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Gravidez na adolescência: a que é atribuído este episódio?

El embarazo en la adolescencia. ¿A qué se le atribuye este hecho?

 

*Fisioterapeuta

**Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Uroginecológica

Mestre em Envelhecimento Humano

(Brasil)

Pâmela Luana Flores*

Vanessa Sebben**

vanesebben@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a gravidez na adolescência vem aumentando consideravelmente nos últimos anos, vários autores já consideram o fato como um fenômeno da atualidade e acreditam estar ocorrendo devido ao início precoce da vida sexual, uso inadequado ou não uso de métodos contraceptivos. Este estudo teve o objetivo de identificar o motivo pelo qual as adolescentes de 12 a 18 anos de idade, com baixo poder aquisitivo engravidam, bem como as atribuições dadas pelas adolescentes à gravidez precoce e sua reação frente a este episódio, analisar a prevalência da gravidez na adolescência e observar os conhecimentos das adolescentes sobre métodos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis. A população do estudo foi composta por 15 adolescentes grávidas, com idade entre doze e dezoito anos, participantes do Programa Acolher – “Construindo Cidadão” da cidade de Erechim, RS. Para avaliação foi realizado a aplicação de um questionário estruturado e composto por questões fechadas. Os resultados encontrados foram: a ocorrência da primeira gestação de todas as adolescentes participantes, sendo que a maioria referiu ser esta desejada, falta de informação sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST’s), conhecimentos sobre métodos contraceptivos, porém descaso em relação ao seu uso para a prevenção de gravidez e DST’s. Assim pode-se concluir que o baixo índice de escolaridade, a desestruturação familiar, e a falta de preocupação e interesse das adolescentes vem contribuindo para o aumento da incidência de gravidez na adolescência.

          Unitermos: Gravidez. Adolescência. Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s). Métodos contraceptivos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), adolescência compreende a faixa etária entre 10 e 19 anos. Sabe-se que o período da adolescência é um dos mais importantes da vida do indivíduo, pois nesta fase que ocorrem os eventos sociais, econômicos, biológicos e demográficos que são fatores indispensáveis para construir a vida adulta (CORRÊA, 2004 apud MOREIRA et al., 2008).

    Sarmento (1990), afirma que os estudos sobre a gravidez na adolescência começaram na década de 60 e vem aumentando nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Isso se deve ao aumento da incidência da gravidez na adolescência em todos os países do mundo, problema esse que vem associado à violência, comportamento sexual de risco e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) como a AIDS.

    Segundo Corrêa (2004 apud MOREIRA et al., 2008), a gravidez na adolescência pode ter vários significados levando a diversas repercussões, que varia entre a função econômica, social e cultural da adolescente. Sem dúvida, a condição sócio-econômica difere as adolescentes principalmente quando se refere ao acesso à saúde e a uma gravidez devidamente assistida, o que lhe tornará menos suscetível a problemas relacionados à gestação. Com base nestas informações o presente estudo teve como objetivo principal, identificar o motivo pelo qual as adolescentes de 12 a 18 anos engravidam.

Materiais e métodos

    A pesquisa caracteriza-se por ser do tipo descritivo-exploratório, de caráter quantitativo. A amostra foi composta por 15 adolescentes grávidas que participavam do Programa Acolher – “Construindo Cidadão” da cidade de Erechim, RS e deveriam ter: entre doze e dezoito anos de idade; estar em período gestacional, independentemente do tempo de gestação; aceitar participar da pesquisa e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido;

    Após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da URI - Erechim, as adolescentes respondiam a um questionário desenvolvido pela própria pesquisadora com base na literatura, contendo as seguintes questões: sócio-econômicas, idade de iniciação sexual, conhecimento e uso de contraceptivos, conhecimento e prevenção de DST’s.

Resultados e discussão

    Participaram do estudo 15 adolescentes gestantes com idade que variou de 13 a 18 anos, 6 (39,9%) gestantes apresentavam 17 anos, seguido de 4 (26,7%) com 18 anos, 2 (13,3%) com 16 anos, 2 (13,3%) com 13 anos e apenas 1 (6,7%) com 15 anos de idade.

    A tabela 1 refere-se ao nível de escolaridade, existência de trabalho, número de habitantes na mesma residência e renda mensal.

Tabela 1. Dados sócio-econômicos

    Segundo Oliveira et al. (2009), a gravidez na adolescência pode ser justificada pela baixa escolaridade e baixa renda, as adolescentes abandonam a escola assim sendo mais vulneráveis a uma gestação precoce. O presente estudo vem ao encontro da referência de Oliveira, onde a maioria das gestantes não freqüentavam o ambiente escolar. Oliveira et al. (2009), enfatiza ainda a importância da escola na vida da adolescente, pois é através dela que são transmitidas informações sobre o corpo e métodos contraceptivos de gravidez e DST’s.

    Na tabela 2, encontram-se os dados referentes à gestação (ões), início da vida sexual, conhecimento e uso de métodos contraceptivos.

Tabela 2. Dados gestacionais; conhecimento e uso de contraceptivos

    Das gestantes pesquisadas, 15 (100%) encontravam-se na primeira gestação. Índice que pode ser comprovado segundo dados do IBGE (2010) que referem que 7,3% das jovens de 15 a 17 anos de idade já possuem pelo menos um filho.

    Quando questionadas sobre a ocorrência de gestação desejada ou não, 8 (53,3%) gestante referiram que sim a gestação foi desejada enquanto 7 (46,7%) relataram que não desejavam ser mãe naquele momento. Índice bastante elevado, que segundo Cavasin (1999), pode ser explicado como a gravidez na adolescência não se trata de um desejo ou não de ter um filho, e sim de um forte desejo de ser mãe, imaginando que terá um status levando-as a uma valorização social. Oliveira et al. (2009) complementa que a gravidez na adolescência ocorre muitas vezes de maneira indesejada, inesperada levando a um modo de vida completamente diferente, fato esse que pode ser observado no decorrer deste estudo.

    Borges e Schor (2007), em seu estudo mostram que além das adolescentes iniciarem a vida sexual mais precocemente, também tiveram a primeira relação sexual praticamente com a mesma idade que os homens (15 anos). Um fato interessante já que culturalmente os meninos são estimulados a iniciação sexual mais precocemente do que as meninas. Fato que conforme descrito acima pode ser observado no decorrer deste estudo.

    Em um estudo realizado por Bemfam (1999), a respeito do comportamento sexual dos jovens, como resultado obteve que a maioria dos adolescentes “conhecia” um método contraceptivo e já havia utilizado alguma vez. Porém nesta mesma pesquisa, observou-se a “limitação” dos dados para o “nível de conhecimento”, pois está relacionada ao fato de “ter ouvido falar” sem saber da utilização adequada. Neste estudo os principais métodos utilizados foram pílula anticoncepcional e o preservativo masculino. As adolescentes do sexo feminino justificavam o não uso de métodos contraceptivos como: “não esperava ter relações naquele momento”, já os adolescentes do sexo masculino justificam: “não conhecia nenhum método”, seguida da “não se preocupou com isso”, a responsabilidade da contracepção seria da parceira.

    Oliveira (1998) afirma que conhecimentos sobre métodos contraceptivos tendem a aumentar devido à idade e ao nível escolar. O atual estudo concorda com o autor, já que as participantes apresentavam baixa escolaridade e conseqüentemente baixo conhecimento sobre métodos anticoncepcionais.

    Em relação à utilização de métodos contraceptivos na primeira relação sexual (Gráfico 1), o presente estudo vai ao encontro da pesquisa realizada por Mclean & Flanigan (1983 apud BUENO, 2010), com 80 adolescentes americanas, sexualmente ativas, para saber qual a principal razão para o não uso de anticonceptivos, chegaram a um resultado simples: o fato do não planejamento da atividade sexual.

Gráfico 1. Uso de método contraceptivo na primeira relação sexual

    Em relação ao conhecimento das doenças sexualmente transmissíveis (DST’s), 13 (86,6%) gestantes referiram conhecer, 1 (6,7%) não conhecia e 1 (6,7%) não respondeu. Quando questionado sobre qual/quais DST's elas conheciam, 11 (73,3%) responderam somente AIDS/HIV e as outras 4 (26,7%) não responderam à pergunta, como mostra o Gráfico 3.

    Segundo Silva et al. (2009), muitos adolescentes associam os métodos contraceptivos somente com as doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS, mostrando grande dificuldade em relacionar o uso de preservativo com a prevenção da gravidez precoce. O presente estudo vai ao encontro do autor reforçando a sua afirmativa.

    Estudos mostram que meninas que iniciam o sexo precocemente e com mais de um parceiro têm maior probabilidade de adquirir DST, doença pélvica inflamatória e displasia e câncer de colo uterino (Christopherson & Parker, 1965; Altcheck, 1981; Shafer et al., 1982; Indira et al, 1989; Herrero et al., 1990 apud TAQUETTE 2004).

Considerações finais

    Acredita-se que o episódio de gravidez na adolescência esteja intimamente relacionado ao início das atividades sexuais de forma precoce, além da evasão escolar, dos níveis sócio econômicos desfavoráveis e da desestruturação familiar. Acredita-se que o diálogo entre pais, professores e profissionais de saúde com as adolescentes possa esclarecer sobre as mudanças físicas e emocionais próprias deste período, além de instruir sobre os métodos contraceptivos e sobre a prevenção não apenas da gestação, mas também das doenças sexualmente transmissíveis.

    Percebe-se ainda a falta de consciência das adolescentes sobre a importância da utilização dos métodos contraceptivos, não por falta de conhecimento dos mesmos, mas por descaso em relação ao seu uso.

Referências bibliográficas

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