efdeportes.com

Habilidades motoras fundamentais: promovendo
o desenvolvimento cognitivo

Las habilidades motoras fundamentales: la promoción del desarrollo cognitivo

 

Mestrando no Programa de Pós-Graduação

em Ciência do Movimento Humano, UFRGS

Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Pablo de Godoy Menezes

pablovolei@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo é apresentar aos leitores uma visão geral das habilidades motoras fundamentais e suas implicações no desempenho acadêmico ao longo da vida. Buscando demonstrar o resultado de um bom desempenho nas habilidades fundamentais e suas implicações, os estudos revisados sugerem ser determinante, no ponto de vista cognitivo um bom desenvolvimento dessas habilidades. Ficando assim clara a necessidade de uma abordagem preocupada com essas habilidades nas aulas de Educação Física.

          Unitermos: Habilidades Motoras Fundamentais. Desempenho acadêmico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    É inegável a importância das habilidades motoras fundamentais, são elas os principais alicerces para o desenvolvimento das habilidades esportivas específicas e dos movimentos mais complexos (Haywood & Getchell, 2010; Payne & Isaacs, 2007, Goodway & Branta, 2003). Alguns estudos já apontam o domínio das habilidades motoras como sendo fundamentais no sucesso na prática e no fundamentais para o engajamento em práticas esportivas ao longo da vida (Goodway & Branta, 2003, Hardy et al, 2009), porém pouco se discute sobre suas influências na capacidade cognitiva e desempenho acadêmico, o que iremos buscar apresentar na construção deste artigo.

    O trabalho desenvolvido ainda na primeira infância é apontado como fundamental no desenvolvimento pleno dessas habilidades, aproveitando o período mais sensível no incremento das conexões cerebrais (Goodway & Branta, 2003; Hardy et al, 2009). Ainda que essas vantagens sejam amplamente reconhecidas, todavia, estudos brasileiros apontam para o déficit de inúmeras habilidades (Valentini et al, 2012; Bobbio et al, 2010), que não emergem naturalmente nas crianças, pois são resultados de muitos fatores e influências (Goodway & Branta, 2003).

    Na infância, nos primeiros anos, as crianças começam a capacitar-se com um conjunto de habilidades motoras denominadas como habilidades motoras fundamentais. As habilidades motoras fundamentais são compostas de habilidades de controle de objetos e habilidades locomotoras. Habilidades de controle de objetos consistem em manipulação e projeção de objetos incluindo habilidades, como: arremessar, receber, chutar, voleio, rebater lateral, driblar, etc. (Haywood & Getchell, 2010). Habilidades de locomoção envolvem o mover o corpo através do espaço e incluem habilidades como o correr, o saltar, o saltitar, o galopar, o escorregar, e o skipping (Haywood & Getchell, 2010).

    O sentido das habilidades motoras fundamentais pode ser comparada ao Bê a bá das atividades físicas (Stodden et al, 2008). Com relação a essas habilidades necessárias para o bom desenvolvimento, Stodden e colaboradores (2008) citam um importante capítulo do livro “Motor development: Research and reviews” escrito por Clark e Metcalfe (2002) aonde eles ressaltam o objetivo geral deste período em construir um amplo repertório motor, permitindo a aprendizagem póstera de ações qualificadas com maior desembaraço. Quando não há capacidade de executar eficientemente as ações como: correr, saltar, pegar, jogar, etc., é sinal que um trabalho eficiente foi sonegado a essas crianças, prejudicando não só o que já falamos anteriormente, o engajamento e permanência em atividades físicas ao longo da vida (Stodden et al, 2008), mas também seu pleno desenvolvimento cognitivo.

    Além da importância de promover a saúde, o desenvolvimento amplo das habilidades motoras fundamentais, está sendo apontando em muitos estudos como responsável direto no sucesso acadêmico dessas crianças (Lopes et al, 2012). Por exemplo, Payne e Isaacs (2007) sugerem que uma aquisição adequada das habilidades motoras contribui para o desenvolvimento físico, cognitivo e social de crianças. Sendo a infância um período crítico para o desenvolvimento dessas habilidades, que são considerados blocos de construção de movimentos mais complexos (Clark & Metcalfe, 2002) e representando um fator chave na promoção de estilos de vida ativos ao longo da vida (Clark, 2005; Stodden et al. 2008) a Educação Física escolar deveria embasar e adotar uma filosofia de trabalho voltada para o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais. Visando apresentar fundamentos que provoquem o debate desta abordagem faremos uma breve revisão acerca desses importantes tópicos.

Habilidades motoras básicas e cognição

    Uma antiga expressão amplamente conhecida, “mente sã em corpo são”, deve ser levada a sério e as conseqüências nefastas para a saúde de um estilo de vida sedentário, bem como para expor os benefícios comuns de um desenvolvimento equilibrado. Talvez por isso, a investigação acerca das relações e/ou efeitos dos estilos de vida ativos no sucesso acadêmico e desempenho cognitivo em crianças e jovens tem constituído uma preocupação atual e incontornável para o entendimento do processo de desenvolvimento do ser humano num contexto global (Lopes et al, 2012). Lopes e colaboradores (2012) apontam o recente ressurgimento do debate em torno das possíveis relações entre atividade física, aptidão física, coordenação motora e o desenvolvimento cognitivo, com fruto da diminuição contínua da atividade física infantil, aptidão física, coordenação motora, e a pressão das escolas e os pais para melhorar o desempenho cognitivo das crianças.

    Estudos sugerem que as estruturas neuronais (no cerebelo e o lóbulo frontal) são responsáveis pela coordenação, bem como pela cognição (Lopes et al, 2012). Há também evidências de que crianças com distúrbios de coordenação e desenvolvimento tendem a se sair pior em avaliações em literárias e numéricas, enquanto, a alta capacidade coordenativa correlacionou-se positivamente com o desempenho acadêmico (Lopes et al, 2012). Além disso, outros estudos têm demonstrado que a melhoria dos níveis de habilidades motoras fundamentais pode ser positivamente relacionada com a melhoria em variáveis ​cognitivas (Erickson, 2008).

    Lopes e colaboradores (2012) apontam a avaliação das habilidades motoras escolar precocemente como importante objeto de observação, afim de, aumentar a previsibilidade do insucesso dessas crianças no desempenho escolar e antecipar uma intervenção adequada. Saraiva e Rodrigues (2010), por sua vez, realizam uma grande revisão a cerca do assunto e apresentam diferentes estudos, como: artigos de revisão, meta-análise, artigos originais, e com isso reúnem evidências que mostram a importância de fomentar a prática de atividade física, e o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais, uma vez que esta revela um impacto positivo sobre o rendimento escolar, as capacidades cognitivas e os comportamentos associados.

Considerações finais

    O conhecimento mais aprofundado dos resultados de um planejamento voltado para o bom desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais deixa clara a necessidade de uma nova formatação do currículo brasileiro, não só na Educação Física, que necessita reciclar suas ferramentas de promoção do desenvolvimento saudável de seus alunos, mas também, do currículo geral, que deixa esta matéria de lado, desconsiderando a forte influência que ela tem em problemas marcantes da sociedade. As evidências apontam forte correlação entre esse desenvolvimento precoce e qualificado das habilidades motoras fundamentais e um melhor desempenho acadêmico quando comparadas com crianças com déficit nessas capacidades. Fica evidente que pensar em saúde e educação de qualidade é pensar em promover a Educação Física escolar a um novo patamar.

Referências bibliográficas

  • BOBBIO TG, GABBARD C, GONÇALVES VG, FILHO AA, MORCILLO AM. Interlimb coordination differentiates Brazilian children from two socioeconomic settings. Pediatr Int 2010;52:353-7.

  • CAIRNEY J., HAY J.A., VELDHUIZEN S., MISSIUNA C., FAUGHT B.E.. Developmental coordination disorder, sex, and activity deficit over time: a longitudinal analysis of participation trajectories in children with and without coordination difficulties. Dev Med Child Neurol 2010;52:e67-72.

  • CLARK, J.E., & METCALFE, J.S. (2002). The mountain of motor development: A metaphor. In J.E. Clark & J.H. Humphrey (Eds.), Motor development: Research and reviews (Vol. 2, pp. 163–190). Reston, VA: National Association of Sport and Physical Education.

  • CLIFF, D. P., OKELY, A. D., MORGAN, P. J., JONES, R. A., STEELE, J. R., & BAUR, L. A. (2012). Proficiency deficiency: mastery of fundamental movement skills and skill components in overweight and obese children. Obesity, 20(5), 1024-1033.

  • ERICKSON, I. (2008). Motor skills, attention and academic achievements. An intervention study in school years 1–3. British Educational Research Journal, 34, 301–313.

  • GOODWAY, J.D., & BRANTA, C.F. (2003). Influence of a motor skill intervention on fundamental motor skill development of disadvantaged preschool children. Research Quarterly for Exercise and Sport, 74, 36–46.

  • HARDY, L. L., KING, L., FARRELL, L., MACNIVEN, R., & HOWLETT, S. (2010). Fundamental movement skills among Australian preschool children. Journal of Science and Medicine in Sport, 13(5), 503-508.

  • HARTER, S. (1999). The construction of the self: A developmental perspective. New York: Guilford Press.

  • HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

  • LOPES, L., SANTOS, R., PEREIRA, B., & LOPES, V. P. (2012). Associations between gross Motor Coordination and Academic Achievement in elementary school children. Human movement science.

  • PAYNE, V. G.; ISAACS, L. D. Desenvolvimento motor humano. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007

  • SARAIVA, J., & RODRIGUES, L. (2010). Relações entre a atividade física, aptidão física, morfológica, coordenativa e realização acadêmica. Uma perspectiva holística do desenvolvimento motor. Revista de Motricidade, 6, pp.35-45.

  • SEEFELDT, V. (1980). Developmental motor patterns: Implications for elementary school physical education. In C. Nadeau, W. Holliwell, K. Newell, & G. Roberts (Eds.), Psychology of motor behavior and sport (pp. 314–323). Champaign, IL: Human Kinetics.

  • VALENTINI, N. C.. A influência de uma intervenção motora no desempenho motor e na percepção de competência de crianças com atrasos motores. Revista Paulista de Educação Física, Butantã, v. 16, n.1, p. 61-75, 2002.

  • VALENTINI, N. C.; COUTINHO, M.T.C; PANSERA, S.; SANTOS, V. P. A.; VIEIRA J.L.L.; RAMALHO, M. H. S.; OLIVEIRA, M.. Prevalência de déficits motores e Desordem Coordenativa Desenvolvimental em crianças sul-brasileiras. Revista Paulista de Pediatria (Impresso), v. 30, p. 377-384, 2012.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 193 | Buenos Aires, Junio de 2014  
© 1997-2014 Derechos reservados