de cárie dentária durante esse período é motivado pela negligência de tratamento e de higiene bucal. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de educação em saúde bucal para gestantes realizada por estudantes do curso de Odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes - em uma Unidade básica de Saúde de Montes Claros/MG. A educação em saúde mostrou a necessidade da participação desses profissionais no desenvolvimento de ações de prevenção e promoção em saúde bucal às gestantes.

          Unitermos: Gravidez. Cárie dentária. Educação em saúde bucal.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A cárie dentária é uma doença infectocontagiosa multifatorial, que atinge grande parte da população. Ocorre pela falta de acesso ao flúor, deficiência no controle mecânico do biofilme, consumo excessivo e freqüente de açúcar, entre outros, e também pelas condições sócio-econômicas dos indivíduos. As ações de saúde para controle dessa afecção devem ser direcionadas à população sob risco social, oportunizando acesso aos tratamentos e ao uso do flúor. O tratamento da doença cárie tem como objetivo restabelecer o equilíbrio entre os processos de desmineralização e remineralização das estruturas dentárias, paralisar ou reduzir a progressão das lesões e promover a restauração/reabilitação, quando necessário2.

    A promoção de saúde oral para gestantes tem sido focada na educação em saúde bucal, considerando o programa de atenção à saúde da mulher, voltado para a orientação e multiplicação da informação, proporcionando, dessa maneira, cuidados consideráveis na saúde bucal das gestantes8.

    O grupo das gestantes deve ser considerado um grupo populacional prioritário para a atenção odontológica, pois as gestantes: 1) podem apresentar algumas alterações bucais próprias do período gestacional; 2) têm necessidades acumuladas que podem comprometer a saúde materna e da criança; 3) devem ser alvo de programas de educação em saúde porque elas são multiplicadoras de atitudes na rede familiar, influenciando os hábitos alimentares e de higiene da família; 4) é um grupo de fácil acesso por estar freqüentando sistematicamente nesse período os serviços de saúde, o que é um facilitador importante e, além disso, elas podem ser enquadradas em programas de periodicidade programada e não abordá-las seria uma oportunidade perdida6.

    O desenvolvimento da atenção odontológica, envolvendo educação, prevenção e promoção da saúde para o grupo de gestantes, hoje se configura de vital importância tanto para a Odontologia como para outras áreas da saúde. A execução desses serviços é importante para auxiliar na diminuição do aparecimento de doenças crônicas periodontais, considerados um fator de risco para partos prematuros7.

    Toda gestante deve ser orientada sobre a possibilidade de receber atenção em saúde bucal. Sabendo-se que as mães desempenham um importante papel no estabelecimento da dieta de seus filhos é importante que sejam devidamente orientadas não só quanto aos hábitos de higiene bucal, como também em relação ao consumo racional de açúcar, visando a promoção de saúde bucal. Vários estudos mostraram que a partir do terceiro mês de gestação, o feto já está desenvolvendo o paladar e o uso de açúcar na alimentação materna é passado via placenta, determinando, assim, que o bebê ao nascer já demonstre preferência pelo sabor doce quando comparado com bebês cujas mães não utilizaram açúcar durante a gravidez1.

    A prevalência de cárie em gestantes brasileiras estimada pelo índice CPO-D varia em valores médios de dois a vinte e sete. É importante ressal­tar ainda, que a mãe representa a principal fonte de transmissão de micro-organismos cariogênicos para a criança. Dessa forma, durante a gestação, a diminuição do risco da mãe à cárie constitui-se em conduta preventiva para ocorrência dessa doença na criança4.

    Sabe-se que a doença cárie pode exibir uma incidência aumentada no período gestacional. Esse aumento da incidência de cárie dentária durante esse período é motivado pela negligência de tratamento e de higiene bucal. Todavia, evidências sugerem que a promoção de saúde bucal durante a gestação proporciona uma melhor saúde bucal para o bebê3.

    Sendo a promoção da saúde bucal uma ação que visa a melhoria na qualidade de vida das pessoas com foco na odontologia e as gestantes um grupo populacional considerado prioritário para atenção odontológica, o objetivo do presente trabalho é relatar a experiência de educação em saúde bucal para gestantes realizada por estudantes do curso de Odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes em uma Unidade básica de Saúde no bairro Vila Telma, Montes Claros – MG.

Material e métodos

    Este trabalho constituiu um relato de experiência de educação em saúde bucal de acadêmicas da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes no atendimento às gestantes. O trabalho de campo foi desenvolvido por estudantes do 3º período do curso de Odontologia da Unimontes, em uma Unidade de Saúde da Família no bairro Vila Telma, Montes Claros – MG.

    Na promoção em saúde bucal, as acadêmicas desenvolveram estratégias educativas como: roda de conversa e experiência dietética compartilhada. Abordaram-se os seguintes temas: 1) Alterações hormonais durante a gestação e o aparecimento da gengivite; 2) Importância da escovação e uso do fio dental; 3) Dieta da gestante e sua relação com a carie dentária; 4) Higienização da cavidade bucal do bebê; 5) Importância da amamentação para desenvolvimento do sistema estomatognático; 6) Hábito deletérios como: chupar dedo ou chupeta pelos bebês e os possíveis prejuízos; 7) Transmissibilidade da cárie. Foram utilizados como recursos didáticos manequins odontológicos, cartazes ilustrativos e frutas tropicais da época.

Resultados e discussão

    O grupo de gestantes compareceu à unidade e participou com interesse das atividades desenvolvidas pelos acadêmicos, levando o contexto de suas vivências em relação às rotinas alimentares, bem como hábitos de higiene e valor dado à saúde bucal na família. O período gestacional deve ser alvo de atenção por parte dos profissionais de saúde, com vistas à promoção da saúde bucal e prevenção de doenças que afetam a cavidade oral9.

    Muitos são os fatores que podem propiciar as manifestações de alterações bucais na gestação, destacando-se as alterações hormonais (altos níveis de estrógenos e progesterona) e a presença de placa bacteriana, devido à higienização bucal ineficiente e dieta inadequada9. Com o aumento do volume do útero, há uma diminuição da capacidade estomacal, isso faz com que a gestante diminua a quantidade de ingestão de alimentos durante as refeições e aumente a freqüência, resultando em um incremento de carboidratos, os quais associados ao descuido com a higiene bucal, aumenta o risco de incidência de cárie8. Contudo, os efeitos adversos dessas alterações podem ser evitados com a implementação de programas de promoção de saúde bucal4. Todavia, é importante ressaltar que as alterações bucais que ocorrem durante a gestação estão cercadas de mitos populares, que devem ser esclarecidos.

    Muitas gestantes deixam de cuidar de sua saúde bucal por acreditarem que, independente dos cuidados, seus dentes ficam mais fracos e propensos à cárie por perderem minerais como o cálcio para os ossos e dentes do bebê em desenvolvimento. Esse conceito deve ser esclarecido, uma vez que o cálcio dos dentes está em forma de cristais, não estando disponível à circulação sistêmica. Além disso, o cálcio necessário para o desenvolvimento fetal é o que a mãe ingere em sua dieta, destacando, assim, a importância de uma dieta rica em vitaminas A, C e D, proteínas, cálcio e fósforo, durante o primeiro e segundo trimestres de gestação, período em que os dentes decíduos do bebê estão em formação e calcificação5.

    Percebe-se que todas as alterações bucais na gestação são passíveis de prevenção, o que é muito importante, pois a presença de doença periodontal em gestantes pode ter implicações na saúde do futuro bebê, devido à sua relação com a ocorrência de partos prematuros e bebês de baixo peso ao nascimento. A maior integração entre a classe médica e a odontológica e a inserção do cirurgião-dentista nos programas pré-natais poderiam promover um melhor atendimento às necessidades de saúde bucal das gestantes6.

    A troca de experiências entre as gestantes de primeira gravidez e as que já tinham filhos foi enriquecedora, pois alguns pontos das intervenções preventivas puderam ser positivamente reforçados. O esclarecimento de dúvidas e desmistificação dos assuntos abordados pelas estudantes e pelas próprias gestantes aumentaram o interesse e disposição para aplicar os conceitos discutidos. As gestantes se sentiram mais próximas da unidade o que permitiu o melhor acompanhamento de suas necessidades durante esse período de suas vidas.

    Esta experiência desenvolveu também habilidades importantes nas acadêmicas como: lidar com situações inesperadas, saber acolher o outro e adequar da linguagem visando uma prática contextualizada. O contato e conhecimento da realidade das gestantes propiciaram às estudantes um perfil mais humanizado tornando-as agentes ativas das necessidades da sociedade.

Conclusão

    A receptividade acolhedora e o interesse afirmativo das gestantes aos conhecimentos e informações dialogadas durante a educação em saúde por intermédio das acadêmicas do curso de odontologia mostrou a necessidade da participação desses profissionais no desenvolvimento de ações de prevenção e promoção em saúde bucal às gestantes.

    Dessa forma, a partir do trabalho de educação em saúde, desenvolvido pelos profissionais de saúde no pré-natal, a mulher poderá atuar como agente multiplicador de informações preventivas e de promoção da saúde bucal se bem informada e conscientizada sobre a importância de seu papel na aquisição e manutenção de hábitos positivos de saúde no meio familiar. A realização dessa atividade educativa foi de significativa importância para os acadêmicos de odontologia enquanto profissionais em processo de formação, pois propiciou a troca de saberes entre acadêmicos e a comunidade, o que enriquece e modifica o perfil dos profissionais de saúde.

Referências

  1. ALMEIDA JÚNIOR, A. A. et al. 2005. Relação Entre a Preferência por Açúcar e a Cárie Dentária em Gestantes do Município de Aracaju – SE. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, v. 5, n. 1, p. 59-64.

  2. BRASIL. Ministério da Saúde 2008. Saúde Bucal - Normas e Manuais Técnicos Cadernos de Atenção Básica. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério Da Saúde, série A, n17, 92p.

  3. BRASIL. Ministério da Saúde. 2011. Grupo Hospitalar Conceição. Gerência de Saúde Comunitária Atenção à saúde da gestante em APS. Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, 240 p.

  4. BRAZ, G. et al. 2010. A experiência de um programa de atenção à saúde bucal no atendimento às gestantes. HU Revista, Juiz de Fora, v. 36, n. 4, p. 324-332.

  5. JEREMIAS, F. et al. 2010 [Online]. Autopercepção e condições de saúde bucal em gestantes. Odontol. Clín. Cient, vol.9, n.4, p.359-363.

  6. LEAL, N. P; JANNOTTI, C. B. 2006. Saúde bucal da gestante: conhecimentos, práticas e representações do médico, do dentista e da paciente. Dissertação Curso de Pós-graduação em saúde da criança e da mulher do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz Mestre, Rio de Janeiro, 100p.

  7. ONO, R. et al. 2010. Gestantes Cadastradas nas Equipes de Saúde da Família: Uma Ação Interdisciplinar sob a perspectiva da promoção em saúde. Em Extensão, Uberlândia, v. 9, n.1, p. 141-153.

  8. PEREIRA, D. S.; ALVES, M. B.; CAVALCANTI, Y. W.; ALMEIDA-MARQUES, R. V. D. 2012 [Online]. Estudo dos Fatores de Risco à Cárie Dentária em Gestantes Conforme o Trimestre Gestacional. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 16, n.,1, p. 29-34.

  9. REIS, D. M. et al. 2010 [Online]. Educação em saúde como estratégia de promoção de saúde bucal em gestantes. Ciênc. saúde coletiva, vol.15, n.1, p. 269-276.

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