A alta da terapia intensiva neonatal, a família e a equipe de enfermagem: uma reflexão sobre a importância do cuidado El alta de la unidad neonatal de
cuidados intensivos, la familia y el personal |
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*Especialista em Educação Profissional na Área da Saúde. Professor de Saúde da Criança, Anatomia, Farmacologia para Enfermagem. Professor de Habilidades de Cuidado e Manejo para Medicina e Farmacologia para Nutrição. Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE) e Faculdade de saúde Ibituruna (FASI) **Professor Especialista, Curso de Graduação em Enfermagem FUNORTE/FASI ***Farmacêutica. Área de atuação: Atenção farmacêutica e clínica ****Acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem FUNORTE (Brasil) |
Tadeu Nunes Ferreira* Álvaro Parrela Pires** Carla Jeane Marinho de Caires Nunes*** Juliana Andrade Pereira**** Mayara Dias Almeida**** René Ferreira da Silva Júnior**** |
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Resumo O presente artigo discute a importância do cuidado de Enfermagem na preparação da família para a alta do neonato da UTI neonatal incluindo os aspectos humanísticos e éticos da abordagem à família. Foram utilizados artigos encontrados nas bases de dados LILACS, Scielo e BDENF com o intuito de fomentar a discussão teórico-filosófica. Percebe-se que é extremamente importante a preparação para a alta desde os momentos iniciais da admissão quando a família ou os responsáveis pelo neonato são acolhidos e orientados de maneira humana e ética, neste sentido a Enfermagem encontra-se em posição de destaque na abordagem ao binômio mãe-filho e à família. Unitermos: UTI neonatal. Enfermagem. Cuidado. Família.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN) é um local onde os recém-nascidos (RN) ficam quando necessitam de cuidados especiais; para fornecer esses cuidados, a UTIN deve dispor de uma equipe multiprofissional, com equipamentos adequados e espaço físico onde deverá existir uma interação entre a equipe de enfermagem e os familiares para a humanização do cuidado.
A hospitalização em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) envolve várias complicações neste processo tanto para o recém-nascido, para a família quanto para a equipe multiprofissional, principalmente a equipe de enfermagem que deve buscar o objetivo freqüente da humanização do cuidado.
As equipes de enfermagem devem ouvir as dúvidas das mães, seus anseios, dificuldades, e mostrarem-se presentes em todos os momentos, orientando, acompanhando, facilitando sua tomada de decisão, cuidando do suporte emocional e psicológico da família, além de tentar amenizar os momentos de dor, sofrimento, separação, angústia e medo, ou seja, cuidar de forma transpessoal do paciente neonatal e de sua família. Nota-se que o cuidado vem sofrendo muitos avanços tecnológicos nas últimas décadas, como a introdução de recursos terapêuticos mais eficazes, tecnologias mais modernas e profissionais especializados (FÁVERO et al., 2011).
O momento da alta, contudo também exige cuidados e preparação sendo também crucial no processo de atendimento das famílias e do neonato. Percebe-se que a alta de bebês da UTI-N para suas casas, demanda da família cuidados especiais, onde as mães tornam-se responsáveis pela atenção domiciliar do seu filho, porém sem que estejam devidamente preparadas (SIQUEIRA et al., 2011).
A continuidade do cuidado à saúde após a alta da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), deve ser feito com um acompanhamento da cliente e da sua família nos diversos níveis de atenção a saúde. (VIERA et al., 2009).
A maioria desses sobreviventes no Brasil é de classe sócio-econômica desfavorecida e com isso sofrem com a dificuldade de acesso ao serviço de saúde pública qualificado para ajudar neste cuidado pós-alta. (SIQUEIRA et al., 2011).
O Projeto Follow-up, estratégia importante para amenizar os problemas de manejo pós-alta, é tido como um importante ponto de acompanhamento e seguimento dos casos abordados em terapia intensiva neonatal tendo como objetivo identificar as anormalidades associadas a eventos pré-natais precocemente para ajudar no tratamento de distúrbios do desenvolvimento neuro-sensorial, e também proporcionar aos pais todas as informações sobre a evolução dos seus filhos. Para o acompanhamento no ambulatório do Follow-up, é necessário o resumo de alta hospitalar que deve ser abrangente, visando às informações sobre as condições pré-natais e intercorrências durante a internação na unidade de terapia intensiva neonatal.
Após a alta do bebê que está internado na UTIN, a família tem que ser informada sobre a tomada de decisão e a necessidade de fazer o acompanhamento do bebê no ambulatório, na puericultura nas Unidades Básicas de Saúde, ou seja, sobre o acesso aos serviços de saúde da atenção primária. Nota-se que a visita domiciliar pode ser utilizada na aproximação do usuário ao serviço de unidade básica de saúde, onde é um instrumento utilizado para a interação da enfermagem no processo de saúde e doença da família e do coletivo. Desta forma o profissional de saúde deve realizar a construção da prática de saúde junto à família na promoção e prevenção. Para que a alegria destas mães pela alta de seus filhos não seja substituída por ansiedade, dúvidas e medo de não saber ou pensar que não tem capacidade do cuidado a equipe multiprofissional do hospital deve orientar as mães ou famílias com as informações necessárias de forma clara e objetiva. Este preparo deve ser iniciado deste o momento da internação na UTIN, onde a mãe sinta-se a vontade para dirimir suas dúvidas, para participar e observar, o que pode ajudar muito na pós-alta. (VIERA et al., 2009).
Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTIN)
Percebe-se que na Unidade de terapia intensiva neonatal encontram-se internados pacientes que necessitam de cuidados diretos e intensivos em decorrência do seu quadro de saúde onde pode evoluir para a morte, por este motivo, a assistência prestada requer intervenções rápidas. (RIBEIRO et al. 2009).
As UTIN’s são estruturas assistenciais com sua atenção voltada aos recém-nascidos extremamente doentes, cuja condição clínica constitui uma ameaça imediata ou potencial à vida, que requer intervenções com tecnologias médicas sofisticadas e caras, como nos casos de prematuridade e enfermidades congênitas (RIBEIRO et al. 2008).
Os recém–nascidos que estão internados na UTI-Neonatal estão submetidos a ruídos que são produzidos por ventiladores, incubadoras, monitores, alarmes, aspiradores de secreção, saídas de oxigênio e ar comprimido, telefones, diálogos estabelecidos entre os profissionais e familiares que podem comprometer o bem-estar do bebê e prejudicar seu desenvolvimento. Estes ruídos desorganizados e em freqüências fisiologicamente incompatíveis com os ouvidos do ser humano podem produzir lesões físicas, alterações psíquicas e comportamentais. Estes ruídos neste ambiente normalmente são incidentais, não escolhidos, e existem sem o controle de volume, duração, localização. (KAKEHASHI et al. 2007).
Compreende–se que nas rotinas das UTIN’s, os profissionais de saúde preocupam-se com a monitorizarão dos parâmetros fisiológicos do bebê, como calibrar os equipamentos, porém não há uma atenção dos profissionais no sentido de se avaliar sistematicamente a ecologia ambiental. A literatura destaca que as práticas assistenciais dirigem-se às vítimas das inadequações ambientais sem uma atitude pró-ativa que assegure a melhoria da ecologia hospitalar. Dentro deste contexto, as UTIN’s devem procurar estabelecer estratégias que possibilitem o cuidado desenvolvido do recém-nascido, adotando condutas que minimizem os estímulos ambientais adversos, dentre os quais o ruído excessivo provoca. (KAKEHASHI et al. 2007).
Critérios de internação na UTI neonatal
Nota-se que a prematuridade (nascimento com idade gestacional menor que 37 semanas) e o baixo peso ao nascer (peso menor que 2500g) são as causas mais freqüentes de hospitalização de recém-nascidos em unidade de terapia intensiva neonatal em países em desenvolvimento. Estas causas são desencadeadas por más condições sociais e econômicas, infecções e um deficiente atendimento pré-natal. (CARMONA et al. 2011).
Os recém–nascidos prematuros são susceptíveis a mortalidade além de complicações decorrentes das infecções, as quais podem levar á paralisia cerebral, ao retardo mental e a outros distúrbios físicos e neurológicos (CARMONA et al. 2011).
Percebe-se que o número de internações nas UTIN’s é considerado elevado, devido às situações anormais de nascimento como prematuridade, baixo-peso ao nascer, hipóxia e outras situações clinícas que predispõem os neonatos a tratamentos especializados para conseguirem sobreviver. (OLIVEIRA et al. 2005).
Humanização do Cuidado da UTI Neonatal
O cuidado dos profissionais de enfermagem é em si mesmo tecnológico, pelo fato de se agregar o saber (ciência) ao fazer (arte e ideal), com uma atenção voltada à dignidade e respeito à vontade do ser humano. Com a utilização dos recursos técnicos e tecnológicos demonstra-se a necessidade de repensar o cotidiano do cuidado. Com a enfermagem utilizando das tecnologias disponíveis para cuidar do bebê e de seus pais confere-se às suas ações uma amplitude riquíssima de sensibilidade, ética, estética e solidariedade humana. (SILVA et al. 2009).
O cuidado humanizado deve consistir em compreender o recém-nascido (RN) em sua totalidade, considerando suas limitações e imaturidade psicobiológica, propiciar e valorizar o envolvimento da família, estimular uma adequada interação entre equipe profissional – RN - mãe, buscar agregar multimétodos para minimizar os danos que o internamento causa no RN, especialmente durante os procedimentos dolorosos. Com o cuidado humanizado proporciona-se adequado crescimento e desenvolvimento e também proporciona-se a recuperação do RN de forma satisfatória sendo possível contribuir para minimização dos efeitos nocivos provocados pela hospitalização na UTIN, além de contribuir para a qualidade de vida do bebê. (REICHERT et al. 2007)
Destaca-se que, ás vezes, torna-se difícil a realização de uma comunicação eficaz e um cuidado humanizado, em algumas UTI Neonatais, pois algumas delas se encontram com superlotação, escassez de recursos materiais e humanos com um ambiente desorganizado e espaços reduzidos entre as incubadoras, com tudo isso os profissionais enfrentam serias dificuldades no desempenho de suas atividades. (LÉLIS et al. 2011).
Dificuldades encontradas no cuidado com os recém-nascidos após a alta da UTI – Neonatal
Nota-se que a hospitalização na unidade de terapia intensiva (UTI-N) para as famílias é uma situação de crise, pois os pais adentram em um ambiente desconhecido. Além do que o bebê real é diferente do imaginado e o sentimento de culpa pela situação do filho atua como fator inibidor do contato espontâneo entre pais e bebês. (COSTA et al. 20011).
A família que se prepara para o nascimento de um filho prematuro e a convivência com a internação em uma UTIN demonstra sentimentos de revolta, culpa, angústia, tristeza, medo, mas também de esperança. Permeando os dias de hospitalização, esses sentimentos tornam-se menos árduos a partir do momento em que a família vai interagindo com equipe de enfermagem e começa a fazer planos para o futuro de seu filho (COSTA et al., 2009).
A família do recém – nascido (RN) tem grande importância durante todas as fases devendo participar dos cuidados com os recém-nascidos para que possam ser capazes de cuidar de seu filho após a alta hospitalar além de se sentirem capazes e seguros quando chegar este momento tão esperado. (RIBEIRO et al, 2009).
Expectativas da família sobre a alta hospitalar da UTI - Neonatal
Percebe – se que para os pais, o nascimento e internação do seu filho, causam uma "tempestade psíquica" quando o recém-nascido idealizado não corresponde ao bebê de uma incubadora. Estes pais, também muitas vezes são prematuros, sentindo-se muitas vezes perdidos e incompletos e com medo de perder o seu filho (CAMARNEIRO et al. 2009).
O processo de alta deve ser planejado e avaliado não só pela equipe médica e de enfermagem, mas por todos os profissionais envolvidos no cuidado desse binômio, que, após concluir que ambos estão prontos, determinam a data da saída do hospital (SOUSA et al. 2008).
A alta hospitalar pode se dizer que representa o rompimento com o mundo da internação hospitalar. Este desligamento não exclui a manutenção do vínculo com a instituição, para seguimentos, pós-alta, pois esta deve, também, ser tida como suporte e apoio do binômio bebê-família. O planejamento precoce promove o envolvimento da família que contribui no desenvolvimento do plano de alta, individualiza as ações e fornece aos pais maior sensação de controle, como também facilita as ações do profissional no momento da alta (COUTO et al. 2009).
A preparação dos pais/familiares dos recém–nascidos para a realização dos cuidados é de extrema importância no desenvolvimento do bebê, por lhes transmitir mais confiança. Assim, as mães devidamente preparadas e conscientes de sua participação na recuperação do bebê tornam-se cada vez mais envolvidas e vinculadas ao processo de melhora de seus filhos. (SIQUEIRA et al. 2011).
Considerações finais
È notória a importância da abordagem humanizada à família de neonatos retidos em UTI neonatal e, ainda, mais considerável o aspecto multiprofissional do cuidado que se reflete em resultados positivos no prognóstico e no processo terapêutico.
A observação da prática de Enfermagem focada no indivíduo e em sua família estabelece diretriz fundamental para o contexto da terapia intensiva neonatal já que constitui área especificamente permeada de delicadas relações éticas, técnicas e interpessoais.
A natureza multidimensional do cuidado aliada a novas tecnologias pode, se bem trabalhada, produzir “momentos de alta” com menos problemas de ordem emocional para as famílias, facilitando, inclusive facilitando o seu ajuste ou adaptação a uma nova realidade na dinâmica familiar.
Sugerem-se novos estudos, especialmente, de caráter qualitativo para observação do fenômeno da alta na perspectiva das mães, familiares e cuidadores de neonatos que passaram pela experiência da internação em unidade de terapia intensiva neonatal.
Referências
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