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Representações sociais, inclusão e corporeidade
Representaciones sociales, inclusión y corporeidad

 

*Profª. Drª do curso de Pedagogia da Universidade

do Estado de Minas Gerais UEMG – Unidade Leopoldina

**Profª Ma. do curso de Pedagogia da Universidade

do Estado de Minas Gerais UEMG – Unidade Leopoldina

Profª Ma. do curso de Educação Física da Faculdade

Presidente Antônio Carlos (FAPAC) Leopoldina - MG

***Profª Ma. do curso de Pedagogia da Universidade

do Estado de Minas Gerais UEMG – Unidade Leopoldina

****Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade

do Estado de Minas Gerais UEMG - Unidade Leopoldina

Maria Lúcia Jannuzzi Machado*

Martha Bezerra Vieira**

Aletéia Ribeiro Carvalhaes***

Karina Carvalho Gonçalves Morais****

martha.bezerra@ig.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem como objetivo identificar como as representações sociais parecem ser um caminho promissor para atingir a compreensão da inclusão, na medida em que investiga justamente como se formam o sistema de referência para classificar pessoas, grupos e para interpretar os acontecimentos da realidade no cotidiano escolar. A educação vive atualmente um momento onde a escola não está preparada para ensinar a todos os alunos uma aprendizagem em iguais condições, mesmo porque temos em nossas escolas crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE), tornando-se corpos diferentes ao ambiente escolar, sendo diferentes no conjunto da cultura e conseqüentemente reforçando a concepção de que lugar de pessoa com NEE é fora da escola regular.

          Unitermos: Representações sociais. Inclusão. Corpo. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Em cada ambiente natural ou social existe uma quantidade de autonomia e também de condicionamento, desta maneira as representações sociais possuem duas funções: primeiro, elas se convencionalizam, ou seja, se ajustam aos objetos, pessoas ou até mesmo em acontecimentos, dando-lhes uma forma definitiva, localizando-os em uma determinada categoria e gradualmente colocando-os como um modelo de determinado tipo, distinto e utilizado por um grupo de pessoas. Segundo, as representações sociais são prescritivas, ou seja, elas se impõem sobre todos nós determinando o que devemos pensar. Por tanto, essas representações penetram e influenciam a mente de cada um de nós. São impostas e transmitidas em uma seqüência completa de elaborações e mudanças. Todos os sistemas de classificação e todas as descrições que envolvem uma sociedade refletem um conhecimento anterior, desatando assim, os nós das informações presente.

    Porém, deixamos de incluir as pessoas em nosso ambiente social, a partir do momento em que as caracterizamos com nossa maneira preconceituosa de pensar. Para que haja de fato a inclusão social é importante que os profissionais de educação estejam preparados para trabalhar com metodologias diferenciadas, respeitando o estereótipo, a individualidade, a capacidade cognitiva e os limites de cada um.

    A inclusão escolar envolve, basicamente, uma mudança de atitude face ao outro: que não é mais um, um indivíduo qualquer, com o qual topamos simplesmente na nossa existência e com o qual convivemos certo tempo, maior ou menor, de nossas vidas. Cumprir o dever de incluir todas as crianças na escola supõe considerações que nos remetem à ética, à justiça e ao direito de todos de acesso ao saber e à formação.

    A história da Educação Física Escolar é uma história de exclusão com os alunos menos favorecidos, meninas e pessoas com necessidades educativas especiais, inclusive os que estão fora da forma estética tida como a ideal. A proposta deste trabalho é mostrar aos professores maneiras diferentes de como trabalhar a Educação Física Inclusiva, onde todos possam aprender juntos. Neste caso, cabe principalmente ao professor fazer essa tão esperada mudança, mas para que este trabalho de fato se concretize é necessária a colaboração da sociedade. Criando um ambiente onde as diferenças de corpos não sejam empecilhos para uma convivência harmoniosa.

    O objetivo do professor de educação física na inclusão, como em qualquer outra modalidade de ensino, é o de inserir novos conhecimentos em seus alunos, dando condições para que estes façam uma relação entre seus conhecimentos prévios e os recém adquiridos, sempre respeitando as individualidades, fazendo com que cada um utilize os recursos motores e mentais que possui, exercendo assim seu papel de mediador. O professor deve começar com uma atividade que a criança domine e aos poucos inserir novos elementos fazendo com que o aluno se adapte gerando novos conhecimentos. Assimilada a atividade, é hora de criar novos desafios, e a cada desafio estimular a evolução e o aprendizado. Toda criança tem direito de aprender, e aprender brincando fica mais gostoso. Para isso, o professor deve utilizar o lúdico, que é a linguagem da criança, favorecendo assim, um ambiente de alegria e descontração.

A representação social de corpos diferentes nas aulas de Educação Física

    Segundo Moscovici (2011), cada membro do grupo, independentemente de sua posição, é uma fonte e um receptor potencial de influência. Uma primeira idéia dessa influência é que ela exerce duas direções: da maioria em relação à minoria e da minoria em relação à maioria. Uma segunda idéia é que cada indivíduo é ao mesmo tempo um transmissor e um receptor de influência. Existem também, conflitos e divergências entre os grupos e estas podem estar relacionadas à adesão, às normas e às opiniões, criando uma predisposição à mudança.

    A minoria, que representa a opinião e o comportamento reprimido ou recusado, revela em público o que ocorreu em privado; a minoria exerce sempre certo influxo sobre a maioria e pode incitar à modificação do seu comportamento ou sua atitude, para induzi-la a ser mais tolerante com o que antes estava excluído ou proibido. (MOSCOVICI, 2011, p.75)

    Para o autor Moscovici (2011), mesmo sem termos um estudo específico sobre este tema, é evidente que quando um indivíduo escolhe livremente um modo de viver, ao qual a maioria gostaria de estar vivendo, este serve de modelo, exercendo uma influência libertadora. Não há dúvidas que quando uma minoria tenta influenciar um grupo ou uma sociedade inteira com suas normas e suas idéias encontram uma resistência maior. Porém, aos indivíduos em minoria e aos não conformistas, há uma necessidade de se chegar a um consenso, ou seja, uma aprovação unânime. A força do consenso que é manifestada, direta ou indiretamente, depende de como ela foi imposta. Assim, a minoria, por menor ou mais fraca que seja, poderá não aceitar esse consenso, e esse direito de recusa lhe dá uma força considerável.

    A teoria de Moscovici não se desenvolveu em uma cultura vazia, esta esteve apoiada em Durkheim, um dos maiores fundadores da sociedade moderna. Para o autor, Durkheim descreve que a noção de representação coletiva identifica uma categoria coletiva que deve ser explicada a um nível inferior, ou seja, no nível da Psicologia Social, surgindo assim, a noção de representação social do mesmo. (FARR, 2012)

    Ao longo da história da espécie humana – onde o surgimento do trabalho propicia o desenvolvimento da atividade coletiva, das relações sociais e do uso de instrumentos – as representações da realidade têm se articulado em sistemas simbólicos. Esses instrumentos passaram a ser signos compartilhados por grupos sociais, facilitando a comunicação e a compreensão entre os mesmos. Quando uma pessoa conhece o significado de uma palavra, esta se torna um conceito internalizado por todos, passando a ser uma representação mental servindo como signo mediador no entendimento mundial.

    Cada um de nós está cercado individualmente ou também coletivamente por imagens, palavras, idéias que infiltram em nossos olhos, ouvidos, pensamentos sem que nós os percebam. Dessa maneira, as representações influenciam nossa atividade cognitiva. (MOSCOVICI, 2009)

    A sociedade, em um universo consensual, é tida como um grupo de pessoas iguais e livres. Desse modo, nenhuma pessoa possui uma competência restrita, mas qualquer uma pode adquiri-la, desde que esta seja requerida pelas circunstâncias. As habilidades e as dificuldades de aprendizagem são estudos relevantes em nosso país, devido à gravidade do fracasso escolar. (PRETTE, Z.; PRETTE, A., 2003)

    Assim, em linhas gerais, é descartada a possibilidade do problema do fracasso escolar ser biológica, mesmo porque Prette Almir; Zilda Prette (2009), [...] os índices normativos dos distúrbios neurológicos de aprendizagem são bastante inferiores à incidência de problemas de aprendizagem de nosso sistema educacional, como porque essa perspectiva tende a negligenciar a natureza essencialmente psicossocial do processo de ensino aprendizagem.

    [...] em 1996, ocorreu em todo o Brasil, a ampliação dos serviços de Educação Especial, no setor público e também no setor privado. Sendo assim, o setor privado cresceu, podendo atender um maior número de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), com mais eficiência e com um compromisso ainda mais rígido. Por outro lado, “o crescimento do atendimento pelo poder público ocorreu por meio de classes especiais ou salas de recursos, reservadas à população menos comprometida”. (KASSAR, 2004)

    Nos tempos atuais, todos nós vivemos em meio a constantes mudanças, sejam elas: políticas, econômicas, culturais e até mesmo, desenvolvimentos tecnológicos e científicos. Mesmos sem querer estamos todos envolvidos neste processo de transformação rápida e globalizados. Contudo, essas mudanças entre diferentes sinais de consenso e conflitos, ameaçam os profissionais de educação perante um mundo tão diversificado. (RIVERO; GALLO 2004)

    Temos em nossa vida alguma experiência como que julgamos ser diferente. Infelizmente essa diferença se torna ao longo da vida uma temática intrínseca à própria condição da espécie humana, uma vez que esta sempre esteve presente entre pessoas organizadas de um mesmo grupo social, mesmo sendo uma presença evidenciada pela ação da exclusão. Os problemas sociais começam a partir do momento que rotulamos as pessoas por meio dos nossos preconceitos e estereótipos, considerando que os outros são desviantes em relação à nossa maneira de viver, causando assim a exclusão desses indivíduos. (DINIZ; VASCONCELOS, 2004)

    Diante de tal realidade, Freire (2005), faz o seguinte questionamento: Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão, pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela.

    Segundo Ferreira e Guimarães (2003), no contexto educacional, a integração social é muito mais do que a simples possibilidade das pessoas com necessidades especiais interagirem no mesmo ambiente que as pessoas tidas como “normais”, é também a oportunidade de aprendizado coletivo, utilizando-se ao máximo os aspectos favoráveis do meio para que o aluno obtenha um maior desenvolvimento de sua personalidade.

    Na busca de encontrar respostas às queixas escolares de que as instituições não atendem às reais necessidades de seus alunos, é preciso analisá-las em diferentes perspectivas: a da sociedade, a da escola e a dos alunos(as) e professores(as). A primeira perspectiva é a mais ampla e influência as outras. Não se pode desconsiderar a relação entre a produção escolar e as oportunidades reais que a sociedade dá às diversas classes sociais. Muitas vezes, alunos de baixa renda são classificados como deficientes mentais, com problemas de aprendizagem ou de comportamento e, na realidade, faltam-lhes oportunidades de crescimento cultural, de rápida construção cognitiva dignas de sobrevivência, fatores responsáveis por aumentar suas chances na escola. Neste conjunto de influencias, não se pode deixar de mencionar que a formação e a personalidade do profissional interferem consideravelmente no processo de rendimento do aluno. (FERREIRA e GUIMARÃES, 2003)

    A inclusão escolar envolve, basicamente, uma mudança de atitude face ao outro: que não é mais um, um indivíduo qualquer, com o qual topamos simplesmente na nossa existência e com o qual convivemos um certo tempo, maior ou menor, de nossas vidas. Cumprir o dever de incluir todas as crianças na escola supõe considerações que nos remetem à ética, à justiça e ao direito de todos de acesso ao saber e à formação. (MANTOAN, 2004)

    Para a autora Maria Odete da Silva (2003), a integração implica uma mudança de atitude dos professores do ensino regular. Mudança que tem implícita a aceitação dos alunos com NEE, não apenas porque todos têm os mesmos direitos, mas porque ninguém é igual a ninguém “e turmas homogêneas não existem”. Conhecer metodologias que considerem alunos com NEE e aprofundar conhecimentos sobre a relação da escola com a família são ações de formação contínua e expressas.

    Segundo Sassaki (1997), uma sociedade inclusiva vai bem além de garantir apenas espaços adequados para todos. Ela fortalece as atitudes de aceitação das diferenças individuais e de valorização da diversidade humana e enfatiza a importância do pertencer, da convivência, da cooperação e da contribuição que todas as pessoas podem dar para construírem vidas comunitárias mais justas, mais saudáveis e mais satisfatórias.

    De acordo com as relações sociais na escola e o desenvolvimento da subjetividade, da psicologia histórico-cultural devemos destacar um princípio de ampla implicação para a educação. “A importância deste princípio está na certeza de que o processo ensino-aprendizagem só pode acontecer entre pessoas, as quais devem estar disponíveis para entrarem em um processo relacional de compromisso mútuo, que se circunscreve no âmbito dos processos de comunicação, e que só pode ser colocado como constitutivo de processos de desenvolvimento. As relações sociais projetam a força de motivos e necessidades dos sujeitos, o que nos remetem ao entendimento da unidade cognição-afeto, sem o que a aprendizagem não se estabelece. Experiências e vivências pessoais tornam-se integradoras dos processos de aprendizagem e desenvolvimento, no que nos aproximamos da compreensão da produção, sentido subjetivo contínuo do ser humano”. (TACCA, 2006)

    Analisando o comportamento de alunos em sala de aula, percebemos que algumas crianças aprendem com mais facilidade o conteúdo aplicado, enquanto outras apresentam uma maior dificuldade em assimilar o mesmo conteúdo. Desta forma, cabe ao professor adequar uma metodologia diferenciada a este aluno, respeitando os limites e a individualidade de cada um. O professor precisa estar atento ao comportamento de cada aluno, seja ele agitado ou quieto. Embora os alunos agitados demonstrem maior tendência a não prestarem atenção, os quietos também devem ser observados, pois muitas vezes devido à timidez, deixam de tirar suas possíveis dúvidas, prejudicando assim seu aprendizado. (SAMPAIO, 2011)

    Em relação ao processo de aprendizagem, o professor deve ficar atento também ao aspecto afetivo do aluno. O ambiente familiar deve ser um lugar harmonioso, acolhedor e favorável ao aluno, onde o seu desenvolvimento educacional possa ser continuado.

    Conforme Martinelli (2001), as relações entre os domínios cognitivos e afetivos têm sido discutidas em diferentes perspectivas teóricas. Embora estas nem sempre sejam concordantes entre si, em muitos aspectos não há como negar que existe uma relação entre os fatores afetivos e os atos inteligentes, uma vez que em qualquer atividade que se realiza pode-se notar interesses de ordem intrínseca ou extrínseca, ou seja, um desejo de realização que no decorrer do trabalho pode sofrer interferências de estados de decepção, fadiga, prazer pelo que se tem alcançado, esforço por melhorar os resultados almejados, entre outros sentimentos básicos como agrado ou desagrado, dor ou prazer, alegria ou tristeza, sucesso ou fracasso pelo que se está fazendo, bem como aprovação social e recompensas das mais variadas, desde um simples carinho ou atenção até obtenção de prêmios, presentes ou outras vantagens quaisquer.

    Segundo Soler (2009), falar em inclusão é uma tarefa árdua e difícil, pois apesar de todos sentirmos que é chegado o momento da não-exclusão, da acolhida sincera, do afeto e do amor, as iniciativas, ainda se mostram muito tímidas, uma vez que temos a percepção do que é preciso, mas não temos a ação. Muitas pessoas ainda enxergam o mundo pelos olhos da exclusão, sempre imaginando que não há espaço para todos e querendo o bastante para si, correndo sempre o risco de jogar contra o outro. Ouço falar sobre um tema difícil e polêmico, quando discuto por todos nós. Deixo claro, também, que não tenho a pretensão de tornar minhas palavras em verdades absolutas, até porque não existe tal verdade. Precisamos compreender que somos dependentes uns dos outro o tempo todo, devemos também enxergar o mundo com os olhos da inclusão, onde cada um possa contribuir de alguma maneira, e assim fazer do mundo um lugar para todos.

    A história da Educação Física Escolar é uma história de exclusão com os alunos menos favorecidos, meninas e pessoas com NEE, inclusive os que estão fora da forma estética tida como a ideal. A proposta deste trabalho é mostrar aos professores maneiras diferentes de como trabalhar a Educação Física Inclusiva, onde todos possam aprender juntos. Neste caso, cabe principalmente ao professor fazer essa tão esperada mudança, mas para que este trabalho de fato se concretize é necessária a colaboração da sociedade. Criando um ambiente onde as diferenças de corpos não sejam empecilhos para uma convivência harmoniosa. Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394/96, está acontecendo uma verdadeira revolução no sistema educacional brasileiro, pois a tarefa é transformá-lo em um sistema que reconheça e valorize a diversidade, favorecendo a todos os envolvidos neste processo. (SOLER, 2009)

    Conforme está previsto na LDB, a rede regular de ensino deve estar adequada às necessidades dos alunos especiais. Desta forma, o professor deve estar capacitado profissionalmente para receber estas crianças. A falta de informação leva as pessoas a confundirem o termo inclusão com o termo integração. Na inclusão é a escola que se adapta para acolher as crianças com NEE, de forma justa e sem exclusão, proporcionando infraestrutura adequada, atividades que podem ser realizadas por todos os profissionais capacitados, família e comunidade escolar participativa. Já na integração a escola não sofre modificações, permanecendo com o mesmo padrão, servindo a quem nela conseguir se adaptar. Não devemos criar impedimentos para as crianças com NEE, muito pelo contrário, devemos criar facilidades para que elas possam conviver com as diferenças. Lidar com a diversidade faz com que se crie uma população atenta às diferenças, fazendo com que ela seja valorizada e respeitada. Afastar as crianças com necessidades especiais do convívio com as crianças só faz com que os preconceitos sejam alimentados e reforçados. Devemos ensinar as crianças que, apesar de uma pessoa ter deficiência em uma área, ela pode ter uma hiper-eficiência em outra área, conseguindo-se, com tal atitude, valorizar o potencial de cada um. (SOLER, 2009)

    Segundo Soler (2009, p.23), a escola deve ser um espaço aberto a todos, pois, sendo democrática e acolhedora, estará contemplando a todas as diferenças e individualidades. O que buscamos sempre é a criação de uma sociedade realmente para todos, gerando novos princípios: Celebração das diferenças; Direito a pertencer; Valorização da diversidade humana; Qualidade de vida para todos; Direito à felicidade; Soma das minorias criando uma maioria absoluta.

    Para Soler (2009), o objetivo do professor de educação física na inclusão, como em qualquer outra modalidade de ensino, é o de inserir novos conhecimentos em seus alunos, dando condições para que estes façam uma relação entre seus conhecimentos prévios e os recém adquiridos, sempre respeitando as individualidades, fazendo com que cada um utilize os recursos motores e mentais que possui, exercendo assim seu papel de mediador. O professor deve começar com uma atividade que a criança domine e aos poucos inserir novos elementos fazendo com que o aluno se adapte gerando novos conhecimentos. Assimilada a atividade, é hora de criar novos desafios, e a cada desafio estimular a evolução e o aprendizado.

    Toda criança tem direito de aprender, e aprender brincando fica mais gostoso. Para isso, o professor deve utilizar o lúdico, que é a linguagem da criança, favorecendo assim, um ambiente de alegria e descontração. Os professores precisam ficar atentos aos métodos utilizados no desenvolvimento das atividades, evitando os excessos de competitividade, estimulando o processo de cooperação e criando assim, um ambiente de inclusão, respeito e solidariedade. Deve ser lembrado que as crianças com NEE não são menos desenvolvidas, elas simplesmente se desenvolvem de maneira diferente, ou seja, conforme suas necessidades e limitações. O papel do professor é de fundamental importância dentro da aprendizagem cooperativa, pois ele deve possuir habilidades para integrar o grupo, reforçando a cooperação. Integrar o grupo pode ser uma tarefa muito difícil, já que ele terá dentro de uma mesma sessão pessoas com habilidades, personalidades, meio cultural, gostos e vontades diferentes. (SOLER, 2009)

    A exclusão e a inclusão são termos normalmente utilizados nas escolas, referindo-se aos alunos com NEE. Sabemos que estes não são os únicos que sofrem com esta discriminação. Na realidade, toda e qualquer pessoa fora do padrão, tido como o “modelo ideal”, seja por comportamento, aparência física, situação financeira, condições sociais e/ou culturais, sofrem conseqüências desastrosas. Contudo, é muito importante que a escola se preocupe com os aspectos sociais gerados dentro da instituição, porque estes mesmos alunos excluídos na escola, também são rejeitados fora dela, pela sociedade. (FERREIRA, 2006)

    O professor deve ficar atento ao seu comportamento em relação ao aluno, pois este contato fará toda diferença no processo de ensino-aprendizagem. O bom relacionamento professor-aluno deve ser cultivado, “a fim de promover o desenvolvimento da criança e mesmo para tornar os professores mais afetivos no incentivo ao estudo dos conteúdos escolares”. (DE VRIES e ZAN, 1998, P. 53. apud FERREIRA, 2006)

    Segundo Ferreira (2006), a criança é um ser em desenvolvimento e, por causa disso, suas necessidades mudam, surgem novos interesses e novas maneiras de se relacionar com o mundo. É uma fase interessante em que muitos comportamentos e atitudes acabam por rotulá-las de desatentas, impulsivas, hiper-ativas, problemáticas e enfim, são tratadas diferentemente das outras, o que pode ocasionar a exclusão e a evasão escolar. A educação Física, na sua prática, ao remeter o papel de brincar, oportuniza a criança novas formas de aprendizagem, mais dinâmicas, devolvendo-lhe a autoconfiança, a autoestima, concretizando, assim, a referida aprendizagem.

    “Brincar é indispensável à saúde física, mental e intelectual da criança. É uma arte, um dom natural que, quando bem cultivado, irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto.” (CUNHA, 1988, p. 19 apud, FERREIRA, 2006, p. 67).

    Sendo assim, a Educação Física no ensino fundamental deverá associar uma pedagogia de desenvolvimento que respeite aquilo que acriança trás em si e uma pedagogia de formação preocupada em proporcionar-lhe mais poderes sobre si próprios e sobre o mundo, desempenhando, pois um papel central na aquisição da imagem do corpo operatório, condição da disponibilidade pessoal, em relação ao meio material e humano, além de praticar uma intervenção que forme “(...) um cidadão que lute para que o profundo abismo entre incluídos e excluídos seja diminuído, e quem sabe, um dia, eliminado”. (CHALITA, 2001, p.129, apud FERREIRA, 2006, p.70).

    Diante de tal realidade, para Ferreira (2006), educar é um ato consciente e planejado do educador a fim de tornar o educando consciente, engajado e construtor de uma nova realidade. É também superar a fragmentação, enfrentando criticamente uma organização social problemática e valorizando o conjunto de capacidades do ser humano por inteiro, na sua totalidade.

    A educação física trabalhada juntamente com outras disciplinas, possibilita ao aluno uma formação psicofísica-social e a construção de novos conhecimentos de forma significativa. Desta maneira, os profissionais de educação poderão identificar com mais facilidade as possíveis dificuldades que cada criança possa apresentar. Faz-se necessária a superação dessa fragmentação, por meio dos diálogos dos saberes e, com certeza, da ação docente, no sentido, de rever conteúdos, métodos, processos avaliativos, apoiados em fundamentos consistentes, na busca de uma nova forma de ensinar e aprender. (FERREIRA, 2006)

    Diante do exposto, vimos que a socialização não é apenas um mecanismo de adaptação, que provoca, através de determinantes externos, uma mudança de comportamento e, respectivamente, uma mudança de ponto de vista. A pessoa dispõe de mecanismos de controle, resultantes de processos de socialização precedentes que determinam a reação aos estímulos externos. (SARAIVA, 2005)

    Ao estado atual do desenvolvimento da teoria correspondente o entendimento sobre socialização, como processo de formação do sujeito, que se realiza a partir dos fundamentos de seu equipamento biológico, através de atividades e comunicação em identidade e capacidades. (HEINZ, 1987, p. 988, apud SARAIVA, 2005, p. 111).

    Segundo Roberto S. Perfeito (2011), a Educação Física é constituída de uma magia pedagógica. Através desse poder, existe a possibilidade de refletir sobre o significado da motricidade corporal, que tipo de educação no corpo e fora dele à escola vem realizando e quais suas determinações sócio-históricas. A aula através do movimento utiliza o desenvolvimento do corpo como ferramenta para uma aprendizagem além do mesmo. Este, a todo o momento, sofre intervenções com o objetivo recriá-lo para as necessidades sociais. Essas obrigações corporais foram produzidas ao longo da história através de culturas e necessidades de produção da própria sociedade. Para que não seja considerada apenas um objeto moldável, a estrutura corporal precisa ser alvo de ensinamentos. A educação corporal está diversas vezes ligada à educação do comportamento. Educando o corpo podemos instruir o ser humano.

    Para Perfeito (2011), ao pensarmos em educar através do corpo, verificamos alguns equívocos que ocorrem nas aulas de Educação Física. Entre eles o de maior valia é o que trata da atribuição do pertence da educação corporal para a Educação Física. A tarefa de atividades envolvendo movimento, motricidade, sem dúvida pertence a essa disciplina e social. No entanto, o ensino do comportamento corporal ocorre em diversas esferas do conhecimento, como na pedagogia. Portanto o ensino através das ações corporais deve ser trabalhado de forma multidisciplinar.

    Para que possamos unir a educação física e a finalidade de formação de um cidadão, é necessário realizar uma leitura mais reflexiva e profunda da cultura e do histórico do corpo de maneira individualizada. Devemos fixar nossos olhares na interseção social, criação e recreação deste corpo dentro de seu espaço e inserido num ambiente mais amplo, que é a sociedade que o rodeia. Não basta apenas estudar sua cultura e como ele funciona anatomicamente, fisiologicamente e biomecanicamente. Existe a necessidade de fragmentar e observar cada parte de sua história. Então conseguiremos entender quais são suas conquistas e falhas e trazer atividades pedagógicas inerentes a cada aluno. (PERFEITO, 2011).

    O ensino e aprendizagem do corpo e no corpo dependem da reflexão sobre as possibilidades do mesmo. Não existe ensino, comunicação e aprendizagem, sem entendermos o movimento, sua expressão, os gestos, a fala, o olhar, o toque, enfim, o corpo por completo. Não como algo subjetivo, mas sim como um depósito de sentimentos de alegria e de tristeza que subsidiam, muitas vezes, suas ações. (PERFEITO, 2011, p.85).

    Diante da realidade, Perfeito (2011) relata que o processo de aprendizagem corporal depende também de como o vemos. Deve-se considerar nossa composição corporal em movimento como uma união entre sujeito e objeto, numa relação de vias, que nem sempre é harmônica, porém constantes, trazendo junto às diferenças e desestabilidades, brechas para a inserção das informações. É justamente neste momento que o professor deve intervir e descobrir maneiras de entender as dificuldades e garantir a harmonia entre corpo e conhecimento.

Conclusão

    Diante do exposto a sociedade, em um universo consensual, é tida como um grupo de pessoas iguais e livres. Desse modo, nenhuma pessoa possui uma competência restrita, mas qualquer uma pode adquiri-la, desde que esta seja requerida pelas circunstâncias. As habilidades e as dificuldades de aprendizagem são estudos relevantes em nosso país, devido à gravidade do fracasso escolar.

    Uma sociedade inclusiva vai bem além de garantir apenas espaços adequados para todos. Ela fortalece as atitudes de aceitação das diferenças individuais e de valorização da diversidade humana e enfatiza a importância do pertencer, da convivência, da cooperação e da contribuição que todas as pessoas podem dar para construírem vidas comunitárias mais justas, mais saudáveis e mais satisfatórias.

    Pensar nas diversas possibilidades do corpo nas aulas de Educação Física é refletir sobre o quando e como ensinar as inúmeras áreas científicas pertencentes a essa atividades. Assim, educaremos o aluno a mais tarde se “portar” como cidadão social, priorizando a cooperação, respeitando e entendendo os seus sentimentos e dos outros.

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