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Situações de estresse durante o jogo de futebol

em categorias masculinas sub 11 e sub 13

Situaciones de estrés durante el juego de fútbol en las categoría masculinas sub 11 y sub 13

Stress situations during the game of football field of categories sub 11 and sub 13

 

*Graduada em Educação Física. Mestre em Enfermagem e Saúde
Professora Adjunta na Faculdade Pitágoras de Betim

**Graduado em Educação Física. Mestre em Educação

Professor adjunto na UNIPAC – Ribeirão das Neves

Professor substituto na PUC - Minas

***Graduada em Educação Física Faculdade Pitágoras de Betim

Ana Mônica Serakides Ivo*

Gustavo Palhares Mitre**

Rosana Candida de Almeida***

gustavopmitre@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O futebol é uma das modalidades mais praticadas no mundo, e no Brasil é praticado por cerca de 13,1 milhões de pessoas, entre profissionais e amadores de todas as idades. O objetivo deste trabalho foi analisar os componentes de um jogo de futebol de campo considerados mais estressantes para praticantes das categorias pré-mirim e mirim masculino. Foram entrevistados 56 alunos de uma escola de futebol por meio de um questionário adaptado. Os resultados evidenciaram que para este grupo são muitas as situações de estresse durante um jogo de futebol, principalmente as relacionadas à “presença dos pais nos jogos” (94,6%) e “machucar-se durante o jogo” (100%). Estes achados devem ser considerados durante as competições, para que estes alunos, ainda crianças, possam vivenciar este esporte de forma mais prazerosa. É necessário então, avaliar mais profundamente os diversos aspectos que podem influenciar o surgimento de agentes estressores, e quais aspectos situacionais exercem influência sobre os atletas, principalmente em fase de formação.

          Unitermos: Estresse. Futebol infantil. Fatores estresantes. Estresse infantil.

 

Resumen

          El fútbol es uno de deportes que más se practica en el mundo, y en Brasil es practicado por aproximadamente 13,1 millones de personas, entre profesionales y aficionados de todas las edades. El objetivo de este estudio fue analizar los componentes de un juego de fútbol de campo considerados más estresantes para los practicantes de las categorías masculinas infantil y pre-infantil. 56 estudiantes de una escuela de fútbol fueron entrevistados mediante un cuestionario adaptado. Los resultados mostraron que para este grupo son muchas las situaciones de estrés durante un partido de fútbol, en gran parte debido a la "presencia de los padres en los juegos" (94,6 %) y "salir lastimado durante el juego" (100 %). Estos resultados deben ser considerados durante las competencias para que estos practicantes, todavía niños, puedan experimentar este deporte de manera más placentera. Entonces es necesario evaluar los distintos aspectos que pueden influir en la aparición de los factores de estrés y aspectos situacionales que influyen en los deportistas, especialmente en el período de formación.

          Palabras clave: Estrés. Fútbol. Fútbol infantil. Estrés infantil.

 

Abstract
         
Soccer is one of the most widely practiced in the world, and Brazil is practiced by about 13.1 million people, including professionals and amateurs of all ages. The objective of this study was to analyze the components of a soccer field considered more stressful for practitioners of male children and pre-child categories. 56 students from a school soccer interviewed using a questionnaire adapted. The results showed that for this group are many stressful situations during a football game, largely because of "parental presence in the games" (94.6 %) and "get hurt during the game" (100 %). These findings should be considered during the competitions for these students, even children, can experience this sport more pleasurable way. You must then assess the various aspects that can influence the emergence of stressors and situational aspects which influence on athletes, especially in formation deeper.

          Keywords: Soccer. Children. Stress.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Futebol é considerado o esporte mais popular do mundo. De acordo com dados fornecidos pela FIFA, em sua página eletrônica, estima-se que aproximadamente 270 milhões de pessoas no mundo estão ativamente envolvidas no futebol, incluindo jogadores, árbitros e diretores. Destas, 265 milhões jogam o desporto regularmente de maneira profissional ou amadora. O que significa que cerca de 4% da população mundial está envolvida de alguma forma com o esporte. Existem mais de 1,7 milhões de equipes no mundo e aproximadamente 301 mil clubes. No Brasil estima-se que cerca de 13,1 milhões de pessoas praticam o futebol e desses, muitos são os jovens que jogam e sonham em, um dia, se tornarem atletas profissionais.

    É um esporte regido por regras definidas pela Federação Internacional de Futebol Associado -FIFA, as quais são utilizadas mundialmente. A essas regras são permitidas certas modificações para facilitar o desenvolvimento da modalidade e também possíveis adaptações relacionadas às idades dos participantes.

    No caso da categoria infantil que compreende a idade de 7 a 15 anos e é subdividida em pré-mirim, mirim, e infantil, as principais adequações estão relacionadas às dimensões do campo de jogo e da bola que são inadequados e muito grandes para as crianças e as impedem de reproduzir as jogadas que vemos no futebol adulto (HAGEN, 2002). Embora alguns torneios oficiais de categorias de base possam ser disputados em campos com dimensões oficiais.

    Por ser um jogo que se caracteriza por um confronto entre duas equipes, que disputam entre si em busca dos melhores resultados dando-lhe um caráter competitivo, o futebol pode ser um gerador de estresse para seus praticantes independentemente da idade. Segundo Dante (2002)

    A competição sugere uma série de atitudes e comportamentos de todos os envolvidos direta ou indiretamente no seu contexto; aspectos como confronto, disputa, resultado, avaliação e seleção são alguns dos fatores destacados, além de outros que são inevitáveis em uma competição como a busca pela vitória, a derrota, as pressões, a alegria e a frustração (DANTE, 2002, p.20).

    Os jogadores envolvidos no processo competitivo são submetidos constantemente a muitas observações, opiniões e julgamentos que podem criar expectativas e pressões inadequadas para seu desenvolvimento como atleta. A categoria infantil está muitas vezes sujeita aos mesmos determinantes competitivos das demais categorias do futebol, incluindo a exposição aos fatores estressantes (DANTE, 2002).

    O estresse é explicado segundo Spielberger (1966), como a percepção do estímulo, ação ou situação, que impõe perigo físico ou psicológico ao indivíduo, uma situação específica de ameaça à integridade física e mental. De acordo com Coelho e Coelho (1998) as causas do estresse estão relacionadas principalmente à percepção do indivíduo da situação e não da situação em si. Isto significa que a situação por si só não leva ao estresse, mas sim a percepção que o indivíduo tem de uma determinada situação que pode ser interpretada como ameaçadora ou não (COELHO; COELHO, 2000; SPIELBERGER, 1966).

    “Competir significa enfrentar desafios que podem representar fonte de estresse para os atletas, de acordo com muitos aspectos individuais e situacionais e dependendo de seus atributos físicos, técnicos e psicológicos” (DANTE, 2002, p. 20).

    Scanlan (1982) demonstrou que o estresse experimentado por uma criança em atividades desportivas ocorre quando a criança-atleta sente-se incapaz de atender com sucesso à demanda do desempenho esperado em uma situação competitiva. Este desequilíbrio percebido entre a capacidade de resposta e a demanda da resposta resulta em um sentimento de incompetência e de falha que ameaça a auto-estima da criança.

    A demanda de um bom desempenho ocorre em qualquer nível de competição e por fazer parte de sua rotina muitos atletas convivem razoavelmente bem com esta situação (DANTE, 2002). Conhecer os níveis de estresse e como podem afetar o desempenho dos atletas durante uma competição, pode auxiliar os treinadores a desenvolver metodologias que minimizem este estresse principalmente em situações provocadas pelo processo competitivo, especialmente, por aquelas que surgem no momento da competição, auxiliando os atletas a utilizarem recursos pessoais para lidar com elas.

    O objetivo do presente estudo foi identificar as principais situações de estresse no futebol de campo, nas categorias mirim e pré-mirim.

Materiais e métodos

    Este é um estudo de abordagem quantitativa de caráter exploratório, que trabalhou com dados objetivos coletados por meio de um questionário direcionado à compreensão e análise das principais situações de estresse vivenciadas por crianças praticantes de futebol de campo.

    Foram convidados a participar deste estudo 80 meninos das categorias pré-mirim e mirim, com idade entre 9 e 11 anos, alunos da escolinha de futebol da Prefeitura Municipal de Igarapé.

    Os dados foram coletados por meio de um questionário direcionado ao tema, construído e adaptado a partir do Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL), escolhido por sua semelhança e adequação ao presente estudo. O questionário foi adaptado por conter questões que não correspondem com a competição infantil, como por exemplo, “pressão da mídia” e também foram adicionadas questões que foram bastante relevantes na análise dos resultados como “presença dos pais nos jogos”.

Questionário sobre Fatores Potencialmente Associados ao Estresse (ISSL, 2010) (Adaptado)

    Abaixo você encontrará algumas situações que podem ser geradoras de estresse. Preencha com um X, dando a nota correspondente à situação que você considera mais geradora de estresse para você.

    A análise dos dados será apresentada de maneira descritiva, utilizando-se percentuais, freqüências e médias das respostas.

    Todos os participantes por serem menores idade, foram autorizados pelos pais ou responsável legal que após leitura e concordância assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido TCLE (APÊNDICE 2) autorizando a coleta dos dados, que foram tratados anonimamente.

Resultados e discussão

    Participaram do estudo 56 alunos, sendo 22 de nove anos, 18 de dez e 16 de onze anos.

    Da lista de situações apresentadas aos participantes, 59% dos itens foram considerados como “muito estressantes”, como mostra a figura 1.

Figura 1. Frequência dos fatores estressantes

    Questões relacionadas ao ambiente como “jogar fora de casa” (73,2%) e “campo em condições ruins” (62,5%) foram consideradas como não estressantes para a maioria dos participantes, o que está de acordo com o estudo de Paim (2001), que concluiu que os principais fatores que colaboram para a procura de uma prática esportiva são a busca da ludicidade, o divertimento e o aprimoramento das habilidades motoras e não o ambiente em que eles vão jogar.

    As situações de caráter pessoal que ocorrem durante o jogo, foram percebidas como as mais estressantes, pois 100% dos participantes consideram que, “machucar-se durante o jogo” e “marcar gol contra” sejam muito estressantes, seguidas de situações relacionadas a pessoas externas ao jogo como “presença dos pais nos jogos” e “cobrança excessiva do técnico” com 94,6% e 92,8% respectivamente. Situações como “conflitos com o técnico” e “permanecer no banco de reservas” também foram consideradas muito estressantes por 87,5 % e 85, 7% respectivamente.

    A figura 2 apresenta os fatores que mais se destacaram neste estudo e suas classificações segundo os participantes.

Figura 2. Frequencia de fatores não estressantes, pouco estressantes e muito estressantes

    Navarro e Almeida (2008) identificaram um nível alto de estresse em crianças devido à ansiedade dos pais e suas expectativas sobre o desempenho dos filhos. O estresse causado pela presença dos pais em competições pode estar relacionado às interferências, tentando chamar a atenção dos filhos durante o jogo, fazendo com que traga insegurança e confunda as atitudes da criança.

    Para Machado (2006), a presença dos pais em competições ou jogos é um fato causador de uma série de dificuldades que interferem no desempenho das crianças dentro de campo. Os principais motivos apontados são: o medo de receberem críticas e sugestões sobre as suas atuações e a necessidade de melhorarem para agradá-los. Samulski (1992) também relata que um apoio exagerado por parte dos pais pode ser causador de efeitos negativos no desenvolvimento da personalidade da criança. Isso faz com que a criança sofra com pressões de sucesso, cobrança de um bom rendimento, além das pressões sociais.

    Samulski e Chagas (1992) demonstraram que conflitos com o treinador, companheiros de time e familiares, nervosismo excessivo, dormir mal na noite anterior à competição, e sensação de debilidade física foram consideradas as situações mais estressantes para os jogadores. O que corrobora o presente estudo, pois todos esses fatores foram fortemente identificados como causadores de estresse nas categorias estudadas.

    Muitos psicologistas desportivos adotam o conceito de que a pressão de vencer a qualquer custo imposta às crianças pelos pais, técnicos e professores, as leva além de suas potencialidades físicas e emocionais, aumentando em muito as chances de contundirem-se como mostram os estudos de Torg, Pollack e Sweterlitsh (1972) que observou que crianças sob pressão psicológica estão mais expostas a lesões, e essas acontecem com mais gravidade do que outras que não estão sob esta pressão. Em estudo conduzido por Orlick e Botterill (1977), constatou-se que muitas crianças que desistem da participação desportiva, o fazem devido ao medo de falharem ou pelo receio da avaliação negativa dos outros, e que em muitos casos, as experiências negativas que causam a desistência das crianças, estão relacionadas ao excesso de envolvimento e com a procura da perfeição. Os resultados obtidos no estudo citado induz a conclusão de que não é a competição em si que é maléfica ao estado emocional da criança, mas sim a importância que os pais técnicos, professores ou terceiros colocam em cada evento, impondo um comportamento opressivo, regulador e autocrático, fazendo com que as crianças sintam-se ameaçadas, percebendo a situação como sendo altamente estressante. O medo de machucar-se está relacionado à diminuição do rendimento do aluno, medo de decepcionar os pais e técnicos e receio de ficar sem jogar.

    Segundo o estudo de Sanches, Casal e Brandão (2004), o estresse está relacionado a situações ameaçadoras que podem produzir no atleta um sentimento de fracasso iminente ou real, como fazer gol contra (89%) e perder um pênalti (83%) o que corrobora o presente estudo, que encontrou resultados bastante semelhantes com (100%) e (76,6%), respectivamente.

    Uma questão que foi considerada extremamente estressante para os participantes desta pesquisa foi “ser expulso do jogo” (100%). Uma expulsão por indisciplina ou ato impensado pode causar prejuízos para a equipe e o jogador pode ser responsabilizado por isso. No entanto, essa medida de punição só acontece em competições escolares, para conscientização e formação da ética esportiva dos alunos-atletas. Isso porque de acordo com o artigo 162 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) atletas menores de 14 anos não podem ser advertidos em competições oficiais, eles são substituídos e sujeitos às orientações de caráter pedagógico e caso haja reincidência da conduta anti-desportiva do jogador em outra partida a punição será aplicada ao treinador da equipe o que demonstra uma preocupação efetiva com a formação de aspectos éticos e desportivos em alunos/atletas das categorias iniciantes e a responsabilidade do treinador nesta formação. Mutti (2003), destaca que um nível pequeno de estresse, além de ser inevitável em competições, traz alguns benefícios, pois provoca uma concentração maior dos atletas e proporciona um prazer maior ao alcançar algumas conquistas.

Conclusão

    Podemos concluir que o estresse é de um modo geral um agente de desconforto e no esporte pode ser limitante no desempenho do atleta. Porém em alguns casos pode funcionar como desafio e ser até mesmo positivo, não podendo, no entanto, ser excessivo, pois pode ocasionar uma desconcentração durante a atividade praticada sendo percebida como um acontecimento traumático.

    No presente estudo 59% das situações apresentadas foram consideradas como muito estressantes para os atletas num jogo de futebol de campo, o que sugere ser necessário avaliar mais profundamente os aspectos que podem influenciar o surgimento de agentes estressores, possibilitando a análise dos aspectos situacionais que exercem influência sobre os atletas, principalmente em fase de formação e desta forma, os treinadores poderão conduzir seus treinos possibilitando o fortalecimento da capacidade de enfrentamento destes fatores.

Referências

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