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A inclusão das lutas nas aulas de Educação Física escolar

La inclusión de las luchas en las clases de Educación Física escolar

 

*Graduação em Educação Física pelo Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA

**Graduado em Educação Física pelo UniFOA. Graduação em Direito pelo UBM

Pós-graduado em Docência Superior pelo Instituto Isabel – RJ e em Direito Educacional pela Abed

Mestre em Educação pela UCP. Atualmente é professor do UniFOA

***Possui graduação em Educação Física pelo UniFOA e em Pedagogia pela Fundação

Educacional Rosemar Pimentel. Possui especialização em Ginástica Escolar

pela Fundação Oswaldo Aranha. Psicopedagogia na Educação pela FERP/UGB

Blayan Robério da Silva*

blayan-sd@hotmail.com

Otavio Barreiros Mithidieri**

mith.koff@globo.com

Cristina Novikoff***

c_novikoff@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho tem por finalidade demonstrar a importância da inclusão da modalidade “lutas” nas aulas de Educação Física Escolar. Utilizou-se para tal, uma pesquisa empírica e bibliográfica de método descritivo sobre a decorrente proposta. Apresentam-se alguns entendimentos conceituais acerca do movimento “lutas”. Seguem as discussões sobre a formação do professor de Educação Física e a prática nas escolas. Encerra-se o estudo com a descrição de uma proposta para se trabalhar com a modalidade lutas nas escolas de ensino fundamental. De modo geral, exploram-se os benefícios da “luta” para o desenvolvimento psicossocial, fisiológico e emocional em prol da cidadania.

          Unitermos: Lutas. Educação Física. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Observamos que ao longo da história da humanidade o homem reage aos obstáculos ou problemas de diferentes “espaços” (SANTOS, 2000) ou “territórios” (SILVA, 1995), por meio da luta. Logo, os distintos espaços, tais como: doméstico, da produção, de mercado, da comunidade, da cidadania e mundial são todos perpassados por lutas de poder e de sobrevivência.

    Paraná (2006 apud BETTI; SO, 2009, p. 05) cita que “as lutas sempre se fizeram presentes na história da humanidade”. Assim, as lutas centradas tanto na materialidade, com o objetivo da sobrevivência e com metas econômicas ou de proteção de patrimônio, como as lutas subjetivas para atingir o autocontrole, desenvolvendo o aprendizado e/ou o equilíbrio pessoal ou afetivo, todas estas lutas emergem da relação entre o homem e o seu meio.

    É notório que a “luta” enquanto modalidade motora física e psicossocial faz parte da história humana. Atualmente, observamos que as lutas estão cada vez mais presentes na vida dos alunos, seja em vídeos, filmes, programas televisivos e competições mostradas pela televisão, mas pouco trabalhada na escola. Assim, a questão inicial remete-se à formação dos professores de Educação Física para trabalhar com a modalidade “lutas”, na escola.

    Neste sentido, com o presente artigo, resulta de uma investigação empírica onde se observou em 15 escolas públicas no Estado do Rio de Janeiro a ausência das lutas nas aulas de Educação Física e de amplo estudo bibliográfico, de cunho descritivo, realizadas por citações diretas, indiretas em artigos que versam sobre lutas e Educação Física Escolar. O objetivo é apresentar uma discussão sobre o lugar educativo da modalidade lutas. Parte-se do pressuposto que as lutas trazem benefícios físicos e psíquicos essenciais ao desenvolvimento do aluno do Ensino Fundamental.

2.     Algumas definições de lutas

    Rufino e Darido (2013a, p. 08) citam que o dicionário Luft define o ato de lutar (do latim luctari) como: “combater/ pelejar, brigar/ disputar, competir/ trabalhar arduamente, esforçar-se, empenhar-se”. O substantivo luta no mesmo contesto é definido como “ação de lutar/qualquer combate corpo a corpo/guerra, peleja/antagonismo/esforço, empenho.”

    Deste modo, podemos entender que o ato de lutar ou de praticar a luta significa colocar-se em defesa ou em contra algo, seja por sobrevivência ou por esporte com a obtenção de uma conquista.

    Paraná (2006 apud BETTI; SO, 2009, p. 544) cita que “as lutas sempre se fizeram presentes na história da humanidade, sejam ligadas às técnicas de ataque e defesa, seja como sabedoria de vida para muitos povos, ou mesmo como vínculo militar”.

    Para Ferreira (2006) a origem das lutas e das artes marciais é uma incógnita.

    Os gregos tinham uma forma de lutar, conhecida como “pancrácio”, modalidade presente nos primeiros jogos olímpicos da era antiga. Os gladiadores romanos, já naquela época, faziam o uso de técnicas de luta a dois. Na Índia e na China, surgiram os primeiros indícios de formas organizadas de combate. (FERREIRA, 2006, p. 38).

    Apesar do ponto de origem das lutas serem desconhecidos de certa forma, sabe-se que a luta veio sofrendo uma constante evolução e aprimorando-se ao longo do tempo em diferentes os espaços tais como: doméstico, da produção, de mercado, da comunidade, da cidadania e mundial, sendo que todos podem ser considerados ora luta por sobrevivência ora para o desenvolvimento da sociedade e do planeta.

    As lutas, segundo Ferreira (2006, p. 37) assumem o papel de “[...] instrumento de auxílio pedagógico ao professor de Educação Física, ou seja, devemos incluir o ato de lutar no contexto histórico-sócio-cultural do homem”, já que o ser humano vem lutando desde a pré-história, pela sua sobrevivência.

    Para Alves Jr (2001 apud FERREIRA, 2006, p. 40), “a Educação Física passa a ser uma disciplina que vai tratar pedagogicamente de uma área de conhecimento denominada de cultura corporal”, que se encontra configurada na forma de temas ou de atividades corporais. Deste modo, as lutas não são nocivas nem virtuosas em si, ela transforma-se segundo o contexto. As lutas nas escolas, nos clubes, nas academias, nas universidades ou em qualquer outro local, tornam-se o que dela fazemos.

    Para Pierre Parlebas (1990 apud FERREIRA, 2006) as lutas são:

    Atividades esportivas com oposição presente, imediata, e que é o objeto da ação, é uma situação de enfrentamento codificado com o corpo do oponente, desta forma, mais do que lutar contra o outro, a Educação Física Escolar deve ensinar a lutar com o outro, estimulando os alunos a aprenderem através da problematização dos conteúdos e da própria curiosidade dos alunos (FERREIRA, 2006, p. 40).

    Destarte a Educação Física servirá como meio de integração onde os alunos se deparam com diferentes conflitos em situação totalmente propositiva pelo professor em forma de atividade esportiva.

    Soares (2006), descreve que a Educação Física Escolar tem como parâmetro a cultura corporal, no intuito de uma reflexão pedagógica de valores que tem dentro das lutas como: solidariedade, cooperação, desenvolvimento psicomotor, afetivo-social. Já Ferreira (2006), em seu artigo para a revista do Conselho Federal de Educação Física - CONFEF, também defende a utilização do tema lutas por diferentes áreas que envolvem a formação integral dos indivíduos, expressando que:

    A prática da luta, em sua iniciação esportiva, apresenta valores que contribuem para o desenvolvimento pleno do cidadão. Identificado por médicos, psicólogos e outros profissionais, por sua natureza histórica apresentam um grande acervo cultural. Além disso, analisada pela perspectiva da expressão corporal, seus movimentos resgatam princípios inerentes ao próprio sentido e papel da educação física na sociedade atual, ou seja, a promoção da saúde.(FERREIRA 2006, p. 40)

    Deduz-se desta citação que as lutas como parte do acervo cultural do movimento sustentam a ideia de que o professor de Educação Física possa trabalhar diferentes temas transversais (saúde, cidadania, valores, etc.) no espaço escolar. Igualmente, as lutas possibilitam a interdisciplinaridade que se faz necessária para a formação integral dos alunos, além da melhoria de qualidade de vida através da promoção da saúde.

    As lutas de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s (BRASIL, 1998), compõem o rol dos conteúdos de Educação Física para promoção do ensino-aprendizagem, encontrada nos blocos de conteúdos tais como: “jogos, brincadeiras, danças, esportes, ginásticas e lutas.”

    A definição de lutas de acordo com os PCN’s, onde os profissionais de Educação Física buscam fundamentação em suas ações didático-pedagógicas para maximizar a forma de ensino-aprendizagem de seus alunos, é a de que são:

    [...] disputas em que os oponentes devem ser subjugados, com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. Podem ser citados exemplos de luta: as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro, até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê (FERREIRA, 2006, p. 38).

    Deste modo, as lutas devem sim utilizar técnicas e estratégias de modo a se trabalhar em cima do desenvolvimento do aluno de modo amplo. Portanto, além dos aspectos motores, os sociais são trabalhados, como por exemplo, punindo as formas de violência, explicando o porquê está sendo punido.

    Visto a riqueza de valores que imprimem a modalidade lutas, cabe questionar a pouca aplicação deste conteúdo de ensino em aulas de Educação Física.

    Nascimento e Almeida (2007) apresentam algumas justificativas dos professores para essa realidade. Quais sejam: a falta de conhecimentos acadêmicos por parte dos professores e; a falta de vivências das lutas em sua vida e formação acadêmica.

    No estudo resultante deste artigo observou-se que 87% dos professores de Educação Física vinculam o termo lutas a violência e agressividade, ou seja, comportamentos que são inadequados para que se trabalhe com esse conteúdo nas escolas. A justificativa para a negação do trabalho com as lutas, geralmente são relatos como sendo as lutas de origem violenta. Com base nestas formas reduzidas de se entender as lutas como modalidade de ensino negativa são originárias de crenças de que a “luta” “pode aflorar e/ou incentivar ainda mais a violências se o tema for tratado na escola, pois muitos alunos já demonstram traços de comportamento violento no cotidiano escolar” (NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007, p. 101).

    De acordo com Guedes (2001, p. 62) a violência “é um dos termos muito discutidos no meio da filosofia e da psicologia, em que diferentes concepções são levantadas em torno da agressividade”.

    Para Hokino e Casal (2001 apud BINA; MATIAS, 2009), a agressividade faz parte dos esportes, principalmente das lutas, mas uma agressividade chamada de “agressividade positiva”, essa que se expressa na forma de vontade de vencer, respeitando as regras e a forma de conduta impostas pela pratica de lutas, que será passada pelo professor aos alunos, e também, as regras das competições que serão disputadas pelos alunos. Desta forma o aluno passa a desenvolver um autocontrole, através dos treinamentos e orientações adequadas que lhes são fornecidas pelos professores.

    Nascimento e Almeida (2007) comentam que, a agressividade está presente em todo tipo de esporte, cita como, por exemplo, o futebol, o esporte mais praticado no Brasil e mais exaltado pela mídia, sendo também o esporte mais utilizado nas aulas de Educação Física.

    É comum observarmos que após as crianças verem as atitudes que seus pais, familiares e amigos tomam durante, ou até mesmo assistindo uma partida de futebol, seja no campo ou na televisão, as crianças observam e depois reproduzem as atitudes ali presenciadas. As crianças, geralmente, reproduzem na aula de Educação Física a cultura social vivenciada fora do ambiente escolar, seja o comportamento, as gírias dos gramados e até mesmo as atitudes e os atos agressivos dos jogadores, pais e amigos perante uma partida de futebol. Assim sendo, qualquer que seja o tema a ser abordado na escola, se não for devidamente fundamentado e tratado pedagogicamente, corre o risco de gerar conflitos e situações hostis, é o que confirma o entendimento esboçado por Belbenoit (1974 apud NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007, p. 107), de que:

    [...] o desporto [ou outro tema] não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em si nem socializante nem anti-socializante. É conforme: ele é aquilo que se fizer dele. A prática do judô ou do râguebi pode formar tanto patifes como homens perfeitos preocupados com o fair-play.

    É importante destacar que todo esporte tem natureza de competição e o que diferencia o nível de violência é um conjunto de fatores: objetivo, educação formal e informal do sujeito, a formação do técnico ou do professor, entre outros de natureza íntima do atleta.

    Outro fator que contribui para que a modalidade lutas não seja muito utilizada como conteúdo nas aulas de Educação Física se dá em razão da má formação acadêmica dos professores. Segundo Del’Vecchio e Franchini (2006):

    [...] a dificuldade em tratar os conteúdos das lutas na escola deve se, em grande parte, à formação do profissional de Educação Física que, em muitos casos, frequenta uma graduação deficiente em relação a esses conteúdos, restringindo-se à apenas uma modalidade (como o judô ou a capoeira, por exemplo), ou as vezes sequer havendo a presença desses conteúdos no ensino superior. Dessa forma, as lutas geralmente são aplicadas apenas (e isso quando são), pelos profissionais que tiveram vivências com esta temática durante suas vidas, independente de terem tido aulas de lutas ou não em sua formação inicial. (RUFFINO; DARIDO, 2011, p. 02)

    A idéia de Ruffino e Darido destaca por Del’Vecchio e Franchini, 2006, coloca à prova a formação acadêmica dos professores de Educação Física, uma vez que este fator já foi identificado como sendo um dos fatores que corroboram para que o conteúdo das lutas não seja dissipado como conteúdo nas aulas de Educação Física (ROSA e CAMILO, 2013).

    Rufino e Darido (2013b) citam outros aspectos que acabam contribuindo para que o conteúdo de lutas seja pouco utilizado, que são: a falta de espaço, a falta de material, a falta de vestimentas adequadas para que os alunos possam praticar uma aula elaborada pelos professores, independentemente destes serem ou não, devidamente capacitados para tratar desses conteúdos em suas aulas.

    Em síntese, a definição de lutas numa perspectiva global pode ser dada como modalidade de ensino que mobiliza forças internas (equilíbrio emocional e racional) e forças externas (objetos e pessoas) em prol do movimento corporal para defesa ou ataque (MITHIDIERI, 2012).

3.     Formação do professor de Educação Física

    A Educação Física, segundo os PCN’s é entendida como uma disciplina que versa sobre o conhecimento da cultura corporal de movimento, os esportes, a dança, a ginástica, as lutas, entre outras temáticas que se relacionam com a cultura do movimento e com o contexto histórico-social dos alunos (BRASIL, 1998).

    Neste sentido, o trabalho do professor de Educação Física centra-se dentro de uma concepção de cultura corporal complexa, como a exigida nos PCN’s e tende a uma formação profissional que habilite este professor para desenvolver o exercício da cidadania, uso do espaço, o conhecimento do corpo, os deslocamentos, e outros tantos tópicos delineados neste documento.

    Exige, assim, uma formação com conhecimento sobre teorias e metodologias de ensino e aprendizagem “que busca o desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de valores e princípios democráticos (…) para que se aprofundem discussões importantes sobre aspectos éticos e sociais e corporais” (BRASIL, 1998, p. 24).

    Segundo Nascimento e Almeida (2007, p.100),

    Não há necessidade de termos uma especialização em uma modalidade de lutas, desde que nosso objetivo não esteja pautado na formação de atletas/lutadores, mas sim na produção de conhecimento nas aulas de Educação Física. Isso não quer dizer que devamos desconsiderar as contribuições dos especialistas que dedicam seus estudos a este tema. Necessitamos da reflexão coletiva entre especialistas e não especialistas para produzirmos propostas bem fundamentadas e, com isso, sistematizar novas intervenções que irão contribuir em nossa prática pedagógica e, de certa forma, evitar o distanciamento com o tema.

    Por conseguinte, cabe rever paradigmas de especialização em lutas, para tratar desse conteúdo nas escolas, uma vez que o objetivo da Educação Física Escolar é a formação e o desenvolvimento integral dos alunos. Assim, importa ter domínio do conteúdo a ser tratado nas aulas.

    Segundo Duíno (2013), o professor de Educação Física é graduado e apto para trabalhar com o desenvolvimento motor através do tema lutas, sem, necessariamente ser “faixa preta”. Cabe aos profissionais de Educação Física conhecer o conteúdo didático e prático referente ao tema luta, a fim de elaborar aulas com a utilização desse conteúdo no ambiente escolar.

    Como apresentado anteriormente nos PCN’s, e nas diferentes referências teóricas, a luta exige do professor de Educação Física, o conhecimento corporal, as técnicas (não para fixá-las), mas para superar o tecnicismo e adotar novas estratégias de uso das lutas. Um exemplo seria o rolamento do judô para frente que, independente do judô, esta técnica favorece na proteção do individuo numa queda.

4.     Competições de lutas na escola

    Santos (2009) cita que as competições em âmbito escolar só serão viáveis se forem adaptadas e se suprirem as necessidades dos alunos, que é de desenvolver a capacidade de superação e de recebimento de incentivo, pois todo praticante necessita de competições até mesmo para ver o tanto que progrediu na modalidade. Competição essa que tenha o caráter de forma suplementar, com o principal objetivo de desenvolvimento físico e psicológico dos alunos. A intenção não é de formar atletas de alto nível na escola, isso poderá ocorrer com efeito secundário, mas derivado da dedicação e oportunidades fora do ambiente escolar, com isso o papel fundamental é a educação integral do aluno formando cidadãos.

    A prática competitiva oferece aos alunos situações de sucesso e também situação de derrota, e que seja bem provável que na situação de sucesso o aluno se concentrará muito mais nas aulas e no que o professor lhe transmitirá, contudo, o problema está vinculado à situação de derrota nas competições que corrobora com o abandono da pratica não só de lutas, mas em qualquer situação que pode lhes causar o fracasso, causando situações de frustração imediatas. Com isso, dentro das variáveis mais importantes, é a motivação da parte do professor para com o aluno, a preparação psicológica para que o aluno possa encarar a derrota como um simples obstáculo para conquistar o êxito da vitória (GUEDES, 2001).

    Rosa (2010) cita que todo praticante de esporte de competição está sujeito à derrota, sendo assim, cabe ao professor preparar seu aluno para que após uma derrota ele não venha desistir, pois com um bom trabalho psicológico, o aluno será capaz de perceber que a derrota também faz parte de sua vida, e nada mais é que um obstáculo a ser vencido por si próprio.

    As lutas em forma de competição favorecem o ensino aos alunos quando estes aprendem a enfrentar desafios; compreendem que a vitória e a derrota caminharão lado a lado na vida, e; que a derrota também é uma lição. Entre ganhar e perder é possível aprender que é necessário se preparar mais, e que a vitória é fruto de um trabalho ardo, e muita dedicação (OLIVER, 2000; ROSA e CAMILO, 2013).

    Ao se compreender que no início da escolaridade, a influência psicológica mais marcante que a criança recebe é a do professor, Rosa (2010) relata o papel do professor perante seus alunos é de intervir no comportamento, transformando e transferindo valores filosóficos e culturais através dos princípios das lutas. Relata, também, que oferecer as lutas na escola é contribuir com o processo de ensino-aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento global da criança.

    Rosa (2010) comenta que o professor é um agente formador de opinião, produzindo saberes e gerenciando fazeres na perspectiva de uma prática social, e ainda relata que crianças de 4 a 6 anos de idade estão em formação de habilidades motoras simples, com qualidades e acreditam que tanto os pais como o professor são vistos como super-heróis pelas crianças, sendo assim os professores devem tomar cuidado com certas atitudes perante seus alunos, pois um erro si quer repercutirá na vida todo de seus alunos.

    Acreditamos que o professor deva planejar cuidadosamente suas aulas ao inserir as lutas e a iniciação competitiva, com atividades voltadas ao aprimoramento das habilidades motoras e suas qualidades físicas, sem preocupação com as técnicas, focando nas vivências motoras, tais como rolar, saltar, rastejar, deslocar e também os sentidos como atenção, equilíbrio de forma lúdica. Para a fase entre 7 a 10 anos de idade, as crianças já se encontram com melhor capacidade de aprendizado, sendo assim ideal para a fase iniciação competitiva e também para combinar habilidades motoras através de atividades como as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro, até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê (BRASIL, 1998).

    Cabe lembrar a ideia de competição de Souza et. al (2011, p. 118), considerando que se “a competição assume, na sociedade, o caráter predatório, não é por culpa do jogo, e nem será suprimido deste o aspecto competitivo, que o problema desaparecerá”. Cabe ao professor trabalhar o caráter educativo das competições.

5.     Considerações finais

    O presente estudo levantou questões da formação dos professores de Educação Física associadas ao tema lutas nas escolas, descrevendo uma investigação empírica e teórica para corroborar com a discussão acerca da inclusão das lutas nas escolas em prol da formação integral do aluno.

    Ao apontar algumas definições sobre as lutas, em geral e, também, voltadas para o âmbito escolar espera-se superar a ausência da luta pelos professores que não dominam o conteúdo.

    A reflexão proposta caminhou no sentido de promover a inclusão das lutas nas aulas de Educação Física Escolar a partir da formação dos professores de Educação Física, apontando-se que o professor de Educação Física é apto para trabalhar com o conteúdo das lutas e não precisa ser graduado em um determinado grau ou ter “faixas”. Entretanto, cabe esclarecer que os professores devem entender sobre o que ele estará apresentado e ensinando a seus alunos. Noutras palavras, devem considerar os objetivos do ensino, as competências e habilidades a ser trabalhadas. Lembrar que suas intenções não são de formar atletas, mas sim, voltada para a formação de cidadãos.

    Encerra-se, com o entendimento de que as lutas enquanto modalidade de ensino deva contribuir para o ensino das lutas no contexto escolar, exaltando os benefícios e esclarecendo dúvidas a respeito desse conteúdo pouco explorado, mas riquíssimo em cultura totalmente voltada para o crescimento do aluno, seja, no desenvolvimento de habilidades corporais, na compreensão de valores éticos e morais, no controle da agressividade e do aprimoramento de convívio social dos alunos transformando o individualismo em solidariedade e a disputa em cooperação.

Referências bibliográficas

  • BETTI, Mauro. A janela de vidro: esporte, televisão e educação física. 1997.

  • BINA, C. F. Tavares; MATIAS, T. Souza: Expressão de raiva em praticantes de jiu-jitsu: revisão de literatura. 2009- Disponível em http://www.pergamumweb.udesc.br/dados-bu/000000/00000000000C/00000CFF.pdf. Acessado em: 20/07/2013

  • BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, MEC/SEF, 1998.

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  • GUEDES, Onacir Carneiro (org.). Judô: evolução técnica e competição. João Pessoa: Ed Idéia, 2001.

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  • RUFINO, Luiz G. Bonatto; DARIDO, S. Cristina: Possíveis diálogos entre a Educação Física Escolar e o conteúdo das lutas na perspectiva da cultura corporal. CONEXÕES: Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP 11.1(2013): 144-170.2013.

  • RUFINO, Luiz G. Bonatto; DARIDO, S. Cristina: A separação dos conteúdos das “lutas” dos “esportes” na Educação Física Escolar: Necessidade ou tradição? 2011.

  • SANTOS, Boaventura de S. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000.

  • SO, M. Roberto; BETTI, Mauro: Saber ou fazer? O ensino de lutas na Educação Física Escolar. IV Colóquio de pesquisa qualitativa em Motricidade Humana: As lutas no contexto da Motricidade Humana: 540-553, 2009.

  • SOUZA, T. H. Frota; et al: A importância do voleibol enquanto lúdico e modalidade desportiva dentro da Educação Física escolar. Anuário da Produção Acadêmica Docente 4.7 (2011): 115-124.2011.

  • SILVA, Tomaz Tadeu da., MOREIRA, Antonio Flávio (Orgs.). Territórios Contestados: O Currículo e os Novos Mapas Políticos e Culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

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