A percepção dos gestores escolares em relação à prática docente da Educação Física escolar La percepción de los administradores escolares en relación con la práctica docente de la Educación Física escolar |
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*Profissional de Educação Física **Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Centro de Estudos e Pesquisas em Atividade Física e Saúde (Brasil) |
Sírley dos Anjos* Joel Saraiva Ferreira** |
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Resumo Educação é um assunto em evidência atualmente. O gestor escolar entra nesse contexto com a função de auxiliar num processo de aprimoramento da educação que envolva toda a comunidade escolar, utilizando de suas atribuições para melhor se aproveitar das potencialidades que cada disciplina possui, entre estas, a educação física. Na tentativa de conhecer melhor as condições atuais da prática da educação física no ambiente escolar realizou-se o presente estudo, o qual se caracteriza como uma pesquisa descritiva que buscou entender junto aos gestores escolares o papel que a disciplina assume atualmente. Foram questionados 14 gestores escolares da rede estadual de ensino no município de Campo Grande – MS, em escolas localizadas nas regiões urbanas da cidade. Os resultados indicaram que a educação física tem um papel importante nas escolas, não sendo desprestigiada em relação às demais disciplinas e que é consenso para os gestores que a disciplina auxilia os estudantes no processo ensino-aprendizagem em todas as etapas da Educação Básica. Portanto, conclui-se que na percepção dos gestores pesquisados, a educação física escolar tem conseguido desenvolver adequadamente o papel educacional inerente a disciplina. Unitermos: Educação básica. Educação Física escolar. Gestão escolar.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Educação Física chegou ao Brasil através da guarda da Imperatriz, D. Leopoldina. Os seus guardas praticavam exercícios que foram adotados pelos soldados brasileiros (ARANTES, 2008).
A Educação Física (formal) teve seu início no Brasil com a introdução da Ginástica Alemã, no ano de 1860 (CASTELLANI FILHO, 2003). Mas essa ginástica, assim como a prática de atividades físicas sofreram resistência, pois “vinculavam à Educação Física o trabalho manual, físico, relacionado aos escravos, o trabalho intelectual, este sim, era afeto à classe dominante” (CASTELLANI FILHO, 2003, p. 44).
A Educação formal teve seu início no Brasil no final do século XIX, início do século XX, mas essa foi restrita a alguns grupos em seu início.
Em 1824 a Constituição do Império recomendou formalmente a escolarização aos brasileiros [...] a escolarização prescrita era, entretanto, destinada aos filhos de proprietários, detentores de direitos políticos e civis, ou seja, para ter acesso aos bancos escolares era necessário que o cidadão (mormente a sua família) tivesse bens; portanto a educação formal mesmo oficialmente recomendada era para poucos. (ARANTES, 2002 apud ARANTES, 2008).
A Educação Física passou por grandes mudanças ao longo da história do próprio país atendendo às mais variadas finalidades, que nem sempre buscavam o aperfeiçoamento do indivíduo como um todo.
No século XVI, embora não fosse chamada de Educação Física, auxiliava na catequização dos índios. De acordo com Arantes (2008, p. 2), “os jesuítas davam aulas de peteca, arco e flecha e atividades recreativas. Embora não houvesse aulas de Educação Física, o movimento corporal era assegurado por essas atividades”.
Já no século XIX, a Educação Física buscou atender às intenções militares para a melhoria do físico e dos médicos higienistas que buscavam o aperfeiçoamento da raça, conforme Castellani Filho (2003).
A Educação Física no Brasil, desde o século XIX, foi entendida como um elemento de extrema importância para o forjar daquele indivíduo “forte”, “saudável”, indispensável à implementação do processo de desenvolvimento do país que, saindo da condição de colônia portuguesa, [...] buscava construir seu próprio modo de vida [...] A eles (aos militares), nessa compreensão, juntavam-se os médicos que, mediante uma ação calcada nos princípios da medicina social e índole higiênica, [...] auto proclamavam-se a mais competente das categorias profissionais para redefinir os padrões de conduta física, moral e intelectual da “nova” família brasileira. (CASTELLANI FILHO, 2003, p. 39).
Mais tarde durante o Estado Novo, tinha a atribuição de auxiliar o Estado na manutenção da Ditadura, como mostra este pronunciamento de Francisco Campos, autor da Carta Magna de 1937 “A Educação não tem seu fim em si mesma; é um processo destinado a servir a certos valores e pressupõe, portanto, a existência de valores sobre alguns dos quais a discussão não pode ser admitida” (CASTELLANI FILHO, 2003, p. 83).
Outra função era a de melhor preparar os trabalhadores (sendo usada inclusive nos seus momentos de folga) para desempenhar suas funções, buscando consolidar a industrialização do país
Atendia, assim, a Educação Física, [...] a necessidade de, através de sua ação, colaborar para que a extensão do controle sobre o trabalhador _ tanto por parte das entidades patronais, quanto por parte do Estado, via Ministério do Trabalho _ se desse para além de seu tempo de trabalho, [...] incorporando dessa maneira às suas esferas de ação, tudo aquilo que girasse em torno da forma como o trabalhador viesse a ocupar o seu tempo de não-trabalho, entendendo-se como tal, tanto o tempo de recuperação da sua força de trabalho, como também o seu tempo livre. (CASTELLANI FILHO, 2003, p. 94)
Na década de 1970, a Educação Física teve reforçado seu caráter instrumental, mantendo a intencionalidade de manutenção da força de trabalho, cuja indústria estava “buscando [...] mão-de-obra fisicamente adestrada e capacitada”, o que alavancaria o desenvolvimento do país (CASTELLANI FILHO, 2003, p. 107).
Nesse período, com relação à educação, o Decreto n° 69.450/71 refere-se à Educação Física como atividade que por seus meios, processos e técnicas, desperta, desenvolve e aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando (constituindo-se em) um dos fatores básicos para a conquista das finalidades da Educação Nacional (BRASIL, 1971).
Por atividade, entende-se: “ação não expressiva de uma reflexão teórica, caracterizando-se dessa forma, no ‘fazer pelo fazer’” e justifica a presença da Educação Física na escola, não como um campo do conhecimento dotado de um saber que lhe é próprio, específico [...] mas como uma mera experiência limitada em si mesma, destituída do exercício da sistematização e compreensão do conhecimento, existente apenas empiricamente (CASTELLANI FILHO, 2003, p. 108)
Em 1969 é publicado o Decreto-lei n°. 705/69 que dispõe no seu Art. 1°. “Será obrigatória a prática da educação física em todos os níveis e ramos de escolarização, com predominância esportiva no ensino superior” (BRASIL, 1969). O Decreto 69.450/71 organiza a Educação Física no Ensino Superior, Art. 2°. “A educação física, desportiva e recreativa integrará, como atividade escolar regular, o currículo dos cursos de todos os graus de qualquer sistema de ensino”. (BRASIL, 1971)
A inserção da Educação Física no nível superior de ensino teve entre suas finalidades “colaborar, através de seu caráter lúdico esportivo, com o esvaziamento de qualquer tentativa de rearticulação política do movimento estudantil” (CASTELLANI FILHO, 2003, p. 121). Nesse período, apesar das retaliações sofridas, os estudantes tinham uma grande força política. A UNE era muito combativa, e se fazia presente nos debates que tratavam das questões nacionais, manifestando suas opiniões, muitas vezes contrárias a dos políticos. A obrigatoriedade da Educação Física no Ensino Superior tinha a intenção de acalmar os ânimos dos estudantes ou até mesmo calar as suas vozes conforme pronunciamento do autor da Lei em que dizia
calem-se para sempre. Eis a mensagem das autoridades de abril através da lei, aos jovens do seu país. Em troca, a juventude, silenciosa e bem comportada, ganharia alguns bombons: os Diretórios Acadêmicos seriam transformados em alegres centros recreativos ou, na melhor das hipóteses, em clubes esportivos, cujos atletas envergariam, com orgulho, camisas olímpicas com a inscrição ‘University of Brazil’ no peito...” e continua “... Talvez fosse até possível substituir o futebol pelo rugby... (apud CASTELLANI FILHO, 2003, p. 121)
A obrigatoriedade da Educação Física no Ensino Superior perdurou até dezembro de 1996, com a publicação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que a tornou facultativa nesta etapa do ensino (CASTELLANI FILHO, 2002).
Nas décadas de 1970 a 1990, o esporte se tornou sinônimo de Educação Física nas escolas. Sua prática hegemônica buscava “promover a iniciação esportiva para encontrar talentos que representassem o país no cenário esportivo internacional.” (BRACHT, 2010, p. 1). Naquele momento foi o esporte quem deu maior importância à educação física, “que passou a depender em grande parte da importância social atribuída ao fenômeno esportivo” (BRACHT, 2010, p. 2).
Até esse momento observa-se que pouco se fez por uma Educação Física mais voltada para a formação do indivíduo, a disciplina até esse momento era vista como instrumento com as mais variadas finalidades, preparar os homens para a guerra, melhoria de raças, doutrinação das pessoas, manutenção da mão-de-obra, preparação de atletas. Mas, nesse período em que o esporte vem sendo visto como a prática ideal da Educação Física, alguns professores surgem com propostas diferentes. O chamado “movimento renovador” (BRACHT, 2010, p. 2)
que se caracterizou por uma forte crítica à função atribuída até então à Educação Física no currículo escolar. Decorre dessa crítica uma mudança radical do entendimento do conteúdo da disciplina. Esse movimento renovador da Educação Física brasileira promoveu uma “desnaturalização” do seu objeto. [...] o corpo não é mais entendido somente como uma dimensão da natureza (em nós) e sim, como uma construção cultural, [...] simbólica, [...] e suas práticas expressam a sociedade na qual estão inseridos, ou seja, são construções históricas. Nesse entendimento, as diferentes práticas corporais (ou atividades físicas, como eram chamadas) foram construídas pelo homem em determinado contexto histórico-cultural e com sentidos próprios.
Essa nova concepção da Educação Física busca mostrar que mais importante que dar a prática para o aluno, é “fazer com que ele se aproprie do saber que detemos sobre essa prática, de maneira que possa compreender seu papel social e histórico, bem como situá-la na dinâmica cultural contemporânea” (BRACHT, 2010, p. 6),
Apresentar essa atividade física envolta em uma intencionalidade, não mais o fazer pelo fazer, o modo técnico e correto, mas trazer para as aulas de Educação Física situações que preparem os alunos para contextos que muitas vezes serão vividos fora da sala de aula. A idéia é apresentar temáticas, problemas e possíveis soluções utilizando das práticas de movimento para isso.
No ano de 1988 é promulgada a Constituição Federal do Brasil, que passa do Regime de Ditadura Militar para a Democracia. No texto da Constituição são garantidos direitos civis, dentre os quais a educação. Em 1996 é criada a nova LDB.
São propostas novas abordagens para o ensino da Educação Física, entre elas podemos citar a abordagem desenvolvimentista, a crítico-emancipatória, a construtivista, abordagem plural cultural, psicomotricidade, abordagem pedagógica para a promoção da saúde, entre outras.
Sobre a legislação
Para que o gestor escolar exerça adequadamente sua função, dentre outras orientações, a legislação educacional vigente é a base para a tomada de decisão. É evidente que o aspecto didático-pedagógico também exerce importante influência nas ações de gestão escolar.
A legislação no Brasil modificou-se no sentido de melhorar a educação como um todo, o que favoreceu a valorização da disciplina Educação Física no ambiente escolar, o que pode ser evidenciado a partir da leitura dessa legislação ao longo de um recorte histórico recente.
Em 1961, foi publicada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n° 4.024, que levou mais de dez anos para ser escrita, votada e promulgada. Duas correntes diferentes buscavam se sobressair na elaboração do documento. A corrente estatista via a educação como meio de preparar o indivíduo para o bem da sociedade, entendia que cabia somente ao Estado educar. A outra, corrente liberalista, defendia os direitos naturais e que não era função do Estado garantir ou negar esses direitos, apenas respeitá-los. A LDB de 1961 trouxe a possibilidade de acesso ao nível superior a estudantes advindos do ensino técnico e criou os Conselhos Federal e Estaduais de Educação (AFONSO, 2009). Relacionado à Educação Física, no Artigo 22 dispõe que “Será obrigatória a prática da Educação Física nos cursos primários e médio até à idade de 18 anos” (BRASIL, 1996).
A Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, dispõe em seu artigo 6° a educação como um dos direitos sociais dos brasileiros. Estabelece a Educação como um direito de todos e dever do Estado e da família no Art. 205 e, em seu Art. 214 define que
A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas... (BRASIL, 1988)
Em 1996, uma nova Lei, a de número 9394 vem substituir o texto de 1961. A nova LDB estabelece no
Art. 2°. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
A LDB coloca que o dever do estado com o ensino é garantir gratuitamente o ensino fundamental e o médio, mesmo que o indivíduo não esteja cursando em idade própria, atendimento especializado aos alunos com necessidades especiais, atendimento gratuito na educação infantil, acesso aos níveis mais elevados de ensino, assim como a pesquisa, auxílio ao educando do ensino médio com material didático-escolar, alimentação, transporte e assistência à saúde e exige padrões mínimos de qualidade de ensino.
A LDB garante meios para a elaboração de um projeto educacional que atenda aos indivíduos, para a conclusão do Ensino Fundamental, em diferentes idades, disponibilizando de modalidades para os estudantes trabalhadores.
Com relação à Educação Física, a lei acima mencionada estabelece em seu Artigo 26, § 3° que a “educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica [...]”, estabelecendo ainda que fica “facultada ao trabalhador, aos maiores de trinta anos, a quem esteja cumprindo serviço militar” e ainda a mulher com prole, conforme o inciso VI (BRASIL, 1996).
A gestão escolar aparece na LDB como um dos princípios da educação nacional. (BRASIL, 1996 – Art. 3º, inciso VIII)
Em 1997, são publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) referentes aos 1° e 2° ciclos do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries), em 1998 os documentos para os 3° e 4° ciclos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries) e em 1999, para o Ensino Médio (DARIDO et al, 2001). Os PCNs foram elaborados no intuito de subsidiar o professor na construção do projeto educativo da escola.
Segundo os PCNs (BRASIL, 1998), a Educação Física seria responsável por formar alunos capazes de
participar de atividades corporais adotando atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade;
conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações da cultura corporal;
reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de melhoria da saúde coletiva;
conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e desempenho que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia;
reivindicar, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer (BRASIL, 1998).
Em julho de 2010, são publicadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), para “sistematizar os princípios e as diretrizes para a educação básica contidos na Constituição, pela LDB e os demais dispositivos legais” que tratam da educação. As DCNs também orientam a formação docente para a educação básica (BRASIL, 2010).
Ao final desse recorte histórico, pode-se observar que a Educação Física evoluiu ao longo dos anos, sendo vista atualmente como disciplina socializadora, que auxilia no processo de aquisição de autonomia por parte do indivíduo, nesse caso o estudante, colaborando para um desenvolvimento pleno de suas potencialidades.
Sobre a gestão escolar
Gestão escolar é o processo de organização, planejamento e estruturação das ações a serem efetuadas em determinada instituição de ensino. Galego (1993 apud FREITAS, 1998) define gestão escolar como
Um conjunto de operações [...] planificar, organizar, dirigir, coordenar, supervisionar, avaliar e controlar [...] que respeitam à vida das organizações. Por vezes o conceito de gestão aparece confundido com o de administração o qual deve ser entendido como mais geral e referido a sistemas mais vastos. Diz-se por exemplo, gestão do estabelecimento de ensino, e refere-se a administração do sistema educativo a nível regional ou nacional.
O gestor escolar é o profissional responsável por organizar um ambiente que favoreça o desenvolvimento integral dos alunos, que forneça condições de trabalho adequadas aos profissionais daquela instituição, o cumprimento das leis, normas e diretrizes que direcionam a educação e possibilitar e estimular a participação dos pais e responsáveis e da comunidade escolar.
Segundo Lück (2009), o diretor é o profissional a quem compete a liderança e organização do trabalho de todos os que nela (escola) atuam, de modo a orientá-los no desenvolvimento de ambiente educacional capaz de promover aprendizagens e formação dos alunos, no nível mais elevado possível, de modo que estejam capacitados a enfrentar os novos desafios que são apresentados.
Portanto, o gestor é o profissional que decidirá, sozinho ou em conjunto com a comunidade escolar, o modo como cada disciplina será ministrada na instituição sob sua gestão montando para isso o Projeto Político Pedagógico (PPP) daquela escola. Cada professor deverá realizar o plano de ensino da disciplina que ministrará baseado no PPP, que deverá ser avaliado por um coordenador e este verificará se está em acordo com o estabelecido. Observa-se aí um grupo de pessoas trabalhando em conjunto para alcançar objetivos comuns.
A Educação Física Escolar não foge a essas regras. A disciplina deve ser ministrada mediante apresentação de planejamento que deverá ser aprovado por profissional competente. Nesse ponto busca-se entender, na opinião do gestor, se a disciplina tem conseguido cumprir suas atribuições no ambiente escolar.
Materiais e métodos
O presente estudo foi desenvolvido com catorze diretores e diretores-adjuntos de escolas estaduais no município de Campo Grande, MS. Destes, sete são do sexo masculino e sete do sexo feminino, quatro são formados em Educação Física, um em Matemática, um em Letras, um em Geografia, um em Biologia, um é formado em Filosofia e cinco em Pedagogia, dos quais, um em Pedagogia e Administração de Escolas e um em Pedagogia e Letras.
As escolas foram selecionadas de maneira aleatória de acordo com a região urbana em que estavam localizadas. No município de Campo Grande existem nove macrorregiões urbanas, a saber: Lagoa, Imbirussu, Anhanduizinho, Bandeira, Segredo, Prosa, Centro, Anhanduí e Rochedinho, sendo que estas duas últimas, embora constem como regiões urbanas, são distritos da capital do Mato Grosso do Sul (PMCG, 2011). Em cada macrorregião foram pesquisadas duas escolas, com exceção das regiões de Anhanduí e Rochedinho.
O instrumento de pesquisa utilizado foi um questionário, elaborado especificamente para o presente estudo, sendo composto por duas questões, em uma delas, os gestores puderam complementar sua resposta. O questionário foi aplicado nos meses de abril e maio pela autora do estudo.
Foi solicitada junto aos gestores a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), embora os dados dos participantes da pesquisa sejam mantidos em anonimato.
Depois de coletados, os dados foram digitados em uma planilha do programa Excel for Windows para processamento da análise quali-quantitativa dos dados. Aplicou-se a estatística descritiva, com mensuração dos valores absolutos e percentuais das respostas anotadas em cada variável de estudo contida no questionário.
Apresentação e discussão dos resultados
Os diretores foram questionados sobre a importância da disciplina EFE em relação às demais disciplinas e em qual etapa da Educação Básica a EFE seria mais apropriada para o desenvolvimento do estudante.
Após a tabulação, os dados foram organizados em uma tabela e uma figura para facilitar a apresentação das informações e, conseqüentemente, a discussão em relação aos resultados obtidos. Essa tabela e figura são apresentadas a seguir.
Tabela 1. Percepção dos gestores de escolas da rede estadual de ensino, localizadas em Campo Grande-MS,
em relação à importância da disciplina educação física escolar em comparação às demais disciplinas (n = 14)
A tabela 1 retrata a percepção de que a maioria dos diretores atualmente está vendo a Educação Física Escolar com a mesma importância das demais disciplinas, atendendo ao que sugeriu Foucault (1979 apud OLIVEIRA, 1999, p. 8) “é condição que profissionais compreendam a dinâmica escolar e deixem de imaginar que a Educação Física no interior das escolas é diferente do restante da estrutura escolar”. Porém, 7, 1% ou um indivíduo acredita que a Educação Física é mais importante que algumas disciplinas e menos importante que outras. O gestor quis comentar sua resposta, ele acredita que não pode comparar disciplinas como português e matemática que assumem, segundo ele, um papel mais importante na formação do aluno com a Educação Física, que embora importante não traz os mesmos resultados que as disciplinas citadas. Afirmou ainda, que essa é sua visão como gestor, que se sua resposta fosse pessoal diria que a Educação Física tem importância igual sim e às vezes muito maior, pois assume um papel social muito interessante, tem o poder de socializar e incluir os alunos.
Um gestor, formado em Educação Física, respondeu que a disciplina é menos importante que as demais.
Novamente recorda-se Foucault, que afirma que alguns profissionais ainda não percebem a educação física de maneira apropriada, desvinculando-a da estrutura escolar.
Embora não seja atribuição dos gestores conhecer as abordagens utilizadas em educação física ou as fases pelas quais a disciplina passou ao longo da história recente da educação brasileira, observou-se que alguns diretores afirmam que os docentes em suas instituições utilizam as abordagens desenvolvimentista, construtivista e crítico-superadora como opção pedagógica para o planejamento e execução de suas aulas.
Contraditoriamente, um dos sujeitos pesquisados afirmou que “a abordagem construtivista é a mais indicada para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, pois na Educação Infantil ensina as crianças a ficarem sentadas, a formar filas. No Ensino Fundamental ensina as modalidades esportivas e quando do aprendizado de um fundamento, ensina ao educando que enquanto aquele fundamento não é realizado de maneira correta deve ser repetido”.
No entanto, a proposta teórica do Construtivismo indica que
a intenção é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo [...] além de valorizar as experiências, a cultura dos alunos, a proposta construtivista tem o mérito de propor alternativas aos métodos diretivos, [...] nesta proposta, o jogo é privilegiado como sendo ‘um instrumento pedagógico’[...] logo, enquanto a criança brinca ela aprende (AZEVEDO E SHIGUNOV, 2001, p. 3)
Também podemos destacar comentários de gestores que afirmam que os professores de educação física em suas instituições trabalham de maneira lúdica, incluem alunos deficientes em suas aulas, melhoram a condição de vida destes por meio do esporte e da atividade física e conseguem uma boa participação nas aulas dos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) utilizando da criatividade e valorizando os estudantes, independentemente de sua idade. A visão de alguns gestores aparenta ainda estar muito ligada às questões de ordem e alguns acreditam que sua importância no meio escolar se justifique pela possibilidade de socialização através da disciplina e do esporte.
Uma inferência que se faz é que a educação física tem conseguindo sobreviver no meio escolar, mas é necessário evidenciar a importância da disciplina como componente atuante na formação do cidadão. Nesse sentido, o presente estudo obteve resultados ainda um pouco divergentes, pois observou-se que a maioria dos entrevistados afirmou que a educação física tem uma importância igual às demais disciplinas, mas isso não fica claro quando os gestores justificam sua opinião.
Figura 1. Percepção dos gestores de escolas da rede estadual de ensino, localizadas em Campo Grande - MS,
em relação ao nível de ensino no qual a educação física escolar tem maior importância (n = 14)
Os valores apresentados na figura 1 ultrapassam o número total de sujeitos porque o questionário permitia a opção de assinalar mais de uma alternativa na questão. Esses dados indicam que a maioria dos gestores acredita que a prática da Educação Física é mais proveitosa durante todo o Ensino Fundamental.
Os PCNs sugerem que a educação física deva ser ensinada em toda a Educação Básica, estando presente em todos os documentos (BRASIL, 1997a, 1997b, 1998, 1999).
Considerações finais
As fases que a Educação Física passou durante a História do Brasil nos mostra que em muitos momentos ela esteve desvinculada do processo pedagógico, do processo de formação do indivíduo. Talvez por conta disso a disciplina tenha sofrido com a promulgação da LDB de 1996 o seu maior golpe durante a República, descompromissada e pouco clara com relação à Educação Física. O mesmo não acontece com as demais disciplinas.
Com isso, questiona-se se o poder legislativo entende que a Educação Física não é tão importante quanto as demais disciplinas do currículo. A inferência que se faz nesse momento é que ao menos os dados do presente estudo indicam que os gestores acreditam que a Educação Física tem a mesma importância que as demais. Eles também afirmam que ela pode ajudar no processo ensino-aprendizagem pelo qual o estudante passa em todas as etapas da educação básica. Esse é um passo importante, uma vez que são esses os profissionais que elaboram o Projeto Político Pedagógico da escola, que hoje tem autonomia para investir recursos do governo federal por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Os PCNs foram criados entre o final do século XX e início do século XXI (DARIDO, 2001) e trouxeram sugestões para os professores trabalharem além dos muros da escola com seus alunos. Os temas transversais permitem isso, um diálogo entre estudantes e professores a respeito do que acontece na sociedade. Os PCNs não são obrigatórios, mas colaboram com aquele profissional que busca uma formação mais completa do seu aluno.
As DCNs vieram complementar aquilo que faltou na LDB. As DCNs afirmam que são obrigatórias as aulas de Educação Física.
O estudo foi realizado em diferentes áreas do município de Campo Grande – MS, por acreditarmos que cada região urbana possui suas peculiaridades, então buscamos entender se em função disso haveria uma disparidade muito grande nas respostas o que não ocorreu. É possível perceber que os gestores em sua maioria seguiram uma linha, concordam na maioria dos resultados.
Chega-se ao final do estudo com a possibilidade de responder positivamente às perguntas realizadas durante o estudo, pois a maioria dos gestores afirmaram que a educação física tem a mesma importância das demais disciplinas do currículo escolar e que deve ser ministrada em todas as etapas da Educação Básica, colocando a disciplina num patamar idêntico as demais, confirmando assim a hipótese inicial que motivou a realização da pesquisa.
Referências
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 194 | Buenos Aires,
Julio de 2014 |