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Relação entre Gallahue e Ozmun e Piaget em uma criança de 9 meses

Relación entre Gallahue y Osmun y Piaget en un niño de 9 meses

 

*Discentes do curso de Educação Física

da Universidade Salgado de Oliveira

**Docente do curso de Educação Física

da Universidade Salgado de Oliveira

(Brasil)

Raquel Carneiro Gontijo*

Cristiene Fernandes Loiola*

Edgar José Ribeiro*

Isadora Caroline Guimarães*

Profª Daniela Dias Barros**

edgar_ribeiro@live.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo de caso visa relacionar a fase Motora Reflexa de Gallahue e Ozmun com o estágio Sensório-motor de Piaget e comparar esses estudos através de referências teóricas dos mesmos com os dados coletados em uma observação feita com uma criança de nove meses, realizada no dia 01 de maio de 2012. Neste viés iremos conceituar, caracterizar e estabelecer semelhanças desses estudos com a fase que se encontra a criança que foi observada. Por esse raciocínio confirmaremos com mais uma pesquisa, entre tantas outras, o fundamento desses importantes estudos no aspecto motor e intelectual na fase cronológica da respectiva criança.

          Unitermos: Relação das fases de desenvolvimento. Fase Motora Reflexa. Estágio Sensório-motor.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desenvolvimento humano inicia-se na concepção e segue até sua morte, sendo permanentemente modificado e envolvido por vários comportamentos como citado por Gallahue e Ozmun (2005), “o desenvolvimento é um processo contínuo que se inicia na concepção e cessa como a morte. O desenvolvimento inclui todos os aspectos do comportamento humano; é permanente”.

    Piaget (1982) demonstrou a importância dos movimentos no curso do desenvolvimento intelectual do indivíduo, mostrando os comportamentos do ser humano para se desenvolver. Do nascimento até os seis anos de vida a criança deve passar por muitas experiências com o seu meio para conquistar um desenvolvimento desejável para sua vida, por ser a época mais favorável para essas aquisições como relata Hottinger (1980), “as experiências que a criança tem durante este período determinarão, em grande extensão, que tipo de adulto a pessoa se tornará”. Não só as experiências, mas a maturação e as características individuais atuam como fatores para o desenvolvimento da criança (Hottinger, 1973). Connolly (1977) também defende que o desenvolvimento motor se deve às mudanças biomecânicas ocasionadas pelo crescimento físico, maturação neurológica (aspecto mais estrutural) e às mudanças oriundas do desenvolvimento cognitivo (aspecto mais funcional).

    O desenvolvimento é um processo, então é contínuo, ordenado e seqüencial para todas as crianças, apenas com a progressão diferenciada da velocidade como diz Kay (1969). Para exemplificar esse processo caracterizaremos a fase motora de Gallahue e Ozmun, e o período sensório-motor de Piaget relacionando-os com a observação da criança escolhida para tal.

Metodologia

    Através de uma pesquisa quantitativa buscou-se investigar a relação entre o estudo de Gallahue e Ozmun, o estudo de Piaget, com observações objetivas da criança Fernando de Sousa. A partir do levantamento e da análise desses dados foram elaborados quadros com essas características para então precisarmos se esta criança tem o desenvolvimento motor corresponde ao que esses autores julgam ideal para sua faixa etária.

Resultados

    Para o estudo de caso proposto, relacionaremos as características da fase Motora Reflexa de Gallahue e Ozmun, com o estágio Sensório-motor de Piaget e as características relatadas na observação da criança de nove meses, realizada no dia 01 de maio de 2012, em três quadros de dados.

Quadro 1. Características da fase Motora Reflexa de Gallahue e Ozmun

Faixa etária

Características

Reflexos primitivos de sobrevivência e movimentos voluntários consecutivos

Nascimento até sexto mês

Reflexo de Moro

Nascimento até terceiro mês

Reflexo de sucção

Após o terceiro mês

Reflexo de sucção formou base para o movimento voluntário de sucção

Nascimento até dois meses

Reflexo palmar

Dois a três meses

Movimentos de abrir a mão passivamente

Quarto mês em diante

Reflexo palmar formou base para os movimentos voluntários de mãos abertas, brincar com as mãos, manipulação de objetos

Quarto mês até um ano

Reflexo plantar

Terceira semana até um ano

Reflexo de busca

Após um ano

Reflexo de busca formou base para o movimento voluntário de posicionamento da cabeça

Reflexos primitivos posturais e movimentos consecutivos

Nascimento até o quarto mês

Reflexo de marcha, que desaparece até o quinto mês

Do sexto mês até ano

Reflexo de marcha formou base para o movimento voluntário de ficar em pé com apoio e os primeiros passos

Depois de um ano

Movimento voluntário de andar sozinho

Décimo primeiro dia após o nascimento

Reflexo de nadar

Segundo ao sexto mês

Reflexos corretivos labirínticos e visuais

Terceiro ao quarto mês

Reflexo de levantamento dos braços para tentar manter-se ereto

 

Quadro 2. Características do período Sensório-motor de Piaget divido em seus subestágios

Faixa etária

Características

Reflexos inatos

Nascimento até um mês

Sucção de todo objeto colocado próximo à boca e o olhar

Reações circulares primárias

Primeiro ao quarto mês

Preensão, olha na direção de um som, suga também algo que consiga levar a boca, imita um som que alguém faça que a criança já produzia

Reações circulares secundárias

Quarto ao oitavo mês

Aprendizagem por ensaio e erro por ser mais consciente dos eventos externos, imitação de esquemas que já fazem parte do seu repertório, procura por algo parcialmente escondido, aplica esquemas já conhecidos associando-os como chupar, sacudir e bater, ou balançar o braço faz soar o chocalho

Coordenação de esquemas secundários aplicados a relações de meios-fins

Oitavo mês a um ano

Sucessão de ações organizadas com repetições como sacudir o chocalho para fazê-lo soar, imitação aproximada do observado como chocar as mãos para bater palmas, esquema para uma meta como retirar um obstáculo entre ela e o brinquedo para poder pegá-lo, provoca deslocamento de objetos, distingui pessoas conhecidas de estranhas podendo chorar se não conhecer, repetição da conduta aprendida, aparecimento da intencionalidade, engatinhar, agarrar, buscam objetos onde o viram mesmo que viram que mudaram o objeto de lugar

Reações circulares terciárias

Um ano até os dezoito meses

Esquemas com mais ensaios de procedimentos até atingir a resposta correta por ter relação com meios-fins e intencionalidade como para passar por um cabo de vassoura caído no chão tropeça, mas consegue pensar em passar do seu lado, ou puxa a coberta para pegar o objeto que esta em cima dela; experimentação de novas maneiras de brincar com o objeto; andar; imitação e ensaios permitem incorporar novos esquemas

Início do pensamento representativo

Dezoito meses até os dois anos

Uso dos símbolos para representar mentalmente os objetos como palavras, números; imitação adiada do que não tenham visto; capacidade de fingir e assim representar brincadeiras dramaticamente; capacidade de objeto totalmente desenvolvida

 

Quadro 3. Transcrição detalhada das ações observadas da criança da pesquisa

Faixa etária: nove meses

Características

Bate palmas

Consegue parcialmente dar ‘tchau’

Engatinha com facilidade

É atento aos sons em volta

Reconhece quando seu nome é chamado, ou outro estímulo que lhe chame atenção

Levanta facilmente se apoiando nas coisas

Senta sozinho

Rola facilmente

Quando utiliza o andador, se movimenta para frente e para os lados

Quando deixa um objeto cair no chão, consegue se mover até ele para pegá-lo

Trava o pescoço e a coluna na brincadeira “serra serrador”

Tenta se comunicar (falar)

Quando colocado em um lugar instável tenta se estabilizar sozinho

Consegue manusear um objeto de uma mão para a outra facilmente

Coloca os objetos na boca

Anda apoiando em móveis

Balança o chocalho para fazer barulho

Quando ouve música acompanha mexendo pernas e braços

Duplica as sílabas

Retira e coloca de volta os brinquedos na caixa de brinquedos

O movimento que lhe chamar a atenção observa e após o término faz a imitação desse mesmo movimento se for possível

Discussão

    O desenvolvimento motor de Gallahue e Ozmun é marcado por fases, a fase Motora Reflexa, a fase de movimentos Rudimentares, a fase de movimentos Fundamentais e a fase de movimentos Especializados.

    A fase Motora Reflexa de Gallahue e Ozmun inicia dentro do útero da mãe aproximadamente até o primeiro ano de vida. Berns (2002) concordando com esses autores, diz que os movimentos desta fase são chamados de reflexos, classificados como reações não aprendidas, automáticas, involuntárias e inatas de uma parte do corpo a um estímulo externo. Aproximadamente até o quarto mês ocorre a codificação de informações do ambiente, busca pelo alimento e pela sobrevivência. No fim deste mesmo mês ocorre a decodificação de informações e surgimento dos primeiros movimentos voluntários e desaparecimento de certos reflexos.

    Até aproximadamente o quarto mês o bebê atravessa o estágio de codificação de informações, (GALLAHUE; OZMUN, 2005), no qual as diversas reações causadas por seus centros cerebrais inferiores servem como meios primários para conhecer seu ambiente, buscar alimentos e procurar proteção. Ao final do quarto mês tem inicio o estágio de decodificação de informações, proposto pelos mesmos autores supracitados.

    É quando o comando subcortical dos movimentos do bebê começa a ser substituído por atividade motora voluntária gerenciado pelo córtex, agora mais desenvolvido. Isto quer dizer que neste momento o bebe começa a ganhar controle sobre seus movimentos através de sua nova habilidade de processar informações, ao passo que a reação instintiva a estímulos vai sendo paulatinamente superada.

    O estágio Sensório-motor de Piaget inicia no nascimento e segue até aproximadamente os dois anos. Nessa fase ocorrem os primeiros esquemas compostos principalmente por reflexos e atos simples. Desta forma:

    os esquemas de inteligência sensório motora não são, com efeito, ainda conceitos, pelo fato de que não podem ser manipulados por um pensamento e que só entram em jogo no momento de uma utilização prática e material, sem qualquer conhecimento de sua existência enquanto esquemas... (Piaget 1978, págs. 10-11)

    A partir dos reflexos neurológicos básicos o bebê constrói esquemas de ação para assimilar e acomodar informações, e desta forma ocorre à adaptação mental ao meio ambiente continuamente. Além desta capacidade, herdam uma tendência de combinar vários processos físicos e/ou psicológicos distintos em um sistema de bom funcionamento que Piaget chamava de capacidade de organização. A adaptação e a organização operam durante toda a vida mudando as formas de lidar com as situações, por isso Piaget propôs os estágios.

    São quatro estágios, o Sensório-motor, o Pré-operatório, o Operações concretas e o Operações formais, onde segundo Piaget o pensamento se desenvolve na mesma seqüência fixa para todas as crianças, e os estágios surgem do que foi aprendido no estágio anterior. Ele enfatiza a hereditariedade como sendo fator primordial para o desenvolvimento, sendo o meio social e físico de interferência momentânea para este. Para nosso estudo iremos relatar somente o estágio Sensório-motor.

    A partir dos dados dos três quadros verificamos que há relação dos movimentos executados pela criança Fernando de Sousa, de nove meses, com os descritos na fase Motora Reflexa de Gallahue e Ozmun, e no período Sensório-motor de Piaget.

    A criança observada, dentro de sua faixa etária é considerada uma criança sem prejuízos motores, e futuramente deverá ser um indivíduo bem sucedido nas áreas cognitiva, afetiva e psicomotora, se houver contínua estimulação de acordo com seu desenvolvimento.

Conclusão

    Apesar de Gallahue e Ozmun serem estudiosos da concepção desenvolvimentista, ou seja, voltados para o desenvolvimento da criança com ênfase na complexidade de movimentos que ela pode executar em determinada faixa etária indissociando os fatores individuais, de tarefa e de experiência. E de Piaget, estudioso da concepção construtivista, que explica o desenvolvimento da criança através da construção do conhecimento em interação com o meio ambiente, onde o fator crucial é o cognitivo.

    Só vem a comprovar que, independente da concepção escolhida pelo professor de Educação Física Escolar para trabalhar em suas aulas, o mais importante é a atenção a todas as características apresentadas pelos seus alunos no dia-a-dia do seu desenvolvimento motor. Pois o grande observador de todas as falhas, regularidades ou aptidões dessas crianças somos nós, e o nosso papel é estimular esse desenvolvimento de maneira correta para conseguirmos o melhor benefício para nossos alunos com o mínimo de prejuízo possível.

Referências

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