efdeportes.com

Queixas musculoesqueléticas e a atividade de agricultura familiar

Molestias musculoesqueléticas y la actividad de la agricultura familiar

 

*Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Universidade Federal de Santa Catarina

**Instituto de Ensino Superior da Grande Florianópolis

Universidade Federal de Santa Catarina

***Universidade Federal de Santa Catarina

****Faculdade SOCIESC

Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

Carlos Aparecido Fernandes, M.Sc.*

fernandesutfpr@gmail.com

Giuliano Mannrich, M.Sc.**

gmannrich@gmail.com

Giselle Schmidt Alves Díaz Merino, M.Sc.***

gisellemerino@gmail.com

Clarissa Stefani Teixeira, D.Eng.****

clastefani@gmail.com

Leila Amaral Gontijo***

leila@deps.ufsc.br

Eugenio Andrés Diaz Merino, D.Eng.***

eugenio.merino@ufsc.br

 

 

 

 

Resumo

          Esse estudo buscou associar as queixas musculoesqueléticas com as posturas de agricultores familiares durante o plantio e extração manual da mandioca. As posturas assumidas ultrapassam os ângulos recomendados pela literatura levando a percepção de queixas musculoesqueléticas nas diferentes regiões corporais e conseqüentemente problemas de ordem física.

          Unitermos: Queixas musculoesqueléticas. Postura. Agricultura familiar.

 

Resumen

          Este estudio trata de asociar las molestias musculoesqueléticas con las posturas de los agricultores familiares durante la actividad de plantación y de extracción manual de la mandioca. Las posturas asumidas superan los ángulos recomendados por la literatura y conducen a la percepción de los problemas musculoesqueléticos en diferentes regiones del cuerpo y problemas físicos en consecuencia.

          Palabras clave: Molestias musculoesqueléticas. Postura. Agricultura familiar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A agricultura nos países desenvolvidos vive uma fase de mecanização tecnológica possibilitando maior proteção e o menor esforço diante da demanda proporcionada pela lavoura. A tecnologia disponibilizada para as atividades no campo vem gerando aumento de produtividade e redução do impacto do trabalho físico frente à saúde funcional do trabalhador rural (RODIGUES, 2012).

    Entretanto, a realidade para atividades de cunho familiar – agricultura familiar – que hoje representa 90% da produção de estados brasileiros como caso de Santa Catarina, ainda se identifica poucos mecanismos tecnológicos e consequentemente atividades que requerem esforços manuais (EPAGRI, 2012).

    Esses esforços são responsáveis pelos índices de problemas de saúde que acometem os trabalhadores e que muitas vezes levam a incapacidades para o trabalho.

    Considerando apenas dos dados de acidentes na agricultura, o Anuário de Proteção Brasileiro (2013) apresenta números que chegam a 1.483.790 de trabalhadores acometidos no último ano no Brasil. Entretanto, dados de afastamentos em função de problemas de ordem musculoesquelética que especifiquem as diferentes atividades realizadas na agricultura e associem essas atividades ao problemas encontrados ainda precisam ser desenvolvidos. Baseando-se nessas premissas o presente estudo busca associar as queixas musculoesqueléticas e as posturas assumidas de agricultores familiares sob enfoque do plantio de mandioca.

Procedimentos metodológicos

    O presente estudo foi realizado na região de Biguaçu em Santa Catarina – Brasil – especificamente na região de três Riachos onde estão inseridas as comunidades de São Mateus, São Marcos, Canudos e Fazendas. Esse estudo teve como enfoque os agricultores familiares pertencentes aos grupos produtivos de pequeno porte do Estado de Santa Catarina que tivessem como produção o plantio da mandioca. Ao todo participaram desse estudo 18 trabalhadores, sendo todos visitados em suas propriedades.

    A coleta de dados foi focada na identificação dos sintomas osteomioarticulares associados ao desenvolvimento do trabalho. Especificamente para a identificação das queixas de dor e/ou desconforto corporal foi utilizado o questionário nórdico de sintomas osteomusculares (QNSO) traduzido e adaptado para o português por Pinheiro; Trócoli e Carvalho (2002). Este instrumento é composto por um mapa corporal dividido em diversas regiões anatômicas (cervical, ombros, cotovelos, antebraços, punhos/mãos/dedos, região dorsal, região lombar, quadris e coxas, joelhos, tornozelos/pés), devendo o respondente relatar a ocorrência de sintomas osteomusculares (como dor, formigamento e dormência) nas diferentes regiões corporais. Para esse estudo foi solicitado aos trabalhadores à referência dos sete dias anteriores à aplicação do instrumento considerando cada uma das regiões corporais.

    Para a identificação das atividades dos trabalhadores foi utilizada a análise da atividade proposta por Guérin et al (2001). Além disso, de acordo com os dados da literatura se buscou realizar associação entre as atividades desenvolvidas, as queixas dos trabalhadores e os fatores fisiológicos enfrentados na rotina de trabalho.

    Para as avaliações das posturas foi utilizada uma câmera de vídeo (JVC GR-D370U, Japan) no modo automático com captura de imagem de 60 quadros por segundo, posicionada a dois metros e perpendicularmente ao plano sagital dos agricultores. As análises foram realizadas de forma qualitativa e individual por dois especialistas na área de cinesiologia. Havendo divergências de resultados ambos realizaram uma nova análise conjuntamente. As análises indicadas no presente estudo enfocam principalmente os pontos de maiores problemas na realização das atividades e que se associem de alguma maneira as queixas relatadas pelos trabalhadores.

Resultados e discussão

    De maneira geral, os indivíduos que trabalham na agricultura familiar representam populações acima de 45 anos. No presente estudo, a média de idade encontrada foi de 50 ± 6 anos para homens e 47 ± 4 anos para mulheres, apresentando uma estatura que varia de 1,50 ± 0,4 m a 1,84 ± 0,3 m.

    O fato dos trabalhadores estarem na meia idade faz com que os principais sistemas biológicos comecem a apresentar declínios funcionais. Esses declínios variam de 10 a 30% em relações aos valores máximos de quando essa pessoa era adulta jovem (SHEPHARD, 2003; DE MORAES, DE MORAES e LIMA 2010). Os mesmos autores indicam que nessa idade os indivíduos começam a apresentar um risco maior de ocorrência de lesões osteomioarticuares em função do envelhecimento fisiológico do corpo.

    Para Brito e Litvoc (2004) o envelhecimento é um fenômeno que atinge todos os seres humanos e é caracterizado como um processo dinâmico, progressivo e irreversível, ligados intimamente a fatores biológicos, psíquicos e sociais. Entretanto, mesmo que inerente, o envelhecimento pode ser evidenciado ou potencializado pelo trabalho na roça, que em sua rotina aumenta a exigência dos segmentos corporais, aumentando as sobrecargas e degenerações ao longo dos anos de exposição à rotina laboral.

    Considerando a rotina laboral, os trabalhadores apresentam práticas na agricultura familiar em média há 26 anos e 7 meses (± 5 anos e 3 meses).

    A preocupação com a ergonomia nos ambientes de trabalho tem assumido relevância nos ambientes laborais, tendo como função, por exemplo, diminuir o absenteísmo provocado pelo esforço físico e mental (MAURER, 2001). Assim, esse estudo buscou identificar as queixas musculoesqueléticas associadas às atividades de trabalhadores da agricultura familiar, sob enfoque do plantio de mandioca, e associar as posturas assumidas durante as atividades.

    As atividades associadas ao plantio e extração manual da mandioca são realizadas em uma média de um (1) dia de trabalho (aproximadamente em 12 horas de trabalho total diário), com um intervalo de (4) quatro dias em média sem extração da mesma. Entretanto, em substituição da atividade outra tarefa de trabalho é realizada na propriedade, como o cuidado e manejo do gado, aves, o cultivo de outras roças de subsistência familiar, como por exemplo, o cultivo de legumes, milho e frutas.

    Especificamente tratando do plantio da mandioca, foco do presente estudo, foi possível observar as etapas da atividade de plantio, conforme indica a Figura 1 e as etapas de extração, conforme ilustra a Figura 2.

Figura 1. Atividade de plantio da mandioca na agricultura familiar

 

Figura 2. Atividade de extração da mandioca na agricultura familiar

    De acordo com a análise da atividade realizada, observa-se que as atividades manuais, sem uso de equipamentos, são encontradas na maioria das situações de trabalho. Tanto a limpeza da área, quanto o plantio, extração e preparação para a comercialização são realizadas ainda sem o auxílio da tecnologia.

    A atividade em si é realizada com auxilio de movimentos repetitivos e com tempo prolongado de esforço, sem realização de pausas. Esses resultados podem agravar as percepções de dor e consequentemente agravar os problemas físicos.

    Muitos trabalhadores do meio rural apresentam apenas pausas para o almoço e não consideram as pausas de trabalho para a recuperação do sistema musculoesquelético. A duração do trabalho, no dia da extração manual da mandioca se constitui de uma jornada de trabalho que chega há aproximadamente 12 horas, com intervalo de (1) uma hora para a alimentação e descanso, iniciando o dia às 6 horas e finalizando às 18 horas. Esse intervalo pode ser considerado como sendo insuficiente visto que o gasto calórico consumido durante a realização da atividade (aproximadamente 8METs, segundo Farinatti, 2003) é classificado como intenso, sendo necessário um descanso adequado pós esforço que seja capaz de recuperar a acidose metabólica sofrida pelos músculos que estão envolvidos na atividade, além de uma correta hidratação e alimentação, reconstruindo as reservas energéticas corporais e evitando assim, a fadiga metabólica crônica, permitindo a adaptação dos músculos, tendões e articulações, ao gesto laboral e ao esforço realizado no trabalho (DOS SANTOS, DEZAN e SARRAF, 2003, SCHNEIDER e OLIVEIRA, 2004).

    Somado a essas questões, pode-se dizer que o aumento da temperatura corporal na inexistência de pausas para a regulação corporal fazem com que haja sobrecarga física que precisa ser adaptada pelo corpo. Segundo Havenith (1999) um trabalhador executando uma atividade moderada (3 a 5 METs, onde 1 MET corresponde a 3,5 ml/kg/min sendo esse o VO2 de repouso de um indivíduo, representando o gasto energético corporal) sob condições amenas e utilizando roupas leves, leva em média 90 minutos para elevar 1,5ºC sua temperatura corporal, o que produz e evidencia nestes trabalhadores, uma sobrecarga física.

    Além disso, trabalhos desenvolvidos em uma jornada de 12 horas diárias, submetidos ainda às intempéries do tempo, são observados altos gastos calóricos considerando que a intensidade predita para essa atividade rural, é estimada, segundo Farinatti (2003), em aproximadamente 8 METs. Logo, a variação da temperatura corporal desses trabalhadores, já descrita por Lavoisier e Laplace em 1783, em seu trabalho clássico sobre a conservação de energia e oxidação celular, afirma que o oxigênio respirado é igual e proporcional ao calor perdido pelo corpo, onde, "a variação da energia interna do corpo é proporcional a variação da quantidade de calor contida no corpo, somado com a variação do trabalho executado pelo corpo, por um intervalo de tempo"; assim em uma jornada de 12 horas, nota-se nesses trabalhadores, a presença do suor no corpo e consequentemente na vestimenta, o que confirma o alto impacto metabólico sofrido pelo organismo durante a realização do trabalho, que pode ser assim, considerado como um esforço intenso de alto risco a saúde do trabalhador.

    Um estudo clássico realizado por Stalin et. al. (1976), mostra a importância das adaptações periféricas musculares, para que exista aumento do VO2 max. (consumo de oxigênio), onde se baseia principalmente no fato de o VO2 max. ser influenciado pelo potencial oxidativo das fibras musculares, isto é, pela concentração das enzimas oxidativas e também pelo número e tamanho das mitocôndrias. Isso ressalta a importância de adaptar o corpo a intensidade imposta pela jornada de trabalho no campo, proporcionando uma melhor adaptação e possibilitando uma maior proteção e ajuste corporal na extração manual da mandioca, minimizando as degenerações e sofrimentos causadores de Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Doenças Ocupacionais Relacionadas ao Trabalho (DORT) nestes trabalhadores.

    Segundo Salve e Theodoro (2004) a falta de compensação de esforços provoca o desenvolvimento de desconfortos físicos, degenerações crônicas, dores, estresse, absenteísmo e afastamentos. Os mesmos autores ainda indicam que às vezes os problemas provocados pela falta de compensação podem permanecer por tempo indeterminado.

    Autores como Beltrame, Mozzini e Polese (2008), Kube (2010), Sato (2001), indicam que além de provocar LER, esses problemas podem causar reações fisiológicas como, por exemplo, a saturação neuro-sensorial conhecida como fadiga que contribui para diminuição dos níveis de reflexo e concentração da pessoa, aumentando o risco de ocorrer acidentes de trabalho. Esses acidentes são expressivos no Brasil e na agricultura chegam a 1.483.790 (ABP, 2013).

    A legislação vigente que trata das atividades da agricultura – Norma Regulamentadora 31 – que estabelece os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicultura com a segurança e saúde e meio ambiente do trabalho indica, no Art. 31.10.7, que as atividades que forem realizadas necessariamente em pé, devem ser garantidas pausas para descanso. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica devem ser incluídas pausas para descanso e outras medidas que preservem a saúde do trabalhador – Art. 31.10.9 (BRASIL, 2005).

    Mesmo com essas indicações, vale salientar que muitos dos trabalhadores não possuem regulamentações junto ao Ministério do Trabalho, assim como não são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o que acaba gerando além de problemas econômicos, problemas sociais e a baixa cobertura dos direitos previdenciários (ARCURI, 2007). Só na região Sul do Brasil o trabalho informal que chega a 25,1%1 é justificado pela prevalência da agricultura familiar.

    Especificamente tratando das queixas indicadas pelos trabalhadores do presente estudo, é possível observar que os problemas são mais evidentes principalmente na região dorsal, lombar, antebraços e cotovelos, assim como ilustra a Figura 3.

Figura 3. Queixas musculoesqueléticas percebidas pelos trabalhadores.

    Durante a atividade de plantio/extração da mandioca, cada agricultor adéqua à postura em função do terreno e da dimensão do pé de mandioca. Entretanto, não foi observada preocupação quanto à manutenção de uma postura adequada que buscasse diminuir os riscos posturais.

    Basicamente pode-se dizer que esses ajustes fazem com que haja um posicionamento biomecânico corporal que, de acordo com a percepção de cada trabalhador, vem favorecer as alavancas desenvolvidas no gesto específico da atividade. Entretanto, considerando posturas de levantamento de carga, similar a desenvolvidas nas atividades de extração da mandioca, observa-se que os trabalhadores de outras atividades também assumem posturas que não estão em conformidade com as boas práticas da ergonomia (KILBOM, PERSON e JONSSON, 1986; TEIXEIRA et al., 2009; TEIXEIRA e MERINO, 2010).

    A Figura 4 ilustra a atividade de extração dos 19 trabalhadores avaliados pelo presente estudo.

Figura 4. Posturas corporais assumidas na extração da mandioca

    As posturas encontradas, conforme ilustra a Figura 4, podem levar a problemas de ordem musculoesquelética que no presente estudo ainda são percebidas apenas como queixas de dor e desconforto corporal. Entretanto, os altos índices de indivíduos (84%) que percebem, por exemplo, as regiões dorsal e lombar como sendo as de maior dor/desconforto podem estar associadas às posturas assumidas pelos trabalhadores durante a jornada de trabalho.

    Assim como as posturas assumidas durante o plantio e extração da mandioca, as posturas mantidas durante atividades que tenham manejo do solo, como o plantio de verduras (SILVA e RAMOS, 2008) e florestas plantadas (VOSNIAK et al, 2012) já vem sendo retratadas pela literatura como sendo inadequadas. A curvatura do ângulo do tronco vem sendo apontada nesses casos como um dos problemas potencias para a saúde e, no caso do plantio/extração de mandioca, se mostra como sendo o principal ponto potencial de problemas que se associam as queixas nas regiões dorsal e lombar.

    Observa-se que os movimentos realizados na atividade ultrapassam angulações de flexão do tronco recomendados pela literatura que considerada valores de até 70º com a vertical para valores voluntários (IIDA, 2012). Além disso, o mesmo autor recomenda que qualquer atividade que haja levantamento de carga, como no caso do plantio/extração da mandioca, a coluna vertebral seja mantida em uma posição vertical fazendo uso da musculatura dos membros inferiores (flexão/extensão de quadril; flexão/extensão de joelhos; flexão/extensão de tornozelos) para a contração, realização de força o movimento e consequentemente o movimento.

    Para a movimentação de cargas há necessidade da realização da flexão de joelhos o que na verdade vem a facilitar a distribuição de peso e diminuir a sobrecarga da coluna vertebral. O mesmo autor indica que com o tronco curvado a coluna recebe cargas em diversas direções (axiais e perpendiculares) sendo prejudicial à integridade física dos discos intervertebrais. Ademais, posturas inadequadas potencializam riscos de lesão e seus consequentes afastamentos das atividades de trabalho.

    Fazendo uma relação com as etapas do trabalho desenvolvido, observa-se ainda que limpeza do terreno, corte e transporte também potencializam as possibilidades de problemas uma vez que em todas as situações foram encontradas posturas inadequadas para a realização da tarefa.

    Considerando ainda as queixas musculoesqueléticas observa-se que as regiões dos antebraços e cotovelos também foram percebidas como sendo dolorosas. Nesse sentido, a atividade também pode ser considerada como colaboradora para a presença dessas queixas. Considerando as atividades de plantio e extração, pode-se dizer que a atividade de extração necessita de uma atenção maior, pois para sua execução há necessidade de força do trabalhador uma vez que o pé de mandioca precisa ser retirado do solo e, isso só é possível com a força e movimento do trabalhador. De maneira geral, pode-se dizer que as atividades de plantio e principalmente de extração da mandioca exigem preensão manual visto que o arranque do alimento do solo é possível com a aplicação da força corporal que se soma a movimentos de coluna e membros superiores.

    Logo, as sobrecargas dos membros superiores, cintura escapular, coluna lombar e membros inferiores, estão associadas a essas posturas de trabalho, que na execução repetida de posturas inadequadas, juntamente com o posicionamento destas alavancas corporais para a extração da planta do solo, são provocadores das degenerações e lesões de esforço repetitivo nos segmentos corporais.

    Os problemas que acometem os segmentos corporais surgem, segundo Mellion (1997) apud Hawkins, David, et. al. (2001), pelo acometimento e não adaptação do estresse oferecido pelo esforço, nos tecidos dos segmentos envolvidos por maior recrutamento na atividade, provocando microtraumas ou microlesões crônicas e repetitivas que ocorrem em tecidos moles por uso excessivo de um determinado segmento osteomioarticular. Estas alterações microscópicas decorrentes de lesões de uso excessivo, geralmente promovem rupturas locais de células teciduais, infiltrações linfocíticas ou derrames sanguíneos, produzindo o aparecimento de dor e disfunção do segmento corporal afetado, resultando na macrolesão tecidual (GARRICH e WEBB, 2001).

    As lesões causadas pelo esforço repetitivo tornam ineficiente a produtividade ou impossibilita a prática da atividade laboral realizada pelo trabalhador rural, causando então o absenteísmo e o afastamento do trabalhador.

Considerações finais

    Os problemas de ordem musculoesquelética que se associam as queixas de dor e desconforto corporal mais relatadas no presente estudo foram focadas na região dorsal (84%), região lombar (84%), região dos antebraços (84%) e região dos cotovelos (68%).

    As queixas podem estar associadas ao movimento de trabalho realizado em uma jornada de 12 horas diárias, com realização de apenas uma pausa de uma hora para o almoço e pelas cargas movimentadas durante a atividade.

    Somado a essas evidências pôde-se observar que todos os trabalhadores mantêm, durante suas jornadas de trabalho, posturas que são inadequadas e desfavorecem a musculatura. Nesse ínterim, pode-se citar a atividade de extração da mandioca que é realizada com coluna em flexões que ultrapassam as recomendações da literatura (maiores que 70º de flexão com a horizontal). Além disso, os joelhos se encontram em extensão o que sobrecarrega a musculatura da região dorsal e lombar que consequentemente são percebidas como sendo dolorosas.

    As queixas associadas à região dos antebraços e região dos cotovelos podem ser associadas ao movimento repetitivo, feito para retirar o alimento do solo, assim como a força necessária para a preensão do mesmo. Além disso, as atividades realizadas para a limpeza do terreno, corte, transporte e comercialização da mandioca também demandam de esforços que, se o trabalhador não manter uma postura correta, podem levar a lesões.

Nota

  1. Dados disponíveis em: http://www.ufrn.br/sites/engenhodesonhos/mediateca/artigos/TRABALHO%20INFORMAL.pdf. Acesso em 23 dez 2013.

Referências bibliográficas

  • ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO, Revista Proteção, Ed. 18, 2013. 162p.

  • ARCURI, 2007. Disponível em: http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/wp-content/uploads/2013/07/2007-re2.pdf. Acesso em 04 jan 2014.

  • BELTRAME, M. R.; MOZZINI, C. B.; POLESE, J. C. Prevalência de sintomas osteomusculares em trabalhadores de uma empresa de embalagens metálicas de Passo Fundo-RS. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 21, n. 2, p. 92-97, 2008.

  • BRASIL, 2005. Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A3E7A205F013F8B36877275CD/NR-31%20(atualizada%202011)%20-%20Sem%2018%20meses.pdf. Acesso em 04 jan 2014.

  • BRITO, F. C.; LITVOC, C. J. Conceitos básicos. In F. C. Brito e C. Litvoc (Ed.), Envelhecimento – prevenção e promoção de saúde. São Paulo: Atheneu, p.1-16, 2004.

  • DE MORAES, E. N.; DE MORAES, F. L.; LIMA, S. P. P. Características biológicas e psicológicas do envelhecimento. 2010.

  • DOS SANTOS, M. G.; DEZAN, V. H.; SARRAF, T. A. Bases metabólicas da fadiga muscular aguda. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. v. 11, n. 1, p. 07-12, 2003.

  • EPAGRI, 2012. Órgão oficial de Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária do estado de Santa Catarina. Disponível em: http://www.epagri.sc.gov.br. Acesso em 29 out 2013.

  • FARINATTI, P. T. V. Apresentação de uma Versão em Português do Compêndio de Atividades Físicas: uma contribuição aos pesquisadores e profissionais em Fisiologia do Exercício. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício, v. 2, p. 177 - 208, 2003.

  • GARRICH, J., WEBB, D.R. Lesões Esportivas: Diagnósticos e Administração. 2 ed. Sao Paulo: Roca, 2001.

  • GUÉRIN, F.; LAVILLE, A.; DANIELLOU, F.; DURAFFOURG, J.; KERGUELEN, A. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da ergonomia. São Paulo: Edgard Blücherd LTDA, 2001.

  • HAVENITH, G. Heat balance when wearing protective clothing. Annals of Occupational Hygiene, v. 43, n. 5, p. 289-296, 1999

  • HAWKINS, DAVID et al. Overuse injuries in youth sports: biomechanical considerations. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 33, n. 10, p. 1701-1707, 2001.

  • IIDA, I. Ergonomia; projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher, 2012.

  • KILBOM A., PERSON J., E JONSSON, B.G. Disorders of the cervicobrachial region among female workers in the electronics industry. International Journal Industrial Ergonomics, v. 1, n.1, p. 37-47, 1986.

  • KUBE, L. C. Fisiologia da fadiga, suas implicações na saúde do aviador e na segurança na aviação. Conexão SIPAER, v. 2, n. 1, p. 35-57, 2010.

  • MAURER F. Manual Sobre a Ergonomia. UNICAMP: Em direção a uma universidade saudável. Campinas UNICAMP, maio 2001.

  • PINHEIRO, F. A., TRÓCCOLI, B. T., CARVALHO, C. V. Validação do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares como medida de morbidade. Revista de Saúde Pública, v. 36, n. 3, p. 307-312, 2002.

  • RODRIGUES, G. Agricultura sustentável, gestão ambiental e eco-certificação de atividades rurais. Disponível em: http://www.cnpma.embrapa.br/down_hp/346. pdf. Acesso em out 2013.

  • SALVE, M. G. C.; THEODORO, P. F. R. Saúde do trabalhador: a relação entre ergonomia, atividade física e qualidade de vida. Salusvita, v. 23, n. 1, p. 137-46, 2004.

  • SATO, L. LER: objeto e pretexto para a construção do campo trabalho e saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 17, n. 1, p. 147-152, 2001.

  • SCHNEIDER, C. D.; OLIVEIRA, A. R de. Radicais livres de oxigênio e exercício: mecanismos de formação e adaptação ao treinamento físico. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 10, n. 4, p. 308-13, 2004.

  • SHEPHARD. R. J. Envelhecimento, atividade física e saúde. São Paulo: Phorte, 2003.

  • SILVA, E. F.; RAMOS, Y. S. Processo de trabalho na produção de verduras no Alvinho, em Lagoa Seca/PB: a atividade dos trabalhadores e sua relação com o processo saúde–doença Aletheia, v. 28, p. 159-173, 2008.

  • STALIN B. et al. The nature of the training responses; peripheral and central adaptations to one-legged exercise. Acta Physiologica Scandinavica, v. 96, P. 289 - 305, 1976.

  • TEIXEIRA, C. S.; TORRES, M. K. L.; MORO, A. R. P.; MERINO, E. A. D. Fatores associados ao trabalho de operadores de checkout: investigação das queixas musculoesqueléticas. Produção, v. 19, n. 3, p. 558-568, 2009.

  • TEIXEIRA, C. S.; MERINO, E. A. D. A postura adotada no trabalho com a hidroponia: contribuições da ergonomia. Lecturas: Educación Física y Deportes, v. 14, n. 132, 2009. http://www.efdeportes.com/efd132/a-postura-adotada-no-trabalho-com-a-hidroponia.htm

  • VOSNIAK, J.; LOPES, E. S.; INOUE, M. T.; BATISTA, A. Avaliação da postura de trabalhadores nas atividades de plantio e adubação em florestas plantadas. Revista Ceres, v. 58, n.5, p. 584-592, 2011.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 193 | Buenos Aires, Junio de 2014  
© 1997-2014 Derechos reservados