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Análise da importância do treinamento proprioceptivo 

na iniciação esportiva com foco no futsal feminino

Análisis de la importancia del entrenamiento propioceptivo en la iniciación deportiva centrada en el futsal femenino

 

*Acadêmicas do curso de Educação Física

da Universidade Regional de Blumenau

**Prof. Ms. Orientador

(Brasil)

Camila Joaquim Campo*

camilinha.fts@hotmail.com

Nilsa Kock*

nilsa.k@hotmail.com

Sidirley de Jesus Barreto**

sjb@furb.br

 

 

 

 

Resumo

          O futsal atualmente é uma das modalidades mais praticadas, desde a iniciação esportiva até o alto rendimento tanto por homens ou mulheres. A modalidade praticada na iniciação de forma correta, obedecendo às fases de desenvolvimento da criança irá auxiliar no desenvolvimento das capacidades motoras, estas que possuem papel fundamental na prática do desporto e faz com que o praticante tenha capacidade de realizar os fundamentos. Este estudo tem como objetivo identificar se há melhora significativa no equilíbrio das praticantes iniciantes através do treinamento proprioceptivo. Quanto aos procedimentos utilizados a pesquisa é caracterizada como bibliográfica, pois iremos coletar dados já publicados e os utilizaremos como base para responder a questão em foco. Faremos à abordagem do problema, caracterizando a pesquisa como qualitativa.

          Unitermos: Iniciação esportiva. Futsal. Treinamento proprioceptivo.

 

Abstract

          The futsal is currently one of the most practiced sports, from the iniciation to the high performance, by men and women. If it is practiced, from the initiation, in a correct way, respecting the child's development phases, it will assist the development of motor skills, those that play a fundamental role in the sport and make the practitioner capable of performing the sports grounds. This study aims to identify whether there is a significant improvement in the balance of beginners through proprioceptive training. As for the procedures used, the research is characterized as bibliographic, as we will gather already published data and use it as a basis for answering the question in focus. We will approach the problem characterizing the research as qualitative.

          Keywords: Sports iniciation. Futsal. Proprioceptive training.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Falar de iniciação esportiva significa dizer o momento onde a criança deve experimentar o máximo de movimentos, ter a maior vivência no que diz respeito ao repertório motor e poder executar atividades tendo a liberdade de conhecer e perceber seu corpo. Por termos vivência na prática do futsal feminino resolvemos realizar uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico para saber o Estado da Arte a cerca desta modalidade e assim sendo levamos a cabo a busca de trabalhos científicos em artigos pesquisados no Cielo, Efdeportes, Google Acadêmico e encontramos pouco material que tratasse do tema do futsal feminino como iniciação esportiva.

    Pensamos então em um assunto que envolvesse a formação destas praticantes e uma questão problema para dar início ao estudo, por termos encontrado um trabalho sob o títuloAnálise do treinamento proprioceptivo no equilíbrio de atletas de futsal feminino”, houve a opção de unir o treinamento proprioceptivo à iniciação.

    Falando de treinamento proprioceptivo na iniciação esportiva, pode-se pensar numa ligação direta com a vasta variedade de movimentos, sabemos que este é um grande aliado à prevenção e à reabilitação, assim, busca-se responder a seguinte pergunta: O treinamento proprioceptivo trabalhado deste a infância, respeitando as fases do desenvolvimento da criança trará algum benefício no equilíbrio das praticantes?

    Este estudo parece ser relevante na medida em que há poucos trabalhos sobre o tema no Vale do Itajaí e esta pode ser uma contribuição das pesquisadoras ao curso.

    Este estudo se caracteriza por ser de abordagem qualitativa, na medida em que segundo Souza, Fialho e Otani (2007) a “obtenção de dados através de fontes secundárias” se chama pesquisa bibliográfica.

    Nos tempos modernos, o deporto futsal disputa no cenário mundial e nacional lugar para se firmar, e já é considerado juntamente com o futebol um dos desportos mais praticados, sendo por homens e mulheres, adultos e crianças. Em se tratando do futsal feminino, Santana e Reis (2003) destacam que, a prática deste foi autorizada pela FIFUSA (Federação Internacional de Futebol de Salão) em 23 de abril de 1983. A partir desta data as competições criaram um caráter oficial e a modalidade passou a ser difundida por vários estados, criando assim times profissionais por todo o país, e desenvolvendo pólos de iniciação esportiva.

    Qualquer modalidade esportiva para se chegar ao alto rendimento é necessário possuir uma base, ou seja, um processo de iniciação esportiva, que segundo Voser (1996, p.24) é identificada como “um processo de ensino-aprendizagem mediante o qual o educando adquire e desenvolve as técnicas básicas para o desporto em si”.

    Esta se diferencia do treinamento esportivo de alto nível, que para Mutti (2003, p.25) “é uma fase do rendimento na qual procura-se explorar todas as potencialidades dos atletas, com o objetivo de alcançar resultados cada vez mais expressivos.” Sendo assim os treinamentos ficam mais intensos e é cobrado dos jogadores um elevado grau de profissionalismo.

    Como expresso acima, quando há essa busca por resultados e desempenho, os treinamentos ficam intensos, para que o atleta consiga desenvolver e aperfeiçoar suas técnicas, aliadas a tática do jogo, este esforço pode vir a acarretar lesões ao indivíduo praticante, e por isso deve-se tomar alguns cuidados.

    Mesmo se tratando da iniciação ao desporto, é de suma importância ter a preocupação e o cuidado com a prevenção de lesões. O futsal exige de seus praticantes movimentos bruscos, mudança de direções e muito contato físico, pois os adversários disputam espaço e a bola dentro da quadra, o que aumenta as chances de lesões. Simões (2005) relata que dentre as lesões ocorridas em atletas de futebol estão principalmente a entorse, a fratura-luxação, as lesões musculares e tendíneas. Devido ao contato físico, como dito anteriormente o equilíbrio é um fator importante na preparação dos praticantes.

    Segundo Winter (apud BALDAÇO et al, 2010, p.184) “o equilíbrio, é um processo dinâmico da postura corporal para prevenir quedas, pela manutenção da projeção do centro de gravidade dentro da área da base de suporte do corpo.” Como sendo um componente fundamental, busca-se uma maneira de trabalhar o equilíbrio dentro do treinamento da modalidade, Gauchard (1999, p.83) afirma que “a prática regular de atividades físicas proprioceptivas melhora significativamente o controle postural dinâmico.” Comprovando assim que a utilização destes exercícios auxilia na manutenção do equilíbrio.

    De acordo com Sherrington (apud LIMA e SAMPAIO 2008, p. 279), o termo propriocepção: 

    Refere-se à capacidade de reconhecer a posição das articulações no espaço. Por um sistema de reduplicação em que uma via atinge a consciência e outra não, o cérebro recebe informação quanto à angulação das articulações e, daí, à posição das partes do corpo no espaço, o que leva também o indivíduo a construir a imagem do seu próprio corpo – o esquema corporal.

Iniciação esportiva 

    Com a evolução da modalidade é necessário que haja também um crescimento na parte de desenvolvimento e “atração” de novos atletas, papel esse dirigido à iniciação esportiva, que serve para que a criança tenha o conhecimento teórico e prático das diversas formas de movimento, das variadas execuções, do desenvolvimento da criatividade, da autonomia.

    De acordo com Santana (2004, p. 11) a criança quando iniciada adequadamente ao esporte constrói valores e atitudes. Ressalta ainda quais seriam os fins relacionados ao esporte em tratando dessa perspectiva geral: “proporcionar o prazer; a evolução da consciência; a introdução de uma cultura e lazer; a construção da cidadania; valorização da auto-estima”.

    Para se jogar futsal é necessário possuir habilidades, algumas básicas e outras mais complexas e específicas para a modalidade. Saltar, correr, girar, desviar são habilidades gerais driblar, passar, chutar já são habilidades voltadas para a modalidade, além disso, é necessário também possuir algumas capacidades físicas, que o jogo requer do seu praticante, sendo algumas delas força, coordenação e velocidade.

    A Iniciação esportiva pode ser definida como o primeiro contato da criança com uma modalidade esportiva específica. Segundo Ramos e Neves (2008, p. 01) “compreende o período em que a criança começa a aprender de forma específica e planejada a prática esportiva”.

    Em um estudo sobre a pedagogia do esporte, Freire (2003), afirma que a iniciação esportiva infantil, como, por exemplo, o ingresso em uma escola de futebol pode gerar para a criança um repertório de habilidades bastante diversificadas. Mas esse processo dependerá, em especial, do professor que deve possuir conhecimento para auxiliar no desenvolvimento motor da criança por meio da prática do futebol.

    Para jogar futsal Gomes e Machado (apud NASCIMENTO 2010, p. 04) ressalta que: 

    É necessário que os praticantes dominem os fundamentos em alta velocidade, sem perder o equilíbrio e a objetividade, por isso, o trabalho de iniciação ao futebol e futsal com crianças e adolescentes dever ter uma adaptação adequada, sendo fundamental o respeito ao grau de desenvolvimento de cada aluno, além de satisfazer seus interesses e necessidades. 

    Muito se fala sobre a iniciação esportiva, sua precocidade e seus malefícios para a criança e/ou adolescente. Go Tani (2002, p.144) afirma que:

    Sob o ponto de vista de estudos o desenvolvimento infantil, pode-se afirmar que existem evidências suficientes para uma tomada de decisão coerente e conseqüente sobre o melhor momento da iniciação esportiva. Se respeitadas as características de desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo, social e moral das crianças, a iniciação esportiva, com pequenas variações, dependendo das especificidades da modalidade, deve ocorrer no final da segunda infância, ou seja, entre 10 a 12 anos de idade.

    Oliveira e Paes (2004, p. 4) definem que:

    A etapa de iniciação nos jogos desportivos coletivos é um período que abrange desde o momento em que as crianças iniciam-se nos esportes até a decisão por praticarem uma modalidade. Desta maneira, os conteúdos devem ser ensinados respeitando-se cada fase do desenvolvimento das crianças e dos pré-adolescentes. Sendo assim, optamos por dividir a etapa de iniciação esportiva em três fases de desenvolvimento: fase iniciação esportiva I; fase de iniciação esportiva II; e fase de iniciação esportiva III.

    A fase da iniciação esportiva I corresponde a crianças entre 7 e 10 anos. As atividades devem ter caráter lúdico, participativo e alegre, oportunizando o ensino da técnica desportiva, estimulando o pensamento tático (OLIVEIRA e PAES, 2004).

    Paes (1989) cita que no processo evolutivo a educação do movimento buscando o aprimoramento dos padrões motores e ritmo geral as atividades lúdicas e recreativas tem importância fundamental, pois nessas atividades pode-se trabalhar de forma ampla desenvolvendo capacidades como coordenação, velocidade, flexibilidade e nessa fase da vida da criança entre 7 e 10 anos em média os educandos encontram-se favorecidos devido a plasticidade do sistema nervoso central e as atividades devem ser desenvolvidas sobre diversos ângulos: complexidade, variabilidade, diversidade e continuidade em todo o processo de desenvolvimento (HAHN apud OLIVEIRA e PAES, 2004).

    Na fase de Iniciação esportiva II corresponde aos jovens de 11 e 13 anos aproximadamente, onde os oportuniza nas mais diversas modalidades esportivas. Nessa fase acontece a aprendizagem de diversas modalidades esportivas dentro de suas especificidades (OLIVEIRA e PAES, 2004).

    A terceira e última fase corresponde à faixa entre 13 e 14 anos. Nesta fase deve ser focada a automatização e refinamento dos conteúdos aprendidos anteriormente, e aprendizagem de novos conteúdos de suma importância nesse momento de desenvolvimento esportivo (ibid).

    A iniciação esportiva tem como objetivo aperfeiçoar e desenvolver as capacidades motoras, respeitando o grau de desenvolvimento de cada criança.

    Para Zaciorskij (apud ALMEIDA 2009, p. 13) “as capacidades motoras são definidas como uma condição prévia, o requisito motor básico a partir do qual o homem e o atleta desenvolvem suas próprias habilidades técnicas”. É importante lembrar que cada desporto requer diferentes capacidades motoras, todas são trabalhadas, porém sempre há aquelas que são mais solicitadas. Para Manno (apud ALMEIDA 2009, p. 13) “capacidade motora é um conjunto de funções biológicas importantes para determinar a realização de um conjunto amplo de tarefas, entre elas a estabilidade física do corpo, o equilíbrio”.

Equilíbrio

    O equilíbrio como nos refere Gambetta e Gray (apud ALMEIDA 2009, p. 16) “é o componente mais importante da capacidade atlética por causa do seu envolvimento implícito em quase todas as formas de movimento.” Conforme Ribeiro, (2009, p.25) “para o equilíbrio corporal ser mantido é necessário um conjunto de estruturas funcionalmente entrosadas: o sistema vestibular, o sistema visual e o sistema somatoriosensorial (propriocepção)”.

    O equilíbrio pode ser classificado entre estático e o dinâmico. Na menção de Spirduso et al (apud ALMEIDA 2009, p.17) o equilíbrio estático acontece: 

    Quando uma pessoa se encontra na posição de pé no espaço, o primeiro objetivo é manter o centro de massa sobre a base de suporte. Assim a este comportamento, onde o equilíbrio é mantido sobre uma superfície estável, é usualmente categorizado de equilíbrio estático.

    O equilíbrio dinâmico enquanto uma pessoa caminha sobre sua base de suporte. Uma nova base de suporte deve-se estabelecer a cada novo passo, sobe pena de ao não se estabelecer acontecer o desequilíbrio e, portanto a queda consequente (ibid).

    Sanvito (apud GUIMARÃES 2005, p. 9) coloca que:

    O equilíbrio é dependente de várias estruturas: o sistema motor (força muscular, tônus muscular, reflexos tônicos de postura); a sensibilidade proprioceptiva (a partir dos músculos, tendões e articulações); o aparelho vestibular (cujos receptores informam ao sistema nervoso central a posição e os movimentos da cabeça), o aparelho da visão (encarregado da percepção das relações espaciais) e, o cerebelo (encarregado da coordenação muscular). 

    Para se ter um bom equilíbrio o corpo necessita de informações sensoriais precisas que são processadas eficientemente pelo sistema nervoso central e geram, por conseguinte, respostas de controle motor apropriadas. Desta forma, como destacam Lundy-Ekman et al o sistema nervoso central usa informações dos sistemas sensoriais para construir uma imagem da posição e do movimento de todo o corpo e do ambiente que o cerca (apud GUIMARÃES 2005, p.13).

    Uma maneira de trabalhar o equilíbrio seria através de treinamentos em que estejam inclusos exercícios que sejam voltados para a sensação da posição articular, sensação de movimento do membro, exercícios que tragam à tona a percepção do movimento e do espaço do sujeito. Ou seja, segundo Caovilla e Ganança (apud GUIMARÃES, 2005 p. 9) “a manutenção do equilíbrio corporal é determinada pela integração funcional das informações provenientes das estruturas dos sistemas vestibular, visual e proprioceptivo”.

    A propriocepção permite que o indivíduo estabeleça relações com o meio, enviando ao sistema nervoso central informações sobre a posição dos segmentos anatômicos e padrão do movimento, sendo assim um fator decisivo na correção do gesto motor e prevenção de lesões.

    Como dito anteriormente na Fase I de iniciação esportiva compreendida dos 7 aos 10 anos, a criança encontra-se munida da plasticidade neural, que para Oliveira et al (2001) refere-se à capacidade que o sistema nervoso central possui em modificar algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta às alterações do ambiente. Esta pode ocorrer com crianças e adultos e pode propiciar a aprendizagem de algo novo, substituindo e modificando o comportamento anterior, aquilo que foi aprendido anteriormente.

    Esta fase pode fazer a junção do equilíbrio trabalhado através do treinamento proprioceptivo, onde a criança irá experimentar exercícios que irão instigá-la a modificar seu equilíbrio, experimentar mudança de direção e assim ir auxiliando na aprendizagem da modalidade e auxiliando seu desempenho na mesma. Ou seja, se forem buscados subsídios para a melhora do equilíbrio já na formação da criança, o resultado será mais eficiente, visto que o sistema nervoso central está diretamente ligado a esta ação.

Propriocepção

    Na menção de Francisco (2008) e Boscaini (2012), a propriocepção resulta de um processo através do qual o sistema nervoso central recebe informações de diversas fontes e estímulo (proprioceptivo) que integra para definir e controlar o movimento ou a posição articular. A função dos proprioceptores é veicular as informações sensitivas dos músculos, tendões, ligamentos e articulações até ao SNC podendo ou não ser percebidas conscientemente.

    Na menção de Guyton (1997) e Boscaini (2012) a sensação proprioceptiva como a responsável em informar o cérebro sobre o estado físico do corpo, incluindo sensações como o comprimento muscular, tensão nos tendões, angulações articulares e pressão plantar. Lephart et al (apud CARRIÉRE 1999, p. 211) descreve “propriocepção como um mecanismo de feedback sensorial aferente que engloba a sensação do movimento articular (cinestesia) e a de senso de posição articular.”

    Comentam também que o “comprometimento do mecanismo de propriocepção resulta no comprometimento da estabilização articular neuromuscular reflexa normal, que pode contribuir para a distensão excessiva da cápsula e ligamentos e potencialmente para a continuação da lesão (ibid).”

    Em todos os desportos a ocorrência de lesões é o que mais assusta e preocupa, porém é quase inevitável não sofrer algum tipo de dano relacionado ao treinamento ou ao jogo. Hennig e Henning (2003) relatam que entorses de tornozelo são as lesões ligamentares mais freqüentes e correspondem à aproximadamente 15% de todas as lesões no esporte em geral, e 31% no futebol. Como já se sabe muitos clubes utilizam o treinamento proprioceptivo com muitos objetivos, mas os principais são evitar as lesões e tratar das mesmas, assim como Andrews, Harrelsson e Wilk (2000) deixam em evidência em seu estudo, que o treinamento proprioceptivo tem papel importante no tratamento das lesões ligamentares.

    O treinamento proprioceptivo possui alguns objetivos, sendo os principais a melhora do equilíbrio e coordenação durante as mudanças de direção durante os movimentos na prática do futsal. Segundo Salgado (1995), se o atleta não responder de forma adequada a essas mudanças de direção, os seus segmentos corporais podem exceder alguns limites de amplitude e o mesmo pode sofrer lesões. Daí a importância da propriocepção na prevenção de lesões.

    Já Berthoz (apud BOSCAINI, 2012), ressalta que a propriocepção, enquanto sensação muscular constitui a base da sensação do corpo no espaço. Boscani destaca que o fluxo sensorial contínuo inconsciente atravessa a parte dura e mole do nosso corpo, se tornando o fundamento do ajustamento postural pelo fato de controlar o tônus muscular e a posição das articulações.

    Ainda sobre propriocepção, Knight (2000) conceitua essa como o sentido da percepção e movimento do corpo, porém sabemos que toda ação desenvolvida pelo nosso corpo é e está ligada a outro segmento. Neste caso o sistema nervoso central recebe as informações provenientes da propriocepção, esta que pode ser consciente e inconsciente. 

    Rosa Filho (2000 p. 07) afirma o seguinte: 

    Chamamos de propriocepção consciente toda aquela informação que chega ao córtex cerebral e que permite que saibamos como está o segmento no espaço e de propriocepção inconsciente aquela que é proveniente do arco reflexo, imperceptível e que tem seus trajetos corticais específicos, realizada pelo fuso muscular (ex: contração muscular).

    Na área esportiva, o sistema nervoso e seus receptores têm a função de manter a harmonia dos movimentos do atleta, determinando as reações dos segmentos corporais a fim de tornar os movimentos mais eficientes e menos lesivos, nas articulações, nos músculos e nos tendões. Encontram-se nestes componentes, receptores que levam informações ao sistema nervoso central sobre as condições em que se encontram cada um, como exemplo o estiramento de um músculo, amplitude de um movimento, ou seja, transmitem aquilo que está acontecendo e buscam impedir que tal ação exceda seu limite. 

    Segundo Guyton (1997 p.572): 

    Alguns dos receptores responsáveis pela captação desse tipo de informação sensorial são: receptores de labirinto (estão presentes no sistema vestibular e são responsáveis pela postura e equilíbrio); fusos musculares (estão presentes nos músculos e captam informações sobre alterações do comprimento muscular e a velocidade dessas alterações); órgão tendinoso de Golgi (localiza-se nas junções músculo-tendíneas e informam sobre a tensão muscular); receptores cutâneos (se localizam na pele e transmitem informações sobre o tato, pressão e temperatura); corpúsculos de Pacini (localiza-se na fáscia do músculo e captam informações sobre vibrações e pressão profunda); receptores articulares (estão presentes na cápsula articular e informam sobra a descarga de peso e variações de tensão sobre a cápsula articular que podem modificar a posição de uma articulação); terminações nervosas livres (se localizam nas cápsulas articulares, periósteo e vasos articulares e captam informações dolorosas); outros receptores (os receptores visuais e auditivos auxiliam na captação das informações sensoriais necessárias). 

    A junção desses receptores auxilia na prevenção de lesões e no cuidado que o indivíduo deve ter com o seu corpo, sem ultrapassar limites. Pois sua ferramenta de trabalhar é o corpo, seu organismo, e este deve estar em perfeito estado, para que não venha a prejudicar na prática da modalidade. Daí destacarmos a grande importância da propriocepção da Pedagogia do Esporte.

Considerações finais e recomendações

    Considerando o acima exposto é possível afirmar que o treinamento proprioceptivo contribui e muito para a melhora do equilíbrio das praticantes iniciantes de futsal feminino. Partindo disto podemos perceber a importância de direcionar o treinamento proprioceptivo para todo e qualquer indivíduo que pratique o futsal, visto que esse treinamento tem como principais objetivos trabalhar a consciência corporal do atleta durante as suas atividades e melhorar seu equilíbrio e coordenação durante as mudanças de direção dos movimentos.

    Assim como já é muito debatido, é de fato que primeiramente seja necessário respeitar o processo de desenvolvimento e formação da criança, a menina precisa vivenciar todo e qualquer vestígio de movimento, para que possa assim criar subsídios para praticar a modalidade.

    Pensamos também ser de suma importância se trabalhar o treinamento proprioceptivo das mais variadas formas, fugindo sempre que possível de exercícios sistematizados. Como o enfoque é na iniciação esportiva, o treinamento pode ser transformado em uma prática diferenciada, onde as praticantes tenham um objetivo (equilíbrio), uma ação (exercícios), mas estes serão mascarados por atividades que chamem a atenção não só por ser algo novo, ou trazerem componentes do jogo, mas que se caracterizem por exercícios lúdicos, e que contenham materiais diferenciados dos já conhecidos.

    Recomenda-se ao curso de Educação Física da FURB que busque um foco maior sobre as questões de gênero, iniciação esportiva, propriocepção e futsal feminino, devido à dificuldade encontrada em, por exemplo, obter referências que tratassem do histórico do futsal feminino, assim como trabalhos científicos tratando do treinamento proprioceptivo referente ao curso de Educação Física.

    Deixamos aqui também nossa recomendação com relação a uma pesquisa contendo o mesmo tema, porém que fosse trabalhada de forma quantitativa, buscando dados, aplicando testes e exercícios, para que assim possa confirmar as considerações implícitas neste estudo. 

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