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Práticas de leitura na contemporaneidade:
um olhar sobre o gênero Blog

Prácticas de lectura en la contemporaneidad: una mirada sobre el género Blog

 

Auxiliar de Desenvolvimento Infantil na Secretaria de Educação, Esportes

e Lazer da Prefeitura da Cidade do Recife

(Brasil)

Silvio Profirio da Silva

profirio.silvio@bol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Neste trabalho, buscamos refletir acerca de como o gênero blog enseja novas práticas cognitivas de leitura, pautadas na articulação nos distintas e diversificadas formas da linguagem (escrita, oral, visual e sonora), bem como a mobilização de novos recursos textual-discursivos (Comentários, Links, Recursos para Compartilhar etc.). Tudo isso erradica a linearidade da leitura como Decodificação do Texto Escrito.

          Unitermos: Gênero blog. Leitura. Cognição. Sentido.

 

Resumen

          En este trabajo, se reflexiona sobre cómo el género blog conlleva nuevas prácticas cognitivas de lectura, guiada en la articulación de las diferentes formas de lenguaje (escrito, oral, sonido y visual), así como la movilización de nuevos recursos textual-discursivos (comentarios, enlaces, recursos para compartir etc.). Todo esto elimina la linealidad de la lectura como decodificación del texto escrito.

          Palabras clave: Género blog, lectura, cognición, sentido.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

Silvio Profirio da Silva    A partir dos anos 2000, a temática do uso das tecnologias da comunicação e da informação (doravante TICs) relacionada ao fazer pedagógico é colocada em pauta por uma gama de pesquisadores. Autores da Linguística e da Pedagogia passam a utilizar esse tema como objeto de debate, produzindo, assim, uma vasta quantidade de discussões teóricas que respaldam novas práticas de ensino. Tendo como pano esse contexto paradigmático, começam a aparecer as discussões sobre o uso de gêneros digitais como recurso didáticos nos processos de ensino e de aprendizagem.

    Segundo Araujo & Pinto (2011), o trabalho pedagógico pautado em gêneros digitais, presentes nas práticas corriqueiras do dia a dia dos discentes, traz consigo uma gama de benefícios, na medida em que propicia o desenvolvimento de práticas de inclusão digital, assim como práticas de aprendizagem significativa. Dito de outro modo, além de inserir os discentes no contexto dos artefatos da tecnologia (não só o manuseio das tecnologias, mas a compreensão da sua funcionalidade na sociedade contemporânea), o trabalho pedagógico com gêneros textuais digitais propicia o desenvolvimento de situações contextualizadas de aprendizagem. O que foge das aulas ancoradas em tendências pedagógicas tradicionais, acarretando, dessa maneira, o uso de recursos didáticos convencionais, tais como: livros escolares, quadro branco, giz e/ ou piloto.

    Consoante Silva (2009), os gêneros textuais, quando aderem ao suporte web, adquirem novas características organizacionais, passando a ter novos elementos textual-discursivos. Isso enseja novas formas de processar o texto, na medida em que o leitor faz uso de novas formas de atribuir sentido ao texto. Em outras palavras, a forma como o leitor dá sentido ao texto será modificada, por conta dos Links. Estes, na abordagem da autora supracitada acima, trazem consigo novas páginas subsequentes, as quais, por sua vez, trazem novas opções de textos e de leituras. O leitor, então, passa a contar com múltiplos e diversificados textos, o que acarreta novas práticas cognitivas de leitura. No dizer da autora, “o leitor não opera mais da mesma forma” (Idem, p. 87).

    Dentre os múltiplos e diversificados gêneros textuais digitais, neste trabalho, tecemos argumentos opinativos acerca do Blog. De acordo com Araujo & Pinto (2011), o Blog consiste em um recurso didático extremamente atrativo, o que favorece o desenvolvimento do trabalho pedagógico. O lúdico, na abordagem desses autores, recebe um destaque especial, na medida em que propicia o desenvolvimento de situações de aprendizagens atrativas e inovadoras. O blog é, nesse sentido, um gênero digital que traz subsídios, para o desenvolvimento de novos fazeres pedagógicos, no que tange às competências linguísticas da leitura e da escrita.

    Diante disso, neste trabalho, buscamos refletir acerca de como o gênero blog enseja novas práticas cognitivas de leitura, pautadas na articulação nos distintas e diversificadas formas da linguagem (escrita, oral, visual e sonora), bem como a mobilização de novos recursos textual-discursivos (Comentários, Links, Recursos para Compartilhar etc.). Tudo isso erradica a linearidade da leitura como Decodificação do Texto Escrito.

2.     O Gênero Blog: o que é?

    Consoante Araujo & Pinto (2011), o gênero Blog e/ ou Weblog concretiza a publicação de uma gama de textos -artigos de opinião, comentários, notas, notícias, reportagens, imagens/ilustrações, vídeos etc.-, exteriorizando, desse modo, a forma como o autor pensa sobre diversas temáticas. Podemos perceber, inicialmente, a variedade de leituras, ou melhor, a diversidade textual que os blogs trazem consigo. É preciso dizer que a maior parte dos blogs opta por um gênero textual em específico. Há, porém, blogs que trazem diversificados gêneros, ocasionando, assim, múltiplas e diversificadas leituras para seus leitores.

    Para Primo (2008), o gênero digital blog traz consigo uma vasta diversidade/variedade temática, como, por exemplo, economia, educação, entretenimento, literatura, política, saúde etc. Partindo dessa perspectiva, esse autor efetua uma classificação para esse gênero textual, inicialmente, realizada a partir do aspectos (Individual e Coletivo). No primeiro grupo, estão situados os Blogs Pessoal e Profissional. No segundo, o Grupal e Organizacional.

    Ao falar dos blogs, não há como não mencionar os Blogueiros. Hanke Angeli (2012) efetua uma abordagem do papel dos blogueiros face o funcionamento desse gênero textual. Estes, na maior parte dos casos, assumem a função de produzir, publicar e atualizar os textos. Em alguns casos, eles optam por publicar textos provenientes de outros veículos de comunicação, sendo, assim, responsáveis apenas pela divulgação do texto.

    As publicações dos blogueiros recebem o nome de Posts. Na ótica de Hanke Angeli (2012), os posts são materializados mediante a mobilização das múltiplas formas da linguagem (verbal e não-verbal). Dito de outro modo, os posts difundidos pelos blogs podem trazer apenas textos escritos, textos acompanhados de ilustrações, textos escritos acompanhados de galerias de imagens, textos escritos acompanhados de vídeos ou arquivos de áudio, como demonstra Hanke Angeli (2012). Tal postura é apoiada por Araujo & Pinto (2011).

    Araujo & Pinto (2011) citam os postulados de Komesu (2005), a fim de fazer menção à integração/ união dos distintos registros da linguagem (escrita, oral, sonora e visual) que é trazida pelos blogs. Dito de outro modo, o blog não traz apenas textos construídos, a partir da modalidade escrita da linguagem. Mas traz consigo vídeos, imagens, galerias de imagens, músicas etc.. Essa fusão da linguagem verbal e não-verbal trazida pelos blogs também é apontada por Bezerra & Albuquerque (2009).

    Bezerra & Albuquerque (2009) ensejam mudanças no trabalho pedagógico com a leitura e a escrita, na medida em que os portadores de texto fogem dos padrões mais tradicionais. Dentro dessa perspectiva, elas promovem uma bem sucedida abordagem dos elementos constituintes dos blogs. A Interlocução e/ ou Interação, consoante Bezerra & Albuquerque (2009), consiste em uma das características essenciais do gênero blog. Para essas autoras, o blog traz consigo o elemento “Comentários”, o qual propicia a interatividade entre o blogueiro e o leitor. Embora que, em alguns blogs, os comentários o leitor passem por uma “Moderação”, o leitor tem a possibilidade de exteriorizar suas percepções acerca do conteúdo publicado.

    No recurso Comentários, o (a) jornalista em jogo faz uso do recurso da moderação, buscando avaliar os conteúdos dos comentários dos leitores antes de publicá-los. Em outras palavras, em geral, os comentários passam por uma análise dos blogueiros. Além disso, são exigidos alguns requisitos, como é o caso do nome e do e-mail. Este último não aparece na publicação do comentário. Contudo, em outros blogs, os comentários são publicados automaticamente, não passando, assim, por uma moderação. Um aspecto muito relevante acerca da interatividade nos blogs, mais precisamente no recurso comentários, é que esta não se dá apenas entre leitor e autor, mas também entre os leitores. Em alguns blogs há um ícone “Responder”, por meio do qual o leitor pode comentar os comentários dos outros leitores.

    Bezerra & Albuquerque (2009) retratam, ainda, a não-linearidade da construção textual do blog. As autoras demonstram como os textos propagados por esse gênero texto criam novas possibilidades de leitura. Os textos, aqui, não são construídos linguisticamente apenas por signos grafados (letras, palavras e frases). Pelo contrário, os textos trazem consigo links, imagens, galeria de imagens, vídeos, arquivos sonoros etc.. Todos esses elementos linguísticos contribuem de maneira significativa, para novas práticas de leitura.

    Nesse contexto, os links assumem um papel de fundamental importância, na medida em que possibilitam o acesso do leitor a outros textos selecionados tematicamente. Em outras palavras, no momento da leitura, o leitor pode acessar outros textos publicados pelo próprio blog. Esses novos textos a que o leitor teria acesso através dos links possuiriam alguma relação temática com o texto anterior. O leitor pode, ainda, acessar textos de outros blogs, como evidenciam Bezerra & Albuquerque (2009).

    Os links, nesse sentido, propiciam o acesso do leitor a outras páginas. Em geral, esses links aparecem inclusos no corpo do texto, sendo destacado por uma cor diferenciada da fonte do texto e/ ou através do sublinhado. Além disso, no final da notícia, há links de outras notícias relacionadas às celebridades da notícia em foco. Nesse caso, os links são sinalizados por meio dos tópicos “Leia Mais” e/ ou “Veja Também”. E, logo abaixo, aparecem os links, mais uma vez, destacados por intermédio da cor da fonte do texto materializado pelo blog, assim como do recurso sublinhado. No blog, há, ainda, outros elementos linguísticos. Referimo-nos, nesse ponto, aos recursos que possibilitam o ato de compartilhar das notícias e dos textos nas redes sociais. Nesse caso, no Facebook e no Twitter.

    Todos esses elementos textual-discursivos presentes na estrutura do blog contribuem, veementemente, para o brotar de novas formas processar o texto. Ou seja, o leitor não irá ler linearmente. No ato da leitura, o leitor irá se deparar com uma gama de elementos textual-discursivos – links, imagens, vídeos, arquivos de áudio, comentários, recursos para compartilhar etc. – fazendo com que este se dirija para outra parte do texto ou até mesmo para outra página relacionada tematicamente com o texto em foco. Diante disso, o leitor poderá não mais efetuar o movimento de leitura linear (do início até o final do texto). Como dito antes, tais elementos ensejam novas maneiras de processar o texto e, conseguintemente, produzir sentido.

3.     Algumas considerações finais

    Nos dias de hoje, não há como falar em leitura, sem mencionar o Sentido. Os pressupostos teóricos trazidos pela Linguística de Texto preconizam uma concepção de leitura intrinsecamente atrelada à Produção de Sentido, estando também aliada aos saberes do leitor, assim como a práticas cognitivas e metacognitivas, como postulam Koch & Elias (2006), Kleiman (1989) e Oliveira (1987).

    A partir da década de 1980, o ensino da leitura e da escrita centrado no desenvolvimento das referidas habilidades, desenvolvido com o apoio de material pedagógico que priorizava a memorização de sílabas e/ou palavras e/ou frases soltas, passou a ser amplamente criticado. Nesse período, pesquisadores de diferentes campos – Psicologia, História, Sociologia, Pedagogia, etc. – tomaram como temática e objeto de estudo a leitura e seu ensino, buscando redefini-los (ALBUQUERQUE, 2005, p. 15).

    Silva (2009), em suas postulações, evidencia a forma como os gêneros digitais trazem consigo novos modelos de leitura, erradicando, nessa perspectiva, práticas predeterminadas. Em outras palavras, o leitor deixa de lado práticas preestabelecidas de leitura. Este, agora, passará a ter acesso a uma gama de informações de diversos textos. Os links propiciam o acesso a outros textos relacionados tematicamente. Tal perspectiva também se aplica ao gênero blog.

    Partindo dessa perspectiva, em sua organização estrutural, o gênero digital blog carrega consigo diversos elementos textual-discursivos, que originam novas formas de processamento textual, erradicando, nesse sentido, a postura da leitura linear. Como mencionado antes, tais elementos concretizam a ida do leitor para outros textos marcados por elos temáticos. Tudo isso enseja, desse modo, novas práticas cognitivas de leitura. Erradica-se, assim, as práticas de leitura ancoradas na Decodificação do Texto Escrito.

    Em termos finais de conclusão, ressaltamos o fato de o gênero blog ensejar possibilidades riquíssimas de práticas pedagógicas a serem trabalhadas no campo educacional. Dentre tais oportunidades, podemos destacar: a) trabalhar o letramento digital, no contexto da Educação Básica, levando os discentes a compreender não só como utilizar esse gênero como também perceber sua funcionalidade nas práticas sociais; b) trabalhar práticas de leitura e de escrita dos discentes dessa modalidade educacional, levando-os a refletir acerca das características organizacionais do texto no formato hipertexto, bem como levá-los a perceber como esse gênero textual possibilita práticas de leitura não-linear.

Referências

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