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Linguagem corporal: uma provável aliada na educação profissional

El lenguaje corporal: una aliada posible en la educación profesional

 

*Licenciado em Educação Física, URCAMP, Alegrete, RS

Especializando em Educação Física Escolar, UFSM, Santa Maria, RS

**Profa. do Curso de Educação Física, URCAMP, Alegrete, RS

Especialista em Educação e Educação Física e suas multiculturas

URCAMP, Alegrete, RS

Rhenan Ferraz de Jesus*

rhenanferraz@yahoo.com.br

Jacqueline Zacarias Silveira**

ballerina@via-rs.net

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A comunicação não verbal, embora de extrema relevância, não recebe a devida atenção pelos educadores atualmente. Nesse sentido, entende-se que a linguagem corporal deva ser encarada de maneira diferenciada na educação profissional, fazendo-a não apenas movimentos humanos nas aulas de educação física, mas perspectivas de leituras de um aprendizado eficaz, a fim de contribuir à melhoria das aulas, bem como no relacionamento aluno-professor. Deste modo, por meio de uma pesquisa-bibliográfica, o presente estudo buscou proporcionar reflexões sobre a importância da percepção da linguagem corporal na educação profissional. Concluiu-se que a comunicação não verbal é um importante fator para uma comunicação efeti­va, podendo auxiliar no desem­penho docente em sala de aula.

          Unitermos: Comunicação não verbal. Linguagem corporal. Área de atuação profissional.

 

Resumen

          La comunicación no verbal aunque muy importante, no recibe la atención adecuada por parte de los educadores de hoy. En este sentido, el lenguaje corporal debe ser considerado de manera diferente en la formación profesional, lo que no sólo los movimientos humanos en las clases de educación física, pero las lecturas perspectivas de aprendizaje efectivo con el fin de contribuir a la mejora de la enseñanza y la relación estudiante-profesor. Así, a través de una investigación de la literatura, este estudio tuvo como objetivo proporcionar reflexiones sobre la importancia de la percepción del lenguaje corporal en la educación profesional. Se concluyó que la comunicación no verbal es un factor importante en la comunicación efectiva, ayudando al desempeño de los docentes en el aula.

          Palabras clave: Comunicación no verbal. Lenguaje corporal. Ubicación de la práctica profesional.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No cotidiano profissional, o professor se utiliza da comunicação como ferramenta indispensável no desempenho de suas atividades. Dentre estas, a função de educador, bem como elo de ligação entre promover os diversos conhecimentos humanos e a habilidade de comunicar-se. Conforme Rector e Trinta (1986, p. 16), sabe-se que “[...] o corpo humano, decomposto em signos não verbais, é descritível por meio de signos linguísticos, equivalentes aos seus diversos movimentos”. Desta maneira, o uso consciente da linguagem corporal, tende a facilitar o professor no alcance de seus objetivos na transmissão de conteúdos em sala de aula.

    Nessa perspectiva, não há dúvida de que as salas de aula são espaços de comunicação e que as palavras e as não palavras (silêncios, ausências, sons articulados ou não) orientam as relações entre os indivíduos e permitem uma constelação de mensagens que são capitadas de forma consciente ou inconsciente (PAREJO, 1995). Assim sendo, pode-se dizer que apenas o movimento do corpo não traduz o significado da mensagem, havendo necessidade de inseri-lo num contexto, permitindo que um mesmo gesto tenha diferentes significados nas diversas sociedades.

    Habilidades associadas ao conhecimento de assuntos da área de comunicação não verbal são importantes para o desenvolvimento da competência social dos indivíduos, quer na sua atuação profissional, quer na sua vida diária (MESQUITA, 1997, p. 160). Em vista disso, entende-se que a linguagem corporal deva ser encarada como uma necessidade a mais na conjuntura de atividades da vida do educador profissional, o que, segundo Vargas (1998), permite os seres humanos encontrarem suas necessidades presentes diariamente. Desta maneira, neste estudo e por meio de uma pesquisa-bibliográfica e literatura discutida sobre a temática, pretendeu-se proporcionar reflexões sobre a importância da percepção da linguagem corporal na educação profissional.

Movimento corporal: um conteúdo dotado de comunicação e linguagem

    Marone (1999, p. 39) parte de que “[...] somente em Deus a palavra antecedeu o gesto, porque Deus em princípio era o Verbo”. Ou seja, antes do surgimento da palavra (fase verbal) existe outra fase, a “pré-verbal”, em que a linguagem predominante é a do gesto. Segundo este mesmo autor, graças a esses gestos que os sons podem ter significado.

    E, por meio da expressão corporal, são manifestados sentimentos de alegria, dor, tristeza, amor, ódio, desprezo e outros que são, naturalmente, uma representação das atitudes e ações que se pretendem interpretar, pois estão relacionados ao indivíduo, sofrendo, geralmente, a influência da ciência, da tecnologia e do desenvolvimento econômico e da sociedade (VARGAS, 1998).

    Todo ser humano tem no movimento uma necessidade natural e espontânea, indispensável à vida (VARGAS, 1998). Também, sabe-se que as primeiras manifestações do ser humano emergem do ato motor e, segundo Capitanio (2004), o movimento humano faz parte do domínio motor, contudo, no comportamento humano se fazem presentes, também, o domínio cognitivo e o domínio afetivo-social. No entanto, para Gagné (1974):

    A ocorrência relativa e frequente da aprendizagem dos movimentos naturais, na vida cotidiana, torna bastante importante a compreensão do comportamento humano, apesar de responder e executar atos motores simples ser apenas uma pequena parte das capacidades que o ser humano deve e pode aprender (1974, p. 3).

    Mowrer (1960, apud GAGNÉ, 1974, p. 75) acredita que a aprendizagem dos movimentos naturais é um requisito prévio para as demais aprendizagens. O que, de acordo com Vargas (1998, p. 34), possibilita no processo de formação do indivíduo como meio de melhorar a qualidade de assimilação da sensação e percepção de estimulações inter e intrapessoais que compõem o mundo, e, que, para ser entendida a realização do movimento, faz-se necessário o conhecimento da intenção, que oferece ao movimento um conteúdo de consciência.

    Além disso, Vargas (1998) afirma que o ato motor possui caráter cognitivo e envolve as percepções cinestésicas, estando unido à linguagem. Nesse sentido, a formação do pensamento não somente está vinculada à aquisição da linguagem como também ao movimento. Reis (1969, p. 199) complementa isso, ressaltando que todas as ações humanas são motivadas por uma finalidade e o que se faz, faz-se tendo em conta determinado objetivo. Para Laban (1978) o movimento do homem tem um objetivo: satisfazer uma necessidade ou atingir algo que lhe é valioso. Da mesma forma que:

    O movimento revela evidentemente muitas coisas diferentes. É o resultado, ou da busca de um objeto dotado de valor, ou de uma condição mental. Suas formas e ritmos mostram a atitude da pessoa que se move numa determinada situação. Pode tanto caracterizar um estado de espírito e uma reação, como atributos mais constantes da personalidade. O movimento pode ser influenciado pelo meio ambiente do ser que se move (LABAN, 1978, p. 20).

    Com isso, o movimento e o pensamento integram-se ao trabalho global do corpo, atuando como meio de relação e dotado de comunicação através dos gestos e movimentos em total integração do indivíduo com o meio.

    Assim sendo, segundo Rector e Trinta (1986), a comunicação é, ao mesmo tempo, fenômeno e função social. Fenômeno, inicialmente, como uma necessidade dos nossos primórdios na busca de compreenderem a si e os demais. Função social como processo de interação, de compartilhar os modos e os comportamentos de vida, estabelecidos de um conjunto de normas pelo homem e para o homem. Por isso, cada movimento deve ser visto como um veículo pelo qual o sujeito pode dizer aos outros sobre o seu pensar, reescrevendo o que foi escrito por outros, mas de forma pessoal e única.

    Davis (1979) afirma que muito além das palavras está a comunicação não verbal. Elas não representam a mensagem total e nem parcial, embora sejam importantes. Sabe-se que a comunicação ajuda o homem a estabelecer relações com o grupo a que pertence enquanto fenômeno social e, em cada cultura, os gestos e os movimentos são percebidos como expressão e manifestação corporal, revelando formas de comunicação não verbal. Desse modo, para esta autora, as relações humanas se constroem através da comunicação não verbal, de uma linguagem corporal. Neste contexto, “há consenso no campo de que o corpo não está submetido ao texto. Os gestos não são usados apenas para preencher os silêncios, as lacunas do discurso” (PUJADE-RENAUD, 1990, p. 65). Pelo contrário, o corpo é constitutivo da comunicação e não somente o aparato fisiológico.

    Nesse sentido, estudos sobre a comunicação não verbal ganharam novo impulso nas últimas décadas (SILVA, 1987). Por isso, conceituar o que é linguagem corporal seja um dos assuntos muito de grande enfoque e discussão na literatura por diversos autores. A comunicação não verbal, segundo Corraze (1982), é o conjunto dos meios de comunicação existente entre os seres vivos que não usam a linguagem humana ou seus derivados não sonoros (escritos, linguagem dos surdos, etc.). De acordo com Mesquita (1997), a comunicação não verbal pode ser dividida em dois grupos:

a) Aquilo que se refere ao corpo (corporal) e ao movimento e representa unidades expressivas: a face, o olhar, os gestos, as ações, as posturas e a paralinguagem;

b) aquilo que é relativo ao produto das ações humanas e formas de expressão: a moda, os objetos do cotidiano e da arte, a própria organização dos espaços.

    Corraze (1982) afirma que a comunicação não verbal pode ser sonora e o que seu conceito exclui é o sistema linguístico humano (este que é verbal). O termo comunicação não verbal é aplicado a gestos, as posturas, a orientação do corpo, a organização de objetos, a relação de distâncias entre os indivíduos, significando uma linguagem corporal. Este autor opõe-se a Birdwhistell (1952, apud DAVIS, 1979), porque ele afirma que a comunicação não é constituída exatamente como a linguagem, e que atualmente este conceito é amplamente rejeitado.

    A partir deste trecho, percebe-se que:

    Os olhos continuaram a dizer coisas infinitas, as palavras da boca é que nem tentaram sair, tornavam ao coração caladas como vinham... (MACHADO DE ASSIS, in Dom Casmurro, 1969, cap. 14, p. 30).

    É possível afirmar na expressão acima que os movimentos corporais modificam os padrões de comunicação, de coordenação física e de reconhecimento conceitual de novos gestos. Sabe-se, ainda, que eles são modificados pelas adaptações feitas pelo corpo, o qual percebe e age com essa informação. Corraze (1982) afirma que a comunicação se efetua através da transferência de informação, sob duas condições principais: a primeira é a presença de dois sistemas: um emissor e um receptor; a segunda é a transmissão de mensagens.

    Os indivíduos têm uma forma diferenciada de se comunicar corporalmente, que se modifica de cultura para cultura. O indivíduo, portanto, aprende a fazer uso das expressões corporais, de acordo com o ambiente onde ele está inserido, ou seja, todo movimento do corpo tem um significado correspondente ao contexto (BRASIL, 1999). Com isso, entende-se que o corpo emprega a gesticulação como um modo de se comunicar, de construir metáforas, articular pensamentos, abrindo espaço para repensar qual movimento adotar, chamada de linguagem corporal.

Educação Física e a linguagem corporal

    Conforme Rector e Trinta (1986, p. 25), a Programação Neurolíngüistica (PNL), a língua, os usos lingüísticos, os hábitos fonéticos individuais e coletivos têm, até aqui, sido objeto de estudo da lingüística e mesmo de outras disciplinas científicas, que se ocupam, de uma ou outra forma, a linguagem humana. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio - PCNEM (BRASIL, 1999):

    A linguagem verbal é a língua falada ou escrita, ou seja, a linguagem que se vale da palavra. As demais são não-verbais. [...] O conceito de linguagem é a espinha dorsal da área, sustenta direta ou indiretamente todos os demais, articulando-os, pois dele deriva a constituição e a natureza da própria área (língua portuguesa; língua estrangeira; linguagens da arte; linguagem corporal; linguagem digital) (p. 40).

    Em Educação Física, segundo PCNEM (BRASIL, 1999), os conceitos estruturantes e as competências mais diretamente relacionadas a cada um deles podem traduzir-se, de acordo com os três eixos que organizam a disciplina, dentre elas a linguagem corporal:

    Quando os homens se comunicam, lançam mão de um vasto repertório: usam todo o corpo e todos os textos nele manifestos. Essas comunicações são textos, isto é, gestos – tomados num sentido mais amplo do que apenas movimentação de partes do corpo. Incluem desde o sutil franzir de sobrancelhas até o vigoroso acenar dos braços, o jeito de andar e de se sentar. Os gestos e os movimentos fazem parte dos recursos de comunicação que o ser humano utiliza para expressar suas emoções e sua personalidade, comunicar atitudes interpessoalmente e transmitir informações. A capacidade de gesticular é universal, faz parte da faculdade humana de se expressar e comunicar (p. 140).

    Deste modo, pode-se entender que gestos são textos, movimentos comunicativos do corpo impressos por uma determinada cultura. Da mesma forma que:

    [...] os gestos, as posturas e as expressões faciais são criados, mantidos ou modificados em virtude de o homem ser um ser social e viver num determinado contexto cultural. Isto significa que os indivíduos têm uma forma diferenciada de se comunicar corporalmente, que se modifica de cultura para cultura (PCNEM, BRASIL, 1999, p. 160).

    Também, segundo PCNEM (BRASIL, 1999, p. 145), uma das competências a serem alcançadas a partir das aulas de Educação Física refere-se à utilização das linguagens como meio de expressão, informação e comunicação em situações intersubjetivas que exijam graus de distanciamento e reflexão sobre os contextos e estatutos de interlocutores. Mais ainda, refere-se à capacidade de o aluno situar-se como protagonista dos processos de produção e recepção de textos construídos em linguagem corporal. Para tanto, os professores poderiam propor atividades nas quais os inúmeros textos corporais fossem investigados. Já que em algumas áreas [...] (consequentemente os professores) vem colecionando diversas críticas à sua atuação na escola (BRASIL, 1999, p. 146).

    Outro aspecto a ser considerado é que, segundo Ayoub (2001, p. 58), muitas vezes, por existir um espaço específico para um trabalho corporal nas aulas de educação física, nos demais tempos da jornada cotidiana, acentua-se um trabalho de natureza intelectual no qual a dimensão expressiva por meio da linguagem corporal é praticamente esquecida.

    Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998a) recomenda-se que o aluno deva adotar hábitos saudáveis para si e para a coletividade, utilizar as diferentes formas de linguagem dentre elas a corporal, compreender a cidadania atuando de forma crítica responsável e construtiva. Bem como observam os conteúdos de Educação Física para o Ensino Fundamental como expressão de produções culturais, conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos, vendo a “Educação Física como uma cultura corporal” (BRASIL, 1998b, p. 10).

    Para fins de discussão, Borges (1992) entende que Educação Física é uma prática pedagógica desenvolvida na Escola e que se ocupa de uma área de conhecimento chamada cultura corporal que são todas as manifestações corporais social e historicamente construídas. Deste modo, para este mesmo autor, o movimento é percebido como expressão e manifestação corporal e é tema a ser desenvolvido nas aulas de Educação Física.

    Assim sendo, percebe-se que a linguagem corporal é aquilo que o sujeito transmite através de sua postura, de seu tônus muscular, de cada gesto na direção de outro gesto. De acordo com Reis (1969, p. 175), a linguagem corporal se torna um complemento da voz, uma linguagem por natural, onde todos entendem. Logo, entende-se que gesticulação é a moldura que se aplica à manifestação oral, para reforçar períodos, conferindo ao discurso maior expressividade. Dessa forma, para Reis (1969), os gestos representam para o movimento o que configura a língua para a linguagem, elos de comunicação, uma ponte que liga um objeto a um destino, um entendimento dependente dos comportamentos humanos.

    Em vista disso, “o corpo é veículo e meio de comunicação. O relacionamento interpessoal só é possível pela comunicação e pela linguagem que o corpo é e possui” (BRASIL, 1999). Da mesma forma, o sujeito pode dizer aos outros sobre o seu pensar, reescrevendo o que foi escrito por outros, mas de forma pessoal e única, impregnando, as ações e mensagens emitidas, com a sua personalidade. Portanto, em meio de outras informações do corpo, como possibilidades de investigação do movimento e a sua necessidade, para Well e Tompakow (2000), o gesto se faz mais que uma probabilidade, é, indubitavelmente, indispensável para compor a comunicação.

A importância da comunicação não verbal na educação profissional

    Dentre as várias maneiras com que o homem pode exprimir seus pensamentos, sentimentos e anseios, o gesto ocupa lugar de destaque pela sua eloquência, simplicidade e rapidez. [...] Para a linguagem gesticulada, pode-se valer de todo o corpo (atitude e postura) ou de uma das partes (mímica das mãos, da face, dos olhos, dos lábios, etc.). (MARONE, 1999, p. 15).

    Com isso, tem-se em mente que a expressão corporal é uma projeção de pensamento exprimidos em ações por meio da seleção e adequação de gestos e movimentos e da inter-relação de determinadas situações em que o meio oferece. Segundo Reis (1969, p. 174): “não adianta, mesmo que não queira, o corpo fala e, às vezes, grita. Ele trai o que a palavra insiste muitas vezes em esconder, ele tira os véus e desnuda quem realmente somos”.

    Nesse sentido, considera-se que a competência de ouvir e entender o outro inclui não apenas a fala, mas também às expressões e manifestações corpo­rais. Estes aspectos, segundo Cotes e Ferreira (2001), devem ser enfrentados como elementos fundamentais no processo de comuni­cação e, por isto, acredita-se que o estudo da comu­nicação não verbal (linguagem corporal) deveria assumir um papel importante na decodificação das mensagens vivenciadas durante o processo de interação. Complementando com isso, o reconhecimento da existência e do valor de um modo não verbal, que se expressa através do corpo e do movimento do ser humano, ao lado do verbal expresso através do corpo e do movimento do ser humano, ao lado do verbal (MACHADO e MIRANDA, 2006), é de capital importância para profissionais que interagem com pessoas no seu dia a dia, principalmente para aqueles cuja ação está mais diretamente relacionada ao corpo e ao movimento como os psicólogos, médicos e os profissionais de Educação Física (MESQUITA, 1997, p. 160). A riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado, com prazer e alegria (AYOUB, 2001, p. 57). Desta forma, pode entender que:

    Uma das razões do grande interesse pelos estudos da comunicação não verbal pode estar, provavelmente, relacionada à sua importância e representatividade no processo de relacionamento e compreensão mútua entre seres humanos. Esta importância é evidenciada pelo papel que a comunicação não verbal desempenha no sistema total de comunicação, a tremenda quantidade de sinais informativos que proporciona em toda situação particular, e a que se utiliza nas áreas fundamentais da vida cotidiana (KNAPP, 1982, p. 42).

    Knapp (1982), ao discutir os trabalhos sobre a habilidade de profissionais como médicos, professores, psicólogos e estudantes de Belas Artes, Biologia, Química, Matemática e Física de perceberem sinais não verbais, comenta que os profissionais e os estudantes que se ocupam de condutas não verbais obtiveram maior pontuação nesta habilidade do que os demais.

    Entretanto, para Sousa, Leal e Sena (2010, p. 2) no cotidiano escolar, alguns alunos se queixam de que a comunicação não verbal do professor favorece a desatenção em sala de aula, tornando a comunicação pouco efetiva. É possível que isto aconteça porque poucos professores sabem da importância da sua linguagem não verbal no processo de transmissão de conhecimentos.

    Nesse sentido, supõe-se que poucos profes­sores têm consciência da importância de sua comunicação não verbal para o pleno exercício de sua profissão, e acredita-se que se esta comu­nicação não ocorrer de modo efetivo poderá, de fato, comprometer a atenção que o aluno dará ao conteúdo transmitido. Por este motivo, de acordo com Sousa, Leal e Sena (2010), uma adequada comunicação não verbal é fundamental, pois pode contribuir para melhorar o desempenho do docente em sala de aula.

    Sabe-se que o aluno não pode existir por si mesmo, por isso, ele necessita da aquisição e troca de experiências posteriores como um impulso ao processo de aprendizagem. Além do mais, o professor deve ter em mente que ele não trabalha o corpo do aluno, mas sim com o seu corpo. Isso condiz com pesquisa realizada por Sousa, Leal e Sena (2010), onde resultados mostraram que todos os entrevis­tados consideraram que a comunicação não verbal do professor é um importante fator para a trans­missão das mensagens.

    Desta maneira, conforme Mesquita (1997, p. 160), conhecimentos teóricos sobre a comunicação não verbal, bem como a habilidade de emitir ou receber sinais não verbais, podem estar intimamente relacionados à atuação profissional do indivíduo na sociedade. Assim, estudos e pesquisas desenvolvidos por estudiosos de diferentes áreas colocam em evidência a importância e o interesse com que a expressividade humana vem sendo estudada. Do mesmo modo que:

    Emitir, receber e perceber sinais não verbais são processos independentes, que ocorrem sem que se tenha, na maioria destes comportamentos, consciência do que está acontecendo ou de sua causa. Estes processos são naturais, mas podem se tornar habilidades (MESQUITA, 1997, p. 160).

    Segundo Knapp (1982), a habilidade de emitir e receber sinais não verbais é decorrente da aprendizagem e da prática no decorrer da vida cotidiana. Assim sendo, no início de sua jornada acadêmica, o jovem não tem consciência de seu corpo como ato de movimentos determinados de uma situação de comportamentos ou parte integrante de mecanismos neuropsicofisiológicos, pois sua identidade corporal, ainda, não se encontra formada. Em vista disso, com o auxílio de um docente preparado e que trabalhe o corpo do alunado como objeto interdisciplinar, portanto, o aluno se apropriará de seu corpo e dele se adaptará, aprendendo de sua existência, sua individualidade, passando a se ver como pessoa única e indivisível.

    Sabe-se que conhecimentos teóricos sobre a comunicação não verbal, bem como a habilidade de emitir ou receber sinais não verbais, podem estar intimamente relacionados à atuação profissional do indivíduo na sociedade (KNAPP, 1982). No entanto, trabalhar com esse corpo significa, também, para o educador, trabalhar com o seu próprio corpo. Dois corpos, duas pessoas, implicadas numa relação de troca de informação cognitiva, mas também numa relação tônico-emocional. Além do mais, isso significa que as percepções da imagem corporal de ambas, através do diálogo corporal, entram em comunicação e sintonia, já que toda e qualquer interferência pode influenciar na educação profissional.

    E, a ação docente deve ser mediadora do estímulo dos alunos por meio de atividades propostas e de desafios que os levem ao imaginário sempre ativo, ao desenvolvimento da capacidade criativa às práticas rítmicos que propiciem não somente o imaginário e a criatividade, mas também as noções de atividades prazerosas em grupo, despertando o social através de todas as disciplinas.

    É visto que “o corpo humano é um conjunto de comportamentos somáticos altamente organizado e portador de signos explicitamente convencionais, passíveis de tradução para o código verbal.” (RECTOR e TRINTA, 1986, p. 17). Portanto, nada mais justo salientar sobre a importância do gesto como exteriorizador da linguagem corporal e a essencial função que ele desempenha na transmissão de conteúdos. Assim, introduzido no campo da comunicação não verbal, a linguagem corporal pode tornar-se um grande facilitador nas perspectivas e leituras do aprendizado.

    Mesquita (1997) desenvolveu uma pesquisa sobre a percepção da psicodinâmica do movimento expressivo e a atuação de profissionais das áreas da Educação Física, Medicina e Psicologia. Os resultados permitiram evidenciar que os profissionais destas áreas acreditam que através de sinais não verbais do corpo e movimento podem constituir um instrumental importante para tornar o profissional mais habilidoso em sua percepção e decodificação de estados subjetivos, contribuindo desta forma para melhorar a eficiência e a competência profissionais.

    Corroborando com essa questão, em estudo realizado por Sousa, Leal e Sena (2010), foi observado também que 77% dos alunos entrevistados consideraram que a comunicação não verbal do professor interfere em seu aprendi­zado, enquanto 23% mencionaram não interferir. Dos que consideram interferir, houve comentários de que “o corpo fala” e que este demonstra o inte­resse do professor no assunto. Assim, esses autores acreditam que os gestos complementam a fala, ajudando na inter­pretação do que é dito.

    Em instituições de âmbitos educacionais, ainda, há limitações sociais e culturais a respeito do seu uso, porém o mais simples como um aperto de mão e um “tapinha” nas costas são algumas das aproximações mais permitidas que, normalmente, revelam apoio, confiança e solidariedade (MARONE, 1999). No entanto, segundo Rector e Trinta (1986), as formas de comunicação humana, no quadro de diferentes culturas, estão longe de esgotar-se na troca diária de mensagens sejam elas verbais ou não verbais. Pois, de acordo com estes autores:

    O indivíduo só se sentirá integrado numa determinada cultura quando houver adquirido a “fluência cultural”, isto é, a capacidade de entender e/ou de produzir comportamentos não verbais isolados ou em conjunção com a linguagem verbal, que estão enraizados em fatores étnicos, geográficos, socioeconômicos, [...] da sociedade em questão (p. 22).

    Desta forma, permanece evidente que em determinadas esferas os sinais não verbais são de capital importância, a fim de conscientizar com grande relevância e significação o uso da comunicação não verbal na sociedade. Principalmente, segundo Mesquita (1997), para aqueles profissionais cuja ação está mais diretamente relacionada ao corpo e ao movimento.

Considerações finais

    Este estudo teve como finalidade nortear o docente e alunado à conscientização, valorizando e elevando, com alguns subsídios significativos, a possibilidade de investigação da linguagem corporal e a sua necessidade na compreensão de propostas e atividades corpóreas em campos profissionais da educação. Sendo assim, pode-se perceber a importância da lapidação do corpo como agente expressivo-comunicacional à necessidade primordial da integridade e coerência da mensagem. Com isso, vê-se a comunicação não verbal como um importante fator para uma comunicação efetiva, podendo intervir positivamente no desem­penho do docente em sala de aula a fim de fortalecer, ainda mais, o processo da ensino/aprendizagem e a interação aluno/professor.

    Espera-se que até aqui, as literaturas tenham contribuído para despertar, com maior atenção aos educadores, acreditando que o conhecimento, a experiência, os instrumentos não verbais do corpo e o movimento possam construir uma ferramenta indispensável para tornar estes profissionais mais habilidosos e preparados em sua percepção, decodificação e transmissão de estados subjetivos.

    Desta maneira, na medida em que estudos contribuem de forma relevante para melhor percepção da linguagem corporal, não somente nas aulas de Educação Física, pode-se evidenciar que essa linguagem do corpo humano se torna uma aliada na educação profissional, à aquisição de habilidades associadas ao conhecimento de assuntos da área de comunicação não verbal, os quais são importantes para o desenvolvimento da competência social dos indivíduos, quer na sua atuação profissional, quer na sua vida diária.

Referências

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